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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Método fônico: 70 dias letivos de alfabetização e 100% de aprovação

Profª Miriam Nitcipurenco de Souza, diretora

Seguindo as evidências científicas, 100% dos alunos de uma escola municipal, das três primeiras séries do ensino básico, fecharam o período de 70 dias letivos, plenamente alfabetizados. E foram os próprios alunos, do primeiro ano, que leram os enunciados das suas últimas provas, sem ajuda do professor leitor.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

A escola municipal Norma Mônico Truzzi, de Jafa, um distrito do município de Garça (SP), passou os dois últimos bimestres de 2019 executando seu mais ambicioso programa pedagógico: alfabetizar os alunos dos três primeiros anos do ensino básico nos 70 dias letivos restantes do ano. O projeto piloto foi proposto pela diretora Miriam Nitcipurenco de Souza depois de analisar o baixo nível de conhecimento conquistado pelos alunos nos últimos 12 anos, com o método global, utilizado nas escolas do município.

O Ideb de sua escola, em 2017, foi de 5,8 pontos e saltou para 6,5 em 2019. Em 2017 a média da rede de Garça atingiu apenas 6,1. Em 12 anos - entre 2005 e 2017 - o avanço da rede municipal foi de apenas 1,4 pontos, uma evolução irrelevante (0,11 por ano) comparando-se com o ritmo de escolas que utilizam o método fônico, como Sobral, que saltou 5,1 pontos (de 4,0 para 9,1), no mesmo período.  E as escolas das 12 cidades pertencentes ao chamado Vale da Rapadura, no Ceará, chegaram entre as 80 melhores notas no IDEB nacional usando o mesmo método copiado de Sobral: método fônico.

- No inicio do segundo semestre de 2019 as avaliações indicaram que a maioria dos nossos alunos não lia com fluência e o conhecimento da escrita era lastimável. Propusemos um projeto pedagógico baseado na alfabetização pelo método fônico e, diante de tantas evidências científicas a proposta foi aprovada pela então secretária da Educação - explica Miriam, diretora na rede há um ano e meio. 

Mas havia um problema sério a ser enfrentado para a implementação do projeto: os professores e a coordenadora pedagógica só tinham formação pelo Método Sesi, igualmente Global e construtivista e utilizado nos últimos 8 anos. Durante esse período o Ideb da rede municipal despencou. A maioria dos professores não tinha nenhum conhecimento do método fônico.

- Solucionada a questão financeira, adquirimos material de de Língua Portuguesa para os três primeiras anos e a formação dos professores foi realizada, online, com o Instituto Alfa e Beto - diz Miriam. Em duas sessões de uma hora e meia estávamos prontas - confessa, aliviada.

- Os alunos ganharam total autonomia e eles próprios leram os enunciados dos seus testes, sem ajuda do professor leitor. Inclusive os do primeiro ano - afirma a diretora. Ela lembrou que o avanço ocorreu também em outras matérias e a disciplina melhorou 90%.

Para os professores a implantação e execução do projeto foi um processo simples e descomplicado e comparam com as imensas dificuldades dos alunos com o método global. O vídeo é um resumo dos bons frutos colhidos em apenas 70 dias letivos.

Vídeo mostra os resultados obtidos com a implantação do Projeto Piloto Alfabetização Sem Complicação, com método fônico, numa escola municipal de Jafa,
distrito de Garça (SP).

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Como o cérebro aprende a ler

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Stanislas Dehaene

O Professor Stanislas Dehaene, em palestra no World Innovation Summit for Education (WISE), mostra como o cérebro de uma criança funciona e quais caminhos e sequências segue na aprendizagem da leitura. Dehaene tem repetido que não existem 100 maneiras diferentes de se ensinar uma criança ler. Pessoas são diferentes mas seus cérebros usam a mesma sequência na hora de aprender a ler e, quanto mais se respeitar esses caminhos, mais rápido será a alfabetização. Evidências científicas incontestáveis.

O neurocientista Stanislas Dehaene há 30 anos estuda o impacto dos números e das letras no cérebro humano. Ele afirma que o método mais eficaz de alfabetização é o que chamamos fônico. Ele parte do ensino das letras e da correspondência fonética de cada uma delas, como se fazia antigamente.

Muitas escolas nordestinas que usam fônico são melhores que particulares e públicas de São Paulo

O método e metodologias lastreados no fônico colocaram dezenas de escolas nordestinas na liderança do IDEB - Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico - com os melhores índices nacionais no Saeb (Sistema de Avaliação do Ensino Básico) que analisa a proficiência em matemática e português.

O início desta mudança no cenário educacional ocorreu em Sobral e espalhou pelo Vale da Rapadura (12 cidades desta região que copiaram o método fônico de Sobral) que estão entre as melhores do país. Aliás, mais de 70 cidades nordestinas aparecem entre as 100 melhores do país, liderada por Sobral. Basta citar que a capital líder no Ensino Básico, entre todas do Brasil, é Teresina cuja rede municipal adotou o método fônico faz 10 anos e lidera como o melhor índice do Ideb entre todas as capitais.

Granja, cidade nordestina com o segundo o pior IDH do estado, atingiu nota 7,7 no Ideb em 2017. Escolas do nordeste que adotaram o método fônico, como Esmerino Arruda Filho, tem índices que humilham as melhores escolas públicas e particulares do Estado de São Paulo: Ideb de 9,3 de 2017 enquanto Campinas chegou a 6,1 pontos e a capital do estado a 6,0. O índice Brasil foi de apenas 5,5 pontos no Ideb.. 

Em matemática a referida escola chegou a escala 9, do Saeb - Sistema de Avaliação do Ensino Básico - com 327,76 pontos e em português 293,93 pontos, 8 na escala Saeb. A escala Saeb vai de um a nove.
Pequenas escolas nordestinas, que usam método fônico, humilham as mais caras escolas particulares do Estado de São Paulo com índices do IDEB elevadíssimos. 

A Escola Norma Mônico Truzzi, de ensino infantil e básico de Jafa, região de Garça, instituiu o método fônico para as três primeiras séries, no final de 2019 e, em 70 dias letivos, todos aprenderam ler com fluência e fantástica compreensão e escrever, inclusive com letra cursiva, nas formas variadas propostas. A maioria dos alunos, das três séries, tinha o mesmo nível: dificuldades para ler, compreender e escrever.

Palestra do Professor Stanislas Dehaene

vídeo original da palestra do neurocientista está em inglês mas o vídeo abaixo está
legendado em português.

Olá, meu nome é Stanislas Dehaene, eu sou um neurocientista cognitivo francês, eu estudo o cérebro e hoje eu gostaria para falar sobre nossa pesquisa de como o cérebro aprende a ler e por que é isso é pertinente para a educação.

Meu laboratório está situado ao sul de Paris, especializado em visualizar o cérebro para várias necessidades, e eu creio que você está ciente de que hoje temos uma variedade crescente de métodos de visualização cerebral que incluem visualização por ressonância magnética funcional, além de eletroencefalografia e magnetoencefalografia  para mapear a dinâmica da atividade cerebral.

Você pode não estar ciente de que estas técnicas estão agora disponíveis também para estudar a educação e para estudar o cérebro da criança.

Escaneando o cérebro enquanto ele aprende

É perfeitamente possível hoje, com o treinamento com um simulador de scanner, recebendo-se crianças dentro desse scanner, obtendo-se excelentes imagens do cérebro da criança enquanto ela aprende, mesmo fazendo escaneamentos repetidos, as crianças ficam extremamente felizes por vir ao laboratório e participar desta pesquisa, só precisamos contar a elas que são como astronautas dentro desta nave espacial, sem se mexer, o que é muito importante para nós. Elas contribuem para a ciência, mas também contribuem para a nave espacial ao não se movendo. Com isso podemos estudar como a Educação muda o cérebro. 

