segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Educação vergonhosa

Por Miriam Nitcipurenco de Souza

A instabilidade, a vulnerabilidade e a transitoriedade na Educação se dá exatamente porque a nossa política educacional é pobre, desnorteada, sem metas, sem objetivos e traçada por políticos tão ou mais absurdamente indoutos quanto o mais analfabeto dos seres que habita o nosso extenso país.
 
Isso é uma vergonha nacional e internacional! Por semanas, a revista Veja tem trazido em suas páginas aquilo que o resultado do que temos feito, enquanto educadores, em nosso cotidiano: a colocação desastrosa dos alunos do Brasil no PISA, no ENEM, no SAEB, no SARESP e em tantos outros mecanismos de avaliação e a derrocada da educação.

O fim é sempre o mesmo: não chegamos nem aos pés dos resultados de países desenvolvidos. No mundo globalizado, a nossa posição é nada. Nossos alunos NUNCA poderão competir de igual para igual com um chinês, um sul coreano, um irlandês, um cingapurense, um estadunidense, um inglês, um sueco. E não venham me dizer que é por causa do dinheiro ou que escola particular é diferente.

É absurdo o valor gasto em educação! E digo: é gasto com muita gente que não quer ser educada, que não quer aprender. Pagamos a conta de gente desleal, que finge que aprende e de alguns outros desleais, que fingem que ensinam.

Fazemos isso não porque concordamos, mas porque nos cobram posições e atitudes que sigam “a cartilha que vem de cima”, do alto escalão do governo, dos pensadores de plantão, dos teóricos de botequim. Muitas vezes não concordamos, mas acatamos, como bons funcionários estaduais que somos.

Somos eficientes, mas não somos eficazes.

Quando tivermos a coragem de olhar para um PCN que diz que “Corrigir um aluno que pronuncia erroneamente uma palavra em Português é Preconceito Lingüístico”, e acharmos que essa forma de pensar é uma merda e que vai contra tudo o que chamamos de “educação”, quando jogarmos fora uma bosta de livro didático impresso pelo governo federal que afirma estar correta a frase “Nós foi pescar os peixe” e nos recusarmos a participar de tal absurdo e de tantos outros, então, talvez nós passemos de um estágio de uma pseudo-eficiência para uma pré-eficácia.

Poderá ser este um começo, mas fica a pergunta: temos mesmo coragem de dizer que tudo isso é uma merda?

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Antropológico

Daniel 
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Dani, um dos meus netinhos, é carismático e vive cercado de garotas adultas na escola, onde faz sucesso. Então, instintivamente, se permite aos carinhos melosos acompanhados de elogios. Em qualquer festa ele sempre é visto recebendo beijinhos, das mocinhas. Seu vocabulário é rico e ele consegue se expressar com facilidade. Ontem ele me contou um segredo.

Cercado de mistérios - que mistério há num bebê de 3 aninhos? - aproximou-se e confessou ter visto a calcinha da Bruna, uma garota sorridente - e descuidada - de 17 anos. Fiz ares de surpresa e ele continuou a narrativa secreta concluindo que a peça íntima da mocinha era rosinha. Pra cada reação minha, de surpresa, ele se animava a contar mais detalhes do grande acontecimento.

- Era rosinha?
- Sim, era rosinha de oncinha.
- E como você viu?
- Ela estava descendo do carro.
- E você estava fazendo o que?
- Eu estava esperto, vô - disse, com um sorriso de safado.

Puramente antropológico!

Quanto pesa um vaso de orquídea?

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Fiz aniversário e fiquei feliz em receber um lindíssimo vaso de orquídea, na manhã de 14 de setembro. Minha esposa e eu adoramos contemplar a natureza. Recentemente voltávamos do Tayaya, um maravilhoso resort às margens da represa Chavantes, quando percebemos uma lua resplandecente surgindo na escuridão e espelhada nas águas, como uma pintura. Descemos do carro e, abraçados, lá ficamos observando um espetáculo da natureza que muitos ignoram.

Como toda russa, ela adora flores, particularmente orquídeas. E as que recebi são os melhores exemplos de beleza. Mas, antes de achar tudo muito lindo e maravilhoso, devo confessar que fiquei assustadíssimo quando elas chegaram. O entregador entrou na sala, com o vaso nas mãos e perguntou:

- Sr. Edson?

Minha esposa me olhou, indagativa - que significa dizer "quem te mandou essas flores?" - e eu permaneci imóvel, olhando para o vaso e para os seus olhos azuis, normalmente quando ela está calma e verdes nos segundos que antecedem uma explosão. Pausa dramática.

