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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O legado de Eizi Hirano

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Eizi Hirano, um dos mais importantes e respeitados empresários da fotografia no Brasil, fez história pelas ideias inovadoras e pelo seu espírito empreendedor. Sua marca registrada sempre foi a ousadia. Era admirado por diretores de gigantes multinacionais que não compreendiam como uma pequena empresa do interior, na época, ditava as regras para o milionário mercado da fotografia no Brasil.

Em certa ocasião, quando chegava ao local da inauguração de uma loja Jetcolor Cine Foto, o presidente da Kodak do Brasil, Mr. King, assustou-se com a presença de cinco mil pessoas na festa e exclamou:

“Meu Deus, isso é um case mundial pra ser analisado”. O americano referia-se a capacidade de Eizi Hirano massificar o que sempre foi elitizado, bem a gosto da multinacional que, na época, produzia câmeras populares. Isso ilustrava bem porque o menino pobre, filho de imigrantes japoneses, era respeitado em todo mundo.

 A agressividade do marketing de varejo impressionava. Ainda mais quando câmeras fotográficas, álbuns e porta-retratos eram ofertadas dentro de bancas, mais próprias para vender confecções baratas.

Em pouco tempo a rede Jetcolor tomou-se a segunda maior consumidora de filmes no país. Nessa época já eram 50 lojas, inclusive dentro de São Paulo, cuja invasão foi planejada com técnicas de guerrilha. O pensamento era dominar o interior, o segundo maior mercado consumidor do país, para depois, silenciosamente, invadir a capital. 

Suas ideias inovadoras começaram bem antes, quando os irmãos Jorge, Giro e Eizi assumiram a direção do Foto Ideal, de um tio, na década de 50. Ao invés de esperar pelos clientes, armavam-se de câmaras e saiam em busca deles. Em caravanas, fotografavam de casa em casa e, após, promoviam uma exposição de posters. Daí surgiu o Salão da Criança, que percorreu todo país. 

Mais tarde vieram os Bailes de Debutantes e Formaturas. A Cia Fotográfica Hirano descartou esses segmentos e, no final da década de 70, voltou às suas origens com as lojas de varejo, com um formato agressivo de vendas.

 Tupã mistura história de pioneirismo e tradição na fotografia, as quais valem ao município o título de Capital Brasileira das Fotos de Evento. Graças ao pioneirismo da família Hirano, a cidade hoje abriga mais de 60 empresas do segmento, empregando diretamente mais de mil pessoas e servindo como fonte de renda para mais de 150 microempresas na prestação de serviços e fabricação de álbuns.

Revista Tupã, 80 anos

“Eizi Hirano foi inédito naquilo que fez”, destaca o prefeito de Tupã, Waldemir Gonçalves Lopes. “A família deixou um legado e foi reconhecida nacionalmente. Eles gostavam e acreditavam em Tupã. Oxalá todos os empresários se inspirassem nesse exemplo de amor à cidade”. O empresário ainda exerce grande influência na área. Suas ideias ainda são atuais e copiadas pelo mercado brasileiro de fotografia. ‘Tudo que sei aprendi com o Hirano” - confessa Nelson Rocha, sócio de sua mulher Sueli numa empresa de reportagens fotográficas. Ambos foram funcionários de Eizi durante mais de 15 anos.

A cidade ainda é norteada pela fotografia, semente plantada pelos irmãos Hirano e regada pela ousadia e criatividade de um empreendedor que se tornou milionário e, mesmo assim, adorava comer mortadela, o principal prato de muitos natais na sua infância pobre.

Matéria da Revista de Tupã, produzida por nós para a comemoração dos 80 anos de Tupã. O lançamento e distribuição ocorreram durante a apresentação do documentário A História de Tupã, na Igreja Batista. Veja o documentário, em vídeo, neste link Eizi Hirano.

domingo, 28 de abril de 2013

O Corinthians perdeu o título mas eu não perdi a piada

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

As vezes ser criativo é uma necessidade.

O Corinthians estava na final contra o São Paulo FC. Na rádio eu brincava com os são paulinos e no jornal escrevia provocações contra o time adversário. Brincadeiras, apenas.

Na diretoria da empresa onde trabalhava, a Cia Fotográfica Hirano, todos eram são paulinos. Na reunião da sexta me alertaram que, se o timão perdesse, que eu nem me atrevesse aparecer lá. Dito e feito. O Corinthians perdeu o jogo e o título.

Eu não tinha como me ausentar na segunda. E lá fui eu trabalhar. 

Percebi que a multidão de são paulinos me aguardava em frente da empresa... pra me trucidar. Passei direto e procurei uma farmácia que começava erguer as portas e pedi ao farmacêutico Sakae pra enfaixar meu braço e parte do meu rosto e jogar bastante mercúrio cromo. Ele ficou estupefato:

- Joel, você tá louco? Não vejo nenhum machucado.
- Sakae, faça o que te peço e pronto. É questão de vida e morte - brinquei. 
O farmacêutico fez o que pedi, sugerindo com tantos curativos que eu tinha sofrido um acidente. Fui pra firma, entrei pelo estacionamento da diretoria e caminhei, sem ser visto, até minha sala.

