segunda-feira, 20 de abril de 2015

500 policiais são mortos, por ano, no Brasil

500 policiais mortos por ano no Brasil

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Todos os meses cerca de 40 policiais morrem no Brasil, quase 500 em um ano. É o país onde mais se mata policiais. E, absurdamente, esse massacre já é conhecido pelos governantes, as causas apontadas e as decisões para reduzir esse número, nunca chegam. Nos Estados Unidos, onde a venda de armas é liberada, 70 policiais morrem por ano, em média. Considere que a população americana passa dos 300 milhões contra os 200 milhões do Brasil
.

O jornalista Alexandre Garcia, da TV Globo, dá o tom do problema, num dos seus comentários a respeito da tragédia: "os agentes da lei são enfraquecidos pelas autoridades". O modelo de segurança pública no país precisa ser urgentemente revisto, diz ele.

No Bom Dia Brasil, Garcia comentou, em editorial:

"É difícil ser punido no Brasil. A maior parte dos crimes não são solucionados. A maior parte dos criminosos não são julgados. A maior parte dos condenados não são presos. E a maior parte dos que acabam cumprindo pena têm um altíssimo índice de reincidência. Voltam a praticar o crime.

Temos uma guerra interna; 154 brasileiros são mortos por dia em assassinatos em que não estão computados os crimes de trânsito. E é o país do mundo onde mais policiais são mortos. Nosso modelo de segurança pública precisa ser revisto. A responsabilidade tem que ser dos três entes federativos: União, estados e municípios. As drogas, que são o combustível da maior parte do crime, entram pelos vizinhos, como Bolívia, Colômbia, Paraguai, assim como as armas potentes dos bandidos.

Somos o maior consumidor de crack do mundo; o segundo de cocaína. E nós, brasileiros, ficamos olhando. Como nação, apoiamos a quem? Apoiamos a lei, ou desacreditamos na lei, na polícia?

Nos países do mundo desenvolvido, acreditam na polícia e nas leis. Nossas leis apoiam as vítimas? Garantem a punição aos bandidos? Nos Estados Unidos, o policial herói é tratado como herói. Aqui, não. É difícil ser policial neste país; policial por vocação, como a maioria. Os que dão a vida pela lei, pelos outros, essa é a maioria.

Aos que traem suas instituições, se desviam e viram bandidos. Neste país, agentes da lei são enfraquecidos pelas próprias autoridades - e não me refiro àqueles, que mesmo não sendo deuses, querem estar acima da lei. A propósito, quem está a serviço da lei precisa ser seu maior escravo. Do policial ao juiz."

Em em 2010 foram 36 mil mortos catalogados como vítimas de armas de fogo, no Brasil, um número quase 4 vezes maior que as mortes nos Estados Unidos (9.960 no mesmo período). Mas tem outro detalhe: os americanos tem 295 milhões de armas contra 15 milhões no Brasil. Mata-se no Brasil 19,3 pessoas para cada 100 mil habitantes. Nos Estados Unidos, 3,2 mortos para cada grupo de 100 mil. A Venezuela, o país mais violento do mundo, este índice é de 39.

As campanhas de desarmamento no Brasil - demagogia dos governantes populistas diante de um quadro gravíssimo - recolheram, até então, 620 mil armas. Recentemente os deputados paulistas aprovaram a lei que proíbe a fabricação e venda de armas de brinquedo sob alegação de que 40% dos "assaltos a mão armada", foram praticados por armas falsas. Para muitos promotores, delegados e juízes o Estatuto da Criança e do Adolescente é a licença para menores matarem, sem piedade.

Não há motivos para otimismo enquanto os responsáveis pela politica de segurança continuarem acreditando em bobagens como estas e o alto comando das polícias continuarem sem voz diante diante dos governantes sem noção. A polícia precisa, sim, expurgar os maus policiais, a sociedade exigir mudanças e os governantes tomarem vergonha na cara.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Alunos brasileiros vão mal "também" em matemática

Matemática: conhecimento é adequado só em 10% dos municípios

As escolas públicas brasileiras não têm conseguido fazer com que seus alunos absorvam o conhecimento adequado às séries que estão cursando, aponta um levantamento divulgado nesta quinta-feira pelo movimento Todos Pela Educação (TPE), com base no desempenho dos alunos do 5º anos e do 9º ano do ensino fundamental.

