terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Haddad provoca inflação no crack

Preço do crack dobra na cracolândia


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Nota da Folha de São Paulo informa que o preço da pedra de crack dobrou de preço e já é vendida a R$ 20 no primeiro dia de funcionamento do programa "De braços abertos", implantado por Fernando Haddad, prefeito de São Paulo. Cerca de 302 usuários de drogas passaram a receber moradia, alimentação e R$ 120 por semana, em troca da varrição de ruas. O dinheiro público vira fumaça nos cachimbos dos drogados da cracolândia. Os traficantes comemoram. O bolsa Crack também os alimenta.

Atualmente são mais de 1000 viciados na região e nenhum deles demonstra interesse em procurar tratamento. Os intelectóides do PT criticam a internação compulsória defendendo o direito do dependente químico decidir por ela ou não como se tivessem consciência do seu estado ou capacidade para tal.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Jovem de 18 anos espancado até a morte em SP


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Bruno Borges de Oliveira, 18 anos, auxiliar administrativo, foi morto com socos e pontapés, ontem a tarde em São Paulo, na Bela Vista. Os criminosos espancaram o jovem para roubar um celular, um par de tênis e um Bilhete Único segundo o boletim de ocorrência registrado no 78º DP. Dois amigos de Bruno conseguiram fugir. Acredita-se que os autores praticaram o latrocínio para comprar drogas.

Ao mesmo tempo o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, lançou um programa que paga - com dinheiro público - salário, comida e hotel para usuários de drogas sob o manto de combate as drogas. Reinaldo Azevedo escreve a respeito do tema.

Maria do Rosário emitirá uma nota por Bruno, um trabalhador de 18 anos espancado até a morte? Ou: Os mortos do crack 

Reinaldo Azevedo

Ultimamente, já contei aqui, eu sinto um misto de raiva e nojo de ter de escrever certos textos, de fazer determinados comentários, de abordar alguns temas. Por volta das 6h40 de ontem, um jovem de 18 anos, Bruno Borges de Oliveira, foi espancado por ladrões até a morte na rua Herculano de Freitas, na Bela Vista, região central de São Paulo.
 
O que queriam roubar de Bruno, um garoto pobre, auxiliar administrativo, que arrumara emprego havia pouco tempo? Atenção! Um par de tênis, um cartão de bilhete único de ônibus e um celular — que, como se sabe, não é mais objeto de luxo. Tudo isso aconteceu à luz do dia.
 
São Paulo está longe de ser a capital mais violenta do país. Na verdade, os dados indicam ser uma das menos. Mas e daí? Isso já não tem importância para Bruno e sua família. Atenção, leitores! Maria do Rosário, a ministra dos Direitos Humanos, não vai emitir uma nota. Não haverá ONGs se manifestando nem se farão protestos no centro da cidade.
Há pouco menos de duas semanas, por conta de um homicídio que não aconteceu — um jovem havia se suicidado —, fez-se um escarcéu danado. Afinal, a vítima era gay e se tentou ver ali o que chamam de “crime de ódio”. Maria do Rosário aproveitou para fazer proselitismo sobre o cadáver. E o assassinato de Bruno? É o quê?
 
Não tenho as circunstâncias do caso, mas sou obrigado a lidar com a lógica e com os fatos que nos cercam. Reparem como os viciados em crack, que vagam pela ex-cracolândia, hoje Haddadolândia, em suma maioria, estão descalços. Sabem por quê? O tênis é a principal moeda no tráfico do crack. Tênis vira “pedra”. Outra moeda, para quem conhece o assunto, é justamente o cartão de bilhete único de transporte. E, obviamente, os celulares também fazem parte desse mercado.
 
A explosão do consumo de crack coincide com essas ocorrências horripilantes, como pessoas queimadas vivas ou espancadas até a morte. Infelizmente, São Paulo convive hoje com um programa aloprado, coordenado pela Prefeitura, que faz da cracolândia uma espécie de país com leis próprias. Que fique claro: não estou dizendo que os assassinos de Bruno saíram necessariamente de lá. Isso, não sei. Mas estou afirmando, sim, que o escambo — tênis por droga — é uma prática corriqueira na área.
 
Não sejamos ingênuos: não há policiamento, por mais ostensivo que seja, que consiga responder às demandas criadas numa cidade que incorpora o crack como realidade plausível e faz de consumidores e traficantes pessoas acima da lei.
 
Sim, os culpados pela morte de Bruno, obviamente, são seus assassinos. Mas esse rapaz também é vítima de um tempo que decidiu flertar com mal.

domingo, 26 de janeiro de 2014

O naufrágio de um país

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Conduzida pela destemperada presidente Cristina Kirchner, a Argentina está naufragando. Em apenas um único dia o peso desabou 11%, frente ao dólar, a maior derrocada dos últimos dez anos. O país vive com forte inflação e não tem grandes reservas internacionais. Pior, quem investiria num país conduzido por uma esquerda destrambelhada que já deu um calote de U$ 100 bilhões em 2001? 

Sem investimentos e crédito para rolar suas dividas, a argentina entrou no fosso. Politicamente o resultado já veio nas eleições legislativas de 2012 com a derrota do partido da presidente.

Tudo lá é regulado, até as compras pela internet e aquisição de dólar turismo. Para importar as empresas são obrigados a exportar o mesmo valor. Nada disso funciona e a economia sem competitividade, despenca com a alta da inflação que chegou aos 28% em 2012 (embora o governo afirme que a inflação tenha sido de 10,9%). Lá, como no Brasil, os dados são maquiados. Muitos produtos alimentícios foram tabelados e congelados. Os apagões de energia são constantes.

A popularidade de Cristina caiu muito e o povo saiu as ruas promovendo panelaços. O mais grave é que ninguém crê no que ela fala, seja que área for. Até o diagnóstico de câncer, há alguns anos, foi considerado um engano mas a doença, mantida escondida, já chegou ao cérebro.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O vergonhoso jeitinho brasileiro

Copa do Mundo 2014 tal e qual 1950

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

O Brasil sediou a copa do mundo de futebol em 1950 - vencida pelo Uruguai - por uma razão bem simples: foi o único país a se candidatar. A Segunda Guerra Mundial terminara em 45 deixando um rastro de destruição e ninguém queria saber de festa.

Tal e qual em 2014, o Brasil conquistou o direito de sediar porque não havia concorrência. O presidente populista Luiz Inácio entrou no rolê das pesquisas que indicavam que 58% apoiavam a ideia e "garantiu" a Fifa que o país estava em condições para tal.

E como sempre acontece no país, tudo ficou pra última hora. No jeitinho brasileiro. Na copa de 50, o principal estádio, o Maracanã, sediou os jogos ainda inacabado.

