Aliar-se à tecnologias para melhorar a educação: como fazer isso com professores analfabetos digitais? |
Por Edson Joel
Alessandra entrou na sala dos professores e, entusiasmada, anunciou a descoberta fantástica que acabara de fazer:
- Gente, descobri que existe um tal de Google Map onde você coloca o endereço de destino e ele traça a rota mostrando como chegar lá. E ainda pinta o caminho de azul. Não é maravilhoso?
- Gente, descobri que existe um tal de Google Map onde você coloca o endereço de destino e ele traça a rota mostrando como chegar lá. E ainda pinta o caminho de azul. Não é maravilhoso?
Se a descoberta da professora Alessandra, de 45 anos, tivesse ocorrida há 11 anos, ótimo. Mas isso tem apenas dois anos e mostra o enorme abismo entre professores e alunos. Como educar uma geração que nasce com smatphone nas mãos e caça pokémons se os professores são analfabetos digitais e ainda utilizam teorias mofadas de séculos passados como seu principal instrumento de alfabetização?
As tecnologias deveriam fazer parte do cotidiano escolar e, no lugar de pokémons, os alunos e seus professores caçariam verbos, adjetivos e soluções matemáticas "escondidos" nas salas de aulas. Os professores deveriam estar, pelo menos, nivelados com o grau de domínio dos seus alunos sobre tecnologias, mas, pasmem, a maioria é analfabeta digital e mal domina seu próprio celular. Estão apavorados com a implantação das secretarias digitais (que estão chegando com um atraso de 20 anos) e insistem em preencher as velhas talas, manualmente.
- Agora que eu estou quase me aposentando não quero saber dessa tal secretaria digital, Deus me livre - disse uma professora, no alto dos seus quase 50 anos. Oras, como entender uma colocação dessas, dentro de um ambiente que tem como única proposta a promoção do conhecimento? Por que a Secretaria da Educação não organiza cursos para treinar esse pessoal que treme ao ouvir falar de computador?
- Agora que eu estou quase me aposentando não quero saber dessa tal secretaria digital, Deus me livre - disse uma professora, no alto dos seus quase 50 anos. Oras, como entender uma colocação dessas, dentro de um ambiente que tem como única proposta a promoção do conhecimento? Por que a Secretaria da Educação não organiza cursos para treinar esse pessoal que treme ao ouvir falar de computador?
Mas a culpa pelo caos na educação do país não está apenas na ausência de tecnologias nas salas de aulas ou no despreparo do professor - o menos culpado -, mas nos métodos de alfabetização que não alfabetizam e nas invencionices pedagógicas. E quem diz isso é José Morais, português especialista em alfabetização, emérito da Universidade de Bruxelas, doutor em desenvolvimento da cognição e psicolinguística que defende a neurociência na sala de aula.
O resultado é esse que já conhecemos: o Ensino Básico do Brasil está nas posições mais baixas nas avaliações coordenadas pela UNESCO, na América Latina (em leitura, matemática e ciência ficamos nas posições mais baixas (I e II, de uma escala que vai até IV) e 60º lugar no PISA, de 72 países avaliados). No Enem 2014 o Ensino Médio, da rede pública, deu novo e enorme vexame.
Cognitivamente - segundo a neurociência - a criança pode aprender a ler aos 5 anos sem influenciar na maior ou menor habilidade para a leitura. Pelo método fônico uma criança brasileira pode se alfabetizar em menos de um ano, com excelente velocidade de leitura e compreensão.
Sabendo ler e entender o que leem, já no primeiro ano do Ensino Fundamental, a criança construirá, então, seu conhecimento, com muito mais facilidade e sem necessidade de se criar "programas de incentivos de leitura" que não conseguirão nenhum bom resultado entre analfabetos.
Em muitas cidades brasileiras o atual método de alfabetização (abençoado pelo Ministério da Educação e endeusado pelos intelectuais unespianos), foi colocado de lado e os resultados apareceram rapidamente. Por exemplo, Brejo Santo, uma pequena cidade com 45 mil habitantes, no Ceará cuja renda per capita é 70% menor que a média nacional, consegue alfabetizar seus alunos já no primeiro ano do Ensino Fundamental (99%) e seus alunos do 5º ano obtiveram excelente aproveitamento em matemática. Muitas unidades da rede da rede municipal chegam a 100%. O IDEB de Brejo Santo, há seis anos, era de 2,9. Hoje, 7,2, melhor que muitas capitais do país. Sabem o segredo? As invencionices construtivistas foram deixadas de lado e o método fônico foi aplicado.
Antes, a justificativa para o fracasso recaia no fato da comunidade escolar ser de baixíssima renda. Pois a mesma comunidade pobre, em menos de 6 anos, deu a volta por cima. Mais um mito derrubado. Na verdade, mais uma desculpa dada pelos pseudo pedagogos do Ministério da Educação contrariada na raiz do problema.
Basta lembrar que os dados do PISA mostram que os alunos mais pobres de Xangai sabem mais matemática que os alunos mais ricos dos Estados Unidos e Europa. Os defensores das teorias se calaram diante da constatação divulgada pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes - programa criado e ainda coordenado pelo matemático, físico e estatístico alemão Andreas Schleicher - que também fez o favor de publicar outros números que derrubaram vários mitos da educação.
Atualização em 26.08.2016
Uma diretora de escola infantil de Bruxelas criou um aplicativo que caça livros ao invés de Pokémons. Os livros são espalhados pela cidade e os "caçadores" vão busca-los. Depois de ler, devolvem nos endereços indicados.