Eu gostaria de mencionar neste slide o que penso que a neurociência pode trazer para a educação. Tem um ponto muito simples, eu acho que é uma pena que os professores saibam mais sobre o funcionamento de um carro do que eles sabem sobre o funcionamento do cérebro de seus alunos.

Eu creio nisso, penso que se você deseja alterar o sistema, você precisa entender como ele funciona. Eu acredito que, ao emponderar os professores com o conhecimento apropriado, sobre os princípios da plasticidade do cérebro e educação, isso deverá conduzir-nos a melhores práticas em sala de aula.

Ciência cognitiva

Há muito que já sabemos em neurociência cognitiva que é relevante, as competências da criança pequena para o visual, linguagem, números, muitos outros como a aprendizagem funciona, o papel de atenção, o papel da recompensa, o papel do sono, a importância do sono para a consolidação da aprendizagem, a transferência de conhecimento explícito para implícito, muitos outros tópicos são relevantes.

Eu também acho que a ciência cognitiva pode ajudar a medir progressos na educação, e na experimentação é absolutamente essencial a fim de testar protocolos educacionais e quantificar seus efeitos no comportamento no cérebro.

E, finalmente, acredito também que a neurociência cognitiva também pode participar no desenvolvimento de dispositivos de ensino, tais como currículos escolares, manuais ou software. Vou dar um exemplo disso no final.

Como o cérebro aprende a ler

Hoje quero falar especificamente sobre o tópico da leitura, e o que entendemos sobre isso no ponto de vista do cérebro.

Se você não tivesse aprendido a ler, qualquer página de texto pareceria a você como uma pedra: uma textura, mas sem sentido. Mas porque você aprendeu a ler você pode ter uma conversa com os mortos, você pode ouvir os mortos com seus olhos, porque você pode ler o que eles escreveram 2000 anos atrás. Você pode comunicar pensamentos para a mente através dos olhos, o que é uma grande invenção do mundo, de acordo com Lincoln.

Então, como isso funciona? Bem, esta é uma foto do seu hemisfério esquerdo, a parte do cérebro mais essencial para a linguagem e leitura. Somente para orientar vocês, esta é a parte de trás do cérebro, que foi ligeiramente ampliada de modo que você possa ver dentro das dobras. E agora eu quero mostrar a ativação do cérebro enquanto você lê uma palavra. Nós vemos isso em tempo real.


Arquitetura cerebral de leitura

Você tem a palavra que se desenrola da parte de trás do cérebro para a frente do cérebro, ele vai repetir este ciclo várias vezes. Você pode ver que a informação entra no polo occipital, que é o lado visual do cérebro, se movimentando para as áreas ventrais, e depois explode no hemisfério esquerdo - atividade distribuída.

Eu naturalmente não tenho tempo para explicar a você todas os detalhes dessa atividade cerebral, mas quero mostrar uma espécie de caricatura que você pode se lembrar. E é muito simples que a leitura comece como qualquer outro estímulo visual, nas áreas geralmente visuais do polo occipital do cérebro, mas rapidamente se movimenta para uma área que descobrimos que se concentra o reconhecimento da palavra escrita. Eu chamei ela de "caixa de letras" do cérebro, porque é onde armazenamos nossos conhecimento sobre as letras.

E a partir daí que você viu, e esta explosão de atividades em pelo menos duas redes, uma que diz respeito ao significado das palavras e a outra que diz respeito à pronúncia e a articulação da palavra. Então, podemos dizer essencialmente pela perspectiva do cérebro é que aprender a ler consiste primeiro em reconhecer as letras e como se combinam em palavras escritas, e segundo lugar conectando-as a estes sistemas chamados de sons de fala, e significado.

E o que é impressionante é que todas as áreas em laranja e verde aqui já existem para a língua escrita. Elas são compartilhadas entre a linguagem falada e a escrita.

Estudos com bebês

Não apenas isso, mas elas já existem em crianças pequenas. Nós podemos visualizar o cérebro de bebês ainda quando são extremamente novos, com poucos meses de idade, nós temos vários métodos para isto. E quando nós não ouvimos língua, já podemos ver essas redes de regiões que existem também em outros cérebros e que processam a linguagem falada.

Então podemos dizer que ler não é criar algo completamente novo, ler consiste essencialmente na conexão, criação de uma interface entre a visão e o sistema de linguagem, o sistema de linguagem oral.

Quando a criança chega à escola para aprender a ler, ela já tem um sofisticado sistema de linguagem falada, ela já possui um sofisticado sistema de visão, mas ela precisa criar esta interface, esta área visual de formação de palavras, esta “caixa de letras” do cérebro e conectá-la adequadamente, e ao fazê-lo também precisa alterar alguns desses sistemas-alvo.

Como isso funciona exatamente?

Nós realizamos um grande número de estudos em diferentes laboratórios no mundo, que analisam o que foi alterado no cérebro de crianças ou adultos depois de aprenderem a ler, e, em particular, quero mencionar aqui o estudo que fizemos muito recentemente, que foi publicado na revista Science, onde graças a uma vasta colaboração internacional, nós pudemos escanear sujeitos letrados e iletrados, em vários níveis de alfabetização, no Brasil e em Portugal, levando-os a nosso laboratório na França.

Graças a este experimento, conseguimos fazer um mapa completo das áreas que foram modificadas pela aprendizagem da leitura, e como todos vocês nesta sala sabem ler, podem considerar que seu cérebro foi modificado dramaticamente.

Caixa de letras

Eu lhes falei sobre estas áreas para a linguagem, a primeira grande mudança que vemos no cérebro alfabetizado é esta “caixa de letras”, tornando-se ativa somente em pessoas que aprenderam a ler. Ela será ativada em proporção direta com o desempenho da leitura, ela ativará em resposta as letras que você conhece. Ela não será ativada, por exemplo, pelo chinês, se você não souber chinês.

Então, ela aprende as formas do letras. Isto é acompanhada por uma grande mudança no córtex visual, em suas áreas visuais iniciais, que são genéricas e servem para muitas tarefas visuais que você mudou a precisão da codificação em seu córtex visual porque você aprendeu a ler. Mas mais importante, você também mudou sua representação de sons da fala. Se você aprendeu uma língua alfabética, você mudou a maneira como seu córtex codifica os fonemas da fala, os componentes elementares de fala. E aprender a ler é, em grande medida, a capacidade de atentar para os fonemas individuais da fala, e atribuir a eles letras diferentes.

Ouvindo sons e pensando em letras

Quando vemos este mapa, nós podemos pensar, certamente, que as áreas de conexão também devem ser modificadas. E eu fico feliz em dizer que, com novos métodos para identificar as conexões do cérebro humano, também podemos monitora estas mudanças. Podemos ver, mesmo em uma pessoa viva, todas estas trilhas de fibras que conectam às áreas do cérebro, nós podemos ver uma microestrutura, e o que vemos é que, de fato, este conjunto de conexões que existem em todos os cérebros, é reforçado, foi modificado em pessoas que aprenderam a ler, e há uma boa probabilidade de que este conjunto seja envolvido em conectar as letras aos sons bidireccionalmente. Quando você escuta os sons, você também pode pensar nas letras.

Esta mudança é sutil, mas é uma alteração anatômica. Então, a anatomia do cérebro também é mudada porque as crianças aprendem a ler.  Nós fazemos essas mudanças essenciais que certamente criam uma nova modalidade de entrada da linguagem.

A área cerebral antes de aprender a ler

Há muitas coisas que entendemos sobre os detalhes deste processo, e eu quero mostrar a vocês, primeiramente, o que essa área faz antes de aprendermos a ler.