Paula Adamo Idoeta -BBC Brasil em São Paulo   12 fevereiro 2015

O estudo viu que no 9º ano, o último do ensino fundamental, a maior parte dos alunos não está sendo capaz de entender textos narrativos longos e com vocabulário complexo, não consegue resolver problemas matemáticos ou usar porcentagens e medidas padronizadas (como km e kg), o que seria esperado nessa etapa, segundo métricas do próprio governo.

E essa adequação – do que eles aprenderam para o que deveriam ter aprendido – não tem evoluído conforme o esperado; em alguns casos, estagnou ou mesmo recuou. Segundo o levantamento, feito a partir da comparação de notas do exame nacional Prova Brasil com metas – expectativas de notas – específicas à realidade de cada cidade estudada, apenas 10,8% dos municípios têm alunos com o aprendizado adequado ao que se espera no 9º ano (contra 28% em 2011) em matemática. Em português, esse percentual é de 30% (contra 55% em 2011).

"A adequação não é necessariamente decrescente, porque estabelecemos metas mais ambiciosas para os municípios. Alguns podem ter melhorado (a qualidade do ensino), mas não atingiram essas metas", diz à BBC Brasil Alejandra Meraz Velasco, coordenadora-geral do TPE. "A conclusão é que o aprendizado simplesmente não está melhorando como o desejado."

E tudo indica que a deficiência em português e matemática se estende também às demais disciplinas ensinadas nas escolas, apesar de isso não ter sido mensurado. "Se o aluno não domina a leitura e a compreensão de textos, ele vai ter dificuldade em entender as outras matérias também", prossegue Velasco.

Assim, o estudante acaba carregando falhas de aprendizado para os anos seguintes, o que estimula a evasão escolar e perpetua a qualidade insuficiente do ensino.

Em apenas 10% dos municípios conhecimento
em 
matemática é adequado para alunos do 9º ano
A avaliação do TPE usa dados das notas de matemática e português do Prova Brasil de 2013. O movimento também estabeleceu metas (não oficiais) para os municípios, levando em conta o patamar da educação em cada um deles. O objetivo do movimento é que, a partir do cumprimento dessas metas, ao menos 70% dos alunos brasileiros estejam com aprendizado adequado ao seu ano até 2022. No que diz respeito ao 5º ano do ensino fundamental, a avaliação constatou que apenas 48% dos municípios tinham, em 2013, alunos com conhecimento adequado em português (índice semelhante ao de 2011) e 61,7% tinham conhecimento adequado em matemática (contra 69% em 2011).

Desafio dos anos finais

Segundo Velasco, o diagnóstico do estudo reforça uma conclusão já tirada de outros levantamentos oficiais: que a educação brasileira nos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio está estagnada. "As reformas educacionais mais óbvias já foram feitas nos municípios, mas o país ainda precisa pensar em políticas que o permitam mudar de patamar e não estagnar mais nos anos finais", diz ela.

A solução dos problemas não é única nem simples, opina o TPE – passa por melhorias na formação de professores, muitas vezes pouco preparados para os desafios da sala de aula; por medidas para corrigir a defasagem de aprendizado dos alunos; e por reestruturações curriculares.

"Nas eleições, o debate girou em torno da aprovação (automática) ou não dos alunos, mas o que temos de lembrar é que tanto a aprovação quanto a reprovação podem levar o aluno a abandonar a escola se ele não aprender", diz a coordenadora do TPE.

Em uma análise por Estado, o estudo identificou que Acre, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rondônia, Santa Catarina e Ceará avançaram significativamente na adequação entre série e aprendizado de matemática no 5º ano do ensino fundamental.

Em português, porém, apenas o Acre teve mais de 80% de seus municípios com bons níveis de adequação no 5º ano. Isso pode acontecer porque o Estado partiu de um patamar mais baixo e, portanto, tinha metas mais modestas na escala do Todos Pela Educação.

