sábado, 31 de janeiro de 2015

Lula e Dilma: chefes da gangue

Empreiteiras querem levar Lula e Dilma à roda da Justiça
Com os processos da Operação Lava-Jato a caminho das sentenças, as empreiteiras querem Lula e Dilma junto com elas na roda da Justiça
SEM SAÍDA – Presos desde novembro do ano passado, os empreiteiros envolvidos no escândalo da Petrobras negociam acordos de delação premiada com a justiça (Michel Filho/AG. O GLOBO/VEJA)

Por Rodrigo Rangel, Robson Bonin e Bela Megaele

Há quinze dias, os quatro executivos da construtora OAS, presos durante a Operação Lava-Jato, tiveram uma conversa capital na carceragem da polícia em Curitiba. Sentados frente a frente, numa sala destinada a reuniões reservadas com advogados, o presidente da OAS, Léo Pinheiro, e os executivos Mateus Coutinho, Agenor Medeiros e José Ricardo Breghirolli discutiam o futuro com raro desapego. Os pedidos de liberdade rejeitados pela Justiça, as fracassadas tentativas de desqualificar as investigações, o Natal, o réveillon e a perspectiva real de passar o resto da vida no cárcere levaram-nos a um diagnóstico fatalista. Réus por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa, era chegada a hora de jogar a última cartada, e, segundo eles, isso significa trazer para a cena do crime, com nomes e sobrenomes, o topo da cadeia de comando do petrolão. Com 66 anos de idade, Agenor Medeiros, diretor internacional da empresa, era o mais exaltado: “Se tiver de morrer aqui dentro, não morro sozinho”.

A estratégia dos executivos da OAS, discutida também pelas demais empresas envolvidas no escândalo da Petrobras, é considerada a última tentativa de salvação. E por uma razão elementar: as empreiteiras podem identificar e apresentar provas contra os verdadeiros comandantes do esquema, os grandes beneficiados, os mentores da engrenagem que funcionava com o objetivo de desviar dinheiro da Petrobras para os bolsos de políticos aliados do governo e campanhas eleitorais dos candidatos ligados ao governo. É um poderoso trunfo que, em um eventual acordo de delação com a Justiça, pode poupar muitos anos de cadeia aos envolvidos. “Vocês acham que eu ia atrás desses caras (os políticos) para oferecer grana a eles?”, disparou, ressentido, o presidente da OAS, Léo Pinheiro. Amigo pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos tempos de bonança, ele descobriu na cadeia que as amizades nascidas do poder valem pouco atrás das grades.

Na conversa com os colegas presos e os advogados da empreiteira, ele reclamou, em particular, da indiferença de Lula, de quem esperava um esforço maior para neutralizar os riscos da condenação e salvar os contratos de sua empresa. Léo Pinheiro reclama que Lula lhe virou as costas. E foi dessa mágoa que surgiu a primeira decisão concreta do grupo: se houver acordo com a Justiça, o delator será Ricardo Breghirolli, encarregado de fazer os pagamentos de propina a partidos e políticos corruptos. As empreiteiras sabem que novas delações só serão admitidas se revelarem fatos novos ou o envolvimento de personagens importantes que ainda se mantêm longe das investigações. Por isso, o alvo é o topo da cadeia de comando, em que, segundo afirmam reservadamente e insinuam abertamente, se encontram o ex-presidente Lula e Dilma Rousseff.

(Com reportagem de Daniel Pereira e Hugo Marques)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Educação: gerações perdidas

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Uma criança brasileira pode ser alfabetizada em menos de um ano. A neurociência mostra isso, na prática. Estudos, testes e experimentos apontam que uma criança pode escrever e ler, com excelente velocidade e compreensão, em português,  já aos cinco anos de idade. Isso é possível se verificar em algumas escolas particulares ou mesmo em escolas públicas que utilizam o método de alfabetização baseado no fônico.

Mas, o que acontece com alunos da rede pública que, mesmo no quinto ano do Ensino Fundamental, não conseguem leitura e escrita razoáveis no nível dos seus colegas do ensino particular? Aliás, a maioria terminará o fundamental com a alfabetização retardada. Acessarão o Ensino Médio com sua formação defasada porque mal aprenderam a ler. E quem não tem domínio de leitura não conquista conhecimento.

O ensino público vai mal porque os dirigentes educacionais brasileiros acreditam em teoria, como a do global/construtivista, que prega que a criança, ao seu tempo, conquistará o conhecimento. Os resultados mostraram exatamente o contrário depois de mais de 30 anos insistindo nesse engano pedagógico. 

No método fônico "os cérebros ativam os circuitos corretos para a leitura quando a criança aprende a relação de sons e símbolos gráficos ganhando velocidade e autonomia para lerem palavras novas, de forma muito mais rápida", afirma Stanilas Dehaene, neurocientista francês que passou os últimos 20 anos estudando o assunto.

