Objetivo é que escolas valorizem menos o conteúdo; professores são treinados para combinar disciplinas
Renata Cafardo, O Estado de S.Paulo
09 Junho 2018 | 20h00
TALLINN (ESTÔNIA) - A estudante Karina Pent, de 15 anos, aprendia numa manhã como fazer uma capa de crochê para a tampa do pote de geleia. A professora explicava o detalhe de cada ponto para formar o desenho. A aula de artesanato é obrigatória no currículo nacional estoniano. A menina diz que é relaxante. “Principalmente porque fui dormir às 3 horas de tanta lição de casa.”
A maior queixa dos adolescentes é a quantidade de tarefas extraclasse e de leituras. Professores justificam dizendo que é uma boa forma de eles aprenderem a ter autonomia. Segundo relatórios da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) são 17,3 horas semanais de lição de casa na Estônia, acima da média de outros países, de 17,1 horas. Mesmo assim, a OCDE avalia que o tempo é adequado porque os estudantes têm bom desempenho. Há críticas, no entanto, para nações como o Brasil, em que as tarefas ocupam 21,8 horas e as notas são baixas.
“É muita pressão. Mas se queremos ser alguém na vida precisamos de boa educação”, diz Mia Vahimets, de 15 anos, aluna da Escola Inglesa de Tallinn. Na Escola 21, na mesma cidade, a fala é parecida. “Esperam muito de nós, mas é bom. Se não esperarem nada, não faremos nada”, diz Iris Inek, de 17 anos. O foco do currículo da escola são as artes, o empreendedorismo e a robótica. Uma sala equipada com milhares de blocos de Lego e mesas de cálculo é usada por todas as séries.
Alunos elogiam o fato de nem todas as disciplinas terem provas. É comum professores pedirem só trabalhos ou projetos para avaliação. Na Escola Peetri também não há notas até o 6.º ano. Os pais só recebem relatórios sobre o desempenho dos filhos.
Apesar disso, Triin Ulla, professora de Pedagogia da Universidade de Tallinn, acredita que muitas escolas ainda se preocupam com competição e conteúdo, algo alimentado pelos professores antigos. “Escolas no topo do ranking fazem de tudo para não cair”, critica, referindo-se à avaliação do governo no fim do ensino médio, cujo ranking é feito pela mídia – algo como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para ela, isso acontece apesar do direcionamento do ministério para um ensino que valorize as habilidades socioemocionais. “A grande pergunta para qual não tenho resposta é: os resultados do Pisa são por causa das políticas dos últimos anos ou é um legado de antes, do ensino tradicional?”
De qualquer modo, diz Triin, a formação do professor mudou e está focada em competências como resolver problemas e autonomia. O docente também é treinado para combinar disciplinas como Arte e Matemática e trabalhar com tecnologia. As salas de aula têm computador, muitos materiais didáticos online, mas ainda há dificuldades. O objetivo da Estônia é que, até 2020, as escolas valorizem menos conteúdo.
As novas notas do Pisa, das provas feitas em maio, serão divulgadas em 2019. No Brasil os alunos mal sabem do que se trata. Lá os jovens ganham diplomas. “Mostramos o quanto são especiais por representarem o país”, diz a responsável pelo Pisa na Estônia, Gunda Tire.
Em 1922, país já era 90% alfabetizado
A Estônia sofreu diversas invasões ao longo da história – de suecos, alemães e russos – e só se tornou independente em 1918. Mas em 1944 foi anexada à ex-União Soviética e só conseguiu ser novamente um país livre em 1991. Os diferentes povos, no entanto, ajudaram a fortalecer a educação na cultura estoniana. Já no século 17, a Estônia tinha uma universidade. Em 1922, 90% da população estava alfabetizada.
Alunos elogiam o fato de nem todas as disciplinas terem provas. É comum professores pedirem só trabalhos ou projetos para avaliação. Na Escola Peetri também não há notas até o 6.º ano. Os pais só recebem relatórios sobre o desempenho dos filhos.
