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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Roubaram o acento da ideia.

"Cartaz" do início de 1900. A última reforma comeu os acentos da diarréia, asteróide, jibóia, estréia e idéia.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza atualizado em 6/2/22

Duas coisas causam-me estranheza: mudam as regras gramaticais e ortográficas e todos aceitam, sem questionamentos. Tudo que lhe disseram que era correto escrever... torna-se incorreto ao prazer e decisão de alguns. Dai você se pergunta:

- Afinal, como são criadas e alteradas tais regras?

Não é assim, tão simples.
Os linguistas espreitam o uso da língua nos meios de comunicação e, particularmente, nos meios literários, analisando alguma possível alteração. Quando elas forem "significativas", propõe mudanças nas regras gramaticais - a gramática aprendida nas escolas - e ortográficas, estas últimas impostas por lei. O objetivo, segundo tais linguistas, é facilitar o uso da escrita em português para os 273 milhões de 9 países no mundo. A decisão torna-se mais política que linguística.

O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em 2009, foi assinado pelo Brasil, Portugal, Angola, Timor Leste, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe. De janeiro de 2009 até dezembro de 2015 chamou-se de período de transição. Em 1º de janeiro de 2016 passou a vigorar, oficialmente. Antes, em 1990, ocorreu o acordo que culminou com o documento de 2009. Os representantes brasileiros foram Antônio Houaiss e Nélida Piñon.

Antes a norma dizia que você estaria correto acentuando diarréia, asteróide, jibóia, estréia e idéia com acento agudo (´) por serem palavras paroxítonas com ditongos ei/oi (encontro entre duas vogais, na mesma sílaba) em que a última sílaba tem pronúncia mais forte. Agora, por decisão de "linguistas", não se acentua mais e você estará errado se colocar acento nestas palavras que antes, eram corretas.

ANTES: Acentuar todos os ditongos abertos (éi, ói, éu), monosílabas (céu, dói), oxítonas (troféu, constrói), paroxítonas (idéia, jibóia).

AGORA: Acentuar todas as palavras paroxítonas menos as terminadas em -a, -e, -o, -em, -am, -ens. Portanto, ideia não é acentuada porque é paroxítona terminada em "a".
Muitos especialistas acreditam que as regras estavam organizadas e claras e que as mudanças (na verdade voltaram as regras originais) não foram bem aceitas. Muitas alterações ocorrem "para facilitar" o seu uso adequando-se as imensas dificuldades que o estudante brasileiro, particularmente, tem com a língua falada e escrita.

Nos últimos 30 anos utiliza-se no país um método de alfabetização (método global/construtivista) que não alfabetiza. Crianças que deveriam ganhar autonomia plena em leitura e escrita antes do término do primeiro ano do ensino básico - e isso é possível com método fônico - chegam ao ensino média com dificuldades de leitura de palavras de três ou quatro sílabas.

Somos os piores na avaliação do PISA em leitura e matemática. Os linguistas, parece, estão moldando a língua para analfabetos da mesma forma que nossos "doutores em educação" tentam resolver o grave problema da educação reformando o ensino médio.