O construtivismo propõe que as crianças não sejam "adestradas" com a repetição de sílabas mas se preocupa em fazer as crianças darem mais atenção ao significado das palavras.- O problema é que o cérebro precisa decodificar para ler, só consegue prestar atenção no significado quando a leitura ganha certa velocidade e que conseguimos isso muito mais rápido com o método fônico - explicou Dehaene.

E o cientista contou uma experiência realizada na França que resume bem a situação vivida nos países que utilizam a teoria  do método global/construtivista. Crianças, do mesmo nível socioeconômico, foram divididas em dois grupos: um foi alfabetizado pelo método global e o outro, pelo fônico. No final da escolarização os alunos que haviam sido alfabetizados pelo método construtivista não só liam mais lentamente, como tinham mais dificuldades para compreender textos dos que os que haviam aprendido pelo método grafo-fonológico.

O atual método utilizado no Brasil, o global, é ineficaz e isso está provado não apenas em laboratório mas em centenas de experimentos realizados em inúmeros países. E esses conhecimentos científicos estão reorientando as políticas públicas em vários deles.

O Brasil classificou-se em 58º lugar no Pisa - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes - entre 63 países participantes. Nossos alunos são péssimos em língua e matemática. Somente um, entre mil estudantes brasileiros na faixa dos 15 anos, consegue uma leitura comparável ao padrão Pisa. E, em matemática, rastejamos: enquanto coreanos,chineses, finlandeses brigam pela nota 7, os alunos brasileiros mal conseguem atingir a nota 3, nesta área. Ao se retardar a alfabetização das crianças os efeitos serão colhidos no ensino médio. Gerações perdidas. De nada adianta o novo ministro da Educação reformular o ensino médio se o problema vem antes. 

Santa Catarina tem sediado encontros onde se prega o fim do global/construtivista e a colocação da neurociência em sala de aula. Como Portugal, através do seu novo Ministro da Educação, Nuno Crato, começou a fazer.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A indigência diplomática brasileira

Por Diego Braga Norte / Revista Veja

Governo foi rápido ao criticar a Indonésia pela execução de um brasileiro, mas se calou diante de prisões políticas e tortura em nações amigas.

O caso de brasileiros no corredor da morte na Indonésia desnudou uma das principais características da diplomacia brasileira sob a batuta do governo petista: a incoerência. A ideia de "dois pesos e duas medidas" serve bem ao propósito de avaliar as respostas diplomáticas de Brasília em relação a casos envolvendo direitos humanos. Às nações amigas, o silêncio sepulcral de quem consente. Às demais, o repúdio público. Para tentar evitar o fuzilamento de Marco Archer Cardoso Moreira, o Brasil apresentou pedidos de clemência, que acabaram recusados. Depois da execução, a presidente Dilma Rousseff manifestou "consternação e indignação", em nota oficial, e convocou o embaixador, em sinal de protesto. O governo também tem agido para tentar reverter a pena capital imputada a outro brasileiro, Rodrigo Muxfeldt Gularte, também condenado por tráfico de drogas na Indonésia.

Porém, ao longo de 12 anos do PT no governo, não foram poucas as vezes em que o Brasil se omitiu diante de flagrantes abusos. Prisões arbitrárias, torturas e violenta repressão de estudantes durante os protestos de fevereiro na Venezuela? Apedrejamento de mulheres, prisões de dissidentes e polícia moral no Irã? Detenções de ativistas políticos, torturas e mortes em Cuba? A resposta brasileira é o silêncio.

Outro caso recente que deixou flagrante a inépcia da presidente Dilma para lidar com temas internacionais foi sua declaração na Assembleia Geral das Nações Unidas condenando o uso da força e sugerindo a via do diálogo para lidar com o terrorismo do Estado Islâmico.

Cuba – O advogado Martim de Almeida Sampaio, diretor da Comissão de Direitos Humanos da OAB de São Paulo, relembra o marcante episódio do fuzilamento de três cubanos em 2003. Na época, o embaixador brasileiro em Havana, Tilden Santiago, justificou a decisão do governo cubano de fuzilar os três acusados de sequestrar um barco. “O regime cubano tinha o direito de se defender da tentativa de desestabilização estimulada pelos Estados Unidos”, disse Santiago.

Em outro caso, em 2010, durante uma visita oficial de Lula a Havana, o prisioneiro político Orlando Tamayo morreu em decorrência de uma greve de fome. A declaração do presidente foi desastrosa mesmo para a sua coletânea de disparates. Lula comparou o dissidente político Tamayo com presos comuns: “Eu acho que greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto dos direitos humanos para libertar pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”.

Almeida Sampaio afirma que o governo brasileiro faz “críticas seletivas motivadas por questões políticas, econômicas e ideológicas”. Para o especialista em direitos humanos, é “uma postura claramente incoerente” da diplomacia brasileira. “Os casos envolvendo Cuba são os mais candentes e o Brasil parece esquecer que os direitos humanos são universais; só critica quando lhe convém e se cala quando há interesses”, avalia, referindo-se à Declaração Universal dos Direitos Humanos, da qual o país é signatário desde a sua edição, em 1948.