Bem, não é naturalmente uma área que se desenvolveu pra ler, então ela deve estar fazendo alguma outra coisa, e o que descobrimos é que essa região também reage a rostos e objetos, ela é envolvida no reconhecimento visual em todas as espécies, na verdade, em todos os primatas, pelo menos.

E o que nós descobrimos é que, à medida que você aprende a ler, então isto são resultados da leitura aqui no eixo X. 

O que você pode ver é que a resposta a sequências de caracteres aumenta nesta área, mas a resposta a outras categorias diminui. Então existe uma espécie de competição no cérebro do leitor e a nova função da leitura tem que encontrar algum espaço no córtex, criando espaço por assim dizer, e o que nós também vemos é que a representação dos rostos é, portanto, deslocado para o hemisfério direito.

As palavras competem com os rostos no cérebro do leitor, não é uma competição massiva, mas é uma espécie de reorganização que ocorre quando as crianças aprendem a ler.

Leitura espelhada nada a ver com dislexia

Graças a esta compreensão, nós também podemos explicar o quebra-cabeças sobre aquisição de leitura. Um quebra-cabeça que fomos capazes de explicar, pelo ponto de vista do cérebro, é algo que você pode ter visto em suas crianças, que é esta noção de leitura e escrita espelhada. 

Muitas crianças, quando assinam os seus desenhos, escrevem seus nomes na direção imprópria, da direita para a esquerda. Neste caso aqui temos um exemplo de uma criança que escreveu "Theodore ti voglio bene", e a criança escreve da direita para a esquerda, da direita para a esquerda, alternando, em um sistema de escrita que é conhecido como "boustrophedon", que quer dizer como o "boi golpeia". Esta era a maneira de escrever na Grécia Antiga. Mas é claro que as crianças não sabem sobre a Grécia Antiga nesta idade.  

Então como eles são capazes de fazer essas coisas, e muitos pais pensam que é essa dislexia? 

Nós entendemos agora do que se trata, que não é dislexia. O que ocorre é um traço desta antiga função do sistema que está tentando aprender a ler. Todos nós temos, todos os primatas têm um mecanismo de simetria que permite que você observe que estes dois rostos são da mesma pessoa, mesmo que em sua retina sejam imagens completamente diferentes, mas elas são imagens espelhadas uma da outra. E este é um sistema evoluído que temos que desaprender quando aprendemos a ler, porque não é útil, precisamos distinguir estes itens como duas palavras diferentes ou palavras em potencial.

Nós descobrimos de fato que a área principal que tem maior sensibilidade a esta simetria é precisamente a área que é chamada de "caixa de letras" do cérebro que está tentando aprender a ler.

Então, essencialmente não é de se admirar que as crianças tenham dificuldade com a leitura e escrita espelhadas, isto não tem nenhuma relação com dislexia, é uma dificuldade universal para todas as crianças que elas precisam superar, e nós podemos ensiná-las explicitamente pelos gestos da escrita, para ajudá-las a superar esta dificuldade.

Leitura de palavras completas é mito

Outra coisa que entendemos um pouco melhor agora é esta questão clássica sobre fonética versus treinamento com palavras completas. Vocês sabem que tem havido muito debate na psicologia e na educação: deveríamos ensinar em nível de palavras completas ou deveríamos realmente ensinar cada letras e sua pronúncia?

Existe efetivamente algo como a forma global das palavras que tem sido usado na leitura? Aqui tem algo muito importante: como adultos, nós esquecemos como éramos quando crianças. Nós esquecemos o quão difícil era aprender a ler, e achamos que podemos apenas colocar os olhos em uma palavra e imediatamente vem à mente. E realmente, existe esta noção de leitura paralela, nós lemos todas as letras ao mesmo tempo, isto nos dá a ilusão de leitura de palavras completas, mas na verdade se olharmos para o cérebro, o cérebro ainda processa cada uma das letras e não olha para o formato global.

Então, a leitura das palavras completas é um mito, basicamente. O que temos é o processamento de letras, mas processamento de letras em paralelo através de todas as letras da palavra. O cérebro não usa a forma global da palavra e, de fato nas crianças é ainda pior, as crianças precisam de mais e mais tempo, para mais e mais palavras.

Vocês podem ver isto neste gráfico, este é o número de letras em uma palavra e o tempo de reação de crianças. No 1º ano elas são muito lentas e precisam de mais e mais tempo para cada letra. Então, isso não é absolutamente leitura de palavras completas. É um processo lento, serial, uma letra por vez, e à medida que as crianças progridem, 2ª ano, 3ª ano, isto desaparece, e isto dá a ilusão de leitura de palavras completas.

Então eu acho que podemos ser muito claros sobre este ponto, porque há uma forte convergência em pesquisa educacional sugerindo que o cérebro não tem relação com este tipo de exercício que meu filho teve de selecionar as letras ascendentes e descendentes, e decidindo que isto corresponde a esta palavra ("lapin" na tela). O formato global não é utilizado.

A neurociência: a correspondência entre letra e som é a maneira mais rápida de adquirir a leitura e a compreensão.

Algumas palavras de conclusão. Eu penso que a neurociência pode auxiliar na educação. Nós entendemos agora muito sobre leitura. Nós entendemos que em todas as culturas não há tanta variação, nós sempre temos os mesmos mecanismos cerebrais.  A leitura sempre exige a especialização do sistema de visão para o formato das letras, conectando-os a sons da fala, mesmo em chinês. A propósito, não há mais letras, mas há caracteres e alguns deles são mapeados estatisticamente aos sons.

Ensinar a correspondência da letra ao som é, portanto, essencial, é uma das principais partes que foi transformada no cérebro. A pesquisa do cérebro é convergente à pesquisa em educação, ensinando que o ensino da correspondência entre letra e som é a maneira mais rápida de adquirir a leitura e a compreensão, não apenas, você sabe, ser capaz de decodificar as palavras.

Como isto funciona? Isto funciona porque existe uma forma de autoensino, uma vez que as correspondências são aprendidas, as crianças têm estas correspondências entre letras e sons, então eles podem reconhecer as palavras usando auditivamente seu léxico auditivo. E então esta rota mais direta entre letras e significado pode ser treinada. Ela pode ser auto treinada na medida que a criança lê sozinha, mesmo sem um professor. Então, essa noção de duas rotas da leitura desempenha um papel central em todos os modelos contemporâneos do processo de leitura.

Ciência cognitiva e softwares

A neurociência cognitiva também pode levar a novas ferramentas de software e, rapidamente eu gostaria de mencionar que nossos colegas da Finlândia, que têm desenvolvido ao longo de muitos anos este jogo gráfico (Graphogame). um sofisticado software que parece um jogo para crianças, onde você deve selecionar letras com base no som que você ouve, e muitos outros jogos de treinamento desse tipo, e eles mostraram que apenas algumas horas de treinamento com este joguinho são suficientes para a crianças em fase pré-escolar, as crianças já começam a desenvolver este sistema visual de formas de palavras sobre o qual tenho falado. 

Então, com ferramentas eficientes que atraem a atenção da criança e as recompensam pelo que podem fazer, nós temos mudanças muito rápidas nestes cérebros com plasticidade, nesta idade jovem.

Eu quero mencionar que essa noção de reciclagem neuronal, a ideia de que algumas áreas tem plasticidade suficiente para podemos redirecionar sua função sensivelmente, que é o que ocorre com a leitura, é um tipo de princípio geral. Todos nós somos como esta caricatura de Darwin, nós somos humanos, mas também somos primatas e, como primatas, herdamos restrições em nosso cérebro. Nosso aprendizado é limitado pelas representações que herdamos da evolução, que vem não apenas da linguagem, mas também dos números, espaço, tempo. E os professores devem levar em conta esse conhecimento inicial da criança, porque se compreendemos o que elas têm que redirecionar no cérebro da criança, nós podemos ensinar melhor.

