quinta-feira, 26 de março de 2020

O mapa do corona: os mortos em cada país

O vírus se espalha e mata mais na Itália e menos na Alemanha. A imigração chinesa em Prato, ao norte da Itália e a discriminação da comunidade com mais de 300 mil no país.
Por Edson Joel Hirano Kamamkura de Souza

Exatamente 351 mil pessoas estão infectadas pelo corona vírus ao redor do mundo, neste momento e 22.165 morreram. Entre contaminados, recuperados e mortos, a China lidera o ranking com 81.285, seguido da Itália com 74.386, Estados Unidos com 69.219. 

Um dos países que mais chama a atenção pela incidência é a Itália com mais de 57 mil casos ativos e mais de 7.500 mortos. Vários fatores são analisados para explicar quais motivos levaram o país carregar a liderança na lista de mortos por conta do virus corona, chamado Covid-19. Até ontem os americanos registraram mais de 1.324 mortos e 65 mil contaminados.

O Brasil tem 2.554 casos registrados com 59 mortos. No Estado de São Paulo são 862 casos e Rio de Janeiro, 370.

Imigração chinesa na Itália

Prato, cidade italiana da região de Toscana, com 200 mil habitantes tem, pelo menos, 25 mil chineses que chegaram à região – procedentes de Weinzhou – para ocupar as tecelagens falidas da região que era conhecida como centro têxtil do país.

Os imigrantes – a maioria sem documentos – abriram novas fábricas e comércios diversos na região. As tecelagens equiparam-se com tecnologia chinesa e passaram a produzir roupas no estilo Made In Italy, preferidos pelas mulheres chinesas. Os empregos para nativos caíram drasticamente e passaram a ser ocupados também por imigrantes africanos. A produção local de roupas inunda as cidades italianas, espanholas e alemãs. Prato é a maior concentração de imigrantes do país – cerca de 25% - contra uma média de 6% em todo país.

Hoje a comunidade chinesa na Itália chega a 300 mil e passa dificuldades por conta da pandemia. Os casos de agressão e discriminação são grandes. Os jovens estudantes da comunidade sofrem intensa dificuldade. O comércio entre China e Itália atinge 40 bilhões de euros.

Italianos acusam, chineses se defendem

Apesar da Itália ter se tornado o país com maior número de infectados e mortos na pandemia, fora da China, a comunidade chinesa diz que nenhum Ítalo-Chinês teria sido infectado. As acusações associam ao fato de que o vírus que proliferou na China foi trazido para o norte da Itália - onde há grande concentração de chineses - durante as visitas que fizeram aos parentes no ano novo chinês, quando o país fica 30 dias em comemorações. 

O corona surgiu entre setembro e dezembro na China e a explosão da contaminação ocorreu no começo do ano naquele país, exatamente durante as comemorações. Essa coincidência de fatos e datas são suficientes para muitos acreditarem que o vírus se espalhou rápido na Itália, principalmente no norte.

Elogios e críticas

O alemão Thorsten Benner é,diretor do Instituto de Política Pública Global em Berlim ao mesmo tempo que agradeceu as doações e ajuda, criticou a China afirmando 
“ser grande a culpa do governo chinês que a epidemia tenha sido capaz de se espalhar tanto.” A ditadura chinesa demorou semanas para alertar a comunidade mundial sobre a existência do corona e isso permitiu seu alastramento.

Os mortos na Itália

Até ontem a Itália contabilizava 7.503 mortos desde o início da pandemia do corona e nas últimas 24 horas houve queda nesse registro. São mais de 58 mil contaminados, ainda.  Bergamo, Lombardia e Emilia-Romanha são as áreas mais afetadas. A Itália é um país com percentual de idosos grande mas os próprios italianos afirmam que o sistema de saúde do país é falho e o grande número de mortos decorre disso. Outro fator levantado é a maior concentração de pessoas, por m2.

Alemanha: letalidade menor

Opostamente a baixa qualidade e eficácia do sistema de saúde da Itália - onde o índice de letalidade chegou a 8,4%, - o número de mortos vítimas do vírus na Alemanha é um dos mais baixos do mundo: 0,4%.

As casas na Alemanha tem número baixo de ocupantes e seu sistema de saúde é um dos melhores da Europa. Foram registrados 22.700 casos de infecções e 86 mortes (dados do dia 22 de março). No mundo a média do índice de mortalidade é de 3,4%. Resta citar que  a Alemanha é o país com o maior número de idosos da Europa, abaixo apenas da Itália: 25%.

Média de idade dos contaminados

Na Alemanha a média de idade é 47 anos e pouco mais de 18% tem acima de 60 anos. Na Espanha os idosos infectados são 48% e na Itália, 58%.

