terça-feira, 17 de setembro de 2019

Ensino em tempo integral: resultados irrelevantes


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

São bons os resultados obtidos com as chamadas Escolas em Tempo Integral? Resposta: não!

O IAB, Instituto Alfa e Beto mostra que o ensino em tempo integral apresenta resultados modestos pelo volume das ações, aparato e envolvimento profissional.

O estudo elaborado pela Consultoria iDados baseado nas informações do Inep/Prova Brasil, ENEM e Censo da Educação Básica mostra que os benefícios são irrelevantes na relação do tempo da jornada utilizada na escola e as notas dos alunos, nas diversas avaliações.

Mesmo assim o governo anunciou investimentos organizando dois tipos de jornada ampliada de estudos para os alunos: Escolas de Tempo Integral (ETI) e o Novo Modelo de Escola de Tempo Integral (PEI). Hoje são mais de 530 escolas com 152 mil estudantes com jornadas até 9 horas e meia e três refeições diárias. A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo inclui na matriz curricular "orientação de estudos, preparação para o mundo do trabalho e auxílio na elaboração do projeto de vida."

Os professores atuam em regime de dedicação exclusiva com gratificação de 75% no salário.

João Batista Oliveira, diretor do IAB, diz que "há fortes evidências de que o tempo gasto pelo professor em tarefas de ensino tem forte correlação com as notas dos alunos. Mas as correlações entre o número total de horas gastas na escola e as notas são muito mais frágeis."

As figuras abaixo mostram dados relacionando a duração do tempo escolar com as notas dos alunos. Cada ponto representa uma escola – estão representadas apenas escolas públicas.

Relação entre nota em Matemática na Prova Brasil e tempo médio de duração da jornada escolar diária por escola – 5º ano


Relação entre nota em Matemática na Prova Brasil e tempo médio de duração da jornada escolar diária por escola – 9º ano


Relação entre nota média no Enem e tempo médio de duração da jornada escolar diária
o
Fonte: Inep/Prova Brasil, ENEM, Censo da Educação Básica.
Elaboração: Consultoria IDados.

A amostra foi restrita a turmas com duração entre 120 e 720 minutos. O tempo é definido nos questionários do MEC como a diferença entre hora de entrada e saída na escola.

• A jornada no eixo x é a média das turmas em cada escola. Esses dados referem-se aos anos de 2013, 2015 e 2017, no caso do 5º e 9º ano. No caso do ENEM elas incluem todas as escolas participantes entre 2012 e 2017.

• O tempo de 420 minutos (7 horas) seria uma “jornada máxima” diária factível. Não é claro o que ocorre com as escolas cujas turmas têm duração de 600 minutos, por exemplo. Portanto, a partir dos 420 minutos a interpretação da relação da jornada com a nota é meio incerta.

Leitura relacionada: Eficácia na sala de aula

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Eficácia na sala de aula

O desempenho dos alunos melhora consideravelmente quando os professores utilizam mais tempo em sala de aula com atividades relevantes.

Por Miriam Nitcipurenco de Souza

Quando se pergunta o que falta para melhorar a educação no Brasil, as respostas são velhas conhecidas e, quase sempre, contrariam a realidade: faltam investimentos, faltam professores, faltam escolas.

Sobre investimentos, estatísticas do Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) mostram que investir dinheiro nem sempre significa dar boa educação.

Coreanos e brasileiros

A Coreia do Sul, cujos alunos permanecem entre os líderes do Pisa (particularmente em matemática), investe, em média, bem menos que a maioria dos países integrados na OCDE com resultados muito melhores.

Todas as capitais brasileiras perderam para Teresina, que atingiu o primeiro lugar na lista das melhores notas dos anos iniciais do Ideb, embora se localize num dos estados mais pobres do Brasil. Identicamente os investimentos na educação no Ceará são infinitamente menores que S. Paulo e Campinas mas, em 2017, 82 escolas cearenses estiveram na lista das 100 melhores notas do Ideb do país. Sobral atingiu nota 9,1 em 2017 contra 6 da capital paulista e 6,1 de Campinas.

Granja, um município com pouco mais de 50 mil habitantes, PIB per capita baixíssimo e detentora do segundo pior IDH do estado cearense, colocou três escolas na lista das melhores notas do Ideb do país. A maioria dos matriculados da Escola Esmerino Arruda é pobre mas seus alunos conquistaram nível de proficiência 9 em matemática, nível máxima da escala do Saeb. O método utilizado para alfabetização é o fônico.

Qualidade com equidade

“A demanda por matrículas e professores caiu em todo país e o sistema educacional já expandiu além dos limites”, como disse o professor João Batista Araújo em artigo no Jornal O Estado de S. Paulo. Para ele o desafio agora é “promover a qualidade com equidade e para isso é necessário utilizar melhor o tempo na sala se aula”.

Mais tempo com atividades relevantes

Estudos do Banco Mundial e pesquisas do iDados mostram que o desempenho dos alunos melhora consideravelmente quando os professores utilizam mais tempo em sala de aula com atividades relevantes. A mesma pesquisa mostra que, no Brasil, os professores que usam pelo menos 80% do seu tempo com atividades relevantes ficam entre 35% a 58% no 5º ano e entre 36% a 48% no 9º ano.

Considerando que as escolas públicas do país oferecem entre 4 a 4:30h de aulas por dia e levando em conta o recreio e o tempo desperdiçado acima citado, restam 2 horas/dia de aula, metade das 800 horas anuais e um desperdício de R$ 150 bilhões.

Outro ponto questionado: escola de tempo integral melhora os índices de aprendizado? Os números mostram que não. O aumento de tempo não está correlacionado com o desempenho nas notas da Prova Brasil. Isto é, os benefícios são irrelevantes.

A sugestão é simples: utilizar melhor o tempo em sala de aula (na média internacional os professores usam mais de 80% com atividades relevantes) além de aumentar para 5 horas o tempo das aulas. E um currículo simples e bem estruturado com práticas pedagógicas eficazes

Miriam Nitcipurenco de Souza é pedagoga