segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Ditos populares: de onde vem essas expressões?

General Marcus Licinius Crassus
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Fulano cometeu um erro crasso. Hoje estou à toa. Ela pensa que tem o rei na barriga e tantas outros ditos populares são repetidos pelos povos, ao longo dos tempos mas, poucos sabem, exatamente, de onde vem seus significados. Se você costuma usa-las, saiba das histórias que se contam de cada uma.

Vá às Favas ou São favas contadas

Favas, na verdade, são feijões brancos ou pretos, de vagens, que eram utilizados antigamente para proceder uma votação. Quando havia dúvidas, a comunidade se reunia e efetuava uma votação utilizando favas. Cada cor representava uma posição contra ou a favor. Os feijões eram colocados numa urna, como uma cédula. Portanto, "mandar às favas" era um pedido para votar, utilizando favas brancas ou pretas. A expressão "são favas contadas" refere-se a algo já decidido, um negócio seguro e certo da aprovação.

Elefante branco

Uma obra que não tem nenhuma utilidade, costumamos chamar de elefante branco. A expressão teria vindo dos costumes tailandeses. O Rei dava um elefante branco para um membro da corte que o desagradava. como punição. O elefante branco era animal sagrado naquela região e, por ser presente do Rei, não podia ser recusado. Restava ao punido passar o resto da vida alimentando e cuidando do animal com máximo zelo.

Erro Crasso

Crassus foi um general romano que subestimou a capacidade de reação dos soldados de Partos e sofreu uma derrota vergonhosa na batalha de Carra, quando morreu aos 61 anos (53 aC) junto com seu filho. Crasso fez parte do chamado Primeiro Triunvirato Romano (Júlio Cesar, Pompeu e Crasso). O general ficou famoso por várias vitórias em guerras, inclusive na Revolta dos Escravos, comandada por Espartacus. Quando alguém comete um erro grave, por negligência, descuido ou irresponsabilidade, diz-se que foi um "erro Crasso".

Ficar à toa

Quando se refere que alguém está à toa diz-se de uma pessoa que não faz nada, a esmo, sem rumo própria, despreocupada, dependente. Toa, na verdade é uma corda que é lançada de um navio a outro para ser rebocado, conduzido ao porto ou a outro lugar. Fulano ficou andando à toa significa, sem rumo. Fulano cometeu um erro à-toa (com hífen) dá sentido de ter cometido um erro desprezível.

Farinha do mesmo saco

Vem de “Homines sunt ejusdem farinae” - homens da mesma farinha - a expressão "Farinha do mesmo saco" numa referência a pessoas iguais, com os mesmos conceitos e crenças reprováveis. Considere que uma farinha de qualidade é ensacada separada de farinhas com qualidade menor.

Com a corda toda ou a todo vapor

A pilha que toca a maioria dos relógios hoje, não existia antigamente e eles funcionavam com um sistema que usava uma peça em forma de espiral que, estirada ao máximo, gerava uma força que acionava várias engrenagens de tamanhos diferentes, movendo os ponteiros. Os brinquedos antigos também se utilizavam esse processo de "dar corda". Dai a expressão "fulano está com a corda toda" para se referir a alguém muito agitado.

"Estamos a todo vapor" é outra expressão antiga que se refere ao andamento célere de um projeto, empresa ou ação comparando-se a um trem que se movia a vapor de água. "Onde aperta o botão que desliga a bateria desse moleque" vem em substituição a "corda toda" e "vamos a jato" no lugar de "todo vapor".

Com o rei na barriga

Entre mulheres você já deve ter ouvido algo do tipo "ela pensa que tem o rei na barriga" ao se referir a outra que considere arrogante. Essa expressão vem do tempo em que as rainhas, quando grávidas, recebiam atenção e tratamento diferenciados considerando que elas estariam gerando um filho herdeiro da coroa que poderia tornar-se rei.  A frase "ele pensa que tem o rei na barriga", biologicamente, portanto, está incorreta.

Ouvidos de mercador

O correto seria "Ouvidos de marcador" e não mercador. Marcador era o nome que se dava a pessoa que marcava os criminosos com ferro quente e que ignorava suas súplicas e os gritos de dor. "Origem das frases", de Orlando Neves, diz que a confusão foi uma corruptela de marcador e mercador. Da mesma forma que "cor de burro quando foge" e não "corro de burro quando foge".
                                                                              
Pagar o pato

A expressão que aponta um culpado ou responsável por algo reprovável vem de um jogo comum na Europa, particularmente em Portugal.

