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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Educação incial é o grande problema, diz Cláudio de Moura Castro


Por Edson Joel

O professor Cláudio de Moura Castro, articulista da Revista Veja, é economista graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais, doutor pela Universidade Vanderbilt ,mestre pela Universidade Yale e uma das maiores autoridades sobre educação no Brasil.

Em entrevista ao site Grupo A a respeito de seu livro "Caminhos Tortuosos da Educação no Brasil", Cláudio explica que ocorrem dois grandes desastres na educação do país.

- Há a educação inicial e a média, como a mãe de todas as guerras a serem travadas. Se não aprendemos a ler e a escrever direito, tudo que vem depois está comprometido. E como demonstra o PISA e todos os testes brasileiros – muito bons, por sinal – o resto está irremediavelmente comprometido pela ruindade do ensino inicial.

Para Moura a questão é até simples e a solução também para o Fundamental: "Nós até sabemos como fazer e a prova disso são os municípios pobres que tem educação de primeiro mundo". Moura refere-se as várias cidades que abandonaram as invencionices pedagógicas, colocaram as teorias construtivistas no lixo e passaram a aplicar o método fônico para alfabetização. Crianças, nestas escolas, são alfabetizadas em pouco tempo (menos de um ano) e avançam rapidamente em leitura e escrita, base para todo seu futuro escolar com aproveitamento que chegam a 100% em matemática.

- É também rápido, leva-se alguns anos apenas para fazer um grande reboliço. Por que quase nada contece? Por que a sociedade continua tão comprometida com as belas palavras dos discursos e esmotivada para o esforço real exigido? - pergunta Cláudio.


Se no Fundamental já se conhece a solução mas não se implanta, no Ensino Médio a situação é bem pior: "nem sequer temos clareza quanto ao que fazer" - sentencia ele.

No Brasil, diz, "o CNE está perdido, redige textos barrocos que nada dizem de pão-pão, queijo-queijo. Sabemos dos problemas: currículos enciclopédicos, ementas igualmente obesas, pouca ou nada de aplicação, só metade do tempo de aula é usado para aprender, assuntos distantes do mundo dos alunos, desconforto dos professores com a disciplina necessária em sala de aula e por aí afora", aponta o professor.


Os índices de analfabetos funcionais são astronômicos, alerta Cláudio que não concorda com "leis falando de idade para alfabetizar". "O analfabetismo funcional é o epicentro dos problemas educacionais, na verdade, é o corolário da educação de má qualidade. Esse sim, é o problema que precisamos enfrentar", diz.

Sobre a educação universitária e cotas, Moura Castro explana: "O superior não é um nível obrigatório em nenhum país do mundo. Classicamente, é um nível em que os critérios meritocráticos prevalecem. Afinal, é de lá que devem sair os quadros mais refinados para a economia, a política, as artes e as ciências. Faz todo sentido aumentar a abrangência social de sua clientela, desde que os impactos sobre a qualidade dos alunos que entram não sejam graves. Afinal de contas, como demonstram pesquisas, 80% dos resultados no Provão/Enade resultam da qualidade dos alunos que entram.

Obviamente, a única política que realmente tem sentido, no longo prazo, é melhorar a qualidade das escolas frequentadas pelos estratos mais modestos da sociedade. Faz também muito sentido preparar melhor os alunos da rede pública para os vestibulares. Como as universidades públicas são gratuitas e tendem a ser de boa qualidade, os alunos de famílias mais modestas têm sérias dificuldades de competir, sobretudo, nos cursos mais cobiçados. No caso dos privados, menos seletivos, há o impedimento financeiro.


Contudo, o Prouni e o FIES são bons programas para isso. Ademais, os bônus de pontuação, originalmente criados na Unicamp revelam-se eficazes. Provavelmente, as cotas são a pior maneira de lidar com o problema. Enquanto são reduzidas, 12% como no seu início, há uma reserva de alunos bons, de escolas públicas. As cotas não trazem dano, e tampouco, grandes vantagens. Porém, quando a metade dos alunos entrar por cotas, a perda de qualidade em cursos como medicina pode vir a ser dramática."


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