Deu oito horas e meu telefone começou a tocar, sem parar. Todos queriam falar comigo. A secretária, orientada, dizia que eu não estava. 

- Cadê o corinthiano? - perguntou o  Diretor Eizi Hirano para minha secretária, ao lado do Paveloski e a cambada são paulina que invadiu a minha sala.

Quando eles me viram enfaixado, braço engessado e um monte de mercúrio e com uma cara de atropelado, levaram um susto. Um baita susto.

- O que foi isso Joel? - perguntou o Eizi, com cara de surpresa e muito dó.
- Mobiliete, uma mobilete me atropelou - contei com a boca torta e demonstrando dor.
- Vou chamar o motorista pra te levar pra casa. Fica lá descansando. Pelo amor de Deus, nem deveria ter vindo. Lamentável! - disse ele.

Eu, todo "machucado", vítima de um acidente, ainda estava lá, trabalhando. Entre comentários do tipo "essas mobiletes são um perigo" todos foram embora e se esqueceram do jogo. E de me gozarem pelo título perdido.

Depois do almoço voltei "normal", sem os falsos curativos.
Entrei e cumprimentei o porteiro mirim que me olhou com cara de surpreso do tipo "ué, cadê os curativos do atropelado". Em um minuto minha sala estava cheia de são paulinos, de novo.

- Filho da puta! A gente morrendo de dó e você tirou um sarro na nossa cara - disseram eles, rindo, porque a vontade de "me matar" já tinha passado. Foi muito engraçado.

As vezes ser criativo é questão de sobrevivência.
He, he, he! Eu morri, mas de rir.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Um hino na véspera de Natal


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Quase véspera de Natal a empresa em que eu era diretor de marketing, a Cia Fotográfica Hirano, promoveu sua tradicional festa de fim de ano. O evento foi realizado num grande anfiteatro e todos os seiscentos funcionários estavam lá. Coube-me a função de apresentador e, logo na abertura, interpretei uma mensagem que emocionou e fez chorar a platéia. Muito distante dos tradicionais e festivos textos natalinos, o que li era uma lição que levava qualquer um a refletir sobre a data e o questionar seu papel na face da terra.

O título era "Eu odeio o Natal" e o autor narrava a festa da ceia, risos, champagne, comida farta e muitos presentes quando alguém bate à porta. Era apenas um menino maltrapilho pedindo um pedaço de pão.

Naquele momento ele confronta a cena daquele pedinte faminto com o "natal" que se comemorava em sua casa. Imagina a família daquele garoto em torno de uma mesa simples, coberta por um plástico vagabundo e e se fartando de migalhas caídas de alguma mesa abundante . E chora ao se lembrar dos molambos, prostitutas, drogados e outras minorias perambulando pelas ruas como um cordão de desgraçados, sem futuro, sem esperanças. Por minha conta acrescento que é nesta época que as diferenças ficam muito mais evidentes. Terminada a mensagem, afastei-me do microfone e aguardei o final dos aplausos.

Durante longos segundos passei os olhos pela platéia observando a reação de cada um. Homens e mulheres choravam e, se muito, disfarçavam pra não deixar rolar algumas lágrimas. Outros soluçavam. Os diretores, postados à mesa de honra, no palco, não fizeram questão de demonstrar que foram tocados pela emoção da mensagem. Todos tinham os olhos úmidos e avermelhados. Findo os aplausos, aproximei-me do microfone e solicitei, em tom solene:

- Peço que todos estejam de pé, com a mão no coração e cantem o hino que o povo adora e ama em todo Brasil.

De pé e conforme pedira, vi os seiscentos funcionários e diretores se levantarem. Quando todos se postaram com a mão no peito, olhei para o lado - onde ficava o controle de som - e, com um aceno de cabeça, autorizei rodar o hino. O operador de som apertou a tecla de play e todos puderam ouvir a todo volume.

- Salve o Corinthians, campeão dos campeões, eternamente dentro dos nossos corações... Salve o Corinthians....

Certamente ouvi uns 595 funcionários cantando, aplaudindo, gargalhando e festejando a improvisada brincadeira que tomou conta do anfiteatro. Tomei o cuidado de arriscar um olhar para meu lado esquerdo, onde estavam os demais diretores. O Eizi Hirano, são paulino, desconcertado disse-me sorrindo:

- Segunda feira passa no DP que você será despedido, seu irreverente.
- Tudo bem Eizi, mas, por favor, você já pode tirar a mão do peito - respondi gargalhando ao ver que ele continuava "respeitosamente" com a mão no coração.

Durante longos e longos segundos só se ouviu risos descontraídos e muita comemoração. Instantes antes, todos estavam chorando.