domingo, 23 de fevereiro de 2020

Índice de suicídio entre jovens brasileiros subiu 24%

O Brasil registrou 845 casos de suicídios entre jovens, em 2016, número 70% maior que o Japão.

Por Edson Joel Hrano Kamakura de Souza

Pesquisa coordenada pela Unifesp - Universidade Federal de São Paulo - mostra que a taxa de suicídios entre jovens na faixa de 10 e 19 anos, nas grandes cidades brasileiras, aumentou 24% entre os anos de 2006 e 2015 e subiu 13% nas cidades do interior.

A pesquisa da Unifesp indica que a prática é 3 vezes maior entre jovens do sexo masculino e que a propagação da internet e mudanças sociais sejam responsáveis pelo aumento dessa taxa. Os dados foram coletados no Sistema Único de Saúde e IBGE nas praças de Salvador, Porto Alegre, Bel Horizonte, São Paulo, Recife e Rio de Janeiro.

A taxa de suicídios entre jovens brasileiros vem aumentando nas últimas décadas. Entre 2000 e 2015 o aumento foi de 65% entre jovens de 10 a 14 anos e de 45% na faixa de 15 a 19 anos. O suicídio é a quarta causa de morte entre jovens,nestas faixas. A primeira é a violência.

BRASIL E JAPÃO

O Japão reduziu a taxa de suicídio entre todas as faixas etárias de 34,5 mil casos em 2003 para 21 mil ocorrências em 2017. A expansão do universo digital, problemas familiares, financeiros, cobranças na escola, drogas, bullying são temas recorrentes nos debates sobre as causas que levam jovens do mundo inteiro a extrema decisão. Mas a maioria está ligada, de alguma forma a transtornos mentais.

No caso do Japão soma-se a cultura: o ato pode ser considerado honroso quando alguém comete um erro grave desonrando a família ou é movido por ato de bravura em defesa do líder,como os kamikazes. Quando falhavam na defesa do imperador, os samurais praticavam o harakiri.

Entretanto, no Brasil, particularmente, é comum se ouvir que a causa principal que levam os jovens japoneses ao suicídio é a pressão por resultados na escola. Os números são assustadores para as estatísticas daquele país. No período entre 2016 e 2017 foram 250 casos, cinco vezes mais que no ano anterior.

Mas somente em 2016 exatos 845 casos de suicídios foram registrados entre jovens, no Brasil, de um total de 10.575 casos, 0,7% menor que 2015.

RESUMO DAS ESTATÍSTICAS

- Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, entre 2000 e 2016, a morte por suicídio aumentou 73%, de 6.780 para 11.736, uma alta de 73% sendo as maiores taxas registradas entre jovens e idosos. Em todo mundo, no mesmo período,as estatísticas internacionais apontam uma queda de 17% dessa ocorrência.

- A Revista Acadêmica BMJ diz que entre 1990 até 2016 a queda mundial da taxa de suicídios foi de 32%, respeitando-se a proporção populacional dos períodos.

- A Organização mundial de Saúde estima em mais de 800 mil mortes por suicídio, por ano, em todo mundo. Entre homens a ocorrência é de 15,6 mortes por 100 mil habitantes entre homens e 7 entre mulheres.

- Segundo a ONU, 75% dos casos envolvem pessoas cujos países tem renda considerada baixa para média.

- Entre todas as faixas etárias, dados da OMS indicam que a taxa de suicídio aumentou em 7% no Brasil enquanto caiu 9,8% em todo.mundo, nos últimos 6 anos.

- A maior taxa de mortes por suicídio no Brasil (por 100 mil habitantes) é entre indígenas: são 15,2 casos e a maioria ocorre entre jovens. A estatística se repete na Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos.

RANKING MUNDIAL

No Brasil, em 2012, foram registradas 11.821 mortes, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres (taxa de 6,0 para cada grupo de 100 mil habitantes). Entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes – alta de 17,8% entre mulheres e 8,2% entre os homens.

O país com mais mortes em 2012 foi a (1º) Índia com 258 mil óbitos, seguido de China (2º) com 120,7 mil, (3º) Estados Unidos com 43 mil, (4º) Rússia com 31 mil, (5º) Japão com 29 mil, (6º) Coreia do Sul (17 mil), (7º) Paquistão xom 13 mil, (8º) Brasil com 11,8 mil (do Jornal G1, de 2014).

SOCIEDADE MEDICALIZADA

"Apesar dos dados apontarem para uma sociedade altamente medicalizada, o número de casos de suicídio vem aumentando de forma alarmante, evidenciando uma incoerência: a grande quantidade de indivíduos que fazem o uso de medicação não corresponde a uma baixa no número de pessoas que apresentam ideação suicida. Embora a medicação possa constituir-se parte importante do tratamento, é necessário compreender que o seu uso, por si só, não equivale a um tratamento completo para o sujeito em sofrimento. Ao contrário, o uso inadequado ou indiscriminado de medicamentos pode resultar em graves consequências à saúde dos usuários, ou ainda levar à dependência." (Rosane Granzotto, do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

BALAS PERDIDAS, DENGUE, COVID E TRÃNSITO MATAM

- No Brasil mais de 1.480 pessoas morreram vítimas de armas de fogo, só no Rio de Janeiro. Destas, 255 foram atingidas por "balas perdidas". 700 pessoas morreram de dengue em 2019, no Brasil.

- Em 2011 morreram mais de 43 mil pessoas, vítimas de acidentes de trânsito. Em 2017 esse número caiu para 34 mil, 20,85% menos.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Roubaram o acento da ideia.

