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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Escravos de todas as cores

Escravas brancas capturadas na Europa para abastecer haréns na península arábica. 

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Escravo é um adjetivo substantivo que vem do latin "Sclavus" - pessoa que é propriedade de outra - ou de "Slavus", de eslavo - referência a povos dessa etnia  que foram submetidos à escravidão, em determinados períodos da história, como na baixa idade média.

A condição de escravidão poderia ser determinada numa sentença, por um crime ou por se tornar um prisioneiro de guerra. Na região do oriente havia tráfico de mulheres escravas, comercializadas sem restrições, para abastecer haréns. A produção agrícola deficiente poderia levar um povo a se oferecer ao trabalho escravo em troca de sobrevivência. Nessa condição, passavam a ser propriedade de outro, por tempo combinado ou indeterminado. A incapacidade de saldar uma dívida era motivo para uma pessoa se tornar escrava de outra, dependendo de cada civilização.

Os romanos, por exemplo, impunham o trabalho forçado na produção em suas fazendas, ao contrário da egípcia onde os escravos se ocupavam mais com trabalhos domésticos ou esforço de guerra, com exceções. Na Grécia antiga toda família tinha um escravo. 

Portanto, um grande  erro é associar a natureza racial com a escravidão, isto é, não apenas negros foram submetidos a ela (estima-se que pouco menos de 12 milhões de negros foram traficados da África para as Américas, durante 400 anos e cerca de 5 milhões para regiões da península arábica) mas, milhões de brancos e amarelos viveram a escravidão considerando que essa prática foi comum e aceita durante milênios e abolida somente a partir do século XIX. Na Grécia, Roma, Egito a escravidão branca foi maioria. Ainda no século passado vários países eslavos viveram subjugados por outras nações.

Últimos anos de escravidão no Brasil. Fonte: IMS, página do site Café História
Negros escravizavam negros

Na verdade a escravidão já estava presente na África muito antes dos europeus e árabes iniciarem as rotas escravagistas. Imagine um gigantesco continente, como o africano, que abriga dezenas de etnias e cada qual com sua organização política e social. As beligerâncias armadas eram constantes e são comuns nos dias de hoje, ainda.

Em solo africano era comum a posse de escravos negros de propriedade de senhorios, também negros. Tribos maiores capturavam membros de tribos mais fracas para trabalho em seu território ou para vender no mercado árabe de escravos. O escambo - comércio de trocas - era intenso com outros países.

Com o domínio árabe dos portos africanos, aumentou muito a venda dessa mão de obra. Cerca de 5 milhões, entre os séculos VII e XIX, foram enviados para países árabes e até mesmo à China. Com o aumento desse mercado igualmente cresceram as guerras entre tribos africanas para o domínio e a captura de mais escravos.

O comércio cresceu com as rotas de navios negreiros para as Américas. A negociação era feita na base de troca: escravos x ferro, tecidos, bebidas. O ferro era transformado em armas o que tornava a tribo mais forte contra inimigos na guerra por escravos. Angola, Congo e Guiné foram os principais fornecedores. 


Os capturados eram levados para os portos e, de lá, para o Brasil, por exemplo, numa viagem de 35 dias em condições desumanas. Ingleses, franceses e holandeses também mantinham comércio escravagista com os líderes africanos, cada vez mais ricos e poderosos. O interesse dos chefes tribais por armas de ataque e defesa era imenso porque isso significava a sua sobrevivência. Curiosamente o tema escravidão é tabu na África e assunto muito delicado para ser abordado, por exemplo, numa entrevista.

No século XVIII Portugal, que já tinha perdido o domínio sobre o comércio de escravos, aboliu a escravatura na metrópole portuguesa e na Índia durante o reinado de dom José em 12 de fevereiro de 1761. No Brasil a princesa Isabel assinou a abolição somente 127 anos depois.

Robert Davis, professor de história social italiana, na Universidade Ohio State, afirmou que mais de 1 milhão de brancos europeus foram escravizados por traficantes norte-africanos entre 1530 e 1780 com ataques piratas nas costas do Mediterrâneo e Atlântico.

"Ser escravizado era uma possibilidade muito real para qualquer pessoa que viajasse pelo Mediterrâneo ou que habitasse o litoral de países como Itália, França, Espanha ou Portugal, ou até mesmo países mais ao norte, como Reino Unido e Islândia" - afirmou o historiador. Os capturados eram usados como remadores ou na construção. A fuga da população costeira, para o interior, é um registro na história desses países. Em 1544 os corsários invadiram a região que hoje é a Itália e escravizaram mais de 7 mil pessoas vendidas no norte da África.

Robert Davis: "Christian Slaves, Muslim Masters: White Slavery in the Mediterranean, the Barbary Coast, and Italy, 1500-1800" (escravos cristãos, senhores muçulmanos: a escravidão branca no Mediterrâneo, na costa Berbere e na Itália).
Quadro de 1700 mostra a praça do Mercado de Escravos Brancos que eram expostos para venda depois de serem capturados na Europa: trabalhos forçados ou remadores em navios.
Ninguém está isento de culpa

O economista, crítico social, filósofo e professor universitário negro, Thomas Sowell resumiu: Nenhuma raça, país ou civilização está isento de culpa. A escravidão era um negócio feio e sujo, mas indivíduos de praticamente todas as raças, cores e credos estavam envolvidos nela em todos os continentes habitados.
Thomas Sowell

E as pessoas que eles escravizavam também eram de praticamente todas as raças, cores e credos". Diz ele que “os europeus escravizaram outros europeus durante séculos antes que o esgotamento de escravos brancos os levasse a recorrer à África como fonte de escravos para o Hemisfério Ocidental.

O imperador romano Júlio César marchou em Roma numa procissão que incluía escravos britânicos capturados. Duas décadas depois que os negros foram emancipados nos Estados Unidos, ainda havia escravos brancos sendo vendidos no Egito.

A mesma história se repete na Ásia, África, entre os polinésios e entre os povos indígenas do Hemisfério Ocidental.

Escravidão no Japão

Somente em 1590 a escravidão de japoneses foi abolida (no período de Toyotomi Hideyoshi). Há registros de escravidão naquele país desde o século III dC. No século VIII os Nuhi, como eram chamados, eram usados na agricultura e trabalhos domésticos. Registros apontam que eles eram quase 5% da população do país.

Nos séculos XVI e XVII navios portugueses promoveram intensa exportação de escravos japoneses para outras regiões do mundo, inclusive Europa. Em Portugal, as mulheres eram usadas como escravas sexuais. Sebastião de Portugal proibiu a vinda de novos escravos do Japão em 1571.

Escravidão na Rússia

Era comum, em torno do século XVI, pessoas que se vendiam como escravas para famílias ricas, por não ter o que comer. "Livros de conselhos" da época falavam em saber escolher um escravo de bom caráter e trata-lo bem considerando que um "kholops" poderia conviver por longo período com a família. Foi Pedro, o Grande, que "aboliu" a escravidão na Rússia tornando-os servos domésticos ou na agricultura.