quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Quem verifica os verificadores de fatos? Uma reportagem sobre censura à mídia



Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Com essa manchete o site American Institute Economic Research questionou, recentemente, por que existem grupos de jornalistas que se auto intitulam verificadores de fatos (não especialistas nos temas que avaliam) que determinam se uma noticia publicada na mídia é fake ou não?

Nos Estados Unidos, por exemplo, os "verificadores de fatos" geralmente são jornalistas politicamente engajados e, agora, muito próximos de Jen Psaki, Secretária de Imprensa da Casa Branca, que pede conluio entre entre empresas de mídia social e o governo com o objetivo de "censurar a desinformação".

É o caso da NewsGuard, uma empresa relativamente nova que pratica posições políticas da moda e publicou no Twitter, em 17 de julho de 2021, apoio a Psaki por uma parceria governo-mídia, para censurar conteúdo na internet. Afirmou que tinha oferecido os dados de sites que, segundo eles, praticavam desinformação.

Tweet do NewsGuard elogiando declaração de Psaki: "Quando o NewsGuard ofereceu ao Facebook nossos dados de sites que espalham desinformação no início da pandemia - eles não quiseram. Brigando com o Presidente dos Estados Unidos não resolverá a epidemia da desinformação. Trabalhar de forma colaborativa, sim - nossas portas estão abertas."

As frases "trabalhar de forma colaborativa" e "nossa porta está aberta" revelam que o NewsGuard se vê no papel proeminente em qualquer acordo de conluio que surja das recentes declarações da Casa Branca. Sua postura de influência, no entanto, obscurece uma questão mais básica: por que devemos confiar em um verificador de fatos auto-nomeado? De fato, quem verifica os verificadores de fatos?" - pergunta o American Institute  Economic Research.

Quem verifica os verificadores de fatos?

O American Institute  Economic Research decidiu investigar quem é esta nova empresa estranha na avaliação do conteúdo de outros sites. Afirma o site AIER:

Logo descobrimos que o NewsGuard está muito aquém dos mesmos critérios de precisão e transparência que afirma aplicar a outros sites. A maioria dos verificadores de fatos da empresa não tem qualificações básicas nos campos científico e sócio-científico que pretendem arbitrar.

O próprio histórico de comentários do NewsGuard – particularmente na pandemia covid-19 – revela um padrão de alegações não confiáveis e enganosas que exigiam correções subsequentes, e análises que regularmente confundem fato com jornalismo de opinião na prestação de um julgamento sobre o conteúdo de um site.

Além disso, as próprias práticas da empresa estão muito aquém dos padrões de transparência e divulgação que se aplica regularmente a outros sites. Quão precisos são os verificadores de fatos auto-nomeados?

A premissa declarada da verificação de fatos é corrigir erros em sinistros publicados por outros sites e pontos de venda. Mas o que acontece quando a organização que faz a verificação de fatos tem seus próprios fatos errados?

O vazamento do vírus no Laboratório de Wuhan

Como o NewsGuard  agiu quando a mídia publicou sobre a hipótese de possível vazamento do vírus por infecção acidental dos trabalhadores do laboratório de virologia de Wuhan - que estudava o corona vírus em morcegos - e que provocou a pandemia?

De forma agressiva o NewsGuard penalizou outros sites até por, simplesmente, levantar a possibilidade de vazamento acusando-os de promover "teorias conspiratórias infundadas sobre a origem do vírus. O NewsGuard disse que "não há evidências de que o Instituto de Virologia de Wuhan foi a fonte do surto, e evidências genômicas descobriram que o vírus é '96% idêntico no nível do genoma inteiro a um coronavírus de morcego'.


Em alguns meses o próprio "verificador da verdade" começou a desconversar depois que vários cientistas passaram a dar credibilidade a hipótese. E, algum tempo após, o próprio presidente Joe Biden e o conselheiro médico da Casa Branca Anthony Fauci consideram a teoria do vazamento de plausível e pediram uma investigação no laboratório de Wuhan.

Desculpas pelos erros

Pouco antes, o NewsGuard ameaçava rebaixar um site de medicina alternativa por "publicar desinformação" sobre esse assunto. Em outro exemplo, em fevereiro de 2020, o NewsGuard disse que exigiu a correção formal ou retratação de um site de notícias médicas, via Twitter.
Depois que o American Institute Economic Research apresentou provas que viabilizavam a teoria de vazamento, o NewsGuard, apagou silenciosamente o tweet nos dias seguintes ao inquérito da AIER.