Hospitais

A qualidade do sistema de saúde alemão deve ser considerado com fato principal para o baixo número de vitimas fatais do corona. Existem 25 mil leitos de UTI disponíveis no país (algo em torno de 30 leitos para cada 100 mil habitantes) enquanto a França tem 7 mil, Inglaterra e Itália 5 mil. Os Estados Unidos lideram em número de leitos/100 mil habitantes: 34,5.

segunda-feira, 23 de março de 2020

As doenças que mais matam, além do corona

Até hoje o índice de letalidade do vírus na Itália é de 8%, Espanha 4%, França 2% e Alemanha,0,36%. A pneumonia, entretanto, mata uma criança abaixo de 5 anos, a cada 39 segundos em todo mundo.
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

As bolsas de valores despencaram em todo mundo diante de incertezas do mercado financeiro, escolas e comércio fechados, concentrações populares proibidas, estoques de comida e higiene com supermercados lotados tem sido comum nos Estados Unidos - já acostumados a estocar a cada advento de furações - caminham para uma histeria mundial.

A história mostra que o planeta já enfrentou doenças piores sem poder se socorrer às ciências e tecnologias sob domínio humano, hoje. Comparada a outras doenças, o vírus corona é infinitamente menos letal mas está provocando mais susto. 

Diante da abrangência do vírus, a Organização Mundial da Saúde tachou como pandemia e gerou especulações em todo planeta. O Covid-19, como tecnicamente o vírus corona é denominado, por enquanto, atingiu mais de 115 países e sua contaminação ocorre, agora, mais fora da China, onde começou e sua transmissão quase cessou. O índice de letalidade do vírus na Itália foi de 8%, Espanha 4%, França 2% e Alemanha apenas 0,36%.

O corona é uma família conhecida de 7 vírus que infectam humanos e pode provocar a Síndrome Respiratória  Aguda Grave, conhecida pela sigla Sars que, em 2002, infectou mais de 8 mil pessoas na China e destas, matou 800. A doença pode evoluir desde uma simples gripe até a morte do infectado. Essa linha de vírus é conhecida desde 1960.
_____________________________          

Os sintomas são febre, tosse e grande dificuldade na respiração. Pode evoluir para um quadro mais grave causando pneumonia e a síndrome respiratória e causar, também, insuficiência renal.
_____________________________          

Sem histerias

Diante desse vírus pode ser melhor agir com excesso de zelo que omissão. Mas é preciso alertar para o risco de se criar histeria por falta de informações científicas ou diante de tantas notícias pela imprensa e replicada, com ou sem distorções, nas redes sociais.

Na televisão o médico Dráuzio Varella disse que o corona vírus, na maioria das vezes, não provoca uma doença grave.

"Se você perguntar se o vírus provoca uma doença grave, na grande maioria das vezes, não. Provoca um quadro benigno, muito semelhante ao dos resfriados. Mas existe uma pequena porcentagem que vai ter complicações pulmonares. Quem são elas? São os mais velhos, os que têm mais de 70, 80 anos. Os que têm doenças crônicas como pressão alta descontrolada, diabetes descompensada, insuficiência cardíaca, renal, doenças que comprometem o funcionamento do sistema imunológico e os fumantes."

Doenças e ocorrências que matam muito mais que o corona e não assustam

Antes do corona vírus existem números muito mais assustadores que a maioria da população desconhece. Por exemplo: se em 4 meses o corona matou 13.000 pessoas em todo mundo, a cada 6 dias a pneumonia mata 13.200 crianças, menores de 5 anos, no mundo.

Em Portugal, a pneumonia comum mata 16 pessoas por dia, segundo dados da OMS. São 450 mortes, por mês entre adultos, só em Portugal, mas isso nunca gerou a histeria jornalística que se percebe hoje com o corona vírus.

No Brasil, por hora, as doenças do coração matam 40 pessoas, por hora, isto é, 960 pessoas por dia, 28.800 por mês, 345.000 por ano.


Em nosso país morrem cinco pessoas, por hora, vítimas de acidentes de trânsito, 3.600/mês, 43.200/ano.

Até outubro de 2019 morreram 77 pessoas, por mês, vítimas da dengue num total de 700 pessoas. Curiosamente a população se "acostumou" com essa incidência?    

Em resumo, a cardiopatia isquêmica, acidente vascular cerebral, doença pulmonar obstrutiva grave, infecções das vias respiratórias inferiores, alzheimar, câncer de pulmão, diabete mellitus, acidentes de trânsito, doenças diarreicas e tuberculose são as doenças que mais matam no mundo.