O país que aptou investir em dar esmolas com nome de programa social esqueceu-se da infraestrutura precária, problemas sociais gigantes, violência sem controle, corrupção desenfreada e apostou no circo. Estouros nos orçamentos, estádios inacabados e improvisações são marcas que envergonham o país. Os investimentos vieram dos cofres púbicos através de empréstimos subsidiados ou isenções.

Soma-se a essa confusão a ineficiência e despreparo de um ministro dos esportes comunista, Aldo Rebelo, que lá está não por competência, mas pela condição de partido de apoio ao governo federal.

Quando o secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke disse que "menos democracia é, às vezes, melhor para organizar uma Copa do Mundo", poucos entenderam sua frase "politicamente incorreta", mas empresários acostumados a produzir e organizar grandes eventos sabem bem o teor da conversa: muita gente palpitando e mandando e poucos fazendo. Valcke fez o favor de alertar indiretamente sobre a fragilidade de Dilma Roussef ao afirmar que "quando você tem um forte chefe de Estado, que pode decidir, como Vladimir Putin em 2018, isso será mais fácil para os organizadores."

O discurso retórico da Dilma afirmando que realizaremos a copa das copas não convence ninguém. A imagem que fica lá fora é do amadorístico jeitinho brasileiro.

O Maracanã foi inaugurado assim. Uma semana depois da abertura, os andaimes foram retirados. Havia restos de materiais deconstrução e muita lama no local.
Irresponsabilidade: para tranquilizar os que desconfiavam da qualidade da obra, três mil funcionários foram chamados para pular nas arquibancadas.

Símbolo de incompetência: o Maracanã sediou os jogos com torcedores entre andaimes. O estádio foi inaugurado inacabado.

“O que o museu tem a ver com educação?”

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Certamente você imagina que a espantosa pergunta tenha vindo de algum leigo desavisado, distante das lides da educação e beirando a imbecilidade. Mas, para sua decepção, a indagação foi feita por Aloízio Mercadante, simplesmente Ministro da Educação do Brasil durante uma visita a Recife.

A educação museal no país é vaga, incipiente, descontinuada, abandonada e fragmentada. Mercadante, cuja biografia está definitivamente manchada pela incompetência, precisaria ler com mais acuidade as propostas, ainda que preliminares, do Programa Nacional de Educação Museal, no mínimo.

Que otimismo se tem com a educação do país? 

Leonel Kaz, curador do Museu do Futebol ensina a Mercadante, o ministro miojo, numa publicação no Blog do Noblat.

O LUGAR DO MUSEU NA EDUCAÇÃO
“O que o museu tem a ver com educação?”
Por Leonel Kaz

Essa pergunta do ministro da Educação, Aloízio Mercadante, na imprensa e repercutida na Coluna do Noblat (3/6) do Globo, merece algumas ponderações. Faço uma dezena delas:

1. Museu é lugar para se entrar de corpo inteiro, tridimensionalmente, com todos os sentidos despertos. Cada obra de arte ou objeto exposto nos convida a olhá-lo, a partilhar dele, a se entregar a ele. Esse é o caminho da educação de qualidade: permitir que a vida nos invada e que o objeto inanimado ganhe um vislumbre novo, a cada dia, em cada visita. O Grande Pinheiro, tela de Cèzanne no Masp, pode ser vista cem vezes e, a cada vez, será diferente da outra; o quadro, de certa forma, muda, porque muda o mundo e mudamos nós também.

2. Museu é lugar, portanto, de olhar de forma distinta para as coisas. E para os seres também. É lugar de aprender a olhar com outro olhar para o outro (que quase nunca o vemos), para a escola (que pode ser, a cada dia, diferente do que é habitualmente) e para a cidade (que tanto a desprezamos, porque parece não nos pertencer).

3. Museu é lugar de entrar e dizer: é nosso! Museus são lugares de coleções, e as cidades, também. Cidades são escolas do olhar, pois nos permitem colecionar tudo de nossa vida: os dias que passam, a família que reunimos, os amigos que temos e ainda os bueiros da rua e as janelas que vislumbramos em nosso caminho diário (elas falam de épocas diferentes, narram histórias distintas). A cidade é a história.

4. Museu é lugar onde a cidade (a história) se reconta. Rebrota. Onde ela nos faz crer que, para além do mero contorno do corpo, existimos. Criamos uma identificação com aqueles fatos e pessoas que ali estão, que nos antecederam em ideias, pensamentos e sentimentos. Que ajudaram a criar “o imaginário daquilo que imaginamos que somos”, como definiu o poeta Ferreira Gullar. É dentro da plenitude deste imaginário que o Museu nos reaviva a memória e o fulgor da boa aula.

5. Museu é o lugar do mérito, onde peças e imagens entraram porque mereceram entrar, porque foram, em algum momento, singulares. Elas estão ali para nos apontar que cada qual que as visita pode ter sua singularidade, e que ninguém precisa ser prisioneiro dos preconceitos do mundo. Museu é onde a cultura aponta à educação que tanto um como o outro foram feitos para reinventar o modo de ver as coisas.

6. Museu é lugar para se abandonar a parafernália eletrônica, os iPads, iPhones e Ai-ais e permitir que obras e imagens que lá se encontram repercutam em nós. Num museu somos nós os capturados pelos objetos, somos nós o verdadeiro conteúdo de cada museu, com a capacidade de transformar e sermos transformados pelo que nos cerca.

7. Museu é lugar para criar um vazio entre o olhar que vê e o objeto que é visto. Um vazio de silêncio. Um vazio que amplia horizontes de percepção. Assim, o professor deixa de ser professor e passa a ser o que verdadeiramente é: um inventor de roteiros, um “possibilitador” de descobertas. É lugar de aluno, com a ajuda dos mestres, revelar potencialidades insuspeitas, tantas vezes esmagadas pelo caráter repressor das circunstâncias que o cercam.

8. Museu é lugar de experiência. Tudo o que é pode não ser: há uma mágica combinatória em todas as coisas, como as crianças nos ensinam. Tudo pode combinar com tudo, independentemente de critérios, ordenamentos, hierarquias. A ordem do museu pressupõe a desordem do olhar.

9. Museu é ainda lugar de coleções (embora a internet seja, hoje, o maior museu do mundo). Assim, o museu não é mais apenas um espaço físico, assim como a escola não o é. A cidade toda é uma grande escola. O Museu é uma de suas salas de aula.

10. Museu é o lugar em que “a criança se educa, vivendo” como nos ensinou, desde 1929, o educador Anísio Teixeira, ao falar da escola.