Todos os sites "condenados por teoria da conspiração" pelo NewsGuard foram reclassificados depois que "a verdade" surgiu, definitivamente.

"O NewsGuard pede desculpas por esses erros. Fizemos a correção adequada em cada um dos 21 rótulos." - comunicaram, laconicamente, os censores.

"O NewsGuard não publicou os resultados completos de sua auditoria, ou uma lista das correções que fez, impedindo assim a verificação independente se suas correções foram suficientes para corrigir a desinformação covid que havia publicado anteriormente. A empresa não respondeu ao pedido da AIER para essas informações."

Os pseudo "verificadores de fatos" - lá e tal qual aqui - cometem erros frequentes, são ignorantes na maioria dos temas que avaliam e tem excesso de engajamento político, além de não possuírem qualificações em todos os campos da ciência. Exemplos comuns são suas intervenções em publicações em sites sociais. São os novos censores. Analfabetos.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

A natureza, a liberdade e a prosperidade

Por que os grupos sociais tem melhor desempenho quando são livres? Por que as hierarquias se desenvolvem naturalmente dentro desse ambiente de liberdade?

"Toda matéria e sistemas do universo têm uma tendência a evoluir naturalmente para se tornarem mais eficientes." (Adrian Bejan)

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

"Uma Conversa sobre a Intersecção entre Física e Liberdade" é o tema do artigo de Ethan Yang, pesquisador da American Institute for Economic Research, bacharel em ciência política e atua como diretor do Centro Mark Twain para o Estudo da Liberdade Humana, no Trinity College e participa de movimentos de estudantes, pela liberdade.

Ele comenta o livro do Dr. Adrian Bejan "Liberdade e Evolução: Hierarquia na Natureza, Sociedade e Ciência". Bejan é um físico romeno americano renomado e nunca teve a ver com o campo de humanas e ciências sociais.

Sua grande contribuição foi a elaboração da Lei da Construção, declarada em 1996. Essa lei da física "explica o fenômeno da evolução (configuração, forma, design) em toda a natureza, sistemas de fluxo inanimados e sistemas animadores juntos.

"Para que um sistema de tamanho finito persista no tempo (de viver), ele deve evoluir de tal forma que proporcione acesso mais fácil às correntes impostas que fluem através dele."

Em resumo, a conclusão de Bejan é que "toda matéria e sistemas do universo têm uma tendência a evoluir naturalmente para se tornarem mais eficientes."

Bejan aplica essa lei para explicar fenômenos científicos sociais e responder porque os grupos sociais tem melhor desempenho, quando são livres e por que as hierarquias se desenvolvem naturalmente dentro desse ambiente sem contenção artificial. Ele sugere que o uso da energia aumenta à medida que as economias crescem.

"A China e Vietnã, países pós comunistas, estão indo muito melhor agora com a liberdade de mercado" - afirmou Bejan na entrevista à Ethan. "As sociedades livres avançam quando seguem as leis da física" - concluiu.

Ethan Yang escreve, em seu artigo:

"A civilização humana, assim como todas as coisas vivas e inanimadas, tem uma tendência natural de evoluir para se tornar mais eficiente. Portanto, uma sociedade que permite que seu povo tenha liberdade também permitirá que seu povo passe por essas tendências naturais para melhorar e otimizar. A melhor coisa que os governos podem fazer para facilitar isso é evitar que seu povo seja oprimido uns pelos outros, por si mesmos, ou por ameaças estrangeiras."

"A sociedade torna-se mais eficiente e produtiva quando é capaz de se expressar livremente", diz Bejan.

E ele faz correlação entre economias de escala e um cano de água: um tubo grande - que permite que a água se condense - transporta mais água do que dois tubos menores. pois a água tem tendência natural de encontrar a maneira mais eficaz de viajar. Igualmente na escala econômica: duas empresas menores não ganharão mais eficiência que uma grande empresa que se expandiu ou se fundiu com outra.

"A tendência natural das empresas, assim como a água e outras formas de matéria no universo, é avançar em direção a um sistema mais eficiente, que neste caso é através da consolidação", escreve Yang. E continua:

"Essa ideia pode ser aplicada a muitas outras áreas além de economias de escala. Se você está administrando uma cidade, você terá melhores resultados se permitir que as pessoas se envolvam em livre associação e empresa ou seria melhor tentar microgerenciar a vida de todos? Embora possa parecer tentador tentar microgerir, simplesmente estabelecer regras básicas e permitir que as pessoas vivam vidas livres permite que a maioria das preferências seja realizada pela maioria das pessoas. 