E a descoberta de novos vírus ocorre com frequência, afirmam os virologistas de todo mundo. E o planeta já passou por pandemias assustadoras e se resolveu. As piores vírus e doenças que mais mataram no mundo estão listadas abaixo:

1) Gripe Espanhola
No fim da 1º Guerra Mundial, entre 1918 até 1919, uma gripe chamada de espanhola matou entre 50 a 100 milhões de pessoas. Apesar de se chamar espanhola ela começou na América do Norte, mais exatamente em 1918, no estado do Kansas, sendo levada para a Europa por soldados americanos. A gripe espalhou-se pelos cinco continentes e o Brasil registrou 35 mil mortes.

2) Peste Negra
No século 14 a Peste Negra matou cerca de 20 milhões de pessoas no planeta durante cinco anos.

3) Câncer
O câncer mata cerca de 7,6 milhões de pessoas por ano.

4) Tifo
Somente na Rússia foram 3 milhões de mortos pelo tifo no começo do século 20. O tifo hoje mata 0,2 pessoas, por milhão de habitantes.

5) AIDS
Identificado na década de 80 o vírus continua matando 1,5 milhão por ano, em todo mundo. Apesar das campanhas de prevenção existem mais de 35 milhões de contaminados, em todo mundo.

6) Tuberculose
A tuberculose, em 2012. matou 1,3 milhões de pessoas. Cerca de 8,5 milhões de casos foram notificados no mundo.

7) Malária
Transmitida por mosquitos, os novos casos de malária atingem 300 milhões a 500 milhões, todos os anos. Aproximadamente 1 milhão de pessoas morrem, anualmente,]devido à malária.

8) Sarampo
A morte causada pelo sarampo chegou a 2,5 milhões ao ano antes do início da vacinação em massa na década de 1980. Antes da vacinação extensiva contra a doença na década de 1980, a taxa de óbitos globais era de 2.6 milhões ao ano. Em 2011, o índice se encontrava em apenas 150 mil mortes anuais em todo o mundo.

9) Acidente Vasculares EncefálicosEstas ocorrências matam, anualmente só nos Estados Unidos, mais de 138 mil pessoas.

10) Varíola
Surtos de varíola, em várias partes do mundo, mataram milhões de pessoas. Hoje considera-se erradicada.

Leituras relacionadas:

Surto: Aparecimento de uma doença em determinado momento em uma região, cuja frequência é maior que as doenças menos incidentes, afetando sua população. Epidemia: Trata-se de um surto maior cobrindo uma região mais extensa e com registro de casos abrangendo uma população por determinado agente e tempo. Pandemia: Trata-se da ocorrência registrado por nova doença com possibilidade de disseminação e abrangência mundial. Mas a própria OMS, estranhamente não conseguiu, até esta data, esclarecer porque tal vírus foi considerado pandemia como ocorrera com o ebola e com a gripe suína.

quinta-feira, 19 de março de 2020

Fernando Capovilla: nenhuma criança deve ser deixada para trás!


Por Carlos Nadalin

Fernando Capovilla é uma das maiores autoridades em alfabetização no Brasil, fala sobre a alfabetização fônica para crianças com dislexia, autismo, surdez, deficiência visual, deficiência intelectual.


PROF. CARLOS NADALIN: Fernando, com muita frequência recebemos perguntas de pais que dizem o seguinte: “Meu filho é autista, tem déficit de atenção ou síndrome de Down. Na hora da alfabetização posso usar as dicas do blog Como Educar Seus Filhos ou devo adotar outras estratégias?”. Você sabe que nós seguimos uma abordagem fônica, mas os pais têm essa dúvida.

PROF. CAPOVILLA: Perfeito! O método mais indicado para a alfabetização é o método fônico. Porém ele sempre deve ser adaptado às necessidades do educando. No caso do surdo, por exemplo, o método fônico deve ser precedido da língua de sinais ou, se a criança tiver um implante coclear de reabilitação auditiva, com o nosso método de leitura orofacial.

No caso de deficiência intelectual, síndrome de Down, existe uma redução da abstração, o que pode comprometer o método fônico apenas um pouco, mas apenas se você não fizer uso de atividades para compensar a falta de abstração. Essas estratégias sempre fazem uso do apoio em objetos. Por exemplo, quando faço uma tarefa de transposição silábica como: pata/tapa, bolo/lobo ou transposição fonêmica e/l/o e o/l/e, sempre dou um apoio visual, colocando uma sílaba numa caixinha colorida. Ou seja, você dá o apoio visual e assim a criança com deficiência intelectual consegue fazer as atividades metafonológicas e fônicas. É o método fônico com leves adaptações, sempre.

No caso do transtorno do espectro autista também é o método fônico o mais recomendado.

E acontecem fenômenos fascinantes, pois cada quadro tem sua assinatura. Uma das assinaturas da criança que nasce cega é não perceber os sons da fala cujas formas de boca sejam muito conspicuamente distintas ou semi-homófonas, porque ela nasceu cega.

