Em junho de 2020, as escolas japonesas reabriram no país. A rotina escolar obedece protocolos de segurança e as aulas presenciais são obrigatórias. |
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza
Em 1º de junho de 2020, três meses após o corona vírus ser declarado pandemia, os alunos das escolas japoneses voltaram às aulas obedecendo alguns rigorosos protocolos de segurança. Segundo o professor Ademar Oshiro, um brasileiro que dá aulas no Japão, isso não é nenhum problema porque as crianças japonesas são disciplinadas e seguem as regras.
E a correlação volta às aulas x taxas de transmissão de covid é irrelevante, sem aumento significativo de propagação. A vida escolar naquele país segue a rotina de aulas há mais de 10 meses..
Lá as aulas presenciais são obrigatórias ao contrário do que ocorre no Brasil que faculta aos pais a presença dos seus filhos nas salas que ficaram fechadas até abril de 2021.
- No dia 7 de abril de 2020 o governo do Japão decretou Estado de Emergência, medida que permaneceu até 25 de maio. Em 1º de junho, 99% das escolas reabriram e os alunos retornaram às salas de aulas.
- Alguns fatores essenciais davam a certeza as autoridades: acesso a tratamento de alto nível com leitos UTI suficientes, excelente nível de higiene pública e consciência dos cidadãos a respeito de higiene e possíveis ações, rápidas e eficientes, contra infecção coletiva, por parte do governo.
Crianças não transmitem e resistem ao vírus
Cientistas ainda estudam outra constatação: o sistema imunológico das crianças é tão resistente que mata os vírus ou atenua, de tal forma que ficam suficientemente fragilizados para contaminarem outras pessoas. "Crianças vão para a escola e trazem para casa vírus e contaminam seus pais e avós" é uma afirmação falsa.
"A culpa não é das crianças"
Na China há registro de um único caso de transmissão entre crianças, num hospital de Wuhan. As outras 9 crianças analisadas foram contaminadas por adultos. Em todos os casos os vírus foram mortos pelo sistema imunológico.
Na França, um aluno, contaminado por Covid-19 permaneceu estudando durante semanas, entre 80 outros colegas, da mesma escola e nenhum deles foi contaminado. O mesmo estudo concluiu que o vírus influenza tem taxas de contaminação muito maiores dentro das escolas.
Faz 16 anos que o professor Ademar Choyo Oshiro mora e trabalha no Japão. Aos 67 anos, natural de Herculândia (SP), Oshiro ainda não se "acostumou" totalmente a certos costumes do povo japonês.
"Aqui é muito normal observar crianças indo sozinhas, a pé, para suas escolas. Este fato até hoje me causa estranheza mesmo estando há 16 anos morando por aqui, habituado que estava nos moldes do Brasil." - confessa o professor.
220 mil brasileiros
no Japão
Um levantamento publicado em 2019 mostra a existência de 220.000 brasileiros no Japão e próximo de 35.000 estudam no ensino básico, conta Oshiro. Destes, cerca de 7.000 estão matriculadas em escolas japonesas por razões que variam: são de famílias de brasileiros que pretendem ficar no Japão ou por questões financeiras já que as escolas brasileiras custam de 30.000 a 50.000 ienes (em média cerca de R$ 2.000/mês).
Oshiro disse observar que muitos brasileiros estão evitando o árduo trabalho nas
fábricas e buscando outras alternativas. Os jovens que têm fluência na língua
japonesa conseguem trabalhos em lojas de conveniência, fast foods e lojas de
departamentos. Outros tornam-se empresários nos mais diversos segmentos embora
o trabalho como operário seja a maioria.
Escolas e faculdades brasileiras no Japão
Dados levantados junto ao Consulado Geral do Brasil, em 2019, apontam 35 escolas brasileiras homologadas junto ao MEC e em funcionamento naquele país. Nem todas recebem os vultosos benefícios por não estarem vinculados ao Ministério da Educação do Japão.
Muitas
faculdades brasileiras mantém polos EAD no Japão para atender jovens e adultos
que pretendem prosseguir seus estudos mas, a maioria, apenas conclui o Ensino
Médio.