O vaso deveria ter uns 600 gramas e pouco e, certamente, faria um belo estrago na cabeça de qualquer um. Vasos, por inconfessáveis razões, deveriam pesar bem menos. Pelos mesmos motivos, prefiro os netbooks - muito mais leves que os pesadões notes.

Relutei mas tomei uma decisão e, bravamente, anunciei ao entregador de flores.
- Espera um instante porque, dependendo de quem enviou, você leva de volta.

Empurrei o vaso com o cartão pra ela. Silenciosamente abriu e leu, sem esboçar nenhuma reação. Segunda pausa dramática. O entregador, calado, parecia assistir uma partida de tênis, ora olhando pra mim e ora pra ela. Com ar de mistério, ela passou o cartão pra minhas mãos.

Só então suspirei aliviado ao ver Rede Globo, Marcelo Assunpção, Adriana Berzotti, Jacques..., funcionários da emissora, desejando um feliz aniversário.

Ufa!, suspirei o suspiro dos inocentes.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A Vingança

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Certamente você já se irritou alguma vez com telefonemas de telemarketing que te pegam sempre em horários inoportunos. Aliás, ligações desse tipo importunam em qualquer hora. Quando menos se espera a sua reunião é interrompida por um vendedor de cartões de crédito ou uma doce voz feminina tentando te chantagear para conseguir sua doação para alguma entidade beneficente - geralmente golpe do tipo LBV que pagava gente famosa pra visitar suas creches e testemunhar que a obra era verdadeira - e, diante da sua negativa, elas gemiam frases do tipo "o senhor terá coragem de deixar essas criancinhas passarem necessidades?"

Muitos se irritam e perdem a compostura descarregando na vendedora um caminhão de melancias. 

Se quer saber como evitar esse tipo de chateação, basta entrar em contato com o Procon - www.procon.sp.gov.br/BloqueioTelef/ - e preencher um pequeno cadastro colocando os números de telefones que não aceitara receber ligações desse tipo. Isso é lei. Pronto, problema resolvido. 

Mas, sinceramente, pessoalmente eu desaconselho essa solução. E não é porque eu gosto de ser chateado pelos inoportunos vendedores ao telefone. Mas porque eu aprendi a lidar com eles. Pra ser bem honesto, eu me divirto com eles. Verdadeiramente eu não saberia mais viver sem eles. E vou explicar porque.

Outro dia uma telemarketing que se identificou como Selma Solange, de uma empresa de telefonia, ligou para o meu celular.

- Senhor Edson?- Quem é? - perguntei.
- Eu sou Selma Solange e tenho uma proposta de novas linhas de telefone, sem assinatura e com bonus para consumir em ligações interurbanas. Posso falar com o Sr. Edson?- Lamento, mas o Sr. Edson não poderá te atender - respondi eu mesmo.
- Quem está falando?
- Meu nome é João e sou amigo do Sr. Edson.
- E porque ele não pode me atender? - perguntou ela, irritada.
Com voz de tristeza, quase chorando e falando baixinho, avisei:

- Senhora Selma, desculpe-me. O Sr. Edson não poderá mais te atender porque ele morreu. Eu estou no velório dele, todos os amigos estão aqui - disse, dramatizando. Ela levou um choque e se lamentou, desculpando-se. Mas, como vingança, comecei a chorar e contei:

- Olha Selma, eu estou à frente do caixão dele. Fiquei com o telefone pra comunicar os amigos que ligarem. Vou te contar: ele era um santo homem. Corajoso, bom, um bom pai e marido exemplar. Ela, desconcertada, quis cair fora da ligação. Mas comecei a contar "causos" do Sr. Edson. E arrastei a conversa por um bom tempo como minha vingança pessoal.

- Selma, pensa num homem bom. Era ele em pessoa. Hoje, coitado, está aqui, mortinho. Esticado. Uma vez ele brigou o o Paulo Maluf, xingou o ex secretário da Segurança Pública e chamou um prefeito de panaca. Na época da revolução ele transmitia as assembleias de professores grevistas em Tupã e foi proibido pelos militares de dar notícias da greve. E, no final, ainda perguntei pra Selma:

- Quer falar com a viúva? Ela está chorando aqui do lado. Você pode passar os planos pra ela. Quer? 
Selma desculpou-se, mandou seus pêsames pra família e disse que a "Telefônica agradece sua atenção". 
Quando eu já estava quase explodindo de gargalhar e sentido-me vingado, a desgraçada ainda conseguiu me tirar do sério.

- Sr. João, o Sr. Edson morreu do que?
- De infarto, irritado com as ligações de telemarketing, sua anta!

Nunca mais a Selma me ligou de novo.