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quarta-feira, 18 de março de 2015

Solidariedade e fé

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Faz muito tempo, em certa noite de muito frio, viajava com minha família quando meu carro, na época um Galaxie, simplesmente parou de funcionar. Depois de algumas tentativas, desisti do conserto. Pegar uma carona até o posto mais próximo - na época não havia celular - seria a melhor maneira de começar a resolver o problema.

O mais improvável era que alguém parasse ao meu sinal, naquela estrada deserta.

Minha mulher insistiu que pedisse carona. Que, pelo menos eu tentasse. Cético, apontei com as minhas mãos o gesto de carona para o primeiro par de faróis que passou. Não acreditei quando vi ascenderem as luzes do breque do carro que passou e parou uns 50 metros adiante. Deu marcha a ré e desceram do Maverick, dois jovens. No carro ficou uma mulher.

Serei assaltado? - perguntei-me um pouco preocupado. No banco traseiro do Galaxie estavam meus três filhos, dormindo.

- O que houve, amigo? - perguntou um deles. O tom era de cordialidade.
- O carro parou de repente depois de engasgar. E cheira gasolina - expliquei, abrindo o capô. Não demorou muito para ouvir o diagnóstico: diafragma furado da bomba de gasolina.

- João, pega a maleta - pediu um ao outro. João voltou do Maverick com uma maleta gigante. Quando abriu, assustei me com tantos compartimentos e ferramentas dentro dela.

- Amigo, nós temos uma oficina em Americana. Temos bons mecânicos e o João é o melhor deles. Para trocar essa bomba é preciso uma chave especial. E nós temos aqui. - explicou o que parecia ser o dono. - O único problema é que precisaremos do diafragma.

Na época havia racionamento e os postos de gasolina não abasteciam a noite. Mesmo assim eles foram até a cidade mais próxima e trouxeram a peça que foi trocada ao som de um violão que o João tocava muito bem.

- Você é o Edson Joel? - perguntou a moça que descera do Maverick, esposa de um deles, me reconhecendo de um programa de televisão que eu participava. Só faltou um churrasco na madrugada diante de tanto assunto pra se comentar. O carro estava consertado. Insisti mas nada quiseram cobrar pelo serviço.

Reabasteci o Maverick com a gasolina do Galaxie (um verdadeiro posto de gasolina, certo?) e continuei minha viagem com minha esposa e três filhos pequenos, agradecido àqueles jovens tão solidários.

- Ainda bem que você insistiu tanto para eu pedir carona - disse à esposa. - Afinal, de noite, estrada deserta e com esse frio, quem pararia pra ajudar alguém?

- Eu tinha orado - respondeu ela com a calma de quem tem muita fé.