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terça-feira, 14 de outubro de 2014

Dilma fracassou, diz Ives Gandra Martins


Ives Gandra Martins: Minhas irritações com a presidente

Em 16 de março de 2011, publiquei nesta Folha um artigo em que apoiava a presidente Dilma e seu vice, Michel Temer –meu confrade em duas Academias e companheiro de conferências universitárias–, pelas ideias apresentadas para o combate à corrupção e a promoção do desenvolvimento nacional.

Como mero cidadão, não ligado a qualquer partido ou governo, tenho, quase quatro anos depois, o direito de expressar minha irritação com o fracasso de seu governo e com as afirmações não verdadeiras de que o Brasil economicamente é uma maravilha e que seu governo é o paladino da luta contra a corrupção.

Começo pela corrupção. Não é verdade que, graças a ela, os oito anos de assalto à maior empresa do Brasil, estão sendo rigorosamente investigados. Se quisesse mesmo fazê-lo, teria apoiado a CPI para apurar os fantásticos desvios, no Congresso Nacional.

A investigação se deve à independência e à qualidade da Polícia e do Ministério Público federais que agem com autonomia e não prestam vênia aos detentores do poder. Nem é verdade que demitiu o principal diretor envolvido. Este, ao pedir demissão, recebeu alcandorados elogios pelos serviços prestados!

Por outro lado, não é verdade que a economia vai bem. Vai muito mal. Os recordes sucessivos de baixo crescimento, culminando, em 2014, com um PIB previsto em 0,3% pelo FMI, demonstram que seu ministro da Fazenda especializou-se em nunca acertar prognósticos.

Acrescente-se que também não é verdade que controla a inflação, pois, se o PIB baixo decorresse de austeridade fiscal, estaria ela sob controle. O teto das metas, arranhado permanentemente, demonstra que a presidente gerou um baixo PIB e alta inflação.

Adotando a pior das formas de seu controle, que é o congelamento de tarifas, afetou a Petrobras e a Eletrobras, fragilizando o setor energético, além de destruir a indústria de etanol, sem perceber que desde Hamurabi (em torno de 1700 a.C.) e Diocleciano (301 d.C.) o controle de preços, que fere as leis da economia de mercado, fracassou, como se vê nas economias argentina e venezuelana, que estão em frangalhos.

O mais curioso é que o Plano Real, que tanto foi combatido por Lula e pelo PT, é o que ainda dá alguma sustentação à Presidência.

Em matéria de comércio internacional, os governos anteriores aos atuais conseguiram expressivos saldos na balança comercial, que foram eliminados pela presidente Dilma. Apenas com artimanhas de falsas exportações é que conseguiu obter inexpressivos saldos. O "superavit primário" nem vale a pena falar, pois os truques contábeis são tantos, que, se qualquer empresa privada os fizesse, teria autos de infração elevadíssimos.

Seu principal eleitor (o programa Bolsa Família) consome apenas 3% da receita tributária. Os 97% restantes são desperdiçados entre 22 mil cargos comissionados, 39 ministérios, obras superfaturadas, na visão do Tribunal de Contas da União, e incompletas.

Tenho, pois, como cidadão que elogiou Sua Senhoria, no início –para mim Sua Excelência é o cidadão, a quem a presidente deve servir–, o direito de, no fim de seu governo, mostrar a minha profunda decepção com o desastre econômico que gerou e que me preocupa ainda mais, por culpar os que criam riqueza e empregos em discurso que pretende, no estilo marxista, promover o conflito entre ricos e pobres.

Gostaria, neste artigo –ao lembrar as palavras de apoio daquele que escrevi neste mesmo jornal quase quatro anos atrás–, dizer que, infelizmente, o fracasso de seu projeto reduziu o país a um mero exportador de produtos primários, tornando este governo um desastre econômico.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 79, advogado, é professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Cenas de cinismo explícito

Por Clovis Rossi, 11.09.2014

É de ilimitada desfaçatez a campanha de Dilma Rousseff contra a proposta de autonomia do Banco Central, lançada por sua principal adversária, Marina Silva. Desfaçatez porque o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, do qual Dilma foi gerente e ao qual deve sua eleição, fez até mais do que Marina está propondo, conforme já mencionaram tanto Fernando Rodrigues como Vinicius Torres Freire.