O quadro estadual é pior quando avalia-se o 9º ano do ensino fundamental: em matemática, o maior índice de avanço na adequação é observado no Ceará, mas ele é de apenas 28,3%.

domingo, 12 de abril de 2015

The New York Times: o caos na Vanezuela

SIMON ROMERO
GIRISH GUPTA
DE "THE NEW YORK TIMES", EM CARACAS23/02/2015 12h19
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Para vislumbrar a desordem que a economia da Venezuela vive, entre em uma agência de viagens em Caracas e reserve uma passagem aérea de ida e volta para Maracaibo, do outro lado do país: o preço é de apenas US$ 16. Você quer um livro para ler durante a viagem? Para quem tiver moeda forte em mãos, "50 Tons de Cinza" sai por US$ 2,50. Esqueceu o creme dental? Um tubo de Colgate custa sete centavos de dólar. Grande pechincha, não?

Jorge Silva - 13.fev.2015/Folhapress
Nota de cem bolívares com a inscrição "desvalorizado" é colocada em mercado de Caracas
Nota de cem bolívares com a inscrição "desvalorizado" é colocada em mercado de Caracas

Mas para a maioria dos venezuelanos, desprovidos de acesso fácil a dólares, preços surreais como esses refletem uma imensa desvalorização cambial, uma economia em contração - o Produto Interno Bruto (PIB) deve cair em 7% este ano por conta da queda do petróleo - e controles de preços que produzem escassez aguda de produtos como leite, detergente e camisinhas.

"Vi pessoas morrerem na mesa de operações porque não dispúnhamos dos instrumentos básicos de cirurgia", disse Valentina Herrara, 35, pediatra em um hospital público de Maracay, cidade próxima de Caracas. Ela disse que seu plano é procurar outro emprego, porque conseguir manter as contas em dia com seu salário mensal de 5.622 bolívares - US$ 33 pela nova taxa de câmbio recentemente adotada - era impossível.

Diante de índices de aprovação em queda livre por conta do choque econômico que abala os venezuelanos, o presidente Nicolás Maduro vem intensificando a repressão aos seus oponentes, como reflete a detenção de Antonio Ledezma, o prefeito de Caracas, na semana passada; ele foi indiciado por acusações de conspiração e complô para promover um golpe de Estado com apoio dos Estados Unidos. Maduro, protegido do presidente Hugo Chávez, que morreu em 2013, vem adotando tom cada vez mais estridente no discurso contra os oponentes da chamada "revolução bolivariana".

Como prova contra a oposição, Maduro citou uma carta aberta veiculada este mês que pede um "acordo nacional de transição", e que levava a assinatura de Ledezma; Leopoldo López, outro líder oposicionista aprisionado há um ano; e María Corina Machado, política de oposição acusada em dezembro de conspirar para o assassinato de Maduro.

"Na Venezuela, estamos impedindo um golpe apoiado e promovido do norte", afirmou Maduro no Twitter, no final de semana. "A agressão do poder dos Estados Unidos é total e acontece diariamente". Maduro está se inspirando em Chávez, que foi derrubado durante alguns dias em 2002 por um golpe de Estado realizado com aprovação tácita do governo Bush, e depois transformou as críticas a Washington e o encarceramento de pessoas acusadas de golpismo em um dos traços que definiram seu governo.

Mas o Departamento de Estado norte-americano contesta as imputações de Maduro e diz que os Estados Unidos não estão promovendo a inquietação na Venezuela. Ao mesmo tempo, as ações de Maduro apontam para um endurecimento no tratamento dos líderes oposicionistas. Dos 50 prefeitos oposicionistas da Venezuela, 33 estão enfrentando processos judiciais relacionados a protestos antigovernamentais que causaram 43 mortes no ano passado, de acordo com Gerardo Blyde, prefeito de Baruta, uma cidade na periferia de Caracas.

