quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Ser magro não é sinônimo de saúde

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

O culto pelo corpo magro, sem reservas de gorduras, tem levado muita gente cometer excessos perigosos. Dietas milagrosas podem provocar danos seríssimos e nem sempre ser magro é sinônimo de boa saúde.

Juliene Montez Pedro, nutricionista do Hospital Ana Costa, alerta que "as dietas restritivas fazem mal tanto para as pessoas magras como para as obesas". Para ela, a restrição de algum nutriente não é bom. O ideal é a adequação, diz.

A matéria é uma publicação na página do Hospital Ana Costa que explica ser essencial, não apenas para quem fez dietas, ter uma alimentação saudável e rica em nutrientes. Nem sempre peso baixo significa boa saúde, alerta.

O Dr. Charles Felix Simões, do mesmo hospital, diz que "tanto o excesso de peso como a magreza extrema ou perda rápida de peso são indicadores de que algo pode estar errado com a saúde." Para o endocrinologista as pessoas magras também devem ser avaliadas periodicamente. A perda de peso pode estar associada a anorexia, bulimia, doenças crônicas, renais, hepáticas, autoimunes, HIV, câncer ou doenças gastrointestinais, principalmente se a queda do peso for repentina.

Pessoas que comem muito e não engordam - por questões genéticas - também precisam de uma alimentação balanceada.

Na entrevista ao site a nutricionista lembra que "as pessoas que vivem em dieta, sonham com o peso ideal. Mas nem sempre o peso é o maior problema. Antes de tudo é preciso ser saudável. "Equilibrar saúde e peso é ingerir a quantidade de calorias e nutrientes necessários, adequando proteínas, carboidratos, lipídeos, vitaminas, fibras e atividade física. Sempre acompanhado por profissionais" - afirma.

As dietas restritivas podem fazer mal para quem já é magro?

Juliene: As dietas restritivas fazem mal tanto para as pessoas magras como para as obesas. Quando falamos em restritivas significa a restrição de algum nutriente, quando o correto e o ideal é a adequação.

O magro deve ter uma dieta semelhante às pessoas com peso maior?


Juliene: Quanto a qualidade sim, porém em quantidade não. Primeiramente, devemos avaliar a questão saúde e, se estiver tudo certo, ofertar mais calorias, podendo ser oferecido uma maior quantidade e alimentos mais calóricos. Porém, nunca devemos esquecer da qualidade dos alimentos ingeridos.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Ovo faz mal? De onde veio essa notícia?

O ovo foi resgatado: viva o ovo!

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza   
Atualizado em 18 de fevereiro de 2022

Todas as vezes que ouço alguém debatendo sobre dietas, lembro-me de duas cenas estúpidas que retratam bem o nível de informação de algumas pessoas e a qualidade jornalística da mídia quando uma repórter diz, numa matéria, que o "ovo é um veneno".

Rolam por aí, também, conselhos que taxam açúcar, sal, arroz, farinha e leite como cinco "venenos brancos" causadores de obesidade e doenças. Não é preciso muito para desmentir essa afirmação irresponsável: o Japão é o país com menor índice de obesidade do mundo e sua alimentação se baseia no arroz. A China, também grande consumidora de arroz e farinha, tem menos obesos que muitos países europeus que restringem esses alimentos em suas dietas. Controlar o uso de sal e açúcar parece ser um bom conselho da medicina porque são alimentos essenciais para o corpo. Ou comer de tudo, moderadamente.

Cena 1: a repórter e o Ovo

Uma repórter da TV Record caminha ao lado de uma nutricionista entre entre bancas de uma feira livre, falando sobre alimentos saudáveis. Entre conselhos sobre a propriedade de alguns alimentos e seus benefícios, elas passam por uma banca de ovos. A repórter faz cara de nojo e gesticula uma expressão de afastamento de algo muito perigoso e comenta:

- Ovos, Deus me livre desse veneno! Nem vamos comentar - afirma a repórter.  - Certamente! - concordou a nutricionista.

Onde está o erro desta cena?
Na afirmação irresponsável da repórter - e no consentimento da nutricionista - condenando um alimento que chamou de veneno. Quantos telespectadores se impressionaram com a cena? Quanto mal fez a repórter ao passar para a audiência do programa que ovo é um veneno?