- Mas isso também ocorre entre estudantes japoneses que nem terminam o
Koko (ensino médio) e cumprem apenas a obrigatoriedade de concluir o Chugakko
(ensino fundamental) - conta Ademar Oshiro. Ele explica:
- Nem todos que concluem o Ensino Médio japonês tem condições de acessar suas excelentes universidades por não existir ensino grátis no país. O governo, entretanto, tenta facilitar o acesso com financiamento, tipo Fies, sem burocracia..
"As
escolas brasileiras aqui não seguem um calendário escolar brasileiro ou japonês
mas, no geral, caminham de acordo com o calendário das fábricas,
particularmente em função da Toyota, restringindo as férias em duas semanas (uma
em maio e outra em agosto)" - explica o professor.
Isso se deve à conveniência de manterem as crianças em escolas já que a grande maioria dos pais trabalha em fábricas de autopeças. O mês de janeiro é destinado a recuperação de notas e conteúdos de alunos mas muitos pais deixam os filhos sob a guarda da escola uma vez que lá não tem férias prolongadas, como no Brasil. As escolas servem, também, como um local de abrigo principalmente às crianças do maternal, infantil e fundamental I. O ano letivo da maioria das escolas brasileiras inicia oficialmente fevereiro e estarão ativas o ano todo.
Em período da pandemia
As
escolas brasileiras no Japão seguem normas das respectivas províncias japonesas onde se localizam.
Algumas, no início de 2020, chegaram fechar mas reabriram em junho do mesmo ano
obedecendo os rígidos protocolos das autoridades de saúde do país. As aulas são
presenciais e obrigatórias.
Oshiro lembra que se recorda de uma única vez que houve o afastamento imediato
de um aluno com covid e de toda sua sala. Atividades com aglomerações, como
festas junina, foram canceladas.
Escolas japonesas em período normal e na pandemia.
O
professor Ademar Oshiro salienta que a diferença entre o sistema educacional
japonês e o brasileiro, particularmente no quesito disciplina, é enorme.
- Essa experiência eu tive pessoalmente quando,
recém chegado do Brasil, matriculei o meu filho numa escola japonesa. Como ele
não se adaptava, as visitas da professora dele eram frequentes, sempre tentando
ajudar e facilitar sua adaptação.
- Os alunos do Ensino Básico japonês utilizam 2 máscaras por dia, 2 toalhinhas de mãos, por dia, no Ensino Infantil, higienização permanente com os professores em vigilância constante, incluindo correção no uso de máscaras quando necessária.
- A alimentação, que é feita cada qual em suas respectivas carteiras, foram colocadas uma carteira na frente da outra com divisão de material plástico, desde o ano passado.
- A higienização bucal é feita em pequenos grupos, mantendo rigidamente o distanciamento social.
- No ano passado não aconteceram atividades sociais como reuniões, competições e, principalmente, visitas dos professores responsáveis às casas dos alunos quando no início do ano letivo. Neste ano as visitas foram retomadas, seguindo protocolos de segurança.
- Nas bibliotecas (muito utilizadas, por sinal), o acesso continua limitado a pequenos grupos e todos os livros são higienizados, após a utilização.
- No Japão, cada bairro tem sua escola e os alunos vão em grupos (infantil e fundamental I) sempre liderados por um aluno escolhido pela escola junto à comunidade e, em todas as esquinas do trajeto, grupo de pais ou voluntários se encarregam de cuidar da travessia das crianças. Empresas liberam os pais para essa prática e isso é determinado por lei.
- No Japão não se observa aglomerações de carros diante das escolas, exceto em dias de festividades.
Faculdades japonesas na pandemia
No ano passado as faculdades tiveram suas atividades, na maior parte do tempo, sob o regime online. O distanciamento social, durante as aulas presenciais que ocorreram duas vezes por semana, em média, foi rigorosamente imposto e as salas divididas em dois grupos que alternavam nas respectivas frequências.Colaborações:
- Carlos Shinoda, autor do livro MEC no Japão, profundo estudioso da comunidade brasileira com relação à Educação no Japão.
- Clarissa Cardinalli, mãe de 4 filhos, todos estudando em escolas japonesas. A primogênita faz faculdade de Modas, em Tóquio.