Os números no cérebro

Eu quero mencionar que isso é relevante para a leitura, mas também, penso eu, muito fortemente para a matemática. Nós começamos a entender que nosso cérebro, o cérebro humano, da mesma forma que em outros primatas, é organizado para compreender conceitos do mundo externo, tal como o conceito de número.

São as mesmas áreas do cérebro que se relacionam aos números no cérebro de um macaco e no cérebro humano e, com base nisto, podemos começar a entender qual é o fundamento da intuição do senso de números, que se desenvolve mais tarde em um sistema complexo de aritmética. Então, baseado no mesmo princípio desta noção de que são todos os sistemas cerebrais que precisam ser reciclados, podemos propor uma compreensão do desenvolvimento da aritmética.

E eu quero mencionar que é agora culminando em meu laboratório no desenvolvimento de ferramentas de software que são baseadas em princípios cognitivos e que podem ajudar as crianças a desenvolver um melhor sentido dos números. E este software de "Number Catcher" está disponível hoje em thenumbercatcher.com, e é um novo software que está disponível gratuitamente para ajudar as crianças a desenvolver suas intuições sobre os números.

Finalmente, eu quero terminar dizendo que vocês podem ler sobre esses tópicos com mais detalhes, eu percebi que 20 minutos não são suficientes para transmitir todas estas ideias, mas principalmente agora penso que podemos ter uma breve discussão. Muito obrigado por sua atenção.

Para ler assuntos relacionados a educação, pesquise no campo correspondente buscando educação, método fônico, método global, Ideb, Pisa, ou clique abaixo.

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quinta-feira, 19 de março de 2020

Fernando Capovilla: nenhuma criança deve ser deixada para trás!


Por Carlos Nadalin

Fernando Capovilla é uma das maiores autoridades em alfabetização no Brasil, fala sobre a alfabetização fônica para crianças com dislexia, autismo, surdez, deficiência visual, deficiência intelectual.


PROF. CARLOS NADALIN: Fernando, com muita frequência recebemos perguntas de pais que dizem o seguinte: “Meu filho é autista, tem déficit de atenção ou síndrome de Down. Na hora da alfabetização posso usar as dicas do blog Como Educar Seus Filhos ou devo adotar outras estratégias?”. Você sabe que nós seguimos uma abordagem fônica, mas os pais têm essa dúvida.

PROF. CAPOVILLA: Perfeito! O método mais indicado para a alfabetização é o método fônico. Porém ele sempre deve ser adaptado às necessidades do educando. No caso do surdo, por exemplo, o método fônico deve ser precedido da língua de sinais ou, se a criança tiver um implante coclear de reabilitação auditiva, com o nosso método de leitura orofacial.

No caso de deficiência intelectual, síndrome de Down, existe uma redução da abstração, o que pode comprometer o método fônico apenas um pouco, mas apenas se você não fizer uso de atividades para compensar a falta de abstração. Essas estratégias sempre fazem uso do apoio em objetos. Por exemplo, quando faço uma tarefa de transposição silábica como: pata/tapa, bolo/lobo ou transposição fonêmica e/l/o e o/l/e, sempre dou um apoio visual, colocando uma sílaba numa caixinha colorida. Ou seja, você dá o apoio visual e assim a criança com deficiência intelectual consegue fazer as atividades metafonológicas e fônicas. É o método fônico com leves adaptações, sempre.

No caso do transtorno do espectro autista também é o método fônico o mais recomendado.

E acontecem fenômenos fascinantes, pois cada quadro tem sua assinatura. Uma das assinaturas da criança que nasce cega é não perceber os sons da fala cujas formas de boca sejam muito conspicuamente distintas ou semi-homófonas, porque ela nasceu cega.

Fernando Capovilla 
Um exemplo: [n] e [m] parecem iguais, mas são bem diferentes para quem tem visão. A criança que nasce cega não percebe a diferença entre [n] e [m]. Já a criança que nasceu vidente ouve e vê e por isso adquire mais facilmente essa compreensão.

Para a criança que nasceu cega é preciso adaptar o método fônico para o tato, e isso se pode fazer facilmente. Veja, [n] e [m] são muito distintos ao tato, da mesma maneira que [z] e [s]: [z] é vozeado, porque as pregas vocálicas vibram, enquanto [s] não é vozeado.

Veja como a vibração das cordas vocais são diferentes. Por exemplo, “em vaca”, “vibra” e “faca” não vibra. Temos então recursos para que a criança possa perceber a diferença entre os sons, dependendo de sua integridade sensorial. A criança que nasceu cega dependerá da audição, mas nos casos de homofonia o tato é a solução.

A criança com transtorno do espectro autista tem um fenômeno fascinante: ela faz menos contato ocular com o professor e portanto com a boca. Adivinhe, existe aí um comprometimento da leitura orofacial. Os sons que são muito distintos visualmente mas parecidos fonologicamente são os sons onde pode haver erros. A ciência serve para percebermos onde a criança está sofrendo e suprir essas necessidades. A ciência está aí como tecnologia e suporte acadêmico-pedagógico ao professor para fazer a criança brilhar.

Melhor método para TEA? Fônico! Melhor método para alfabetização de criança com deficiência intelectual? Fônico, com suporte! Para o disléxico? Não tenho dúvida! O método fônico previne a dislexia. Em gêmeos univitelinos, monozigóticos, teve altíssimo sucesso – em pré-alfabetização, com intervenção precoce, quando a plasticidade neural é máxima, na janela do desenvolvimento da linguagem.

O método fônico, sempre ele! Por quê? Porque a escrita mapeia a fala. Por isso a fala deve ser tornada muito conspicuamente discernível à criança de maneiras diferentes, dependendo da modalidade sensorial da criança que se encontra comprometida ou da modalidade neurolingüística que se encontra comprometida, como no caso da dislexia, da disortografia, que é a dificuldade de escrever por conta do código da escrita. Cada quadro – dislexia, disortografia, distúrbio de processamento auditivo central, transtorno do espectro autista, deficiência intelectual, distúrbio do sistema vestibular – onde se pode usar o método fônico amparado pela psicomotricidade – e, no caso, obviamente da língua de sinais para a criança surda ou implantada, o uso da língua de sinais com o método fônico com apoio visual.

Veja que interessante: a criança que nasce surda não tem acesso à heterofonia e vai usar a língua de sinais e tentar fazer a leitura orofacial da fala. Veja: “bico” e “mico” são sons faciais distintos, mas e nos casos de [p], [b] e [m]? Esses sons são iguais à visão, são homoscópicos. Como fazer? A criança é surda, e as unidades da fala são iguais à visão. O que fazer? Há várias estratégias. Quando digo para a criança “mico”, posso fazer com a mão a forma da letra “m” em linguagem de sinais. Já em “bico” posso fazer o sinal de “b”. Enfim, posso adotar várias estratégias.

A criança com a sua preciosidade nos convida a fazer uso da ciência para compreendê-la em profundidade e para dar a ela aquilo de que ela precisa. Nenhuma criança deve ser deixada para trás! É para isso que a ciência existe.

PROF. CARLOS: Perfeito! Capovilla, no meu curso Ensine Seus Filhos a Ler – Pré-Alfabetização, vários pais de crianças com autismo, síndrome de Down sempre enviam perguntas sobre essas adaptações e sempre digo o mesmo: “Você deve fazer adaptações com recursos multissensoriais para ajudá-las e continuar com a abordagem fônica”. Jamais substituir a abordagem fônica.

