Paulo de Tarso Venceslau, ex-petista e ex-secretário de Finanças da prefeitura de São José dos Campos, é economista e diretor de redação do Jornal Contato |
Por Paulo de Tarso Venceslau
O nome de Paulo Okamotto nas manchetes de jornais não é novidade. A imprensa insiste em mantê-lo nos cadernos políticos quando deveria confiná-lo nas páginas policiais. É a minha opinião por tudo o que conheci, e pelo meu convívio com essa misteriosa figura. Entre outras coisas, Okamotto é responsável pela administração das contas pessoais do ex-presidente desde o tempo em que Lula presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. A leitura doEstadão de 11 de dezembro provocou-me a sensação de estar vivendo de novo uma experiência já vivida. O chamado déjà vu.
Em 1979, durante a greve dos metalúrgicos do ABC, Okamotto fazia parte de um esquema paralelo. Seu nome constava de uma lista de dirigentes sindicais que deveriam assumir clandestinamente o controle do sindicato caso a diretoria eleita fosse presa pela polícia política. Nessa mesma ocasião, eu era um dos coordenadores da parte financeira do Fundo de Solidariedade que funcionava na Assembleia Legislativa de São Paulo. Chegava muita grana do exterior. O euro ainda não existia. Mas os dólares, francos e marcos eram muito bem recebidos. O administrador do sindicato, Sadao Higuchi, era quem encaminhava os recursos vindos do exterior a Okamotto.
Em 13 de junho de 1998, em plena campanha eleitoral, Sadao morreu “afogado” numa represa localizada nas proximidades de Bragança Paulista. Lula fez questão de suspender todas as atividades para participar das buscas. Quem conhece a represa, como eu conheço, não consegue entender o que aconteceu. Sadao morreu afogado, mas tinha uma contusão na cabeça. Ele teria caído n’água e o barco teria se chocado com ele. Pequeno enorme detalhe: tratava-se de um bote inflável.
Em 1992, o PT elegeu vários prefeitos no estado. Indicado por José Dirceu e Aloisio Mercadante, assumi a secretaria de Finanças de São José dos Campos. A empresa CPEM, representada pelo advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula, era a maior credora da prefeitura então comandada pela futura bailarina Ângela Guadagnin. A auditoria externa que contratei comprovou uma série de irregularidades. Informado pessoalmente por mim, Lula convocou Okamotto e ordenou-lhe que me acompanhasse numa conversa com seu compadre. Ou seja, enviou-me para conversar pessoalmente com o acusado.
Okamotto costumava circular pela prefeitura de São José em busca de lista de empresários credores. Ele não ocupava qualquer cargo no paço. Era evidente que buscava recursos paralelos, com anuência da então prefeita Ângela Guadagnin. No mesmo dia em que a auditoria externa encerrou seus trabalhos e me enviou o relatório, fui exonerado sumariamente a pedido de Paulo Okamotto e Paulo Frateschi, segundo me relatou a própria prefeita.
Algumas semanas antes da exoneração, sofri um atentado na então Rodovia dos Trabalhadores, hoje Ayrton Senna. O carro ocupado por três homens enormes tinha chapa fria, conforme informou a Polícia Civil onde registrei o boletim de ocorrência. Detalhe: o carro em que me encontrava era dirigido por um funcionário de carreira da prefeitura que, literalmente, urinou nas calças.
Quando Lula foi eleito em 2002, pensei seriamente em pedir asilo político em algum país europeu. Cheguei a ter pesadelos. Sonhava que Okamotto era chefe da Polícia Federal. Fui dissuadido por Lupércio Marques de Assis, meu sogro e advogado brilhante, que morreu logo após a posse do governo petista. Em 2006, durante a CPI dos Bingos, defrontei-me com Paulo Okamotto em uma acareação realizada no Congresso Nacional. Na ocasião, entreguei formalmente aos congressistas uma vasta documentação. Duvido que alguém tenha lido. O que mais me chamou a atenção foi o olhar de ódio com que Okamotto me encarava.
Faço esse breve relato para registrar que não tenho nenhum motivo para por em dúvida o depoimento de Marcos Valério, um dos responsáveis pelo mensalão que o levou a ser condenado a mais de 40 anos de prisão. Parece que foi para mim que Okamotto disse: “Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você. (…) Ou você se comporta, ou você morre.”