Leonel Kaz é curador do Museu do Futebol

domingo, 19 de janeiro de 2014

Um imenso Maranhão

Por Mary Zaidan / Do Blog do Noblat

Quase 13 milhões de jovens e adultos analfabetos, outros 30,5 milhões que já viram uma ou outra letra e nada compreendem; 43% dos domicílios sem o trio básico de saneamento – água encanada, esgoto e coleta de lixo; 50 mil homicídios ao ano, 25,8 por 100 mil habitantes, o que coloca o País no sétimo lugar entre os mais violentos do mundo. Esse Brasil pobre e sem luz no fim do túnel é o mesmo que garante a mais perversa das equações: quanto mais ignorantes e miseráveis, mais votos depositam em salvadores da pátria.

Engana-se quem imaginar que isso se restringe ao Maranhão dos Sarneys. A indústria da miséria, que o PT urbano e intelectual dos anos 1980 combatia com unhas e dentes, continua a prosperar. E até com mais fôlego.

No Nordeste e no Norte, a aprovação da presidente Dilma Rousseff bate nos céus e os indicadores sociais afundam-se na lama. Os nordestinos respondem por 52% dos completamente analfabetos e 30,9% dos analfabetos funcionais do País. Seus índices de morte matada são de guerra: 61,8 por 100 mil em Alagoas, 42,5 no Ceará, 40,7 na Bahia, 40 por 100 mil em Sergipe. No Norte, água, esgoto e coleta de lixo chegam só a 13% da população. Em 10 anos, os avanços nessa área foram de tímidos 2,1%.

Para esses que vivem à margem, até sem um vaso sanitário, há o Bolsa Família, hoje com 14,1 milhões de beneficiários. Dinheiro indispensável, mas que não deveria dispensar os investimentos em estruturas mínimas para, aí sim, começar a eliminar a miséria.

Não é por acaso que depois de chegar ao Planalto o PT substituiu o discurso combativo pelo peleguismo, pela política de resultados, pelo clientelismo. Com isso, o perfil de seu eleitor migrou das grandes para as pequenas cidades.

Dilma é imbatível no Norte e Nordeste entre os eleitores de baixa escolaridade e em municípios com até 50 mil habitantes. Encontra dificuldades em centros urbanos, até mesmo em São Luís, capital da terra do aliado Sarney.

Na cidade de São Paulo, onde poderia inverter essa lógica, o errático Fernando Haddad mais aterroriza do que anima o petismo. Nos maiores colégios eleitorais terá de enfrentar o favoritismo de Aécio Neves em Minas, as duas décadas dos tucanos em São Paulo e o descontente PMDB, que não vai facilitar a vida da presidente. Pior: sua base nordestina sofre baixas com a candidatura Eduardo Campos.

Quem sabe se com esses desconfortos cutucando o favoritismo de Dilma, a campanha eleitoral se volte não para a chatice das promessas sem lastro, do “nós versus eles”, mas para o apavorante e atrasado Brasil que não sabe ler e escrever, que não tem banheiro nem água, que vê seus jovens serem mortos sem saber por quê.

Mary Zaidan é jornalista.
Twitter: @maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com

Antonio Fagundes: Temos censura que não tivemos nem na ditadura.

Esperava o PT ético, mas abriu os caminhos do roubo.
Revista Isto/É

Na portaria do Projac, estúdios de gravação da Rede Globo, no Rio de Janeiro, o funcionário alerta: “Antonio Fagundes? Olha, ele é muito pontual.” Nos bastidores, a fama do ator é outra, talvez porque cumprir horários seja algo pouco comum no País. Fagundes, porém, começou a entrevista na hora marcada e, simpático, discorreu sobre vários assuntos, como eleições, política cultural e preconceito.

Aos 64 anos, esse carioca que se mudou para São Paulo aos 8 anos até hoje se divide entre as duas cidades. No Rio, encarna o médico machista César Khoury, da novela “Amor à Vida”. Fagundes deu uma virada na trama e seu personagem, que deveria morrer no meio, será mantido até o capítulo final. Em São Paulo, dedica-se ao teatro nos fins de semana.
ISTOÉ - O sr. sempre defendeu a necessidade de as pessoas terem participação política. Já tem candidato para 2014?
ANTONIO FAGUNDES - Sempre dei meu apoio para a turma do PT. Enquanto estava no Legislativo, tudo bem. Quando botaram a mão na grana, começou a acontecer, infelizmente, o que acontece com todos os outros partidos. É uma pena que o PT tenha entrado nisso, era realmente uma possibilidade de mudar a cara do País.

Eu esperava um partido íntegro, que tivesse um sentido de ética muito forte e que impedisse as pessoas de roubar, e não que abrisse outros caminhos de roubo. Então agora vou ter que rever. A perspectiva não é muito boa, mas sei que democracia é entre os males o menor. Vamos ver quem é que pode fazer menos mal ao País.

ISTOÉ - Aposta em novos partidos?
ANTONIO FAGUNDES - Você tem 30 e tantos partidos e não sabe o que eles pensam, de onde vieram. Sabe que são sustentados pela venda de votos e do espaço a que têm direito na televisão. O (José) Serra (PSDB) já está querendo ir para outro partido; é um absurdo. Se o cara está saindo de um partido e indo para outro, ele mudou de ideologia? Porque o certo é cada partido ter sua ideologia, uma forma de resolver os problemas que a sociedade apresenta.

Mas política no Brasil é uma zona, tem alguns partidos e alguns políticos que, pelo menos, deveriam ter vergonha na cara. Serra, me desculpe, mas fique quietinho no seu partido...

ISTOÉ -As recentes manifestações populares podem mudar nossos políticos?
ANTONIO FAGUNDES - Os governantes fizeram uma coisinha aqui, outra ali, voltaram atrás em uma leizinha e acabou? Não, não. O imposto eu pago e tem um cidadão lá no Congresso que deve cuidar das coisas em meu nome.

Isso é representatividade. Se por acaso esse cidadão vai lá e rouba o meu dinheiro, tenho que tirar esse cara de lá e botar outro. Não sou obrigado a aceitar o (deputado federal Paulo) Maluf, por exemplo, como meu representante.

ISTOÉ - Mas eles foram eleitos direta e democraticamente.
ANTONIO FAGUNDES - Não sei se nós votamos mal ou se o sistema eleitoral é muito malfeito e nos encaminha para isso. Ver o (senador José) Sarney no poder há tantos anos é um contrassenso. Ele mudou o título para o Amapá para se eleger. É uma vergonha ele ser eleito pelo Amapá.

