quinta-feira, 24 de julho de 2014

Ineficácia do método global/construtivista é provada em laboratório

Método fônico alfabetiza melhor e mais rápido, diz neurocientista
Stanislas Dehaene: a ineficácia do método construtivista está provada não só em laboratório, mas em centenas de experimentos realizados em inúmeros países.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza / Atualizado em 12.03.2020

Stanislas Dehaene, matemático e neurocientista francês, afirmou que o método fônico é o mais eficiente e que uma criança pode ser alfabetizada, em português, em menos de um ano. Na maioria das escolas públicas brasileiras, com métodos lastreados em teorias construtivistas, as crianças chegam ao 9º ano com sérias dificuldades para ler, escrever e interpretar o que leu. Todas as avaliações indicam isso, inclusive a última, patrocinada pela Unesco: nossos alunos do Ensino Básico atingiram níveis de proficiência "abaixo do básico e básico" e muito pouco do adequado e quase nada do avançado.

Esta foi uma das mais importantes conclusões de Dehaene durante uma palestra no seminário promovido pela Secretaria da Educação de Santa Catarina e transmitida, ao vivo, para mais de 2000 diretores, supervisores, coordenadores e professores da rede estadual.

O cérebro impõe a sequência

Segundo matéria publicada na página da Secretaria da Educação de Santa Catarina, Dehaene garantiu que “embora desagrade a muitos, não se aprende a ler de cem maneiras diferentes. Cada criança é única, mas, quando se trata de alfabetização, todas têm basicamente o mesmo cérebro que impõe a mesma sequência de aprendizagem. Quanto mais respeitarmos sua lógica, mais rápida e eficaz será a alfabetização”.

Milhares de estudos em laboratório mostram que "os cérebros ativam os circuitos corretos para a leitura quando a criança aprende a relação de sons e símbolos gráficos ganhando velocidade e autonomia para lerem palavras novas, de forma muito mais rápida", disse o cientista. "O atual método utilizado no Brasil, o construtivismo, é ineficaz e isso está provado não apenas em laboratório mas em centenas de experimentos realizados em inúmeros países. E esses conhecimentos científicos estão reorientando as políticas públicas em vários deles" - cita o site da Secretaria da Educação de Santa Catarina. Portugal é um deles.

Método global: construindo cidadãos analfabetos

O novo ministro da educação de Portugal, Nuno Crato, aboliu as teorias de Piaget e colocou a neurociência na sala de aula. Ferrenho crítico do que ele chama de "eduquês", Crato sempre questiona como o método construtivista quer construir cidadãos que chegam ao ensino médio, analfabetos: "o jovem não consegue entender o que lê numa revista ou jornal. Que cidadão e esse?" - pergunta. Em pouco menos de três anos promoveu uma grande revolução no ensino português, até então, como o Brasil, nas últimas colocações do Pisa. Nuno Crato não abre mão de um ensino rigoroso, lastreado em conteúdos curriculares (Português, Matemática, História, Geografia, Ciências e Inglês), metas, avaliações e mérito.

O construtivismo propõe que as crianças não sejam "adestradas" com a repetição de sílabas mas se preocupa em fazer as crianças darem mais atenção ao significado das palavras. 

"O problema é que o cérebro precisa decodificar para ler, só consegue prestar atenção no significado quando a leitura ganha certa velocidade e que conseguimos isso muito mais rápido com o método fônico", explicou Dehaene.

Classes iguais, resultados diferentes

E o cientista contou uma experiência realizada na França que resume bem a situação vivida nos países que utilizam a teoria do método global. Crianças, do mesmo nível socioeconômico, foram divididas em dois grupos: um foi alfabetizado pelo método global e o outro, pelo fônico. No final da escolarização os alunos que haviam sido alfabetizados pelo método global/construtivista não só liam mais lentamente, como tinham mais dificuldades para compreender textos, dos que os que haviam aprendido pelo método grafo-fonológico.

A explicação é simples: as crianças alfabetizadas pelo método fônico são ensinadas, primeiro, a decodificar e, após, conhecer a relação dos sons/letras. Na sequência elas são ensinadas a ganhar fluência com a leitura automatizada - o cérebro não é ocupado para decodificar, mas para compreender o que lê - conquistando total autonomia no processo de leitura/compreensão. O diagnóstico clássico de alunos ensinados pelas teorias construtivistas é o oposto: os alunos, depois de uma leitura difícil, não se lembram do começo da frase.

Em português uma criança de 5 anos levaria bem menos de um ano para aprender a ler, compreender e escrever. Porém, mesmo diante de evidências científicas, o Ministério da Educação do Brasil - que vinha sendo conduzido por por políticos e não por especialistas na área, como em 2019 - insistiam no mesmo projeto pedagógico, todos os anos, ao longo dos últimos 30, com péssimos resultados. Todas as avaliações internas e externas mostram isso.

Como funciona o ensino estruturado

Dehaene aponta algumas sugestões: - A escola precisa ser organizada para a aprendizagem. Um ambiente atrativo facilita o processo da leitura. O docente tem que observar em que nível de progressão a criança se encontra e uma avaliação permanente, por parte do professor e a autoavaliação do aluno, são essenciais para esse processo.

Além do método fônico, ele destacou a importância do ensino estruturado, que é feito uma sequencia que respeita a lógica de como o cérebro aprende, começando do simples para o complexo, ensinando uma letra de cada vez, começando pelas mais regulares na sua relação com os sons, as mais fáceis de serem pronunciados separadamente e pelas mais frequentes. Ele também destaca a importância dos erros e da recompensa, o reconhecimento pelos avanços. “Os erros são mais úteis para a aprendizagem do que os acertos, mas só se a criança receber logo o feedback da correção. Ela não deve ser castigada, mas deve ser corrigida e reconhecida, elogiada por seus avanços”.

- Exercícios abundantes e diversificados adequados ao nível de progressos da criança são outros elementos da receita de sucesso de Dehaene. “Se não diversificarmos, as crianças memorizam os exercícios sem aprender a decodificação que lhes permitirá ler qualquer palavra”. Os programas Alfa e Beto foram mencionados pelo pesquisador como bons exemplos de ensino estruturado de alfabetização a partir do método fônico.

O projeto piloto de Jafa


Com a concordância da secretaria da educação municipal, a diretora da Escola Emeief Norma Mônico Truzzi, de Jafa (distrito de Garça, SP) elaborou um projeto piloto com método fônico para ser aplicado nos últimos 70 dias letivos de 2019. Recém empossada, Miriam Nitcipurenco de Souza não aceitava o mesmo projeto pedagógico que vinha sendo repetido por décadas, com péssimos resultados. Utilizando apenas os livros de português, do método Alfa e Beto, os alunos terminaram o ano com total autonomia em leitura e escrita. Em 2020 a secretaria adotou o método para a sua escola.

"Antes do fônico a gente falava uma língua estranha que os alunos não compreendiam. Hoje até a disciplina melhorou, eles conseguem ler, compreender, elaborar textos estruturados, respeitando pontuação, paragrafação.


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