terça-feira, 6 de março de 2012

A despedida de Mário Bulgareli

Carta à população deixada por Mário Bulgareli pouco antes de renunciar a Prefeitura de Marília
“Nestes 7 anos e três meses frente à chefia do Executivo municipal, sempre procurei desempenhar o melhor trabalho possível em prol da população mariliense, com apoio de meus secretários, assessores e demais servidores públicos municipais.
Com esse trabalho em equipe, elevamos Marília ao grau de uma das melhores cidades para se viver do país: primeira em segurança (cidades acima de 100 mil habitantes); primeira em educação; sétima em qualidade de vida (Índice Firjan); e mais recentemente a sétima do país na área da saúde, conforme levantamento realizado pelo Ministério da Saúde.
Todavia, após todos esses anos em que procurei me dedicar ao máximo e, em virtude de recomendação médica e após consultar minha família, é chegado o momento de me afastar do Executivo mariliense, para tratar de minha saúde. Sei que não é uma decisão fácil de ser tomada, principalmente pelo bom momento em que Marília atravessa.
Tenho certeza que o vice-prefeito, José Ticiano Tóffoli, ao assumir o restante do mandato, dará continuidade a esse trabalho, realizando as obras e serviços em prol de nossa comunidade. Um exemplo é o seu prestígio junto ao governo federal ao obter recursos, a fundo perdido, para a conclusão das obras de afastamento e tratamento do esgoto.
Gostaria de agradecer a confiança depositada pela população mariliense que me reelegeu em 2005 e ao mesmo tempo reafirmar meu profundo amor por Marília, cidade que me adotou quando aqui cheguei, em 1978 e onde nasceram meus filhos e desempenhei minha vida familiar e profissional.
Deixo a Administração Municipal com a certeza de dever cumprido. Tenho muito orgulho de fazer parte da história de Marília e ter o reconhecimento de nossa população.
Não posso deixar também de agradecer a todos os funcionários do município, população, imprensa, amigos e autoridades pelo respeito que sempre me trataram.
Marília, 05 de março de 2012
Prof. Mário Bulgareli”

sexta-feira, 2 de março de 2012

O hino que todos amam

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Quase véspera de Natal a empresa em que eu era diretor de marketing, a Cia Fotográfica Hirano, promoveu sua tradicional festa de fim de ano. O evento foi realizado num grande anfiteatro e todos os seiscentos funcionários estavam lá. Coube-me a função de apresentador e, logo na abertura, interpretei uma mensagem que emocionou e fez chorar a platéia. Muito distante dos tradicionais e festivos textos natalinos, o que li era uma lição que levava qualquer um a refletir sobre a data e questionar seu papel na face da terra.

O título era "Eu odeio o Natal" e o autor narrava a festa da ceia, risos, champagne, comida farta e muitos presentes quando alguém bateu à porta. Era apenas um menino maltrapilho pedindo um pedaço de pão. Naquele momento ele confronta a cena daquele pedinte faminto com o "natal" que se comemorava em sua casa. Imagina a família daquele garoto em torno de uma mesa simples, coberta por um plástico vagabundo e e se fartando de migalhas caídas de alguma mesa abundante . E chora ao se lembrar dos molambos, prostitutas, drogados e outras minorias perambulando pelas ruas como um cordão de desgraçados, sem futuro, sem esperanças. Por minha conta acrescento que é nesta época que as diferenças ficam muito mais evidentes.

Terminada a mensagem, afastei-me do microfone e aguardei o final dos aplausos.

Durante longos segundos passei os olhos pela platéia observando a reação de cada um. Homens e mulheres choravam e, se muito, disfarçavam pra não deixar rolar alguma lágrima. Alguns soluçavam. Os diretores, postados à mesa de honra, no palco, não fizeram questão de demonstrar que foram tocados pela emoção da mensagem. Todos tinham os olhos úmidos e avermelhados.

Findo os aplausos, aproximei-me do microfone e solicitei, em tom solene:

- Peço que todos estejam de pé, com a mão no coração e cantem o hino que o povo adora e ama em todo Brasil.

De pé e conforme pedira, vi os seiscentos funcionários e diretores se levantarem. Quando todos se postaram com a mão no peito, olhei para o lado - onde ficava o controle de som - e, com um aceno de cabeça, autorizei rodar o hino. O operador de som apertou a tecla de play e todos puderam ouvir a todo volume.

- Salve o Corinthians, campeão dos campeões, eternamente dentro dos nossos corações.....Salve o Corinthians....

Certamente ouvi uns 595 funcionários cantando, aplaudindo, gargalhando e festejando a improvisada brincadeira que tomou conta do anfiteatro. Tomei o cuidado de arriscar um olhar para meu lado esquerdo, onde estavam os diretores. O Eizi Hirano, são paulino como os demais, desconcertado disse-me provocativo:

- Segunda feira passa no DP que você será despedido, seu irreverente - brincou ele.

- Tudo bem Eizi, mas, por favor, você já pode tirar a mão do peito - respondi gargalhando ao ver que ele continuava, respeitosamente, com a mão no coração.

Durante longos e longos segundos só se ouviu risos descontraídos e muita comemoração. Instantes antes todos estavam chorando.