ISTOÉ - A peça que o sr. vai estrear fala de uma família disfuncional. Que paralelos vê com o mundo de hoje?
ANTONIO FAGUNDES - A peça se chama “Tribos” e fala um pouco sobre preconceito, de como o mundo está surdo. Essa peça é de uma família disfuncional, meio louca, de pais intelectuais que têm um filho surdo, mas decide que ele não deve ser considerado surdo.

Até que ele conhece uma menina que sabe a língua dos sinais e começam a aparecer os preconceitos. É muito interessante porque estamos vivendo num mundo surdo mesmo.

ISTOÉ - Mas essa não é a era da comunicação?
ANTONIO FAGUNDES - É. Mas na era da comunicação as pessoas estão se excluindo porque elas estão em tribos, separadas e surdas. Porque nem a voz mais você ouve. Eu não tenho computador. Eu sou um analfabyte. E isso é uma opção ideológica.

Lembro sempre dos criadores de cavalo quando o automóvel foi inventado. Para eles foi o fim do mundo, mas era o futuro. O cavalo que se dane. Então, é inevitável que daqui a alguns anos não tenha mais livro físico. Mas espero que demore muito porque eu gosto do livro de papel.

ISTOÉ - Tem página no Facebook?
ANTONIO FAGUNDES -Não. As pessoas falam: “Como é que você consegue?” A internet é o maior exemplo de exibicionismo da humanidade. Só que vai chegar uma hora em que as pessoas vão se sentir angustiadas, porque precisam da privacidade. A gente jogou a privacidade no lixo. Em troca do quê?

ISTOÉ - O que acha das leis de incentivo à cultura, como a Lei Rouanet?
ANTONIO FAGUNDES - Estamos vivendo um momento delicado com a Lei Rouanet. Muita gente vai cair em cima de mim por causa disso, mas essas leis de incentivo são improdutivas. Uma lei cultural deve financiar o estímulo à cultura, o aumento de pessoas com acesso a isso. E não é o que está acontecendo, porque o governo deixou de decidir quem merece ou quem não merece, quem estimula e quem não estimula.

Agora, são os gerentes de marketing que determinam a política cultural do País, mesmo sem entender nada de teatro. Quando o governo passou isso para as mãos de gerentes de marketing, tirou o seu da reta. E nesse processo temos duas censuras, que não tivemos nem na época da ditadura.

ISTOÉ - Que censuras?
ANTONIO FAGUNDES - Censuras econômicas: uma delas é do governo dizendo se você pode ou não captar, porque eles recebem 20 mil projetos por ano e aprovam dois mil. Mas não sabemos o critério de aprovação. A outra censura é a do gerente de marketing, porque se ele disser que não, você não monta seu espetáculo.

Então você vê espetáculos que seriam importantes de serem montados, mas não são, e espetáculos que não têm tanto valor sendo montados.

ISTOÉ - Não se consegue montar espetáculo sem patrocínio?
ANTONIO FAGUNDES - Atualmente, somente com patrocínio. Ninguém mais consegue se manter apenas com a bilheteria. Os custos subiram tanto que você pode cobrar o ingresso que quiser que não se mantém. Tanto que os espetáculos não ficam mais de dois meses em cartaz, a não ser aqueles que têm um aporte contínuo de patrocínio.

Nos meus 47 anos de profissão, tive três patrocínios. Sempre acreditei que enquanto tivesse público continuaria em cartaz. Hoje em dia não interessa mais isso, você pode lotar que vai ter de sair dois meses depois. E, nesse círculo perverso, os teatros não alugam o espaço mais do que dois meses. Eu diria que, assim como o livro, o teatro está acabando.

ISTOÉ - O cinema está na mesma situação?
ANTONIO FAGUNDES - Hoje em dia, nenhum filme brasileiro se paga, nem o que teve dez milhões de espectadores. E 90% dos filmes brasileiros têm menos de 20 mil espectadores. E menos de 20 mil não são 19 mil, são 500, 600, 1,2 mil pessoas. A gente ouve falar que determinado filme teve mais de um milhão de espectadores.

Mas são apenas uns quatro que conseguem e nós fazemos 100 longas por ano. Na última pesquisa que vi, tinha uma fila de 200 filmes na prateleira porque não conseguiam sala para exibição, embora o Brasil tenha 2,5 mil salas. Competimos com cinema americano, francês, alemão, etc.

ISTOÉ - Para muitos, César, seu personagem em “Amor à Vida” (César Khoury), é um vilão. Para outros, ele é um típico cidadão brasileiro. O que o sr. acha?
ANTONIO FAGUNDES - O César é um cara eticamente inabalável, tem as convicções dele no hospital, e é íntegro. Mas tem amante, é homofóbico convicto e já fez umas cagadas no passado. Isso faz você pensar na complexidade do ser humano.

O Walcyr (Carrasco, autor da novela) tem essa característica que acho ótima: foge do maniqueísmo, da caricatura do bom e do mau. Isso dá profundidade, humanidade para os personagens e confunde o público, de certa forma. Mas ter uma surpresinha é sempre bom.

ISTOÉ - Muita gente se identifica com o César?
ANTONIO FAGUNDES - Isso é surpreendente. Uma pesquisa mostrou que 50% das pessoas se identificam com ele. Deve ter homossexual homofóbico também, o que aparentemente pode ser um contrassenso, mas não é. Tem pessoas que são preconceituosas com a própria classe, a própria tribo. Mas essa reação do público mostra que o tema merece discussão mesmo.

A gente sempre ouve falar de homofobia e imagina aquelas cenas horríveis, dos caras batendo em homossexual. Mas a homofobia pode ser mais violenta ainda sem levantar a mão. Acho que o Walcyr foi muito feliz e muito corajoso nessa abordagem.

ISTOÉ - Qual é a sua opinião sobre homossexualidade?
ANTONIO FAGUNDES - Acho que a opção sexual é como ser vegetariano. Foro íntimo. Esse negócio de mandar as pessoas saírem do armário é questionável. Por que a pessoa tem que sair do armário? Não precisa!

Ela faz o que quiser na vida íntima, não é obrigada a abrir sua intimidade. A cobrança acaba sendo outro tipo de preconceito. Agora, aqueles que saíram têm que ser respeitados. A verdadeira ausência de preconceito é respeitar tudo.

Proibir armas de brinquedo resolve?


Com a justificativa de que as armas de brinquedos são utilizadas na prática de crimes, os deputados paulistas promulgaram uma lei que proíbe sua fabricação e venda, sob pena de multa. O autor é o deputado André do Prado, do Partido da República. Isso, porém, já está previsto no Estatuto do Desarmamento, uma lei federal de 2003. Cerca de 40% das armas apreendidas pela polícia na capital paulista, em 2012, 40% eram de brinquedos. O Instituto Sou da Paz comemora como resultado da implantação do Estatuto. Mas não explica porque os crimes, inclusive de mortes, aumentaram no mesmo período.

