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sexta-feira, 6 de agosto de 2021

As vacinas mais seguras começaram com tragédia

Criada por Koprowski em 1950 e Jonas Salk em 1953 a vacina salvou milhões de crianças da paralisia infantil. Mas o erro de fabricação de um laboratório americano causou tragédia.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Quem criou a primeira vacina contra a poliomielite, com vírus vivo atenuado, foi o virologista Hilary Koprowski em fevereiro de 1950. Em 1958, e começo de 1960, Koprowsk comandou uma campanha de vacinação no Congo Belga e Polônia quando 7 milhões de crianças foram imunizadas.

Em 1952/1953, utilizando vírus inativado, surgiu nos Estados Unidos a vacina criada por Jonas Edward Salk, virologista e epidemiologista nascido em 1914, em Nova Iorque, que morreu em 1995, na Califórnia. O anúncio feito na Universidade de Pittsburgh em abril de 1955.

Jonas Salk e Albert Sabin

Na vacina de Salk (baseada no crescimento do poliovírus em cultura de células renais de  macaco) o vírus era inativado quimicamente com formalina. Duas doses aplicadas por injeção davam cobertura eficiente em 90% dos casos e 99% de proteção em três doses.

Em 1957, Albert Sabin começou os ensaios clínicos em humanos com uma vacina em gotas que foi selecionada pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos entre vários estudos, inclusive de Koprowski. A vacina oral de Sabin atenuava os vírus pela passagem repetida por células não humanas a temperaturas subfisiológicas.

Hilary Koprowski

A vacina da gotinha de Sabin - de fácil administração e custo menor - foi autorizada em 1962, cerca de 9 anos depois da vacina Salk - e imunizava contra os três sorotipos de poliovírus com eficiência de 50% e três doses produzem proteção contra três sorotipos em mais de 95% dos imunizados. Além dessa proteção a vacina também provocava imunidade no intestino, contra infecções. A vacina Sabin OPV foi substituída pela IPV porque a primeira poderia sofrer mutação para uma forma de vírus que poderia causar paralisia.

Lockdown e O incidente de Cutter

Entre 1940 e 1950 a ocorrência do surto de paralisia infantil nos Estados Unidos atingia 35 mil crianças, por ano e provocava medo. Instalou-se o lockdown, redução de trânsito e comércio sem movimento. O anúncio, em 1955, da aprovação e liberação da vacina Salk aliviou o medo e tensão mas, um mês depois do início da campanha de imunização, o programa foi suspenso.

Detectou-se que um dos lotes das vacinas, produzidas pelo Laboratório Cutter, continha erros e poderia causar paralisia. Esses lotes continham vacinas com cepas ativas. Foram registrados 260 casos de pólio associados à vacina. Cerca de 40 mil crianças queixaram-se de rigidez na nuca, dores de cabeça, febre e fraqueza muscular - sintomas característicos de pólio. 164 crianças ficaram paralíticas e 10 morreram.

Suspensa a campanha, todos os laboratórios passaram por revisão nos procedimentos e testes de segurança. Em outubro de 1955, 5 meses depois, a vacinação foi retomada. A doença foi considerada erradicado em solo norte americano em 1979.

O erro de Cutter e mais segurança

Relatórios apontam que a Cutter utilizou de cepa mais agressiva do vírus e filtros defeituosos que separavam o vírus do tecido de macacos onde foram cultivados. Por isso poderiam vazar vírus ativos. Os testes impostos aos laboratórios eram incorretos e inadequados. O laboratório culpou Salk e o governo pela fragilidade do processo. Após o que denominou-se Incidente de Cutter todos os processos para produção de vacinas e medicamentos nos Estados Unidos foram revistos e aumentou as exigências regulatórias.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Como as vacinas funcionam e como são desenvolvidas e testadas?

Edward Jenner criou a primeira vacina, contra a varíola, antes da descoberta do vírus.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Como funciona a vacina, quais são seus tipos e como são produzidas, testadas e aprovadas?
Ao contrário do que pensam alguns leigos, a aprovação de uma vacina não depende da "opinião de cientistas" mas dos resultados dos testes, em várias fases, para verificação da sua eficiência e segurança.

De onde vem a palavra vacina?

Primeira criança imunizada
Edward Janner, um médico inglês, percebeu que moradores da zona rural da sua região não se contaminavam com o vírus da varíola. Jenner descobriu que eles contraiam um tipo de vírus da varíola bovina, mais leve, das vacas que ordenhavam e, por isso, tornavam-se imunes ao vírus da varíola que sequer era conhecido por volta de 1796.