PROF. CAPOVILLA: Claro! A abordagem fônica, pessoal, vem do grego “foné”, que é voz. Fonologia é o estudo da voz. Fonema é a unidade da fala ouvida. Falar em grego é “laléo” e a fala ouvida é “otolalia”. A fala vista é “optolalia”. A fala tateada é “esteselalia”. O método fônico que usamos e desenvolvemos, turbinados pelo mapeamento da língua portuguesa – em todos os seus fones, lalemas, visíveis, táteis – é um método opto-oto-estese-lalo-grafêmico. É um método extremamente compreensivo, para abraçar a criança. O que vocês fazem no blog, e especialmente com esse novo livro, é muito lúdico. Nós entregamos ciência do mais elevado nível, com a arte em seu mais refinado gosto. Isto é o hemisfério direito: mímica, pantomima, música, gesto, expressão facial, brincadeira. E a fala é linguagem, hemisfério esquerdo, e todas as suas fases. Isso é neurociência de altíssimo nível, com arte de altíssimo nível para alfabetização.

O “nome do jogo” é servir e nós somos servos e o que queremos é ajudar você, professor, a fazer sua criança brilhar.

PROF. CARLOS: Com certeza! Capovilla, muito obrigado pelas respostas. Tenho certeza de que muitos pais vão ficar agora mais tranquilos com todo esse conteúdo.

sexta-feira, 13 de março de 2020

A escola em Shangai e a educação brasileira

Shangai é líder no PISA e tem ingredientes comuns entre os melhores países na educação: disciplina, professores comprometidos e método fônico.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Quando uma professora de Shangai entra na sala de aula, rigorosamente no horário, as crianças se levantam e saúdam com um uníssono "bom dia professora" acompanhado do respeitoso gesto de se curvar diante de alguém que se respeita. O gesto é repetido pela professora. Imediatamente a aula tem início. Diferente do Brasil onde o professor perde um bom tempo para "acalmar" alunos sem disciplina.

As diferenças são enormes entre a educação praticada no Brasil e em Shangai, na China. Elas passam pela pedagogia, métodos e metodologias, pela disciplina de alunos e, principalmente, pelo comprometimento dos professores. Shangai está no topo da lista dos melhores na educação do PISA que avalia estudantes na faixa de 15 anos, em 76 países, a cada três anos. O sistema Chinês é dividido em três níveis: Elementar (1º ao 6º ), Médio (7º ao 9º) e o High School (três anos) com alguma variação regional.

Diferenças gigantescas


As escolas de Shangai tem muitas coisas em comum com as escolas japonesas ou com as coreanas e nenhuma com as brasileiras. São estruturas comuns, com pouco aparato tecnológico mas... limpas. Tal e qual as escolas japonesas, os alunos são disciplinados e tão comprometidos com a limpeza como os diretores e professores. São eles que mantém suas salas limpas e cuidam para evitar depredações. As aulas tem 50 minutos com intervalo de 10 minutos entre elas. Depois do "bom dia Sra Professora", a aula se inicia. 


Professores não faltam

Os professores não faltam porque sabem que isso interromperá a sequência trabalhada no currículo. Nem seus alunos se ausentam porque sabem que terão tarefas duplicadas pra fazer em casa. As crianças de Shangai, além de cumprir sua jornada na escola, terão mais 3 horas de tarefas pra fazer em casa. Apenas em casos de acidentes ou cirurgias programadas, um professor se ausentará. No Brasil, absurdamente, a legislação permite ao funcionário público atrasar 10 minutos (a aula tem 50) e "beneficios" como direito a seis faltas por ano, sem dar satisfação, além de licenças intermináveis.

Alfabetização com Método Fônico


O método de alfabetização em Shangai, como na Coreia do Sul e Japão, é o fônico, um sistema lastreado em evidências científicas. No Brasil utiliza-se as teorias do método global/construtivista que confundem alunos e professores. Em Shangai os alunos são alfabetizados em menos de um ano enquanto os brasileiros chegarão ao 5º ano com graves deficiências para ler e compreender e assim permanecerão além do ensino médio. Os alunos de Shangai são os primeiros do mundo e os brasileiros, os últimos.

Salas de aulas em Shangai tem mais alunos que salas brasileiras

Os campeões do mundo em educação tem salas de aulas com 30 a 35 anos de 1º ao 6º anos, 40 na salas do 7º ao 9º e mais de 40 na série Hight School. Quando o método de alfabetização é bom e há disciplina, independe o tamanho das salas e nem o nível social dos alunos. As crianças mais pobres de Xangai sabem mais matemática que as crianças mais ricas dos Estados Unidos e Europa. No Brasil a desculpa para justificar o atraso na aprendizagem é o tamanho da sala com 35 alunos. Em algumas regiões as salas podem ter acima de 50 alunos. Estatísticas do PISA mostram que salas com 20 alunos tem rendimento próximo de salas com 35.

Os professores chineses são rigorosos na disciplina e não compreendem bem porque os alunos brasileiros agridem seus colegas e professores. É inimaginável para sua cultura um aluno ofender um professor.

Experiência em Jafa aponta caminhos

Professoras brasileiras que participaram de um projeto piloto, com método fônico, numa escola de ensino básico, no interior do Estado de São Paulo, explicaram que a disciplina melhorou 90% depois que o programa foi implantado:

- Os alunos dos três primeiros anos foram alfabetizados em pouco tempo e, na medida que passaram a entender o que os professores pediam, executavam suas atividades com uma disposição que a gente nunca observara antes" - disse uma delas.

A disciplina melhorou 90%. "Os próprios alunos passaram a exigir bom comportamento dos colegas e eles compreendem bem o que pedimos nas atividades" - afirmam as professoras.

"Parecia que, antes, a gente falava uma língua desconhecida e eles acabavam se dispersando simplesmente porque não estavam entendendo nada" - confessou. As professoras que usaram o método fônico pela primeira vez notaram que, antes, as crianças iam para a biblioteca para brincar mas passaram a frequentar o local para ler, em silêncio. Antes eles tinham imensas dificuldades para ler.

Os alunos do primeiro ano, depois de 70 dias de alfabetização, leram os enunciados das suas provas, sem ajuda do professor leitor, auxílio necessário até hoje para alunos do terceiro ano.

A sala dos professores de Shangai é bem diferente das brasileiras. Na verdade cada professor tem uma baia, equipada com computador, onde prepara suas aulas. Um professor faz o papel de "inspetor" visitando frequentemente os alunos em suas salas e agindo com mediador escola/família. Ele conhece todos as crianças, mesmo numa grande escola, e seus problemas, famílias e casos comuns. Os professores são orientados não gritar em sala de aula e alunos respeitam. Em matéria de disciplina as chamadas escolas militares brasileiras são próximas das de Shangai, inclusive no uso do método fônico.

Atividades relevantes programadas


Enquanto muitos professores brasileiros improvisam suas aulas, as atividades relevantes ocupam a maior parte do tempo nas salas chinesas. Esse procedimento melhora a qualidade do ensino como já demonstrou o PISA.

Participação espontânea em Shangai e em Jafa


Professoras que participaram do Projeto Piloto com Método Fônico da escola municipal de Jafa, confessaram-se muito surpresas com um fato corriqueiro mas muito significativo.


"Quando testamos leitura todos os alunos levantam as mãos e querem participar. Antes eles evitavam ser chamados simplesmente porque não sabiam ler" - disse uma professora do terceiro ano. O mesmo ocorre com as crianças chinesas: todas erquem os braços desejando responder. A lição errada de um aluno é é ensinada e corrigida pelos colegas que sabem a resposta.