Os políticos, diante de um quadro de extrema violência no país, só tem uma saída para mascarar a incompetência de seus governos: programas de desarmamento - outra falácia - e leis inócuos, como a proibição da fabricação de armas de brinquedos. Mas a base do problema continua intacta.

Em em 2010 foram 36 mil mortos catalogados como vítimas de armas de fogo, no Brasil, um número quase 4 vezes maior que as mortes nos Estados Unidos (9.960 no mesmo período). Mas tem outro detalhe: os americanos tem 295 milhões de armas contra 15 milhões no Brasil. Mata-se no Brasil 19,3 pessoas para cada 100 mil habitantes. Nos Estados Unidos, 3,2 mortos para cada grupo de 100 mil. A Venezuela, o país mais violento do mundo, este índice é de 39.

As campanhas de desarmamento no Brasil - demagogia dos governantes populistas diante de um quadro gravíssimo - recolheram, até então, 620 mil armas. Não há motivos para otimismo enquanto os responsáveis pela politica de segurança continuarem acreditando em bobagens como estas.

Desarmar civis não resolve
500 policiais são mortos, por ano, no Brasil

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Promotoria denuncia funcionários da PM de Marília

Grupo de 17 pessoas foi levado contra a
vontade para Ibitinga
MP denuncia 4 agentes públicos por retirarem à força moradores de rua de Marília
 
A Promotoria de Justiça de Marília ofereceu, na segunda-feira (13/01), denúncia (acusação formal) à Justiça contra o Secretário Municipal de Assistência Social de Marília Hélio Benetti, por abuso de autoridade - e outras três pessoas - Jair Dias de Oliveira Filho, Carlos Roberto Valdenebre Silva e Paulo Roberto Vieira da Costa – todos funcionários da pasta, pelos crimes de abuso de autoridade e coação no curso no processo. Eles são acusados de retirar à força de 15 a 17 moradores de rua de Marília, que foram levados para a cidade de Ibitinga.

De acordo com a denúncia formulada pelo Promotor de Justiça Gilson César Augusto da Silva, de Marília, na noite de 29 de abril do ano passado, os três funcionários da Secretaria de Assistência Social abordaram moradores de rua em diversos pontos de Marília e os colocaram em um veículo da Prefeitura, levando-os até um ônibus estacionado às margens da Rodovia do Contorno. Dali, os moradores de rua foram levados até o trevo de Ibitinga, onde foram deixados sozinhos e sem qualquer auxílio. Aqueles que ofereceram resistência, segundo a denúncia, foram tratados de maneira agressiva e colocados à força no veículo da Prefeitura, inclusive mediante o uso de um aparelho de choque.

Tudo com a aquiescência do Secretário de Assistência Social, que acompanhou os fatos, testemunhados por pessoas ligadas a instituições religiosas que distribuíam alimentos aos moradores de rua.

Para o Ministério Público, o objetivo dos agentes públicos era livrar-se do problema social dos moradores de rua de Marília.

O fato chegou ao conhecimento do Secretário de Segurança, Trânsito e Tecnologia de Ibitinga, que noticiou o ocorrido ao Ministério Público, registrou boletim de ocorrência, colheu o depoimento de alguns moradores de rua e forneceu auxílio para aqueles que pretendiam retornar a Marília.
Em junho e julho, quando a Promotoria de Justiça já havia instaurado um inquérito civil para apurar os fatos, Jair Dias de Oliveira Filho e, depois, Carlos Valdenebre Silva e Paulo Vieira da Costa se encontraram, em um albergue, com um dos moradores de rua que estava no grupo levado à força para Ibitinga e, sabendo que ele havia prestado depoimento na Delegacia de Polícia, ameaçaram o homem para que ele não confirmasse o teor do depoimento em juízo.

O Secretário Hélio Benetti foi denunciado por abuso de autoridade. Os três funcionários da Secretaria foram denunciados por abuso de autoridade e por coação no curso no processo. A denúncia foi oferecida ao Juízo da 2ª Vara Criminal de Marília.

Site do MPSP
Núcleo de Comunicação Social

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O velhote assassino de Cuba


Raúl Castro: São 86 mortes na lista tornada pública pelo Arquivo Cuba na prisão, 46 suicídios de presos e 15 homicídios

Pablo Afonso

O governo de Raul Castro tem um impressionante recorde de mais de 200 casos de assassinatos e desaparecimentos em Cuba, 166 deles documentados, durante os sete anos de seu mandato como Cuba Archive revela em seu último relatório.

A lista relaciona 86 mortes de presos por recusa de assistência médica na prisão, 46 suicídios de presos e 15 execuções. A contagem inclui os presos mortos em greve de fome:. Wilman Villar Mendoza, Orlando Zapata Tamayo, Roberto Ramirez e Yordanis Ballagas Rivalta Antonio Junco, e qualifica-se a morte de Oswaldo Paya Sardinas e Harold Cepero Escalante como supostas execuções extrajudiciais.

Há dois casos relatados como desaparecimentos forçados. O primeiro identificado como Alberto Sigas Hechevarría, 32 anos, membro de um grupo de oposição pacífica, que havia sido ameaçado de morte por agentes de segurança do Estado. Em 15 janeiro de 2010, deixou sua casa para visitar a sua mãe e nunca mais foi visto. Sua esposa informou seu desaparecimento. A polícia informou, três dias depois, que ele fora detido na sede Villa Marista da Segurança do Estado. Mas nunca mais voltou.

Em condições semelhantes desapareceu o ativista político, Amelio Franco Roberto Alfaro, 62 anos, que saiu de casa pela última vez em 20 de maio de 2009, assinala o Cuba Archive.

O relatório inclui 10 páginas, entre 31 de julho de 2006 até 15 de dezembro de 2013 e está disponível no site cubaarchive.org.

Cuba Archive é um programa do Projeto Sociedade Livre (FSP), uma organização independente fundada em 2001, em Nova York, presidido por Maria Werlau, a fim de promover o respeito pelos direitos humanos e preservar a memória histórica através de pesquisa, bolsas de estudos e publicações. A organização tem uma ampla base de dados digitais que documentam os crimes políticos em Cuba desde o triunfo da revolução de Fidel Castro, há 55 anos.

Pablo Alfonso, en 1971 fue condenado a 20 años de cárcel por dirigir junto a otros jóvenes de procedencia cristiana un movimiento opositor contra el régimen de Fidel Castro. Indultado en 1979, viajó a Miami donde todavía reside.