Jenner retirou a lesão de uma ordenhadeira e inoculou em James Phipps, garoto de 8 anos, filho de um jardineiro. O menino adquiriu a varíola, de forma branda e se curou.

Vacinnus, do latim, significa "derivado da vaca" ou "da vaca", termo que passou a ser usado em homenagem a Jenner, morto por AVC em 1823.

Como funciona uma vacina?

As vacinas são criadas para reduzir o risco de se contrair uma doença. As vacinas criam anticorpos que protegem seu corpo passando a reconhecer bactérias ou vírus invasores e combatendo-os. Os anticorpos são proteínas produzidas naturalmente pelo sistema imunológico do corpo.

 Quais são os tipos de vacinas?

Existem vacinas produzidas com vírus morto ou inativado, vacinas com vírus vivos atenuados e vacinas Messenger RNA, de tecnologia mais recente e, ainda, em experimentação.

No primeiro caso, os vírus da doença são cultivados em laboratórios e depois mortos com calor ou produtos químicos. A partir desses vírus inativados são produzidos as vacinas. Mesmo "mortos" o sistema imunológico cria anticorpos que reconhecerão vírus invasores do mesmo tipo e retém sua evolução no organismo.

No segundo caso, vírus vivos são atenuados por processos diversos que reduzem sua força. Enfraquecidos, os vírus não conseguirão evoluir no organismo. Esses dois processos produzem as vacinas mais eficientes e seguras, com baixa taxa de riscos.

No terceiro caso não se usa vírus para produção de vacinas mRNA. Esta é uma tecnologia sintética já que o processo manipula o DNA do corpo. Esta vacina "ativa um neutralizador" que aciona o sistema imunológico do corpo que combate o vírus. Por enquanto não há respostas científicas para possíveis reações do organismo pela manipulação do DNA.

Além dos vírus a vacina contém ingredientes ajudam a preserva-la por algum tempo.

Como as vacinas são desenvolvidas e testadas?

As vacinas mais comumente usadas já existem há décadas, com milhões de pessoas recebendo-as com segurança todos os anos. Como acontece com todos os medicamentos, toda vacina deve passar por testes extensivos e rigorosos para garantir que seja segura antes de poder ser introduzida em um país.

Fases dos testes experimentais

Uma vacina experimental é testada pela primeira vez em animais para avaliar sua segurança e potencial para prevenir doenças. Em seguida, é testado em ensaios clínicos humanos, em três fases:

Na fase I, a vacina é administrada a um pequeno número de voluntários para avaliar sua segurança, confirmar se ela gera uma resposta imune e determinar a dosagem certa.

Na fase II, a vacina geralmente recebe centenas de voluntários, que são monitorados de perto quanto a quaisquer efeitos colaterais, para avaliar melhor sua capacidade de gerar uma resposta imune. Nessa fase, os dados também são coletados, sempre que possível, sobre os desfechos da doença, mas geralmente não em números grandes o suficiente para ter uma imagem clara do efeito da vacina sobre a doença. Os participantes dessa fase têm as mesmas características (como idade e sexo) das pessoas para as quais a vacina se destina. Nesta fase, alguns voluntários recebem a vacina e outros não, o que permite fazer comparações e tirar conclusões sobre a vacina.

Na fase III, a vacina é administrada a milhares de voluntários - alguns dos quais recebem a vacina experimental e outros não, assim como nos estudos de fase II. Os dados de ambos os grupos são cuidadosamente comparados para verificar se a vacina é segura e eficaz contra a doença contra a qual se destina.

Resultados

Assim que os resultados dos ensaios clínicos estiverem disponíveis, uma série de etapas é necessária, incluindo análises de eficácia, segurança e fabricação para aprovações de políticas regulatórias e de saúde pública, antes que uma vacina possa ser introduzida em um programa nacional de imunização.

Após a introdução de uma vacina, o monitoramento próximo continua a detectar quaisquer efeitos colaterais adversos inesperados e a avaliar a eficácia no ambiente de uso rotineiro entre um número ainda maior de pessoas para continuar avaliando a melhor forma de usar a vacina para obter o maior impacto protetor. Mais informações sobre o desenvolvimento e segurança de vacinas estão disponíveis aqui.