Um proeminente prefeito oposicionista, Daniel Ceballos, de San Cristóbal, está na prisão há um ano, enquanto outro, Enzo Scarano, da cidade industrial de San Diego, no Estado de Carabobo, foi transferido da cadeia para a prisão domiciliar, no mês passado, devido à deterioração de sua saúde.
A prisão de Ledezma, 59, que foi eleito democraticamente mas privado da maior parte de sua autoridade em 2009, levou até mesmo alguns analistas pró-Chávez a questionarem a decisão de Maduro. Embora Ledezma tenha aderido a uma facção oposicionista linha dura chamada "a Saída", no ano passado, ele não era visto como especialmente influente ou importante. "Alimentar suspeitas é uma tática de distração para desviar a atenção da imensa desvalorização cambial que tivemos de suportar", disse Nicmer Evans, consultor político pró-Chávez que está entre as figuras de esquerda que agora se opõem abertamente a Maduro. "O que não fica claro é a prova de qualquer delito, neste caso".

Com a inflação disparando para 68%, as autoridades venezuelanas estão tentando administrar a crise econômica por meio de uma complexa teia de três taxas oficiais de câmbio. Por exemplo, alguns produtos básicos são importados ao câmbio de 6,3 ou 12 bolívares por dólar, mas uma nova taxa flutuante de câmbio de cerca de 171 bolívares por dólar foi adotada na semana passada, o que reflete uma desvalorização real de quase 70% na moeda da Venezuela.

No mercado negro, que alguns venezuelanos usam para realizar transações básicas, o dólar tem cotação ainda mais alta, da ordem de 190 bolívares. Mesmo para alguns dos adeptos mais leais de Chávez, Maduro não parece estar à altura de enfrentar a corrida por moeda forte. Jorge Giordani, um dos principais assessores econômicos de Chávez, declarou este mês que a Venezuela estava se tornando "piada" na América Latina, mencionando a corrupção e a burocracia labiríntica como fatores que acentuam o atoleiro econômico. "Precisamos reconhecer a crise, camaradas", disse Giordani, a quem o presidente demitiu no ano passado de seu posto como ministro das Finanças e Planejamento.

De fato, alguns economistas dizem que a hesitação do governo em reformar seus complexos controles cambiais pode intensificar os problemas econômicos da Venezuela."O sistema está completamente descontrolado", disse Francisco Rodríguez, economista chefe do Bank of America Merrill Lynch para a região andina, enfatizando que a disparada nos preços pode em breve ingressar no reino da hiperinflação, acelerando para os três dígitos este ano e para mais de 1.000% em 2016 se as políticas atuais forem mantidas. Maduro parece reconhecer que algumas mudanças econômicas profundas são necessárias na Venezuela, detentora das maiores reservas mundiais de petróleo, o que cria a ilusão de riqueza inexaurível.

Ele apoia um aumento no preço da gasolina, que custa menos de três centavos de dólar por litro à taxa oficial de câmbio mais forte; existe resistência considerável a essa medida mesmo que os subsídios ao combustível custem mais de US$ 12 bilhões (R$ 34,8 bilhões) ao ano para o governo.

Haverá eleições legislativas este ano e os partidários de Maduro parecem vulneráveis, e por isso o presidente está tentando escorar sua base. A despeito das queixas generalizadas sobre as dificuldades econômicas e os índices elevados de crimes violentos, há quem continue leal a Maduro por conta da vasta gama de programas sociais do governo. Para alguns venezuelanos que enfrentam dificuldades para se manter, a desordem econômica que veem em torno deles explica por que o presidente decidiu tomar os oposicionistas como alvo.

"Maduro está apavorado, e por isso está usando métodos mais totalitários, usando a polícia para colocar políticos na prisão", disse Eduardo de Sousa, 28, assistente em um laboratório farmacêutico. "Eles sabem que a revolução acabou, e estão com medo".

Tradução de PAULO MIGLIACCI
Folha de São Paulo

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Números do PISA derrubam mitos na educação

Exame internacional desfaz 7 mitos sobre eficiência da educação.


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza | Atualizado em 05.03.2020

Andreas Schleicher é um físico, matemático e estatístico alemão nascido em 1964 e grande pesquisador na área da educação. É ele o criador e atual responsável pela aplicação do PISA, sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes de responsabilidade da OCDE, sigla para Organização para Cooperação ao Desenvolvimento Econômico.

