quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Empresas de tecnologia ignoram a moral e ética em busca de lucros.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

A conclusão é de Mehran Sahami, professor de ciências da computação e engenharia, na Universidade de Stanford, Califórnia, um dos autores do livro "Erro de Sistema: onde a Big Tech errou e como podemos reinicializar". Sahami alerta que o livro é um ato de intensa preocupação e foi escrito para causar impacto sobre um tema que deve ser discutido além do ambiente acadêmico.

- As grandes corporações de tecnologia estão tomando decisões que levam em conta apenas seus interesses financeiros ignorando os resultados negativos na sociedade - diz Sahami, em entrevista ao site NeoFeed.

Para ele as fusões do Facebook com Instagram, por exemplo, deveriam ser sumariamente impedidas. Considerando que a base da preocupação dessas empresas é o lucro e para alcançar seus objetivos "ultrapassam barreiras e causam impacto negativo na sociedade", fusões eliminam concorrentes.

- No final das contas, eu acho que as big tech precisam fazer muito mais para entender como seus produtos e serviços impactam a sociedade e depois agir de forma incisiva para minimizar os efeitos colaterais, mesmo que isso signifique diminuir a lucratividade. Mas as empresas não estão predispostas a fazer isso. A solução que oferecemos no livro é a regulamentação com regras claras, porque senão a motivação financeira vai puxar o volante para o outro lado.

De forma simplista as empresas de tecnologia respondem que, se o usuário não está gostando, que delete sua conta. Analogicamente Sahami explica que os fabricantes de carros inseguros poderiam dizer a mesma coisa: se acha inseguro, não ande em nossos carros. Mas, na época, centenas de pessoas morreram por conta da ausência de regulamentação no setor. Então foram criados semáforos e os códigos de mão e contra mão, sinalizações, etc.

- Precisamos fazer o mesmo na tecnologia, diz Sahami.

"Me preocupo profundamente com o fato de que, quanto mais criamos uma distração para passar tempo no metaverso, menos nos preocupamos com os problemas no mundo real."

Como resolver?

Ele sugere que todas as plataformas sociais, por exemplo, deveriam dar portabilidade permitindo que o usuário utilizasse de várias redes, com o mesmo APIs. Ele sugere a criação de uma política federal de privacidade, como na Europa que tem servido de modelo.

Por enquanto a democracia parece estar nas mãos de algumas plataformas que se acham no direito de decidir o que é certo ou errado baseando-se na amarração elaborada por alguns censores. Sem deliberação.

Sahami aconselha que as pessoas tem que ser mais céticas quando buscam no Google e o que encontram nem sempre é a verdade.

Questionado se o ideal não seria um padrão global, ele explica que isso seria impossível considerando regulamentações e culturas diferentes em cada país. Se nos Estados Unidos há mais tolerância para a liberdade de expressão na Alemanha será condenado quem promover o nazismo.

Fonte: Entrevista de Sahami ao Neofeed abordando o livro “System Error: Where Big Tech Went Wrong and How We Can Reboot” de autoria de Mehran Sahami, Rob Reich e Jeremy Weisntein.