A disciplina só será instalada numa sala de aula onde os alunos conseguem ser alfabetizados, quando ganha autonomia na leitura e escrita. Para isso é preciso que o método de alfabetização alfabetize e não confunda.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Escolas particulares são piores que Sobral

Além do IDEB de 7,1 das escolas particulares (média nacional), comparável com redes públicas gratuitas, a lenta evolução é assustadora: em 12 anos as particulares evoluíram apenas 1,2 pontos. No mesmo período as escolas municipais de Sobral evoluíram 5,1 pontos. Em 2017 Sobral registrou 9,1 no IDEB.

Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Faz dias um pai ligou-me contando que seu filho não sabe ler e tem imensa dificuldade de escrita. Ele estuda no terceiro ano do Ensino Básico de uma escola municipal que utiliza método global/construtivista. Queria um conselho e perguntou-me se escola particular seria uma solução.

Essa é uma dúvida comum entre pais que escolhem as escolas para seus filhos considerando tudo, menos o método e metodologias de alfabetização. Se nem mesmo secretários da educação, coordenadores pedagógicos e diretores sabem sobre alfabetização, além das teorias mofadas do método global e o construtivismo de Piaget, imagine para um pai decidir sobre tal.

MÉTODO GLOBAL NÃO ALFABETIZA

Se soubessem não repetiriam as mesmas propostas pedagógicas, anos e anos, com péssimos resultados. A maioria das cidades que usa método global/construtivista evoluiu, em 10 anos, apenas 1 ou 1,5 pontos no Ideb. E, por total ignorância em processos de alfabetização, continuam repetindo as mesmas bobagens pedagógicas, sem resultados.

Pior que tudo isso é o rio de dinheiro jogado no lixo. Garça, no Estado de S. Paulo, até novembro de 2019 investiu cerca de R$ 34 milhões na sua rede escolar de 23 escolas e cerca de 3 mil alunos (salários, transportes, materiais didáticos, merenda...) e o resultado de tanto investimento e esforço de um ano inteiro de trabalho será, provavelmente, o mesmo dos últimos 10 anos: evolução de 0,1 ponto. Resultado irrelevante e grave para uma cidade que vê tanto dinheiro desperdiçado, sem avanço significativo.

(PS: em 2021 a Secretaria Municipal de Educação da cidade de Garça abandonou o método Sesi - método global/construtivista - depois de 8 anos. Nesse período o Ideb caiu e os estudantes continuaram analfabetos).

E não raciocinam, não mudam, não pensam em novos caminhos, não tem coragem de buscar ou pelo menos conhecer método com resultados excelentes, evidentes, claros, visíveis, irrefutáveis e sentidos em todas as avaliações produzidas interno e externamente. Muitos mal consultam ou analisam os índices e se assustam com escolas paupérrimas que conseguem atingir notas acima de 9, no Ideb.

As mesmas dificuldades encontradas nas redes públicas estaduais ou municipais estão nas escolas particulares, também. Tanto que as escolas pagas evoluem tão lentamente quanto as públicas e suas notas de Ideb são próximas. A média nacional das escolas particulares ficou em apenas 7,1 enquanto cidades como Sobral, no Ceará batem 9,1 pontos com índice de proficiência em matemática entre 8 e 9 (numa escala de 1 a 9).

SOBRAL USA FÕNICO

Quanto se foca nas metas propostas pelo MEC e na evolução nos últimos anos, a situação piora: escolas conduzidas por método global/construtivista apanham das unidades trabalhadas com método e metodologias que realmente alfabetizam no primeiro ano do ensino básico (método fônico), como são as escolas públicas de Sobral. E as diferenças são enormes.

Entre 2005 e 2017, Sobral evoluiu 5,1 pontos no IDEB (3,5 pontos acima da meta) contra 1,2 pontos das escolas particulares em todo Brasil que ficaram abaixo da meta. Além de Sobral várias outras escolas cearenses ultrapassaram a meta com facilidade inclusive as 12 cidades do Vale da Rapadura que adotaram o mesmo método fônico de Sobral.

Escolas de cidades pobres, com IDH baixo, índice de violência alto e renda per capita pequena, são melhores que as suntuosas escolas particulares. Pelo menos o Ideb escancara esses números incontestáveis. As pobres cidades cearenses que adotaram método fônico de alfabetização são melhores que as fantásticas, maravilhosas, equipadas e propagandeadas escolas do Sesi. Só uma escola Sesi obteve 7,1 no Ideb e fez espalhafatosa comemoração.

Teresina, capital de um dos mais pobres estados brasileiros e com alto índice de violência, chegou em primeiro lugar nos anos iniciais entre todas as capitais do país. Esse resultado cala os discursos das "doutoras" em educação que passaram os últimos 20 anos justificando que a condição social baixa do aluno era um grave problema para se obter resultados melhores na educação brasileira. Teresina tem IDH-M de 0,751, considerado alto ficou em primeiro lugar entre todas as capitais brasileiras, inclusive S.Paulo com o seu pomposo IDH-M de 0,833. Ocorre que Teresina jogou no lixo as invencionices pedagógicas de Piaget - usadas em S. Paulo - e usa método fônico.

IDEB 2017 SOBRAL (CE) ANOS INICIAIS
Com método fônico, Sobral evolui 5,1 pontos entre 2005 e 2017. Exatos 3,5 pontos acima da meta estabelecida pelo MEC.

IDEB 2017 BRASIL ESCOLAS PARTICULARES ANOS INICIAIS
No mesmo período as escolas particulares evoluíram apenas 1,2 pontos em 12 anos, só 0,1 ponto, por ano. E ainda ficou abaixo da meta.

Quem consulta o QEdu percebe que muitas escolas particulares fogem das provas do Saeb (Sistema de Avaliação do Ensino Básico) que indicam os índices do IDEB, com medo de notas baixas. Muitas particulares contrataram coordenadores pedagógicos do Estado, onde se pratica o construtivismo e, ao longo de poucos anos, essas escolas despencaram o nível do ensino nos anos iniciais.

O Sesi, com suas majestosas e propagandeadas super escolas equipadas, só conseguiu colocar uma única unidade (em MG) com nota 7,1. O Sesi usa método de alfabetização condenado pela neurociência e seu Ideb é menor que muitas escolas paupérrimas que usam método fônico. O quadro acima (Sobral x Escolas Particulares) responde a pergunta.

Escolas particulares são piores que Sobral

O mais preocupante, além de Ideb de 7,1 das escolas particulares, comparável a escolas públicas gratuitas, é a lenta evolução. Em 2017 as escolas avaliadas pelo Saeb evoluíram apenas 1,2 ponto, em 12 anos.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Faz dias um pai ligou-me contando que seu filho não sabe ler e tem imensa dificuldade de escrever. Ele estuda no terceiro ano do Ensino Básico de uma escola municipal que utiliza método construtivista. Queria um conselho e perguntou-me se escola particular seria uma solução. Essa é uma dúvida comum entre pais que escolhem as escolas para seus filhos considerando tudo, menos o método e metodologias de alfabetização. Considerando que nem mesmo secretários da educação, coordenadores pedagógicos e diretores sabem sobre alfabetização, além das teorias mofadas de Piaget, imagine para um pai.

Se soubessem não repetiriam as mesmas propostas pedagógicas, anos e anos, com péssimos resultados. A maioria das cidades que usa método construtivista evoluiu, em 10 anos, apenas 1 ou 1,5 pontos no Ideb. E, por total ignorância em processos de alfabetização, continuam repetindo as mesmas bobagens pedagógicas, sem resultados.