O PISA avalia estudantes na faixa de 15 anos, de todo mundo, a cada 3 anos. O objetivo é avaliar os sistemas educacionais de pelo menos 65 países com provas de leitura, matemática e ciências. No teste de 2012 participaram mais de 500 mil estudantes, inclusive o Brasil que classificou-se em 58º lugar em leitura, 55º em matemática e 59º em ciências. Shangai, Cingapura e Hong Kong foram os primeiros colocados.

Baseado nos números obtidos na avaliação, Andreas Schleicher destrói alguns mitos, ainda arraigados entre educadores brasileiros e usados para justificar o atraso escolar dos alunos. A matéria foi publicada pela BBC Brasil.

Andreas Schleicher, criador do projeto e ainda
seu coordenador
BBC BRASIL  8 DE ABRIL DE 2015

Mito 1. Alunos pobres estão destinados a fracassar na escola

Em salas de aula de todo o mundo, professores lutam para impedir que alunos mais pobres fiquem em desvantagem também no aprendizado. No entanto, resultados do Pisa mostram que 10% dos estudantes de 15 anos de idade mais pobres em Shangai, na China, sabem mais matemática do que os 10% dos estudantes mais privilegiados dos Estados Unidos e de vários países europeus.

Crianças de níveis sociais similares podem ter desempenhos muito diferentes, dependendo da escola que frequentam ou do país onde vivem. Sistemas de educação em que estudantes mais pobres são bem sucedidos tem capacidade para moderar a desigualdade social. Eles tendem a atrair os professores mais talentosos para as salas de aula mais difíceis e os diretores mais capazes para as escolas mais pobres, desafiando os estudantes com padrões altos e um ensino excelente.

Alguns americanos criticam comparações educacionais internacionais, argumentando que elas têm um valor limitado porque os Estados Unidos têm divisões sócio econômicas muito particulares.

Estudantes em escolas mais simples em Xangai
costumam se sair melhores que estudantes ricos
dos Estados Unidos
Mas os Estados Unidos são mais ricos do que a maioria dos outros países e gastam mais dinheiro com educação do que a maioria. Pais e mães americanos têm melhor nível educacional do que a maioria dos pais e mães em outros países e a proporção de estudantes de nível sócio econômico baixo nos EUA está perto da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).

O que as comparações revelam é que as desvantagens sócio econômicas têm impacto particularmente forte sobre o desempenho de estudantes nos Estados Unidos. Em outras palavras, nos Estados Unidos, dois alunos de níveis sócio econômicos diferentes variam muito mais em seu aprendizado do que se observa em outros países que integram a OCDE.

Mito 2. Países onde há muitos imigrantes têm pior desempenho

Integrar estudantes imigrantes, ou descendentes de imigrantes, pode ser um desafio. No entanto, resultados dos exames Pisa mostram que não há relação entre a porcentagem de estudantes imigrantes - ou descendentes de imigrantes – em um dado país e o desempenho dos estudantes daquele país nos exames.

Estudantes com históricos de imigração e níveis sociais similares apresentam desempenhos variados em países diferentes, o que sugere que as escolas onde os alunos estudam fazem muito mais diferença do que os lugares de onde os alunos vêm.

Mito 3. É tudo uma questão de dinheiro

A Coreia do Sul - país com melhor desempenho (em termos individuais) em matemática na OCDE - gasta, por estudante, bem menos do que a média. O mundo não está mais
dividido entre países ricos e bem educados e países pobres e mal educados. O sucesso em sistemas educacionais não depende mais de quanto dinheiro é gasto e, sim, de como o dinheiro é gasto.

Estudantes eslovacos apresentam uma média de
desempenho similar à de um estudante americano,
apesar de os EUA gastarem mais que o
dobro por estudante.
Se quiserem competir em uma economia global cada vez mais focada no conhecimento, os países precisam investir em melhorias na educação. Porém, entre os integrantes da OCDE, gastos com educação por estudante explicam menos de 20% da variação no desempenho dos alunos.

Por exemplo, aos 15 anos de idade, estudantes eslovacos apresentam uma média de desempenho similar à de um estudante americano da mesma idade. No entanto, a Eslováquia gasta cerca de US$ 53.000 para educar cada estudante dos 6 aos 15 anos de idade, enquanto os Estados Unidos gastam mais de US$ 115.000 por estudante. 