Primeiro, Lula fez o que Dilma diz que Marina fará: entregou o BC aos banqueiros, ao indicar um deles, Henrique de Campos Meirelles, para comandar a instituição, posto que exerceu durante todos os oito anos do governo anterior.

Segundo, Lula deu à presidência do BC o status de ministério, ou seja, tirou-o da subordinação ao Ministério da Fazenda. O ministro não podia mais, portanto, dar ordens a Meirelles, cujos instintos são indiscutivelmente pró-mercado (basta ler seus artigos dominicais nesta mesma Folha).

Terceiro, Lula aceitou que Meirelles comandasse na prática a política econômica, ao ser ele quem fixava pelo menos dois dos preços essenciais de qualquer economia, o do dinheiro (juros) e o do câmbio.

Se é verdade que aumentar juros é fazer o jogo dos banqueiros, como insinua a propaganda de Dilma, então Meirelles jogou o jogo, no governo de que ela era gerente. Quando assumiu, Meirelles elevou os juros já obscenamente altos (25%) para 26,5%. Cruzei com ele em Davos e perguntei como convencera Lula a aceitar. Meirelles contou que dissera ao presidente que, no Brasil, sempre que a inflação chega a dois dígitos dispara. Não chega a ser ciência, mas bastava para dobrar o presidente. Quem não se lembra da inglória cruzada do então vice-presidente José Alencar contra os juros altos? Perdeu sempre.

Lembro-me também de uma vez em que os juros subiram e eu pedi a opinião de Luiz Fernando Furlan, industrial então vestido de ministro (da Indústria, Comércio e Desenvolvimento). Respondeu Furlan: Meirelles fez o que o mercado queria.

O pior, para a tese de Dilma, é que o desempenho da economia na gestão Meirelles, egresso do setor financeiro, foi imensamente melhor do que no período de um BC comandado por um funcionário de carreira, como Alexandre Tombini: o crescimento foi muito maior, a inflação raramente namorou o teto da meta, houve exuberante criação de emprego e a renda salarial cresceu.

Daria, portanto, para dizer que entregar o BC ao mercado financeiro dá mais resultados que reservá-lo para funcionários do governo. Não vou, no entanto, repetir Dilma e cair nesse simplismo. Dar autonomia ao BC é entregar a funcionários não eleitos e, portanto, que não respondem ao público por seus atos o que é de responsabilidade dos eleitos.

Mas Dilma é a última pessoa a ter autoridade política para atacar a autonomia, até porque ela, como seus dois antecessores, dedica à bolsa-juros a maior fatia relativa do orçamento, o que só os nanicos Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro (PSOL) têm a coragem de dizer nos debates.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Importar médicos para trabalhar em hospitais falidos?

Uma reportagem da Folha, no Amapá, mostra que o problema não é falta de médico, mas de estrutura hospitalar. O que médicos cubanos, espanhóis e portugueses virão fazer aqui se os hospitais estão desabastecidos. Falta de tudo, até medicamentos mais simples, como diclofenaco. Os altos salários para médicos anunciados geralmente são falsos: os valores são ínfimos e tenta-se incluir plantões para melhorar os valores.

Ao contrário disso, Dilma Rousseff, demagogicamente, diz que vai trazer médicos de fora para amainar as críticas ao sistema de saúde que vive um caos. Morre-se nas filas e corredores de hospitais mas,na TV a propaganda diz que tudo está maravilhoso. O povo percebe e denuncia a mentira.

Um médico, uma caneta e um carimbo não resolvem nada, afirmam profissionais de saúde.