Entrevista a María Werlau por Carmen María Rodríguez

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Ceia de révellion de Dirceu teve arroz, feijão e frango

Arroz, feijão e frango na ceia dos
mensaleiros

Revista Veja / Maquiavel


Acostumado a passar o révellion na companhia de amigos famosos, em jantares regados a champanhe e pratos refinados, o ex-ministro José Dirceu virou o ano com os colegas de cela no Complexo Penitenciário da Papuda, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, os ex-deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Bispo Rodrigues (PR-RJ), e o ex-tesoureiro do PL, Jacinto Lamas.

A de Natal dos políticos presos, assim como dos demais encarcerados, foi composta por arroz, feijão, salada e frango, arranjados em marmitex. Na véspera de 2014, o frango foi substituído por carne. Os homens não tiveram a mesma regalia das presas do centro de detenção feminino. Por conta do ano novo, as mulheres receberam um incremento na marmita: pernil assado e "farofa rica".

Dirceu ganhou de Natal bermudas e camisetas brancas novas, sem bolso, conforme as regras da Papuda. Presente de sua primeira ex-mulher, a empresária Clara Becker.

(Com Estadão Conteúdo)

Outro petista vai para a cadeia. João Paulo Cunha será recolhido nesta terça.

Prisão decretada: Cunha vai para a
Penitenciária da Papuda
O STF determinou a prisão do deputado João Paulo Cunha, do PT, condenado no processo do mensalão a cumprir a pena de seis anos e quatro meses em regime semiaberto. Ele foi acusado de peculato e corrupção passiva e sera recolhido ao xadrez, na Penitenciária da Papuda, onde já se encontram outros 17 sentenciados do total de 25 condenados, inclusive o chefe da quadrilha, José Dirceu. Cunha diz que não pretende renunciar.

A decisão para o recolhimento do deputado aos costumes da Papuda veio do despacho do Ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF: “nego seguimento ao recurso do embargante quanto aos crimes de corrupção passiva e peculato relativo à contratação da empresa SMP&B por faltar-lhe requisito objetivo essencial de admissibilidade e por considerá-lo meramente protelatório. Determino, como consequência, a imediata certificação do trânsito em julgado quanto a essas condenações e o início da execução do acórdão condenatório", sentenciou ele.

Além dos seis anos e quatro meses, Cunha também foi condenado a mais três anos por lavagem de dinheiro, totalizando 9 anos e quatro meses. Mas neste crime pode haver contestação com os embargos infringentes. Esse recurso pode permitir até novo julgamento. 

José Genoino, outro petista condenado, deve voltar a penitenciária para cumprir sua pena depois que terminar o período de 90 dias concedido para tratamento da saúde . Barbosa já deixou isso bem claro.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Estudo comprova que empresa que doa dinheiro para políticos tem retorno de 850%

A maioria dos contratos não é cumprida e além disso, a maior parte das empresas recebe aditivos de até 50% e são comandadas por "laranjas".

Da Folha Centro Sul

Após as manifestações de junho, o debate em torno da reforma política dominou o noticiário do País e o financiamento das campanhas políticas se tornou um dos principais temas da discussão.

ESTUDO

Um estudo feito no Brasil pelo Instituto Kellogg, dos Estados Unidos, indica que as empresas que doam dinheiro para campanhas eleitorais têm um retorno de até 850% em cima do valor que investiram no candidato.

Idealizador da Lei da Ficha Limpa, que impede a participação de candidatos condenados criminalmente em tribunais colegiados, o juiz eleitoral Márlon Jacinto Reis é um dos criadores do movimento de combate à corrupção. Reis, que também é diretor do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), afirma que o negócio é lucrativo para empresas que investem em políticos.

— Há uma pesquisa do Instituto Kelloggs no Brasil que mostra que a cada R$ 1 investido nas campanhas [políticas] há um retorno em contratos públicos da ordem de R$ 8,50. É um lucro de 850%. É o melhor negócio que conheço até agora. É melhor do que vender água. Nesta semana, o MCCE se encontrou com a presidente Dilma Rousseff em Brasília para expor os pontos da “Campanha Eleições Limpas”. O projeto prevê o fim do financiamento de campanhas eleitorais por empresas privadas, limite para doação de pessoa física para partidos e eleição para o Legislativo em dois turnos, com a escolha dos partidos no primeiro e dos candidatos propriamente ditos no segundo. O brasileiro, quando vai às urnas, não escolhe o candidato por ideologia ou pelas propostas de governo que oferece ao eleitor, explica Reis.

O processo eleitoral atualmente está focado basicamente em dinheiro, segundo o juiz de direito.

— O começo da coisa [campanha eleitoral] hoje tem a ver com um binômio: dinheiro, que movimenta as eleições; e a maneira como as campanhas são conduzidas, com que as candidaturas são apresentadas. No primeiro ponto, nós identificamos como imprescindível proibir doações empresariais porque o dinheiro usado para comprar votos e para praticar as distorções do processo tem uma origem e precisamos nos preocupar com essa origem. Temos eleições caríssimas, mais caras que a maior parte das democracias.
As eleições de 2010, que escolheram o presidente da República, custaram R$ 4,9 bilhões em financiamentos, de acordo com Reis.

PRINCIPAIS DOADORAS

As principais doadoras para campanhas são corporações ligadas à construção civil, mineração e bancos. Em comum, todas fornecem produtos e serviços para governos federal, estaduais e municipais, ressalta o juiz eleitoral. — [Para chegar a esse cálculo], pega-se apenas o financiamento declarado e mesmo assim é um absurdo. Apenas dez empresas, nas últimas cinco eleições, doaram R$ 1 bilhão. Temos uma presença maciça das empreiteras, seguidas pelos bancos no processo de doação. Depois temos outros grupos ligados, de mineração por exemplo. Estão sempre ligados a setores que contratam diretamente com o poder público. São grupos que estão interessados em interferir na Comissão Mista de Orçamento para definir para onde vai o dinheiro.

PÓS CRÍTICAS DO FINANCIAMENTO DA CAMPANHA

Após tantas críticas ao financiamento de campanha por empresas particulares, a principal proposta apresentada para controlar o repasse de dinheiro é vetar a doação de dinheiro por empresas e liberar apenas para pessoas físicas. Para o MCCE, o teto seria o valor de um salário mínimo, ou seja, R$ 678 por pessoa. O financiamento de campanha seria um dos pontos tratados no plebiscito, sugerido pela presidente Dilma Rousseff, mas a proposta de consulta popular não decolou no Congresso Nacional. A ideia é que a nova regra já valesse nas eleições de 2014.