Mito 4. Salas de aula menores elevam o nível

Por toda parte, professores, pais e autoridades responsáveis por políticas educacionais apontam salas de aula pequenas, com poucos alunos, como essenciais para uma educação melhor e mais personalizada. Reduções no tamanho da classe foram a principal razão para os aumentos significativos nos gastos por estudante verificados na maioria dos países ao longo da última década.

Apesar disso, os resultados do Pisa mostram que não há relação entre o tamanho da classe e o aprendizado, seja internamente, em cada país, ou se compararmos os vários países.

E o que é mais interessante: os sistemas educacionais com melhor desempenho no Pisa tendem a dar mais prioridade à qualidade dos professores do que ao tamanho da classe. Sempre que têm de escolher entre uma sala menor e um professor melhor, escolhem a segunda opção. Por exemplo, em vez de gastarem dinheiro com classes pequenas, eles investem em salários mais competitivos para os professores, desenvolvimento profissional constante e cargas horárias equilibradas.

Sistema educacional americano tem altos custos mas com resultados mistos

Mito 5. Sistemas únicos de educação são mais justos, sistemas seletivos oferecem resultados melhores

Parece haver um consenso, entre educadores, de que sistemas educacionais não seletivos, que oferecem um mesmo programa de ensino para todos os estudantes, são a opção mais justa e igualitária. E que sistemas onde alunos aparentemente mais inteligentes são selecionados para frequentar escolas com programas diferenciados oferecem melhor qualidade e excelência de resultados. No entanto, comparações internacionais mostram que não há incompatibilidade entre qualidade do aprendizado e igualdade. Os sistemas educacionais que apresentam melhores resultados combinam os dois modelos. Nenhum dos países com alto índice de estratificação está no grupo de sistemas educacionais com os melhores resultados - ou entre os sistemas com a maior proporção de estudantes com o melhor desempenho.

Mito 6. O mundo digital requer novas matérias e um currículo novo

Globalização e mudanças tecnológicas estão tendo um grande impacto sobre os conteúdos que estudantes precisam aprender. Num mundo onde somos capazes de acessar tantos conteúdos no Google, onde habilidades rotineiras estão sendo digitalizadas ou terceirizadas e onde atividades profissionais mudam constantemente, o foco deve estar em permitir que as pessoas tornem-se aprendizes para a vida toda, para que possam lidar com formas complexas de pensar e trabalhar.

Resumindo, o mundo moderno não nos recompensa mais apenas pelo que sabemos, mas pelo que podemos fazer com o que sabemos. Como resposta, muitos países estão expandindo currículos escolares para incluir novas matérias. A tendência mais recente, reforçada pela crise financeira, foi ensinar finanças aos estudantes.

Porém, os resultados do Pisa mostram que não há relação entre o grau de educação financeira e a competência dos estudantes no assunto. Na verdade, alguns dos sistemas de educação em que os estudantes tiveram o melhor desempenho nas provas do Pisa que avaliaram competência em finanças não ensinam finanças - mas investem pesado no desenvolvimento de habilidades matemáticas profundas.

De maneira geral, nos sistemas educacionais de melhor desempenho, o currículo não é amplo e raso. Ele tende a ser rigoroso, com poucas matérias que são bem ensinadas e com grande profundidade.

Mito 7. O segredo do sucesso é o talento inato

Livros de psicólogos especializados em educação tendem a reforçar a crença de que o desempenho de um aluno brilhante resulta de inteligência inata, e não do trabalho duro. Os resultados do Pisa questionam também este mito.

Escola em Sichuan, na China, mostra que não há incompatibilidade entre resultados bons e acesso justo

Às vezes, professores se sentem culpados por pressionar estudantes tidos como menos capazes, acham injusto fazer isso com o aluno. O mais provável é que tentem fazer com que cada estudante atinja a média de desempenho dos alunos em sua classe. Na Finlândia, em Cingapura ou Xangai, por outro lado, o objetivo do professor é que alunos alcancem padrões altos em termos universais.