ESCOLAS PARTICULARES: EVOLUÇÃO IRRELEVANTE

Pior que tudo isso é o rio de dinheiro jogado no lixo. Garça, no Estado de S. Paulo, até novembro de 2019 investiu cerca de R$ 34 milhões na sua rede escolar de 23 escolas e cerca de 3 mil alunos (salários, transportes, materiais didáticos, merenda...) e o resultado de tanto investimento e esforço de um ano inteiro de trabalho será, provavelmente, o mesmo dos últimos 10 anos: evolução de 0,1 ponto. Resultado irrelevante e grave para uma cidade que vê tanto dinheiro desperdiçado, sem avanço significativo.

E não raciocinam, não mudam, não pensam em novos caminhos, não tem coragem de buscar ou pelo menos conhecer método com resultados excelentes, evidentes, claros, visíveis, irrefutáveis e sentidos em todas as avaliações produzidas interno e externamente. Muitos mal consultam ou analisam os índices e se assustam com escolas paupérrimas que conseguem atingir notas acima de 9 no Ideb.

PARTICULARES PERDEM PARA ESCOLAS PÚBLICAS

As mesmas dificuldades encontradas nas redes públicas estaduais ou municipais estão nas escolas particulares, também. Tanto que as escolas pagas evoluem tão lentamente quanto as públicas e suas notas de Ideb são próximas. A média nacional das escolas particulares ficou em apenas 7,1 enquanto cidades como Sobral, no Ceará batem 9,1 pontos com índice de proficiência em matemática entre 8 e 9 (numa escala de 1 a 9).

Quanto se foca nas metas propostas pelo MEC e na evolução nos últimos anos, a situação piora: escolas conduzidas por métodos sócio construtivistas apanham das unidades trabalhadas com metodologia fônica, como são as escolas de Sobral. E as diferenças são enormes.

ESCOLAS PÚBLICAS DE SOBRAL (CE) AVANÇARAM MAIS NA ALFBETIZAÇÃO

Em 12 anos (de 2005 e 2017), Sobral evoluiu 5,1 pontos no IDEB - 3,5 pontos acima da meta - contra 1,2 pontos das escolas particulares em todo Brasil, que ficaram abaixo da meta. Além de Sobral várias outras escolas cearenses ultrapassaram a meta com facilidade inclusive as 12 cidades do Vale da Rapadura que adotaram o mesmo método fônico de Sobral. Nos anos iniciais Sobral marcou 9,1 e nos anos finais, 7,2.

Escolas de cidades pobres, com IDH baixo, índice de violência alto e renda per capita pequena, são melhores que as suntuosas escolas particulares. Pelo menos o Ideb escancara esses números incontestáveis. As pobres cidades cearenses que adotaram método fônico de alfabetização são melhores que as fantásticas, maravilhosas, equipadas e propagandeadas escolas do Sesi. Só uma única escola Sesi obteve 7,1 no Ideb e fez espalhafatosa comemoração.

Teresina, capital de um dos mais pobres estados brasileiros e com alto índice de violência, chegou em primeiro lugar nos anos iniciais entre todas as capitais do país. Esse resultado cala os discursos das "doutoras" em educação que passaram os últimos 20 anos justificando que a condição social baixa do aluno era um grave problema para se obter resultados melhores na educação brasileira. Terezina tem IDH-M de 0,751, considerado alto ficou em primeiro lugar entre todas as capitais brasileiras, inclusive S.Paulo com o seu pomposo IDH-M de 0,833. Ocorre que Terezina jogou no lixo as invencionices pedagógicas de Piaget - usadas em S. Paulo - e usa método fônico.

IDEB 2017 SOBRAL (CE) ANOS INICIAIS
Com método fônico, Sobral evolui 5,1 pontos entre 2005 e 2017. Exatos 3,5 pontos acima da meta estabelecida pelo MEC.
IDEB 2017 BRASIL ESCOLAS PARTICULARES ANOS INICIAIS
No mesmo período as escolas particulares evoluíram apenas 1,2 pontos em 12 anos, só 0,1 ponto, por ano. E ainda ficou abaixo da meta.

Quem consulta o QEdu percebe que muitas escolas particulares fogem das provas do Saeb (Sistema de Avaliação do Ensino Básico) que indicam os índices do IDEB, com medo de notas baixas. Muitas particulares contrataram coordenadores pedagógicos do Estado, onde se pratica o construtivismo e, ao longo de poucos anos, essas escolas despencaram o nível do ensino nos anos iniciais.

O Sesi, com suas majestosas e propagandeadas super escolas equipadas, só conseguiu colocar uma unidade (em MG) com nota 7,1. O Sesi usa método de alfabetização condenado pela neurociência e seu Ideb é menor que muitas escolas paupérrimas que usam método fônico. O quadro acima (Sobral x Escolas Particulares) responde a pergunta.

Existe relação entre gastos com educação e desempenho de alunos?




Todos os países líderes no PISA não são os mais ricos ou os que investem mais em educação.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

As evidências mostram que a correlação gastos x desempenho escolar inexiste. O tema abordado faz parte do estudo internacional Educação Baseada em Evidências (Como saber o que funciona em educação) produzido por Micheline Christophe, Gregory Elacqua, Matias Martinez e João Batista Araujo e Oliveira. Neste link encontra-se o trabalho completo.

As evidências disponíveis sugerem a inexistência de relação consistente entre gastos e desempenho. Estudos do PISA - sigla inglesa para o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, mantido pela OCDE - derrubam esse mito, pelo menos na esfera pública.

Para responder se "Dinheiro investido na educação garante bom desempenho no PISA?" os pesquisadores da Organização para Cooperação ao Desenvolvimento Econômico analisaram os países participantes do PISA em 2012 e concluíram que não importa "maior renda do país ou maior gasto em educação" para garantir bom desempenho nas provas de matemática, língua e ciência realizadas cada três anos, entre alunos na faixa de 15 anos, em todo mundo. E os resultados mostram que os melhores do PISA não são de países ricos que investiram mais na área.

MAIS DINHEIRO NA EDUCAÇÃO GARANTE BOM DESEMPENHO NO PISA?

- Países com maior renda ou que investem mais na educação não garantem melhor desempenho dos seus alunos.

- Mais importante não é quanto se investe mas como o dinheiro é investido.

- Os países líderes no PISA não são os mais ricos ou que investem mais em educação.

- A maior média na prova de Leitura do Pisa está entre países com com PIB per cápta em torno de US$ 20.000 e maior renda.

- As despesas com educação não tem relação com desempenho acadêmico quando os investimentos ultrapassam US$ 50.000 de despesa/aluno.

- Países como Estados Unidos, Noruega e Suíça que investem mais de US$ 100.000 por aluno, dos 6 aos 15 anos, tem níveis de desempenho iguais a países que investem a metade desse valor, como Estônia, Hungria e Polônia.

- Países líderes no PISA, como Coreia do Sul, China/Hong Kong, os professores tem prestígio, ganham bons salários e tem boa formação acadêmica. Nesses países os alunos com melhor desempenho não são separados dos alunos com desempenho pior.

- Cingapura investe o mesmo que Finlândia e Itália mas o desempenho em matemática dos seus alunos está muito acima destes dois países.

- Shangai (China), apesar de investir a metade dos US$ 100.000 que os Estados Unidos gastam com alunos entre 6 e 15 anos, tem o melhor desempenho acadêmico do mundo.

- Os 10% dos alunos mais pobres de Shangai sabem mais matemática que os 10% dos alunos mais ricos da Europa.

- O Brasil investe, na educação, o mesmo que Turquia e Tailândia mas seus estudantes têm desempenho pior.

O PISA ainda mostrou que há um limite mínimo para investimento por alunos dos 6 anos 15 anos: a partir de US$ 7.000 os investimentos não impactam na qualidade.