TENTATIVA DE MUDAR O JOGO

Conforme as regras atuais, qualquer pessoa ou empresa pode dar dinheiro para partidos ou candidatos realizarem suas propagandas eleitorais. Bancos, empreiteiras e empresas de mineração estão entre as organizações que mais investem em políticos. Para que as mudanças propostas pelo MCCE valessem já nas eleições de 2014, seria necessário que os parlamentares apreciassem e votassem o Projeto de Lei Ordinário até o próximo dia 5 de outubro — exatamente um ano antes das eleições. Cerca de 130 deputados já manifestaram apoio à causa. No entanto, o próprio MCCE admite ser difícil que o texto seja analisado ainda neste ano.

Educação em Portugal

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

José Carrancudo é um professor em Portugal e se confessa preocupado com os rumos da educação em seu país. Portugal adotou há mais de 30 anos o método de alfabetização construtivista e lá, tal cá, os jovens mal sabem ler um jornal ou concluir uma operação de matemática simples. 

"Pra que formar cidadãos assim", pergunta Nuno Crato, o novo ministro da Educação e Ciências de Portugal faz dois anos e meio no cargo e com a missão de recuperar o tempo perdido. Ele rompeu com o radicalismo do método global e impôs novas regras: ao mesmo tempo que defende mais autonomia para as escolas, Nuno Crato não abre mão de um ensino rigoroso, lastreado em conteúdos curriculares (Português, Matemática, História, Geografia, Ciências e Inglês), metas, avaliações e mérito. Para o novo ministro o construtivismo - principalmente as vertentes imbecilizadas pelo radicalismo - dão uma noção vaga de "competências" que secundariza o conhecimento.

Agora os alunos portugueses terão avaliações e objetivos cognitivos bem definidos ao contrário do construtivismo que não permite jamais que o professor corrija o erro de um aluno para que ele não se sinta constrangido ou seja que seja avaliado. O artigo de Carrancudo, escrito em 2007, é uma proposta de educação para Portugal e que mostra porque métodos como o construtivismo não alfabetizam.

ENSINO ESCOLAR: METAS E MEDIDAS

Por José Carrancudo

O estado deplorável do sistema escolar nacional é do conhecimento público, e cada um consegue apresentar diversos exemplos ilustrativos deste fenómeno. Vários remédios foram propostos, uma grande parte dos quais, incluindo as recomendações das entidades europeias, cita a necessidade de transformar o ensino num conjunto de prestadores de serviços educativos, de modo que os alunos e os seus pais possam escolher aquele prestador que proporciona um serviço educativo melhor.

Todavia, todos estes remédios falham em vários pontos importantes, nomeadamente:

1. O principal objectivo do sistema escolar é de proporcionar ao aluno as ferramentas necessárias para a sua aprendizagem futura, tanto no ensino superior, como ao longo da sua vida, além de conhecimentos e competências concretas.

2. Um sistema escolar, correctamente construído, deve proporcionar uma formação adequada (equivalente a uma avaliação objectiva de “Bom”) a um aluno médio.

As principais ferramentas do nosso aluno são o Português, e a Matemática, sendo esta última a língua comum das ciências exactas e tecnologias. As notas médias dos exames nacionais destas duas disciplinas são de 7, o que mostra uma incapacidade do nosso sistema escolar de proporcionar as ferramentas essenciais ao aluno médio. Não devemos esquecer ainda que a nossa taxa de abandono escolar é de 40%, assim, o sistema escolar consegue ensinar, com uma grande ajuda dos explicadores, apenas 1/5 dos alunos que entram no primeiro ano da escolaridade.

Analisando objectivamente os currículos escolares, concluímos que estes são suficientes, do ponto de vista de conhecimentos e competências que o aluno deveria obter. O problema, então, não está no que estamos a ensinar, mas sim no como.

Olhando atentamente para o ensino escolar, detectamos duas falhas metódicas gravíssimas, que impossibilitam um desenvolvimento intelectual adequado de um aluno médio.

A primeira é a aposta no pensamento crítico dos alunos, em detrimento de memorização sistematizada de conhecimentos, e em detrimento do desenvolvimento de capacidade de memorização. Há 30 anos, apostamos na criação de um ensino mais democrático, baseado no desenvolvimento da capacidade de pensamento crítico e criativo, eliminando por isso os exercícios para desenvolvimento da memória dos currículos de todos os anos. Esta aposta falha em dois aspectos. Em primeiro lugar, um aluno típico da escola primária (primeiro ciclo) não tem capacidade de pensamento crítico, aceitando de bom grado tudo que lhe seja dito pelos adultos. Mesmo que este aluno aparente uma capacidade razoável de pensamento crítico, na realidade apenas interpreta as dicas do professor, dadas voluntária ou involuntariamente. Entretanto, o pensamento crítico do aluno pode e deve ser desenvolvido, mas gradualmente, e nos alunos já com idade mais avançada, e, consequentemente, com capacidades mentais mais desenvolvidas. Em segundo lugar, abstendo do desenvolvimento da capacidade de memorização sistematizada do aluno, a escola não aproveita deste recurso que o aluno já possui, e que deve ser desenvolvido, desde logo, para proporcionar as bases para o próprio pensamento crítico, pois não há lugar para qualquer pensamento sem recurso aos conhecimentos memorizados.

A segunda é a aposta no método global (visual) de ensino de leitura. Este método para sua implementação correcta necessita de professores excelentes e bem preparados, pois na consequência de erros comuns na sua implementação os alunos não aprendem a ler fluentemente em tempo útil, o que consideramos ser o segundo ano da escola primária (primeiro ciclo). As tentativas falhadas dos últimos 30 anos de usar este método mais que justificam a sua proibição oficial, pois na consequência do seu uso cerca de 80% dos nossos alunos não aprendem a leitura atempadamente, com consequências graves para todo o seu percurso escolar.

Assim, para começarmos a reconstruir a nossa escola, devemos eliminar, e o mais depressa possível, as falhas metódicas mencionadas, sendo certo que os exercícios de memorização sistematizada devem ser reintroduzidas em todas as disciplinas de todos os ciclos, e não apenas na escola primária. Devemos ainda prescindir das tentativas fúteis de usar o "pensamento crítico e independente" dos alunos do 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico, cujo cérebro ainda não desenvolveu esta capacidade. Devemos admitir ainda que o processo de reconstrução vai ser demorado, pois as alterações introduzidas hoje não trarão grandes vantagens para os alunos que se encontram nos ciclos preparatórios e na escola secundária. Podemos tentar ensinar a estes alunos, mais uma vez, aquilo que não aprenderam quando deviam ter aprendido, embora sem grande esperança de sucesso.

