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Cidades pobres do Ceará que adotaram o método fônico surram escolas paulistas que insistem no método global, que não alfabetiza. Mesmo assim, os doutores em educação continuam insistindo no erro. |
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza
Brejo Santo, uma pequena cidade cearense de 48 mil habitantes, tem melhor educação básica que Tupã, conforme mostra o Ideb de 2017 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), principal avaliação da qualidade do ensino no país. Enquanto Tupã, cidade com 60 mil habitantes, conseguiu 6,7 pontos (a meta era 6,5), Brejo Santo bateu 7,9, (a meta era muito acima da meta estabelecida.
O que impressiona é rápida evolução da cidade cearense: ela saltou de 2,9 em 2007 para 7,9 em 2017 - cinco pontos, em 10 anos - enquanto Tupã se arrastou abaixo da meta e só em 2017 conseguiu tirar o nariz pra fora da água saindo de 5 pontos em 2007 para 6,7. Uma evolução de apenas 1,7, em 10 anos.
A EVOLUÇÃO DE BREJO SANTO PELO MÉTODO FÔNICO
O Estado do Ceará rompeu com as invencionices pedagógicas do sócio construtivismo (método de alfabetização lastreado em teorias do suíço Jean Piaget) e adotou o método fônico. Com ele, as crianças da rede municipal conseguem ser alfabetizadas em menos de um ano e alunos do 5º ano chegam a 100% de aproveitamento em matemática, por exemplo. As crianças de muitas escolas da cidade disputam o recreio com as galinhas, no pátio de chão batido. O maior investimento foi na troca do método de alfabetização e grande suporte na atualização dos professores. Muitas cidades paulistas também adotaram o fônico com excelentes resultados.
O neurocientista francês Stanislas Dehaene há 30 anos estuda o impacto dos números e das letras no cérebro humano. Ele afirma que o método mais eficaz de alfabetização é o que chamamos fônico. Ele parte do ensino das letras e da correspondência fonética de cada uma delas, como se fazia antigamente. Estudos mostraram que a criança alfabetizada por esse método aprende a ler de forma mais rápida e eficiente com excelente interpretação de texto.
BREJO SANTO: Entre 2007 e 2017, Brejo Santo subiu 5 pontos. Seu Ideb, de 7,9, está muito acima da meta Brasil de 5,2. O índice de aprendizado de 8,01 é considerado excelente. Neste item a pequena cidade cearense também vence São Paulo (6,1) e a maioria das capitais e grandes centros, como Campinas (6,4).
BREJO SANTO: A média de proficiência em português e matemática coloca a rede municipal cearense nos níveis 6 e 7, numa escala de 9 níveis do Saeb. Em algumas escolas o aproveitamento de matemática no 5º ano chega a 100%. Sobral, também no Ceará, obteve 9,1 no Ideb de 2017 e altíssimos níveis de proficiência não alcançados por nenhuma escola construtivista. O método utilizado é o fônico que alfabetiza até 99% dos alunos no primeiro ano do ensino básico. As altas notas de proficiência em matemática demonstram o excelente grau de alfabetização. No método construtivista alunos tem sérias dificuldades para compreender um simples enunciado de matemática.
TUPÃ: Apesar de mais rica e com nível IDH maior, a cidade passou uma década bem abaixo da média do Ideb e sua evolução foi pequena: apenas 1,7 pontos ou 0,17 por ano. Apenas entre 2007 e 2009 a educação de Tupã ganhou certo fôlego mas despois voltou a afundar. Apesar da estagnação, seus secretários da educação preferem manter o sócio construtivismo contrariando a neurociência e os resultados. As telas abaixo mostram o indicador de aprendizado e a evolução lenta da rede municipal de Tupã.
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Tupã: O índice de proficiência de português atingiu 228,66 na escala Saeb (30,92 pontos menos que Brejo Santo) e 248,63 de matemática (30,95 pontos menos que Brejo Santo) |
E por que o método global/construtivista é ineficaz?
Neste método, primeiro, se deve aprender o significado da palavra e, numa próxima etapa, as letras que a compõem. O resultado é catastrófico: a criança que deveria ser alfabetizada em menos de um ano pelo fônico vai precisar de mais 3 para aprender escrever e ler de forma rudimentar e sem boa compreensão do texto. Elas terminarão seu ciclo sem se alfabetizar e entrarão no ensino médio, na rede pública, sem ter compreensão do que leem. Alguém contesta essa realidade nas escolas públicas do país? Os resultados estão em todas as avaliações produzidas pelo próprio sistema.
Dehaene, o neurocientista francês, explica que se verificou em pesquisas com pessoas de diferentes idiomas que o aprendizado da linguagem se dá a partir da identificação da letra e do som correspondente. Esse processo ocorre no lado esquerdo do cérebro. No método construtivista a criança primeiro aprende o sentido da palavra, sem necessariamente conhecer as letras. Neste caso o lado direito do cérebro é ativado. Mas a decodificação dos símbolos terá que chegar ao lado esquerdo para que a leitura seja concluída. Para Dehaene é um processo mais demorado, que segue na via contrária ao funcionamento do cérebro.
- Num certo sentido, podemos dizer que esse método ensina o lado errado, primeiro. Porém, as crianças que aprendem a ler processando primeiro o lado esquerdo do cérebro (método fônico) estabelecem relações imediatas entre letras e seus sons, leem com mais facilidade e entendem mais rapidamente o significado do que estão lendo - diz o neurocientista.
Doutor em desenvolvimento da cognição e psicolinguística, o português José Morais defende o envolvimento da neurociência na alfabetização para reformar os pensamentos pedagógicos. Ele diz que a psicologia cognitiva mostra que a leitura de textos não é uma elaboração contínua de hipóteses sobre as palavras do texto, mas sim, um processo automático, não intencional e muito complexo de processamento das letras e das unidades da estrutura fono-ortográfica de cada palavra, que conduz ao seu reconhecimento ou à sua identificação.
E como é essa relação entre a atividade cerebral e a leitura? Em matéria de O Globo, em 2014, José Morais (nada a ver com um homônimo do MEC, por favor, não confundam) diz:
- A leitura visual não se faz nos olhos, mas no cérebro — a retina, embriologicamente, faz parte do cérebro. Não há leitura sem uma atividade cerebral que mobiliza vastas regiões do cérebro e, em primeiro lugar, a chamada Área da Forma Visual das Palavras. Ela se situa no hemisfério esquerdo do cérebro e não é ativada por palavras escritas nos indivíduos analfabetos. Nos alfabetizados ela é ativada fortemente, e o seu grau de ativação aumenta à medida que a criança aprende a ler.
No leitor competente, a leitura de um texto baseia-se no reconhecimento ou na identificação das palavras escritas sucessivamente. À medida que elas são processadas, essa informação é enviada para outras áreas cerebrais que se ocupam do processamento da língua, independentemente da modalidade perceptiva (em particular, o processamento semântico e sintáxico), assim como da codificação da informação na memória de trabalho verbal e do acesso à memória a longo prazo. Tudo isso permite a compreensão do texto e a sua interpretação e avaliação.
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