Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza
Durante o programa Teleton, gerado pelo SBT, Silvio Santos entrevista pessoas e anima a platéia. O objetivo é angariar muitos milhões para a AACD, uma associação de apoio à crianças com deficiência que mantém uma grande estrutura para tal. Artistas da casa e convidados participam, sem cachê, por esse objetivo.
Um dos quadros apresentou o grupo da novela Chiquititas e seus variados personagens. Bem típico de Silvio, o apresentador que tira leite de pedra, brinca com as crianças e as provoca para criar um clima divertido.
Pois bem. Ao entrevistar a atriz mirim Julia Oliver, que é negra, Silvio lançou a mesma pergunta dirigida aos outros integrantes, pouco antes:
- O que você quer ser quando crescer?
- Ou vou ser atriz ou vou ser cantora - respondeu Júlia.
- Com esse cabelo? - riu Silvio, se divertindo com o cabelo longo e armado de Júlia.
Todos riram. Mas Júlia pareceu ficar sem reação e reperguntou "como assim?". O apresentador percebeu que a brincadeira não rendeu e passou para outro entrevistado. Certamente, diante da "provocação", Silvio esperaria de Júlia uma resposta do tipo "se você não gosta posso usar uma peruca como você". Arrebentaria! Silvio Santos, na verdade, faz papel de escada, isto é, ele levanta o tema para o entrevistado fechar a piada. Júlia não entendeu e perdeu o gancho. E a piada.
Bastou isso para que a patrulha de hipócritas - que prefiro chamar de imbecis preconceituosos - reagisse nas redes sociais ofendendo Silvio Santos. Oras, conheço o apresentador como telespectador, como profissional na área e nos bastidores da televisão. Silvio é pessoa simples que emprega gente de todos os credos e cor. Ele é judeu e faz graça com o fato da sua mulher e as filhas serem evangélicas. Livre arbítrio, sempre diz ele.
Júlia foi ao Instagran e soltou uma postagem dizendo que “em um país como o nosso, onde a mistura de raças está por todos os cantos, fico triste em ouvir certos comentários maldosos, mas ainda assim agradeço a Deus todos os dias por ser saudável, ter minha família, ter amigos verdadeiros e trabalhar no que amo. Nada nem ninguém vai apagar o meu talento”, escreveu a atriz na primeira postagem sobre o assunto."
Aparentemente instigada por adultos, ela votou às redes sociais e publicou uma imagem com um texto que dizia: “Nada do que me falarem por essa vida afora vai me fazer mudar meu caráter, esse sim é mais importante que o meu cabelo”.
A mesma referência que Silvio Santos fez aos cabelos de Júlia ele já tinha repetido, segundos antes, para outra atriz mirim, branca e loira e com cabelos "espetados" que o apresentador disse serem engraçados, retribuindo a brincadeira da menina que o chamou assim. A diferença é que a menininha - ao contrário de Júlia - entrou no jogo, fez cara de "chorosa" e a sequência rendeu. Todos riram.
Porque a mesma brincadeira, feita com a menina negra, é entendida como preconceito?
Resposta: o preconceito está na cabeça de alguns idiotas, brancos ou negros, que não conseguem enxergar nada além disso. São os politicamente corretos, uma geração imbecilizada por ideias hipócritas que mais segregam que unem.
Assistam o vídeo abaixo e tirem suas próprias conclusões.