De onde veio isso?

Certamente ela resumiu seu "conhecimento científico sobre ovos" na publicação de um jornal canadense, de 16 de agosto de 2012, escrita por uja matéria dizia que "Um novo estudo sugere que comer três ovos inteiros por semana pode engrossar tanto as artérias como fumar" (A new study suggests that eating three whole eggs a week can thicken the arteries as much as smoking). O estudo foi conduzido na Western University in Canada

Nesta mesma matéria o Dr. Steven Nissen, presidente do departamento de Medicina Cardiovascular da Cleveland Clinic Foundation, afirmou "que o estudo não deveria ser levado a sério porque é uma pesquisa de baixa qualidade que não deve influenciar as escolhas alimentares do paciente."  Ele fez duras críticas, tal e qual outros cardiologistas também, pela forma como os pesquisadores mediram a placa dos pacientes e que não conseguiram se ajustar a outros fatores dietéticos.

Mas, para leitores de uma matéria só, restou a "verdade" de que o ovo é um veneno. Nem se deram ao capricho de ler o boxe que desmentia a pesquisa.

PS: O ovo contém 13 vitaminas essenciais e minerais, gorduras saudáveis, proteínas e antioxidante.

O pão integral pode conter  calorias de um pão feito com farinha branca. A diferença é que sua digestão é mais demorada e complexa comparada ao pão de farinha branca. Por isso engorda menos.
 




Cena 2: a caloria

No corredor de um supermercado uma criança lê algumas informações numa embalagem de alimento e diz em tom de advertência e muito preocupada:

- Mãe, olha que loucura. Esse produto contém 40 calorias.
A amiga da mãe olha para o menino e elogia:
- Olha que maravilha, tão pequeno e tão inteligente.

De certa forma essa criança aprendeu que caloria é ruim, faz mal, que deve ser evitada. E, certamente, ela ouviu isso de alguém. Mas, na verdade, caloria é energia retirada dos alimentos e bebidas, essencial para o corpo funcionar. Você precisa ingerir calorias suficientes para manter sua BMR (taxa metabólica basal que faz coração, rins, cérebro e todo sistema nervoso funcionar) e repor a energia consumida em atividades físicas e suportar o processo digestivo. Aliás, os bilhões de bactérias que vivem nos intestinos comem grande parte dessas calorias. Caloria é vida!

Só o fígado de um adulto em torno de 70 quilos consome 27% de energia, o cérebro 19%, músculos 18%, rins 10%, coração 7% e 19% de outros órgãos (produção de pele e cabelos, sistema imunológico...). Um bebê utiliza quase 50% do total de calorias no cérebro.

01 caloria = energia térmica suficiente para elevara temperatura de 1 grama de água por 01° centígrado.

Ingerir mais calorias do que seu corpo precisa não é bom mas pode ser menos nocivo que consumir uma quantidade menor de calorias que seu metabolismo necessita. Varia para cada pessoa, dependendo da sua idade, altura, idade, sexo... Estabelecer metas de 2.000 calorias para mulher e 2.500 para homens contraria estudos mais recentes que demonstram que um homem de 1,70m, 40 anos e 70 quilos precisa consumir apenas 1920 calorias diárias, muito menos que as 2.500 recomendadas atualmente.

De cada 10 brasileiros, dois são obesos e seis estão com excesso de peso, diz o IBGE. Com a pregação de que é preciso emagrecer, apela-se pra tudo, inclusive restrição de calorias. O metabolismo desacelera. O organismo entende que o emagrecimento pode provocar falência do sistema e produz mais hormônios que aumentam o apetite além de aumentar o estoque de gordura como garantia de sobrevivência.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

O pai é você, não o Estado.


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Depois de muitos anos, encontrei um amigo das antigas. Rodando de carro, pra mostrar a cidade, rolou papo de todo tipo. Mas a conversa foi bem até passarmos por uma loja do McDonald's. Então meu amigo começou a se lamuriar.

- Tenho ódio quando entro aqui porque passo apertado com meus netos - disse ele, referindo-se a canalhice da venda casada de brinquedos e lanches, que dobram os preços.

