Mostrando postagens com marcador Desaprovo o que dizes mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Desaprovo o que dizes mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo. Mostrar todas as postagens

domingo, 10 de abril de 2016

Voltaire nunca disse isso

Evelyn Beatrice Hall
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

"Desaprovo o que dizes mas, defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo". Essa citação, explorada nos discursos de todos os parlamentos do planeta e discutida em prosa e verso, erroneamente foi creditada ao escritor e filósofo francês François Marie Arouet, mais conhecido por Voltaire (1694-1778).

A frase tornou-se bandeira das lutas pela liberdade de expressão. Mas não foi Voltaire quem disse tal e sim sua biógrafa Evelyn Beatrice Hall (1868/1939). Evelyn chegou a usar o pseudônimo de S.G. Tallentyre durante algum tempo.

No livro de sua autoria "Os amigos de Voltaire" que trata sobre a vida e pensamento de dez dos mais próximos de Voltaire - obra, lançado na capital inglesa em 1906 - há registro da frase "I disapprove of what you say, but I will defend to the death your right to say it" quando se refere a Helvétius com quem Voltaire teve algumas discordâncias ao longo da vida. Por volta de 1758, Claude-Adrien Helvétius lançou o livro "De l'espirit" que afrontou a igreja Católica que mandou queima-lo. Mas o parlamento francês, como a intelectualidade de Sorbonne, também não aprovaram.

Como Voltaire deixou claro seu desagrado pelo ato da igreja contra o livro de Helvétius, a autora acabou cunhando a frase entre aspas, causando a confusão, já que estava na primeira pessoa. Evelyn voltou a repetir a frase com aspas no livro "Cartas de Voltaire" de 1919 o que reforçou a ideia de ter sido dita pelo biografado. Porém, a própria Evelyn se desculpou, em carta reproduzida na revista Modern Language Notes, em 9 de maio de 1939, confessando ser de sua autoria e não de Voltaire tal frase.

Acreditou-se que Voltaire teria dito algo próximo para um tal Monsieur Le Riche, por volta de 1770. Em uma carta teria dito "Senhor abade, detesto o que escreve, mas eu daria minha vida para que pudesse continuar escrevendo", o que seria uma variação da frase que Evelyn escrevera. Mas isso também não se confirmou depois de se buscar tal citação ao Monsieur Le Riche
.