Uma comparação entre as notas escolares e o desempenho de estudantes no Pisa também indica que, frequentemente, professores esperam menos de alunos de nível sócio econômico mais baixo. E pode ser que os próprios alunos e seus pais também esperem menos. A não ser que aceitem que todas as crianças podem alcançar os níveis mais altos de desempenho, é pouco provável que os sistemas educacionais (com resultados piores) possam se equiparar aos dos países com índices de aprendizado mais altos.

Na Finlândia, Japão, Cingapura, Shangai e Hong Kong, estudantes, pais, professores e o público em geral tendem a compartilhar a crença de que todos os estudantes são capazes de alcançar níveis altos. Um dos padrões mais interessantes observados entre alguns dos países com melhor desempenho foi o abandono gradual de sistemas nos quais estudantes eram separados em diferentes tipos de escolas secundárias.

Esses países não fizeram essa transição calculando a média de desempenho (entre todos os grupos) e usando essa média como o novo padrão a ser almejado. Em vez disso, eles colocaram a nova meta lá em cima, exigindo que todos os estudantes alcançassem o nível que antes era esperado apenas dos estudantes de elite.

Nota do autor: São muitos os exemplos de alunos brasileiros pobres em regiões com IDH baixo e com índices altos, como mais de 80 escolas do Ceará (que usam método fônico) entre as 100 melhores notas nacionais do  IDEB. Escolas localizadas em regiões de pobreza e violência e com índices de IDEB elevados - como Teresina que chegou em primeiro entre todas as capitais do país em 2017 - são evidências que a maioria dos governantes ignoram e os "doutores em educação" escondem. Sobral com 9,1 pontos é a cidade campeã no IDEB anos iniciais do ensino básico, entre todas as escolas do país. E, nos anos finais, a nota de Sobral foi, em 2017, de 7,2 quando a nota média do Brasil, neste segmento, é 4,4 pontos, apenas.

LEITURAS RELACIONADAS:
- Ineficiência do método construtivista é comprovada em laboratório
- Sala de aula brasileira é a mais indisciplinada do planeta

segunda-feira, 6 de abril de 2015

A indisciplina nas salas de aula: Japão x Brasil.

Sala de aula típica no Japão: os próprios alunos cuidam da escola

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Ao contrário dos alunos brasileiros que destroem, no Japão são as próprias crianças que cuidam da escola. Lá não existem faxineiras. Os alunos estudam e também varrem as salas, lavam os corredores e limpam seus banheiros. Isso faz parte do currículo e faz tempo. Os avós dos aluninhos japoneses já faziam isso.

No Brasil, onde leis e pedagogias tornam a indisciplina impune, impera a baderna, violência e o desrespeito. Mesmo crianças do ensino básico destroem o patrimônio, quebram banheiros recém reformados, riscam carteiras e paredes e inutilizam material didático. Nas escolas de ensino médio vive-se uma barbárie sob olhares complacentes dos que deveriam impor e exigir o cumprimento de normas e regras dentro do espaço escolar. Por outro lado, métodos e metodologias falhas carregam o ensino brasileiro para um abismo cada vez maior que nos separara de países que conduzem a educação com seriedade e profissionalismo.

No Programa Internacional de Avaliação de Estudantes - PISA - somos o 58º entre 64 países pesquisados. O Brasil tem as salas de aulas mais indisciplinadas e também mais violentas do planeta, segundo a Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento.

A sociedade não reage. Que vergonha!

PS: Os vídeos contendo imagens de depredação praticada por alunos brasileiros foram "retirados" pela equipe do Youtube alegando que ferem as regras da empresa.

A disciplina nas escolas do Japão
Cuidando da própria escola

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Vamos acabar com o populismo: vídeo de Glória Álvarez viraliza nas redes sociais


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Acabar com o populismo usando a internet.  Esta é a proposta da jovem Glória Álvarez, formada em Ciência Política na Guatemala com Mestrado na Universidade Sapienza, em Roma, que viralizou nas redes sociais em todo mundo depois de sua participação numa conferência na Espanha.

Falando no Parlamento Ibero-americano da Juventude, em Zaragoza, Glória foi objetiva e contundente nas denúncias que fez contra governos populistas que, a despeito de "lutar pelos pobres", querem na verdade a implantação de governos ditatoriais, como vem ocorrendo na América Latina.

