Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza
Rafael chora compulsivamente na sala da diretora. Ele tem 10 anos e estuda numa escola pública estadual de Marília, desde o primeiro ano do fundamental.
Era conhecido, desde o início, como um aluno desregrado. Não fazia as atividades, ameaçava colegas e enfrentava as professoras. Esta não foi sua primeira vez na diretoria e a mãe já fora notificada de sua indisciplina, outras vezes. Ela é separada e convive com outro drama: um filho de dois anos que sofreu danos cerebrais por falta de oxigênio. Ela não trabalha e vive do Bolsa Família. É considerada "marrenta e mal educada" pelos funcionários da escola. Classicamente Rafael se encaixa na faixa de risco social.
Novo comportamento em 6 meses
Porém, há seis meses, o garoto vinha se comportando bem e participando de todas as atividades escolares. Rafael tinha melhorado consideravelmente seu relacionamento com colegas e vivia sorrindo. Seu aprendizado evoluiu. Estava mais focado. Tinha se transformado de tal maneira que seus professores não conseguiam explicação mais lógica considerando que todas teorias da psicologia moderna tinham sido aplicadas, mas sem sucesso.
Mas uma coisa chamou muita a atenção da diretora: nunca antes Rafael chorara tanto e copiosamente quando advertido em sua sala. Ele sempre contava com a tolerância e com os limites punitivos e pouco se importava com as consequências. Mas, agora, o choro compulsivo denunciava algum fato novo.
O segredo desvendado
O segredo foi desvendado: a mãe contou que, desde do começo do ano, Rafael conseguira se inscrever na escola de Baseball do Nikkey Clube da cidade, um clube que abriu as portas para jovens de todas as idades e tem revelado talentos no esporte. Pelo menos 5 atletas marilienses compõe a seleção nacional principal de Baseball e outros tantos acabaram contratados por outros países. O projeto Baseball Solidário não atrai apenas praticantes do esporte, mas voluntários também - pais, parentes e amigos - que atuam em diversas atividades. Apesar de ser um esporte tradicionalmente praticado no Brasil pela colônia japonesa, o grupo de Marília tem 75% de brasileiros. Rafael é um deles.
A cultura da disciplina e do respeito dos japoneses é o primeiro passo a ser conquistado pelos alunos, independentes da idade e condição social. Não há imposição. Existem regras simples e elas devem ser respeitadas. Nada além. Foi exatamente isso que Rafael aprendeu desde sua introdução ao grupo: disciplina.
Disciplina e respeito
A contrapartida é que essa disciplina e respeito ultrapassem as fronteiras do Nikkey e sejam praticados no seio da família, entre amigos e na escola. Foi por ter transgredido essa regra que Rafael chorou, desesperado. Era o receio de perder o convívio de um grupo que lhe aceitou tão bem simplesmente porque lá todos são iguais, inclusive na hora de respeitar regras. Se for indisciplinado, dentro ou fora do Nikkey, ele perde o patrocínio, mesmo sendo um bom jogador. Um dos diretores do clube confirmou que não há registro de casos de drogas ou comportamento negativo entre seus inscritos.
A mesma criança, desregrada na escola pública, tornou-se disciplinada e responsável na escola japonesa.
- Meu filho é outra criança! - comemora a mãe que sonha colocar também a filha no Nikkey. Ela contou que o filho já tem sonhos para o futuro e "se pela de medo de sair da escolinha japonesa". - Eles mudaram o Rafael - confessa, feliz.
Regras simples e eficientes
No Japão as crianças japonesas são disciplinadas. As escolas não tem faxineiros e são os próprios alunos que cuidam da limpeza das salas, corredores e banheiros além da distribuição da comida e limpeza dos pratos. Isso cria responsabilidade no cuidado com o bem público, bem diferente do que ocorre no Brasil onde o vandalismo impressiona. Essa mesma regra não pode ser aplicada no Brasil porque o famigerado Estatuto da Criança e Adolescentes considera opressor e trabalho infantil escravo. Países com índices de educação elevados priorizam a disciplina como primeiro passo para qualquer caminhada. Coreia do Sul, Singapura, Xangai e Japão são exemplos disso. Primeiros do mundo.
Rafael é exemplo de uma criança que pode avançar nos estudos e conquistar conhecimento, independente da sua cor e condição social e sem depender de invenções pedagógicas estúpidas. Basta começar com respeito e disciplina para conhecer seus direitos, deveres e limites. É assim que se constrói cidadania.
PS: A direção do Nikkey confirmou que Rafael é um bom atleta e custeado pelo clube. Se houver indisciplina, dentro ou fora do campo, ele perde o patrocínio. Na sexta, dia 2 de dezembro ele foi escalado para jogar uma disputa em Londrina. Apenas o nome do personagem não é verdadeiro. A mãe tornou-se mais afável e educada.
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