Precisamos de corrigir, urgentemente, o paradigma do nosso ensino, fatalmente viciado por razões ideológicas.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Lula colaborou com militares para abafar MDB

Romeu Tuma Jr e José Nêumanne Pinto contam
a mesma história.
Lula e os militares

Ruy Fabiano

A denúncia do ex-delegado Romeu Tuma Jr., publicada no recém-lançado livro “Assassinato de Reputações”, de que Lula atuou como delator junto ao Dops ao tempo do regime militar, não é exatamente inédita – nem exata, em seus termos.

Antes dele, o jornalista José Nêumanne Pinto já a havia feito, no livro “O que Sei de Lula”, publicado há mais de um ano. Ambos, cada qual a seu modo, conviveram com Lula ao tempo em que sua liderança sindical emergia e o inseria na cena política nacional.

Não havia ainda o PT, mas Lula já pensava em criá-lo. Era o final dos anos 70 e o PT surge em 1980. Nêumanne, então repórter do Jornal do Brasil, foi destacado para cobrir o sindicalismo do ABC paulista, que surgia como o fato novo da política brasileira.

Tuma Jr. era já agente da Polícia Federal e assessorava o pai, Romeu Tuma, chefe do Dops. Lula já contou – e há um vídeo na internet com esse relato – que era tratado a pão-de-ló por Tuma pai, ao tempo em que esteve preso no Dops.

Nêumanne diz que, nessa época, em que, para além dos contatos profissionais, desfrutava da companhia de Lula em mesas de bar, deu-lhe carona para um encontro (de que não participou) com personagens do governo militar – entre outros, um representante do general Golbery do Couto e Silva, que nele via uma peça-chave para desmontar a frente oposicionista, abrigada no MDB.

Lula se recusava a integrar a frente oposicionista. Não se via um discípulo de Ulysses Guimarães ou Tancredo Neves. E não via com simpatia a volta dos mais eminentes anistiados, como Miguel Arraes e Leonel Brizola, embora não pudesse dizê-lo de público.

Para a opinião pública, eram aliados; no campo da realidade nua e crua da política, já eram concorrentes. Numa coisa e noutra – na recusa à frente oposicionista e na rejeição aos líderes anistiados -, coincidia com o pensamento do governo militar, então presidido pelo general Figueiredo.

Natural que o estrategista do regime, general Golbery, então chefe do Gabinete Civil, se interessasse em conversar com Lula e examinar pontos de convergência. Esses encontros e acertos, mencionados à época, no entanto, não fazem de Lula um dedo-duro, nos termos, por exemplo, do que, na sequência da implantação do regime militar, se imputou ao ex-cabo Anselmo.

As informações de Anselmo aos órgãos de repressão não só provocaram prisões e violências, como foram feitas a partir do que obteve em confiança, de pessoas que o julgavam um companheiro de luta. Há aí uma transgressão bem mais grave que a que se queira atribuir a Lula.

Não se trata de absolvê-lo ideologicamente com ele. A rigor, tal avaliação diz respeito ao campo moral, não ideológico. Trata-se de examinar com objetividade e isenção o que se passou.

Não foi algo muito diferente, do ponto de vista prático, de sua recente aliança com Paulo Maluf. Em nome de interesses imediatos e fisiológicos – a eleição do prefeito de São Paulo -, abjurou de tudo o que dele dissera ao longo de duas décadas.

Uniu-se a quem julgava politicamente indecente para atender a seu projeto de poder. É claro que há aí uma questão moral, mas que deve ser julgada nos seus termos, sem deles extrapolar.

Lula, quando emerge no cenário político, a conjuntura era bem distinta. Já não havia, desde o final de 1978, o AI-5, revogado no apagar das luzes do governo Geisel; já não havia, desde a anistia, em 1979, presos políticos – e, por conseguinte, já não havia exilados.

O temor dos militares era com a ascensão de uma oposição unida, que levasse ao revanchismo, hoje, ironicamente, materializado na Comissão da Verdade, instalada pelo PT.

A Lula, interessava então formar o seu partido, no qual, a princípio, não queria nem a presença dos intelectuais acadêmicos, que acabaram por dar o estofo ideológico que até hoje o preside.

O jogo que fez, do ponto de vista dos que lutaram anos contra a ditadura e o viam como aliado, pode ser tachado de desleal ou egoísta – ou ambas as coisas. Mas nada tem a ver com delação. É o mesmo jogo que fez ao proibir o partido de votar em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral e de assinar a Constituição de 88 sob protesto.

De suas conversas com lideranças do regime não resultaram prisões, torturas ou exílios – e pelo simples motivo de que o regime militar não tinha mais meios de promover aqueles atos. Já estava jogando o jogo político e lhe interessava apenas garantir uma retirada honrosa e segura, afinal obtida.

Lula já estava construindo o seu projeto pessoal, mas não colaborou para a permanência do regime – e sim para sua retirada segura, que hoje paradoxalmente seu partido quer revogar.

Ruy Fabiano é jornalista

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Feliz Ano Novo?

O superávit comercial brasileiro em 2013 foi o pior em 13 anos. O país exportou U$ 242,178 bilhões e importou U$ 239,617 bilhões, um "lucro maquiado" de apenas U$ 2,561 bilhões porque o governo incluiu como "exportação" plataformas petrolíferas produzidas no Brasil e alugadas para a própria Petrobras. Em novembro o superávit comercial da China foi de U$ 34 bilhões.

O grande vilão das importações foi a gasolina que a falida Petrobras não consegue produzir nem pro gasto do país. Faltam investimentos. Basta citar que a Petrobras tem uma dívida impagável de mais de U$ 7,5 bilhões. De dólares.

O dólar disparou em 2013 com alta de mais de 15% levando a taxa de juros com ele. Dilma e Mantega teimaram e perderam: a bandeira de juros baixos, levantada para campanha política, levaram a alta da inflação e, de volta, as maiores taxas de juros do mundo.

O comércio teve um dos piores desempenhos no período de Natal nos últimos 10 anos com um acanhado aumento de 1,5% a 2,5% segundo alguns levantamentos. Os shoppings registraram aumento real de 2,5%, descontada a inflação que hoje beira 5,80%.

A previsão de crescimento da economia no Brasil em 2013 recuou para 2,40% segundo o Banco Central e para este ano a previsão que era de 3,10% já caiu para 3%.

Economia em frangalhos, corrupção galopante, saúde, educação, segurança e justiça falidas. E os governantes investindo em copa do mundo.

Feliz Ano Novo, pra quem?