"O populismo é um atalho que joga com as paixões, ilusões e ideais do povo para prometer o impossível, aproveitando-se da miséria das pessoas e deixando de fora absolutamente toda razão e lógica nas tomadas de decisões. Joga com a necessidade dos outros para implantar uma ditadura" - repete Glória Álvarez no vídeo que circula pela internet.

"O populismo praticado por líderes latino-americanos tira a dignidade das pessoas que mal conseguem administrar suas próprias vidas e fica dependente deles" - diz Glória. A ideia básica do populismo é convencer que você está pobre porque outros estão ricos. 

"O populismo ama tanto os pobres que os multiplica para continuar recebendo votos" - diz ela em seu discurso referindo-se a ações de governos que procuram, primeiro, destruir as instituições e alterar as constituições para lhes dar mais poder "em nome do povo". Outra prática comum é a disseminação da corrupção. 

Os atuais governantes do PT repetem a mesma tática com aparelhamento nas instituições, como a justiça, insistência na alteração da constituição, mudanças na estrutura de gestão das escolas (como a tentativa de instituir a figura do Diretor Principal - certamente alguém do interesse do governo), proliferação de programas Sociais com caráter eleitoreiro como fez  Lula, Dilma, Hugo Chavez, Maduro, Cristina Kirchner e alguns países menores na América Latina. 

Contra isso ela sugere o uso da internet onde se pode apresentar denúncias e compartilhamentos de informações e debates com propagação de argumentos racionais opondo-se as falácias das práticas populistas.

"Não se trata de uma luta de esquerda e direita mas de populismo versus república. Muitos governos populistas chegaram ao poder por via de votos graças a pouca competência dos governos anteriores. E só a república pode garantir o funcionamento das instituições e garantir as liberdades" - diz ela.

A Venezuela, vítima do populismo doentio de uma mente insana como a de Hugo Chavez, é exemplo clássico do populismo. O país está vivendo caos político, social e econômico, violência e intensa corrupção. O desabastecimento é generalizado, Falta comida e até papel higiênico. As instituições são dominadas pelo governo e, independente de manifestações de milhões, o controle das massas é feito com armas e muitas mortes. Jovens estudantes universitários são destroçados por um grupo chamado de "coletivos", um bando armado e de moto que ataca opositores do regime.

Os "pobres" venezuelanos recebiam bolsas-família, casas mobiliadas, motos e toda sorte de benefícios, com uma única contra partida: votar nos chavistas em eleições fraudadas, como se constatou na última. Mas, para sustentar esse projeto de poder era preciso muito dinheiro que Chavez tirava dos pesados tributos imposto a classe produtiva. Essa grana se esgotou porque a economia desmoronou (poucos trabalhando para sustentar eleitores improdutivos). O dinheiro da petroleira PDVSA minguou com a queda nos preços internacionais. Pobres e ricos estão na mesma miséria: limpando o traseiro com jornais empastelados pelo governo. Só serve pra isso.

No Brasil, o populismo patético de Lula não se transferiu para a presidente Dilma cada dia pior em todas as pesquisas. Vendo o povo acordar, o PT entrou em pânico e desfila bobagens como "defesa da Petrobras" que o partido arrombou ou "o PT é vítima da corrupção". A multiplicação da miséria para continuar recebendo votos é uma verdade inconteste no governo petista: veja os exemplos dos "imigrantes haitianos" trazidos pelo PT pra quem o governo brasileiro paga bolsa família e os usa em manifestações pró-governo.

Onde está o amor do PT aos pobres? Nos hospitais falidos que amontoam doentes nos chãos dos corredores? Nas escolas públicas sem qualidade, sem gestão, sem métodos e metodologias que alfabetizem? Na insegurança do povo vítima de todos os tipos de criminosos? Nas péssimas estradas mantidas pelo governo? Nos portos e aeroportos de altos custos? Nos altos tributos? Na inflação que come o pouco ganho dos assalariados? No baixo crescimento da economia? Na corrupção desvairada por todos os cantos do governo petista?