Ninguém precisa dizer às cafeterias o que servir, o açougueiro o que vender, o sapateiro quanto pedir, etc. Na verdade, sociedades que tentam fazer isso, como a antiga União Soviética ou a China maoísta, tendem não só a ser mais pobres, mas também incrivelmente monótonas."

Quem diria que pra entender que a liberdade e prosperidade tem muito a ver com a eficiência natural das coisas precisaríamos de uma pitada da física? Devemos concluir que quanto mais complexo o mundo, mais simples devem ser as regras?

Afinal, na natureza não há contradições!

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

As vacinas mais seguras começaram com tragédia

Criada por Koprowski em 1950 e Jonas Salk em 1953 a vacina salvou milhões de crianças da paralisia infantil. Mas o erro de fabricação de um laboratório americano causou tragédia.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Quem criou a primeira vacina contra a poliomielite, com vírus vivo atenuado, foi o virologista Hilary Koprowski em fevereiro de 1950. Em 1958, e começo de 1960, Koprowsk comandou uma campanha de vacinação no Congo Belga e Polônia quando 7 milhões de crianças foram imunizadas.

Em 1952/1953, utilizando vírus inativado, surgiu nos Estados Unidos a vacina criada por Jonas Edward Salk, virologista e epidemiologista nascido em 1914, em Nova Iorque, que morreu em 1995, na Califórnia. O anúncio feito na Universidade de Pittsburgh em abril de 1955.

Jonas Salk e Albert Sabin

Na vacina de Salk (baseada no crescimento do poliovírus em cultura de células renais de  macaco) o vírus era inativado quimicamente com formalina. Duas doses aplicadas por injeção davam cobertura eficiente em 90% dos casos e 99% de proteção em três doses.

Em 1957, Albert Sabin começou os ensaios clínicos em humanos com uma vacina em gotas que foi selecionada pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos entre vários estudos, inclusive de Koprowski. A vacina oral de Sabin atenuava os vírus pela passagem repetida por células não humanas a temperaturas subfisiológicas.

Hilary Koprowski

A vacina da gotinha de Sabin - de fácil administração e custo menor - foi autorizada em 1962, cerca de 9 anos depois da vacina Salk - e imunizava contra os três sorotipos de poliovírus com eficiência de 50% e três doses produzem proteção contra três sorotipos em mais de 95% dos imunizados. Além dessa proteção a vacina também provocava imunidade no intestino, contra infecções. A vacina Sabin OPV foi substituída pela IPV porque a primeira poderia sofrer mutação para uma forma de vírus que poderia causar paralisia.

Lockdown e O incidente de Cutter

Entre 1940 e 1950 a ocorrência do surto de paralisia infantil nos Estados Unidos atingia 35 mil crianças, por ano e provocava medo. Instalou-se o lockdown, redução de trânsito e comércio sem movimento. O anúncio, em 1955, da aprovação e liberação da vacina Salk aliviou o medo e tensão mas, um mês depois do início da campanha de imunização, o programa foi suspenso.

Detectou-se que um dos lotes das vacinas, produzidas pelo Laboratório Cutter, continha erros e poderia causar paralisia. Esses lotes continham vacinas com cepas ativas. Foram registrados 260 casos de pólio associados à vacina. Cerca de 40 mil crianças queixaram-se de rigidez na nuca, dores de cabeça, febre e fraqueza muscular - sintomas característicos de pólio. 164 crianças ficaram paralíticas e 10 morreram.

Suspensa a campanha, todos os laboratórios passaram por revisão nos procedimentos e testes de segurança. Em outubro de 1955, 5 meses depois, a vacinação foi retomada. A doença foi considerada erradicado em solo norte americano em 1979.

O erro de Cutter e mais segurança

Relatórios apontam que a Cutter utilizou de cepa mais agressiva do vírus e filtros defeituosos que separavam o vírus do tecido de macacos onde foram cultivados. Por isso poderiam vazar vírus ativos. Os testes impostos aos laboratórios eram incorretos e inadequados. O laboratório culpou Salk e o governo pela fragilidade do processo. Após o que denominou-se Incidente de Cutter todos os processos para produção de vacinas e medicamentos nos Estados Unidos foram revistos e aumentou as exigências regulatórias.