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sábado, 29 de dezembro de 2012

Uma história com Jânio Quadros

Jânio da Silva Quadros
Por Edson Joel Hirano Kamakra de Souza

Meu pai, um mineiro de coração gigante e de um pavio curtíssimo, era ademarista e eu, criança ainda, Janista. 

Adhemar de Barros era do tipo "rouba mas faz" que o PT ressuscitou agora para justificar os roubos praticados pelos asseclas do Lula. E Jânio Quadros, à época, um jovem professor de carreira meteórica na política. 

Vereador, prefeito e já se lançava ao governo do estado conduzido pelo discurso de limpar a sujeira da corrupção. Seu símbolo era uma vassourinha que virou boton. Jânio era a renovação e os ademaristas o odiavam. 

Foi durante essa campanha que um dia escrevi "Jânio", na calçada da minha casa, com tinta automotiva. Meu pai quebrou a calçada de concreto (naquela época concreto era concreto mesmo) mas o nome "Jânio" ficou em baixo relevo. Quase apanhei. Jânio se elegeu e dois anos depois tornou-se presidente. Em 1961, renunciou, instaurando-se no país uma grave crise institucional. Foi cassado pelo regime militar.

Vinte e tantos anos depois de ter renunciado, entrevistei o Jânio Quadros, em Lins, quando candidato a governador. Contei essa história e ele riu demais. E quis saber mais detalhes. "Tive que fugir pra não apanhar do ademarista" - disse, já sentados numa mesa separada. "Fez bem, fez bem", disse Jânio, rindo muito. Pouco antes, quando o abordei pedindo a entrevista, ele concordara mas alertara que não falaria de sucessão, religião, governo militar, mas apenas do seu plano de governo. Ao final da entrevista me perguntou, naquele sotaque característico: 

- Como se chama mesmo o repórter? 
- Edson Joel, da Lins Rádio Clube e Estadão - respondi curioso. 
- Senhor Edson, lembro-me que no início lhe dissera que não falaria disso ou daquilo. Creio que 20 ou, quiçá, 30 minutos depois tenha lhe falado e respondido sobre tudo isso - disse Jânio, rindo como nunca tinha visto antes. 

O detalhe é que Jânio estava brigado com a imprensa e não dava entrevistas. Nem pra Globo, Estadão, Folha, ninguém. 

Quando passei a retranca pro Estadão (eu era correspondente do jornal) "Jânio fala de sucessão e aponta caminhos para um novo governo", o responsável pela editoria do interior pediu um instante e logo depois atendeu um cara que se identificou como Júlio, da editoria nacional que me perguntou sobre a entrevista, como eu tinha feito, se estava gravada, etc. Passei todo material que foi publicado na página 4, a principal página política do jornal. 

Depois é que eu fiquei sabendo que o Júlio era o Mesquita, o dono do jornal. Ele estranhou que eu tivesse conseguido uma entrevista tão inédita já que o homem não falava com a imprensa fazia 2 meses. Quis saber até se, na abordagem, eu tinha me identificado como correspondente do jornal. 

Tempos depois Jânio venceu Fernando Henrique Cardoso na disputa pela prefeitura de São Paulo, com 4% a mais de votos. Mas FHC foi mostrado, na primeira página da Folha, numa foto, sentado na cadeira do prefeito e anunciado como eleito. Jânio, na posse, desinfetou a cadeira "sentada indevidamente por algum desavisado". Foi hilário!

Jânio, contrariando o exército, condecorou Che Guevara. Quando renunciou, ficou só.