Um pato era amarrado num mastro e o cavaleiro, ao passar pelo poste, deveria arrancar o pato do local. O perdedor pagava o preço do animal sacrificado na disputa.

Corro de burro quando foge

Diz-se que um burro em fuga é perigoso. Imagine um português falando rapidamente a frase. No Brasil entendeu-se "cor" e não corro. Até hoje fala-se errado tal e qual "tramela" e não o correto taramela.

Santa do pau oco

Pessoa que demonstra ser honesta mas é o oposto. Para contrabandear pedras preciosas e ouro para Portugal utilizava-se imagens de santas esculpidas em madeira, ocas.

Salvo pelo gongo

Quando foi diagnosticada a catalepsia - doença que imobiliza o corpo embora as funções vitais permaneçam ativas, em ritmo muito lento e quase imperceptível - algumas pessoas eram enterradas em caixões com um dispositivo que ligava o pulso do morto a um sino, do lado de fora, através de uma cordinha. Uma pessoa ficava alguns dias observando o sino. Naquele período muitos caixões abertos tinham suas tampas, do lado interno, arranhadas por unhas.

Com a corda no pescoço

Antes do enforcamento de um condenado o carrasco aguardava o mensageiro trazendo a confirmação da pena ou sua suspensão, como ato de clemência. Nesses longos minutos o prisioneiro ficava com a corda no pescoço aguardando a execução. A expressão refere-se hoje a pessoas com problemas sérios, ameaçado ou financeiramente ruim.

Comer com os olhos

Na antiga Roma e algumas regiões da África ofereciam-se banquetes aos deuses cujos alimentos não podiam ser tocados. O rei e os convidados apenas olhavam o alimento ofertado, com reverência.

O amigo da onça

A história vem do caçador mentiroso que pôs uma onça em fuga só com um grito exuberante e não convenceu o amigo. Irritado o mentiroso perguntou se ele era seu amigo ou amigo da onça.

Onde judas perdeu as botas

Depois de trair Jesus, Judas enforcou-se numa árvore. Estava sem seus sapatos ou botas. Com ele não encontraram o dinheiro fruto da traição. Todos foram procurar as botas do Judas crendo que o dinheiro estaria lá.

Deixa de nhenhenhém

O significado de nhée, em Tupi, é falar. Quando os portugueses se aproximaram dos índios diziam que eles só ficavam no nhe-nhe-nhen porque não entendiam nada. O sentido hoje é resmungos e lamúrias infindáveis. O nhe-nhe-nhem agora virou mimimi, lamentações irritantes e constantes.

Maria vai com as outras

Diz-se de uma pessoa que não tem personalidade própria e que se convence facilmente seguir a opinião de outra. Conta-se que Dona Maria I - mãe de D. João - quando ficou louca só saia de seu quarto acompanhada por várias damas. Dai "Maria vai com as outras".

Mulher de paquete

A expressão surgiu por volta de 1800 quando, mensalmente, chegava um navio inglês ao porto do Rio de Janeiro. O navio chamava-se Paquete e sua bandeira era vermelha e a associação com a regra menstrual foi imediata.

Lágrimas de crocodilo

O falso choro advém do fato de o crocodilo, quando come sua presa, pressiona o alimento contra o céu da boca e comprimindo as glândulas lacrimais. Não são lágrimas verdadeiras, dai a expressão para se referir a alguém muito falsa.

Jurar de pés juntos

Na Santa Inquisição, quando torturados, os hereges tinham pés e mãos juntados para confessar seus pecados, surgindo dai a expressão.

Queimar as pestanas

Antigamente quando se dizia que alguém estava "queimando as pestanas" significava dizer que ele estava passando a noite estudando muito, à luz de velas. Quer dizer que ao se aproximar da luz para enxergar algo corria o risco de queimar as pestanas.

Fazer à toque de caixa

Os exercícios e marchas militares são comandadas ao toque de caixa, instrumento acústico marcador de ritmo. Vamos fazer à toque de caixa quer dizer executar um serviço muito rápido e sob o comando de alguém.

General Marcus Licinius Crassus, consul da Roma liderou a Batalha de Carra e acabou morto aos 61 anos (53 AC). Crasso subestimou as forças do inimigo ignorando a tradicional formação romana de combate - um erro estúpido para os estrategistas - e ficou famoso pela expressão "erro crasso". Foi ele que derrotou Espartacus na batalha da Revolta dos Escravos.