"Cartaz" do início de 1900. A última reforma comeu os acentos da diarréia, asteróide, jibóia, estréia e idéia.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza atualizado em 6/2/22

Duas coisas causam-me estranheza: mudam as regras gramaticais e ortográficas e todos aceitam, sem questionamentos. Tudo que lhe disseram que era correto escrever... torna-se incorreto ao prazer e decisão de alguns. Dai você se pergunta:

- Afinal, como são criadas e alteradas tais regras?

Não é assim, tão simples.
Os linguistas espreitam o uso da língua nos meios de comunicação e, particularmente, nos meios literários, analisando alguma possível alteração. Quando elas forem "significativas", propõe mudanças nas regras gramaticais - a gramática aprendida nas escolas - e ortográficas, estas últimas impostas por lei. O objetivo, segundo tais linguistas, é facilitar o uso da escrita em português para os 273 milhões de 9 países no mundo. A decisão torna-se mais política que linguística.

O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em 2009, foi assinado pelo Brasil, Portugal, Angola, Timor Leste, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe. De janeiro de 2009 até dezembro de 2015 chamou-se de período de transição. Em 1º de janeiro de 2016 passou a vigorar, oficialmente. Antes, em 1990, ocorreu o acordo que culminou com o documento de 2009. Os representantes brasileiros foram Antônio Houaiss e Nélida Piñon.

Antes a norma dizia que você estaria correto acentuando diarréia, asteróide, jibóia, estréia e idéia com acento agudo (´) por serem palavras paroxítonas com ditongos ei/oi (encontro entre duas vogais, na mesma sílaba) em que a última sílaba tem pronúncia mais forte. Agora, por decisão de "linguistas", não se acentua mais e você estará errado se colocar acento nestas palavras que antes, eram corretas.

ANTES: Acentuar todos os ditongos abertos (éi, ói, éu), monosílabas (céu, dói), oxítonas (troféu, constrói), paroxítonas (idéia, jibóia).

AGORA: Acentuar todas as palavras paroxítonas menos as terminadas em -a, -e, -o, -em, -am, -ens. Portanto, ideia não é acentuada porque é paroxítona terminada em "a".
Muitos especialistas acreditam que as regras estavam organizadas e claras e que as mudanças (na verdade voltaram as regras originais) não foram bem aceitas. Muitas alterações ocorrem "para facilitar" o seu uso adequando-se as imensas dificuldades que o estudante brasileiro, particularmente, tem com a língua falada e escrita.

Nos últimos 30 anos utiliza-se no país um método de alfabetização (método global/construtivista) que não alfabetiza. Crianças que deveriam ganhar autonomia plena em leitura e escrita antes do término do primeiro ano do ensino básico - e isso é possível com método fônico - chegam ao ensino média com dificuldades de leitura de palavras de três ou quatro sílabas.

Somos os piores na avaliação do PISA em leitura e matemática. Os linguistas, parece, estão moldando a língua para analfabetos da mesma forma que nossos "doutores em educação" tentam resolver o grave problema da educação reformando o ensino médio.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Pós e mestrados tem pouco impacto no desempenho de alunos, diz pesquisa


Pesquisas apontam evidências ignoradas pelos governantes. (Foto Getty Images)

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

As análises foram realizadas pela Consultoria iDados, do Instituto Alfa e Beto e foram publicadas no documento "Para desatar os nós da educação: Uma nova agenda", assinado pelo especialista na área, professor João Batista Araújo.

Esse documento analisa, entre outros assuntos, a evolução da matrícula e financiamento, qualidade da educação, as determinantes do desempenho escolar e apresenta propostas de longo e curto prazos como "transformar o magistério numa carreira atraente para pessoas com elevado desempenho acadêmico; substituir a cultura de leis e regulação por políticas baseadas em evidências, incentivos e resultados; inserir as políticas de educação no contexto da formação de capital humano; estabelecer um currículo de qualidade e implementar as medidas decorrentes em relação aos livros didáticos; reformar a reforma do ensino médio; aprimorar o sistema de avaliação; dar chances para a juventude engajar-se no mundo do trabalho e equacionar o financiamento da educação."

Os estudos da Consultoria iDados concluíram, também:

- É praticamente nula a relação entre tamanho da população de um município e o desempenho dos alunos da rede pública, em Matemática.
- Não há diferenças no desempenho das redes estaduais x redes municipais.
- Maior volume de despesas pelos municípios não gera impacto significativo na qualidade.
- O ensino em tempo integral apresenta resultados modestos e gera custos altos.

Professores com títulos melhoram notas dos alunos?

Destacam-se dois assuntos que chamam a atenção: a irrelevância da correlação Professores com títulos x Desempenho dos alunos e Salários x Desempenho escolar.


- Títulos de pós-graduação aumentam entre 0,2 e 1,4 pontos na prova de Matemática do 5º ano – essa prova tem um desvio-padrão de 50 pontos, portanto são aumentos irrelevantes.
- O mesmo ocorre nas séries finais. Seria de se esperar um aumento significativo devido aos cursos de Mestrado, pois estes deveriam contribuir para um maior nível de conhecimento dos conteúdos ensinados.


A pesquisa científica do iDados também concluiu que o salário do professor tem pouco impacto no desempenho dos alunos.
 
- As figuras acima mostram o ganho de pontos em função do salário dos professores do 5° e 9° anos, comparado com um salário referência de R$ 1.405,00.

- Os ganhos são modestos. Nas séries iniciais, cada R$ 500 aumenta um ponto na nota, nas séries finais, os aumentos precisam ser mais vultosos para impactar nas notas. Vale observar a diferença entre 2,8 e 3,2 mil reais e um salário de mais de 6,5 mil reais: é o dobro do custo para um aumento de apenas 2 pontos.

- A maior diferença é de 6 pontos (meio ano escolar) para uma diferença salarial de mais de 5.000 reais/mês. Essa diferença é estatisticamente significante.

Fonte: Instituto Alfa e Beto