A conclusão dos estudos Educação Baseada em Evidências (Como saber o que funciona em educação) diz que "As evidências produzidas por pesquisas científicas sobre a relação entre investimento em Educação e desempenho acadêmico dos alunos indicam que não adianta simplesmente injetar mais recursos nas escolas, embora também não se possa concluir que os recursos não sejam importantes, como pondera Hanushek em vários trabalhos (1998, 2001, 2010, dentre outros). Importa menos quanto se investe do que como se gastam os recursos."

Em seu relatório, sobre o tema, considera "quando o nível de gasto em educação é baixo, é muito provável que aumentar o investimento gere ganhos de aprendizagem."

O documento considera, também, que países pobres que investem na infraestrutura da escola possa aumentar a frequência e o desempenho de alunos. Outra consideração é que há correlação entre bons professores X melhor desempenho dos alunos.

Diz o estudo: "Com algumas exceções nos países da OCDE, os gastos públicos em Educação vêm aumentando na Educação Básica (que inclui Pré Escola, Ensino Fundamental e Ensino Médio). O Brasil não investe pouco, mas gasta mal, seja na distribuição entre os níveis ou dentro dos mesmos. O país investe um pouco menos da média dos membros da OCDE e acima dos EUA, por exemplo, como proporção do PIB. O gasto por aluno no Ensino Superior no Brasil é cinco vezes o gasto por aluno no Ensino Fundamental. Isso é muito acima da média dos países da OCDE, que fica na razão de 2 / 1."

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Quanto os países gastam em educação?

O tema abordado faz parte do estudo internacional Educação Baseada em Evidências (Como saber o que funciona em educação) produzido por Micheline Christophe, Gregory Elacqua, Matias Martinez e João Batista Araujo e Oliveira.


Por João Batista Oliveira

As opiniões são divididas, mas raramente os argumentos se baseiam nos mesmos dados. De um lado, as evidências disponíveis sugerem, como documentado no presente capítulo, a inexistência de relação consistente entre gastos e desempenho. De outro lado, atores educacionais – em todos os países do mundo – argumentam que a Educação vai mal porque os recursos são limitados. No presente capítulo, examinamos os dados referentes aos gastos educacionais de diversos países, com base nos relatórios da OCDE (Organizaçāo para a Cooperaçāo e Desenvolvimento Econômico), revemos os principais estudos nacionais e internacionais sobre o tema e concluímos com uma breve discussão a respeito do tema. Cabe uma nota: a maioria dos estudos considera apenas os gastos públicos, não incorpora os gastos privados com o ensino, que, em alguns países, pode representar uma parcela significativa dos investimentos e que poderia estar associada aos resultados que não seriam explicados apenas pelos investimentos dos governos.

Os últimos dados disponíveis no anuário da OCDE de 2013 referem-se a 2010. São cálculos para os países da OCDE e parceiros. O gasto de um aluno nos níveis primários até o ensino superior, em 2010, oscila de US$ 4.000 ou menos (na Argentina, Brasil e México) a mais de US$ 10.000 (na Austrália, Áustria, Dinamarca, Finlândia, França, Irlanda, Japão, Holanda, Noruega, Suécia, Suíça e Reino Unido) atingindo US$ 15.000 nos EUA (Figura 2.1).

A Figura 2.1 mostra o gasto anual público e privado por aluno, nas instituições de ensino, em equivalentes PPPs (poder de paridade de compra). Discrimina a despesa por tipo de serviço: serviços básicos educacionais (inclui todas as despesas diretamente relacionadas com ensino: professores, instalações, material didático, livros e despesas administrativas das escolas) e serviços complementares (como transporte, refeições, alojamento) e P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). Para alguns países, os dados disponíveis só informam o total de gasto por aluno (caso dos países localizados à direita na figura). Em média, os países da OCDE gastam US$ 9.313 por aluno, por ano, nos diferentes níveis de ensino, sendo US$ 7.974 no primário, US$ 9.014 no ensino médio e US$ 13.528 no Ensino Superior. Em média, os países da OCDE gastam por aluno no ensino superior o dobro do gasto por aluno no primário (equivalente, no Brasil, ao Primeiro Fundamental). Quando se exclui a despesa com P&D e serviços complementares, o custo do aluno no ensino superior é 10% maior do que o custo do aluno no primário (Figura 2.2).


O Brasil gasta cinco vezes mais por aluno no ensino superior, sendo o que mais gasta dentre os países pesquisados. Na Figura 2.2 estão apresentadas as proporções de gastos por aluno dos países nos diversos níveis em relação à educação primária (considerada 100), com os países ordenados pelo gasto por aluno no ensino superior em relação ao primário. Uma razão de 300 de gasto por aluno no ensino superior significa que o custo é três vezes o gasto por aluno no nível Primário. Observa-se na Figura 2.2 que o Brasil fica completamente fora da média, gastando quase cinco vezes mais com um aluno no Ensino Superior que com o aluno do Primário. No Primário e Secundário (Fundamental e Médio, no Brasil), 94% dos gastos por aluno são alocados em serviços educacionais básicos, ligados ao ensino. No Ensino Superior, essa proporção se altera, uma vez que 31% da despesa é gasta em PeD. De 2005 a 2010, o gasto por aluno aumentou 17% em média nos países da OCDE, mas, entre 2009 e 2010, o investimento em educação em 1/3 dos países da OCDE diminuiu, basicamente, em função da crise econômica. O cálculo da média mascara uma grande diferença de gastos por aluno nos diversos países, variando por um fator de 11 no Primário e 7 no Ensino Médio. No Primário, os gastos variam de US$ 2.400, ou menos por aluno (México e Turquia) a US$ 21.240 em Luxemburgo. No secundário, a diferença oscila entre US$ 2.600, ou menos por aluno (Brasil e Turquia) a US$ 17.633 em Luxemburgo (Figura 2.3).





Educação Baseada em Evidências é um estudo produzido por Micheline Christophe, Gregory Elacqua, Matias Martinez e João Batista Araujo e Oliveira.

Micheline Christophe é Mestre em Demografia e Estudos Populacionais (ENCE/IBGE), especialista em Educação (UFRJ) e Administração Pública (FGV), com licenciatura em História (PUC-Rio). Foi Coordenadora Geral do Centro de Documentação e Disseminação de Informações do IBGE, pesquisadora do IETS e membro da equipe técnica do Instituto Alfa e Beto.

Gregory Elacqua Ph.D. em Políticas Públicas (Princeton University, EUA), Mestre em International and Public Affairs (Columbia University, EUA) e bacharel em Ciências Sociais (Boston University, EUA), Gregory Elacqua dedicou boa parte das suas pesquisas em escolas no Chile e outros países da América Latina, onde trabalhou ativamente com reformas de políticas públicas relacionadas à Educaçāo. Foi Diretor do Instituto de Políticas Públicas na School od Business and Economics da Universidad Diego Portales (UDP), no Chile. Atialmente é Economista Principal na Divisão de Educação do Departamento do Setor Social no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Washington DC (EUA).

Matías Martínez Bacharel em Economia e Mestre em Políticas Públicas pela Universidad de Chile, é pesquisador do Instituto de Políticas Públicas da Universidad Diego Portales, no Chile. Sua pesquisa enfoca a análise das diversas políticas educativas como: incentivos docentes, violência escolar, livre escolha e accountability.

Joāo Batista Araujo e Oliveira PhD em Educação e psicólogo, com mais de 50 anos de vida dedicados à Educação, lecionou na Rede do Estado de Minas Gerais e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No exterior, foi professor em universidades como a Université de Bourgogne (França), bem como funcionário de instituições como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, e o Banco Mundial, em Washington. Concluiu sua carreira pública como Secretário Executivo do Ministério da Educação (MEC), em 1995. Desde 2006 criou e preside o Instituto Alfa e Beto.