Não apenas no Mc Donald's mas dezenas de produtos estampam super heróis em ovos de páscoa e alimentos para crianças. O apelo fomenta as vendas e a comilança, mesmo sem fome. Segundo o IBGE, 15% das crianças brasileiras, entre 5 e 9 anos, estão gordinhas. Isso é argumento mais que suficiente para que os "defensores dos fracos e oprimidos" levantem bandeiras pedindo a proibição dessa prática comercial, realmente nada saudável para crianças... e para a carteira dos pais.

- Será que não tem algum deputado para propor a proibição desse tipo de comércio? - esbravejou ele.

- Esse é o problema - respondi. Os pais, sem autoridade sobre seus filhos, esperam que o Estado crie leis e solucione por eles um problema que eles deveriam resolver - ataquei sem me preocupar em ferir suscetibilidades. Curioso, tenho 4 netos com a mesma idade dos seus e nunca tive problemas com isso - respondi ao seu argumento.

- Como assim? - perguntou, meio incrédulo, desejando descobrir a mágica de como ir ao Mc Donald's sem a preocupação de assistir a um festival de crianças birrentas querendo os ridículos e caros brinquedos. Então, calmamente, expliquei:

- Faz muito tempo, quando eram muitos menores ainda, tive uma conversa séria e rápida com eles. Antes de sairmos para a hamburgueria perguntei-lhes se iriamos comer lanches ou comprar brinquedinhos. E fiz uma proposta: quem quisesse brinquedos ficaria sentado esperando que os outros comessem. E só depois sairíamos pra comprar algum brinquedo estúpido em alguma lojinha de 1,99. Todos escolheram seus lanches preferidos... sem brinquedos. E assim foi ao longo dos anos.  

Contei-lhe que um dos netos, então com 5 anos, tinha elaborado uma "pesquisa de preços" onde comparava que o valor de 200 gramas de um bom chocolate triplicava na forma de ovo de páscoa. "Vô, isso é um absurdo!", disse-me o menino. Ou a recusa de um deles em pagar R$ 20 por duas bolas de sorvetes servidas num festival de Food Truck. Penso que aprenderam a lição.

- Eu não aceito que o Estado controle o que meus filhos e netos devam comer na escola ou no McDonald's. Eu não aceito que o Estado diga o que meus filhos e netos devam ler, que programas devam assistir na tv ou se devo ou não dar palmadinhas na bundinha deles. Os pais é que devem educar seus filhos, criar consciência crítica neles e não ficar esperando que o Estado resolva. É preciso lei para que idosos ou gestantes avancem na fila ou bastaria educação?

Penso que, na verdade, os pais perderam o controle sobre seus filhos e se desmancham em terapias pra aprender dizer um simples não a uma criança mimada. Depois, para não se sentirem frustrados, tentam compensar suas incompetências corrompendo-os com presentes imerecidos convencidos pela frase "todo mundo na escola tem, só eu que não".

Certo dia entrevistei uma psicóloga que me contou ser muito comum que antes de suas palestras sobre relacionamento familiar ser procurada por pais que buscam uma resposta para uma antiga pergunta.

- Hoje mesmo uma mãe, dócil e educada me abordou perguntando "Doutora, diante de um mundo tão complexo, ensine-me como dizer não aos filhos". Eu respondi:
- Não! - Ene, a, til, o! Não! Basta isso.

Os pais toleram demais e a tolerância é a mãe de todas as mazelas. Ao chegarem à idade adulta enfrentarão sérios conflitos de relacionamento em todas as áreas... por não aceitarem um não.

O art. 39 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) inciso I deste artigo, afirmando que: “é a prática comercial em que o fornecedor condiciona a venda de um produto ou serviço, à aquisição de outro produto ou serviço”.

Um povo que precisa de lei para permitir que idosos ou grávidas tenham preferência numa fila ou que impeça venda casada de hambúrguer e brinquedo está deixando para o Estado decidir o que é responsabilidade dele. Breve o Estado exigirá seu passaporte de vacina pra ir e vir, escolherá sua futura esposa, decidirá se restaurante coloque saleiro na mesa, o que você almoçará...