Apesar disso, Triin Ulla, professora de Pedagogia da Universidade de Tallinn, acredita que muitas escolas ainda se preocupam com competição e conteúdo, algo alimentado pelos professores antigos. “Escolas no topo do ranking fazem de tudo para não cair”, critica, referindo-se à avaliação do governo no fim do ensino médio, cujo ranking é feito pela mídia – algo como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para ela, isso acontece apesar do direcionamento do ministério para um ensino que valorize as habilidades socioemocionais. “A grande pergunta para qual não tenho resposta é: os resultados do Pisa são por causa das políticas dos últimos anos ou é um legado de antes, do ensino tradicional?”
De qualquer modo, diz Triin, a formação do professor mudou e está focada em competências como resolver problemas e autonomia. O docente também é treinado para combinar disciplinas como Arte e Matemática e trabalhar com tecnologia. As salas de aula têm computador, muitos materiais didáticos online, mas ainda há dificuldades. O objetivo da Estônia é que, até 2020, as escolas valorizem menos conteúdo.
As novas notas do Pisa, das provas feitas em maio, serão divulgadas em 2019. No Brasil os alunos mal sabem do que se trata. Lá os jovens ganham diplomas. “Mostramos o quanto são especiais por representarem o país”, diz a responsável pelo Pisa na Estônia, Gunda Tire.
Em 1922, país já era 90% alfabetizado
A Estônia sofreu diversas invasões ao longo da história – de suecos, alemães e russos – e só se tornou independente em 1918. Mas em 1944 foi anexada à ex-União Soviética e só conseguiu ser novamente um país livre em 1991. Os diferentes povos, no entanto, ajudaram a fortalecer a educação na cultura estoniana. Já no século 17, a Estônia tinha uma universidade. Em 1922, 90% da população estava alfabetizada.
Hoje o país – que ajudou a criar o Skype – tem uma economia de livre mercado e é um dos mais tecnológicos do mundo. Cunhou o conceito de e-residência, que permite que estrageiros possam ter empresas sem morar na Estônia e até as eleições presidenciais foram feitas online. A capital Tallinn – com 400 mil habitantes – tem um dos centros medievais mais bem preservados da Europa e praias de mar azul esverdeado.
“O que vivemos no passado influencia muito no presente”, diz a guia de turismo Margit Raud, de 58 anos. Ao apresentar o Museu da KGB, com provas de que a polícia russa espionava visitantes em um hotel da cidade, ela deixa claro seu orgulho. “Temos um sentimento de querer ser modernos, progressistas, de ser os melhores.”
Brasil x Estônia
- Resultado em exames
A Estônia está em 3º lugar em Ciência no Pisa, 6º em Leitura e a 9º em Matemática, o melhor resultado da Europa. O Brasil está em 63ª, 59ª e 66ª posição, respectivamente.
- Igualdade
No país europeu, 42% dos alunos pobres têm boas notas; no Brasil, onde o sistema de ensino tem mais desigualdades internas, são 2%. Diminuir a influência do fator socioeconômico na educação é um desafio no mundo todo.
- PIB per capita
Na Estônia é de US$ 28 mil (R$ 103 mil), um dos mais baixos da União Europeia, mas maior que o do Brasil (R$ 31 mil).
- Investimento por aluno/ano
Na Estônia, US$ 7 mil (R$ 26 mil). No Brasil, R$ 6,6 mil. Há discussão aqui para que o valor aumente, já que se investe três vezes mais no ensino superior do que na educação básica.
- Autonomia
Diretores podem contratar e demitir professores na Estônia. No Brasil, há concurso público, o docente escolhe onde vai trabalhar e tem estabilidade.
- Currículo
A Estônia fez em 1996 seu 1º currículo nacional. O Brasil aprovou a Base Curricular em 2017 para o ensino infantil e fundamental; a do médio está em discussão.
- Salário do professor
Estônia elevou em 80%, hoje ¤1.290 (R$ 5.624). No Brasil, a média na rede pública é de R$ 3.628, menos que em outras carreiras com ensino superior.
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