quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O recado do banheiro

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Durante uma reunião com diretores de uma empresa paulista, fabricante de câmaras fotográficas, observei a intensa preocupação deles em promover ações que levassem os funcionários a compreender a filosofia do grupo e, assim, "vestirem a camisa" da empresa.

No intervalo para o café pedi licença para ir ao banheiro. Foi lá que descobri que não é preciso muita técnica e pesquisa para analisar como anda uma empresa, nacional ou multi. Bem produzidos e assinados pelo gerente nacional da corporação, li vários cartazetes orientando seus usuários:

"Por favor, não urine fora do vaso. Não jogue absorvente no sanitário. Após usar, dê descarga."
Voltei pra reunião e, sem medo de ferir suscetibilidades e não pretendendo ser educado, disparei:

- Se vocês tem funcionários que precisam ser orientados como usar um banheiro, imagine se eles estão preocupados em assimilar a filosofia da empresa. Fico desconfiado quando me deparo com avisos alertando para se manter a pia limpa e fechar a porta da sala com ar condicionado. E estremeço quando o gerente tem que administrar a mira do xixi dos seus colaboradores.

O presidente da multinacional fixou seu olhar nipônico nos meus e permaneceu calado por alguns segundos. Silenciosamente levantou-se da poltrona, arqueou-se no tradicional gesto oriental de reverência e terminou a reunião.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Hoje eu morri, de novo

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Eu não sabia, mas hoje eu morri, pela terceira vez na vida.

De repente, no Facebook, um amigo de longa data deixou um recado, no mínimo tétrico: condolências à família do Edson Joel. E narrou minha trajetória no rádio (comecei a trabalhar, como locutor, aos 13 anos de idade na rádio em que ele era gerente) e a última vez que me viu.

Quando abri a página e me deparei com o recado fúnebre, ri, no começo. Gargalhei depois. E passei o dia rouco de tanto contar a mesma história das outras vezes que morri.

A primeira foi dramática. Era jornalista em Tupã e comandava o programa Cidade x Cidade, na TV Tupi, no programa do Silvio Santos. Ganhamos 4 fuscas e só saímos do programa porque ocorreu um acidente com o carro que conduzia as meninas da equipe feminina de beleza. Próximo de Agudos, em noite chuvosa e fria, o Galaxie da prefeitura saiu da pista e capotou. As meninas, felizmente, sofreram ferimentos leves. Mas, ao chegar a cidade, a notícia era de que eu tinha saído desta pra melhor. 

A segunda morte que sofri foi no Paraguai. O avião caiu. Quando retornei de Assunção fui alertado pela família para "andar pelo centro da cidade, tomar café nos bares populares e contar piada de são paulino" pra que todos soubessem que era eu mesmo e que ainda continuava vivinho, lindo, maravilhoso e humilde. Gozado era ver a expressão das pessoas que me tinham "falecido".

Hoje, morri de novo! Tudo porque o meu sobrinho Thiago postou um recado no Facebook perguntando "então o Joel morreu?", referindo-se a uma crônica que escrevi no meu blog - A Vingança - onde narro como me divirto com os vendedores de telemarketing. Quando insistem em falar com o Edson Joel, chorando, eu digo que ele esta sendo velado mas que podem falar com a viúva. Dai alguém pegou a conversa pela metade "e me matou de vez".

Pra alegria dos que me amam e tristeza dos meus inimigos, continuo vivo. Pra quem não sabe, tenho 50 anos. Mas, juro, quando uso calça jeans e tênis aparento 49. Bom, né? He, he, he!

domingo, 2 de outubro de 2011

Vagas de emprego

Por Miriam Nitcipurenco de Souza

Hoje, vasculhando a internet, deparei-me com um anúncio num desses sites bem conceituados de recolocação profissional.

PROFESSOR:
Salário: R$ 1.187,97
Carga: 40 horas semanais
Benefícios: gratificações, vale-alimentação (R$ 2,18 por dia trabalhado) e vale transporte (pra cobrir ¼ dos dias trabalhados)
Exigência: Licenciatura (4 anos)
Descrição da atividade: Ensinar crianças e jovens em todas as faixas etárias (Educação Infantil, Fundamental e Médio)

AUXILIAR DE LIMPEZA:
Salário: R$ 920,00
Carga: 40 horas semanais
Benefícios: assistência médica, medicina em grupo, assistência odontológica, participação nos lucros, seguro de vida em grupo, tíquete-alimentação, vale-transporte. Exigência: ensino fundamental. Descrição da atividade: execução de limpeza em empresa e organização do material de limpeza.

Não estou menosprezando as auxiliares de limpeza, mas indignada com o menosprezo dos governos – junte todos os partidos, bata no liquidificador e você não conseguirá meio copo de gente séria, honesta e competente – e com a ausência de ações pra melhorar a educação neste país e os salários dos professores.

Lembrei-me, então que o nosso glorioso Supremo Tribunal Federal, em abril deste ano, considerou constitucional a fixação do piso salarial para professores da rede pública de ensino: R$ 1.187,97. Pra receber esse salário miserável é preciso pelo menos uma licenciatura, equivalente a quatro anos de faculdade – a maioria tem duas e muitos são pós graduados, mestres ou doutores.

Eles não tem assistência médica, odontológica, jurídica ou seguro de vida. Participação nos lucros? Ora, não há lucro, diz o Estado, “é a nossa obrigação”! Ontem, na sala de aula, um aluno me fez uma pergunta difícil.

- Para quê estudar, professora? Para trabalhar como você e ganhar que nem minha mãe que é quase analfabeta? Minha mãe “trabaia” numa fábrica varrendo o chão e ninguém manda ela tomar no cú, não!

Para ganhar “milão” é melhor varrer o chão!