terça-feira, 20 de julho de 2021

Woke capitalism: Por que grandes corporações "esquerdizaram"?


"Se você tolera racismo, delete o Uber. Os negros tem o direito de se mover, sem medo".

Enquanto o Uber fazia sucesso com sua ação de marketing, após a morte de Jacob Blake, advogados da empresa tentavam evitar a aprovação de Lei do Estado da Califórnia que a obrigava considerar seus motoristas como funcionários de tempo integral e outras concessões de benefícios, inclusive de saúde.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Woke Capitalism - literalmente Acordou ou Despertou Capitalismo - é um termo cunhado pelo jornalista e colunista Ross Douthat, em um artigo no New York Times de 2015, para explicar uma prática que passou a ser utilizada, em larga escala, por grandes corporações em todo mundo: apoderar-se de bandeiras sociais... para lucrar mais.

Na verdade esse termo já existia entre corporações conservadoras, usado de forma irônica como um alerta para a "esquerdização corporativa". E esse ativismo corporativo encontrou nas questões sociais uma maneira de criar empatia junto ao público cada vez mais "politicamente correto" e aumentar as vendas dos seus produtos.

É perceptível, na publicidade das empresas de grande porte, campanhas propagandeando apoio à causas progressistas que nunca defenderam e sequer aplicam. Toda essa agitação tem sido, apenas, marketing para vender e lucrar mais.

Uma pesquisa da Axios/Momentive (que analisou o comportamento do americano diante de temas como capitalismo/socialismo/ desigualdade econômica) aponta que 42% dos consultados, entre 18 e 24 anos, tem uma visão positiva do capitalismo e 54% negativa. Há dois anos essa mesma pesquisa apontava 58% e 38%, respectivamente.

Os números mostram que a simpatia pelo progressismo socialista revela, também, a falta de conhecimento mínimo sobre o que são e o que não são os mercados livres e as liberdades individuais. Bom exemplo é Cuba, um país cuja economia e progresso causavam inveja ao Japão, Itália e Inglaterra antes de década de sessenta e que se transformou, após a "revolução socialista" em 1959, num estado economicamente destruído e sem liberdades. Quanto as bobagens apregoadas por alguns cientistas políticos sobre a saúde e a educação do povo cubano você pode ler a verdade no artigo grifado.

Depois de conviver com a fome e milhões de mortos durante o regime socialista de Mao Tse Tsung o povo chinês ainda prefere continuar sem liberdades individuais mas vivendo como capitalistas.

Idem o Vietnã que, após vencer a guerra contra os americanos, assistiu o fracasso do socialismo puro inspirado em Mao e tornou-se tão capitalista quanto russos e chineses que, tal e qual, jogaram no lixo as ideias de Karl.Marx.

Progressismo seletivo
 
Enquanto a Uber lançava sua campanha "Se você tolera o racismo, exclua o Uber”, referindo-se a morte do negro Jacob Blake, seus advogados batiam-se contra a aprovação da Lei AB5, do  Estado da Califórnia, que exige que seus motoristas sejam tratados como funcionários de tempo integral. A Uber dispendeu 30 milhões de dólares contra essa lei que concedia equidade de benefícios como estabilidade e cuidados a saúde. Detalhe: dois terços dos motoristas da Uber não são brancos.
  • Para Douthat, o Woke Capitalism é apenas um incenso aromatizado que logo passa. (Mas, se os lucros das empresas continuarem subindo, talvez não. A hipocrisia continuará.)
  • Wake: verbo acordar, parar de dormir.
  • Woke: tempo passado do verbo wake ou adjetivo de consciência política e social.

Ao contrário do mero oportunismo do Uber, a fabricante de sorvetes americana Ben & Jerry's posicionou-se em apoio a um projeto de lei que estuda os efeitos da escravidão e discriminação sem pretender criar uma "ação de marketing".

Negros americanos bebem Pepsi

O marketing para "atrair, capturar e converter leads" (ações de marketing digital para atrair potenciais consumidores para um produto) já era utilizado pela Pepsi, na guerra contra a Coca, nos anúncios e comerciais de televisão da década de 50/60, estrelados por famílias de negros, contrariando os filmes da concorrente atores brancos. As ações da empresa avançaram até os limites do marketing, sem inserir temas sociais e sem oportunismo. Mas o objetivo era vender mais que a concorrente.

Até hoje os negros americanos preferem a Pepsi que equilibrou a guerra das colas. Aliás, não foi por acaso que Michael Jackson estrelou filmes para a Pepsi. Seria considerado traidor se se se apresentasse tomando Coca.
A Pepsi atraiu o consumidor
afro americano na década de 40,
fiel à marca, até hoje.

Em outras ações, marcas como Coca, Omo, Natura, Boticário, Santander investiram em conteúdos que defendem a ideologia de gênero e, ao pedirem para não chamar seus filhos de príncipes, esperam uma elevação de vendas entre o público "progressista". Nos Estados Unidos o ativismo corporativo é intenso.

Bradesco x Patagônia

No Brasil o Bradesco atuou todo tempo, durante a pandemia, com vídeos carregados por trilhas que causavam apreensão e uma locução lamentando a solidão provocada no lockdown e a saudade das pessoas afastadas pelo distanciamento e... oferecendo ajuda pra salvar seu suado dinheirinho da bancarrota das ruas desertas e portas fechadas com aplicações em seus fundos.

O puro oportunismo do banco contrasta com a determinação de uma empresa americana (Patagônia) que manteve os salários dos seus funcionários mesmo com suas lojas fechadas durante a pandemia. Sem fazer demagogia pública. O Bradesco, entretanto, demitiu.

Agregando credibilidade, sem oportunismo

A Patagônia é uma grande empresa de roupas esportivas da Califórnia, muito conhecida por utilizar em suas publicidades argumentos bem transparentes. Certa vez advertiu o consumidor não comprar suas roupas mais caras, por impulso, orientando que refletissem sobre seus hábitos de consumo para evitar comprar além do necessário.

"Não compre outro agasalho se você puder reparar o que danificou" - aconselhava o anúncio. Conteúdos assim agregam credibilidade.

Parece que o americano médio já desconfia que está sendo ludibriado pelo ímpeto de algumas marcas em defesa de bandeiras sociais.