Fernando Capovilla 
Um exemplo: [n] e [m] parecem iguais, mas são bem diferentes para quem tem visão. A criança que nasce cega não percebe a diferença entre [n] e [m]. Já a criança que nasceu vidente ouve e vê e por isso adquire mais facilmente essa compreensão.

Para a criança que nasceu cega é preciso adaptar o método fônico para o tato, e isso se pode fazer facilmente. Veja, [n] e [m] são muito distintos ao tato, da mesma maneira que [z] e [s]: [z] é vozeado, porque as pregas vocálicas vibram, enquanto [s] não é vozeado.

Veja como a vibração das cordas vocais são diferentes. Por exemplo, “em vaca”, “vibra” e “faca” não vibra. Temos então recursos para que a criança possa perceber a diferença entre os sons, dependendo de sua integridade sensorial. A criança que nasceu cega dependerá da audição, mas nos casos de homofonia o tato é a solução.

A criança com transtorno do espectro autista tem um fenômeno fascinante: ela faz menos contato ocular com o professor e portanto com a boca. Adivinhe, existe aí um comprometimento da leitura orofacial. Os sons que são muito distintos visualmente mas parecidos fonologicamente são os sons onde pode haver erros. A ciência serve para percebermos onde a criança está sofrendo e suprir essas necessidades. A ciência está aí como tecnologia e suporte acadêmico-pedagógico ao professor para fazer a criança brilhar.

Melhor método para TEA? Fônico! Melhor método para alfabetização de criança com deficiência intelectual? Fônico, com suporte! Para o disléxico? Não tenho dúvida! O método fônico previne a dislexia. Em gêmeos univitelinos, monozigóticos, teve altíssimo sucesso – em pré-alfabetização, com intervenção precoce, quando a plasticidade neural é máxima, na janela do desenvolvimento da linguagem.

O método fônico, sempre ele! Por quê? Porque a escrita mapeia a fala. Por isso a fala deve ser tornada muito conspicuamente discernível à criança de maneiras diferentes, dependendo da modalidade sensorial da criança que se encontra comprometida ou da modalidade neurolingüística que se encontra comprometida, como no caso da dislexia, da disortografia, que é a dificuldade de escrever por conta do código da escrita. Cada quadro – dislexia, disortografia, distúrbio de processamento auditivo central, transtorno do espectro autista, deficiência intelectual, distúrbio do sistema vestibular – onde se pode usar o método fônico amparado pela psicomotricidade – e, no caso, obviamente da língua de sinais para a criança surda ou implantada, o uso da língua de sinais com o método fônico com apoio visual.

Veja que interessante: a criança que nasce surda não tem acesso à heterofonia e vai usar a língua de sinais e tentar fazer a leitura orofacial da fala. Veja: “bico” e “mico” são sons faciais distintos, mas e nos casos de [p], [b] e [m]? Esses sons são iguais à visão, são homoscópicos. Como fazer? A criança é surda, e as unidades da fala são iguais à visão. O que fazer? Há várias estratégias. Quando digo para a criança “mico”, posso fazer com a mão a forma da letra “m” em linguagem de sinais. Já em “bico” posso fazer o sinal de “b”. Enfim, posso adotar várias estratégias.

A criança com a sua preciosidade nos convida a fazer uso da ciência para compreendê-la em profundidade e para dar a ela aquilo de que ela precisa. Nenhuma criança deve ser deixada para trás! É para isso que a ciência existe.

PROF. CARLOS: Perfeito! Capovilla, no meu curso Ensine Seus Filhos a Ler – Pré-Alfabetização, vários pais de crianças com autismo, síndrome de Down sempre enviam perguntas sobre essas adaptações e sempre digo o mesmo: “Você deve fazer adaptações com recursos multissensoriais para ajudá-las e continuar com a abordagem fônica”. Jamais substituir a abordagem fônica.

PROF. CAPOVILLA: Claro! A abordagem fônica, pessoal, vem do grego “foné”, que é voz. Fonologia é o estudo da voz. Fonema é a unidade da fala ouvida. Falar em grego é “laléo” e a fala ouvida é “otolalia”. A fala vista é “optolalia”. A fala tateada é “esteselalia”. O método fônico que usamos e desenvolvemos, turbinados pelo mapeamento da língua portuguesa – em todos os seus fones, lalemas, visíveis, táteis – é um método opto-oto-estese-lalo-grafêmico. É um método extremamente compreensivo, para abraçar a criança. O que vocês fazem no blog, e especialmente com esse novo livro, é muito lúdico. Nós entregamos ciência do mais elevado nível, com a arte em seu mais refinado gosto. Isto é o hemisfério direito: mímica, pantomima, música, gesto, expressão facial, brincadeira. E a fala é linguagem, hemisfério esquerdo, e todas as suas fases. Isso é neurociência de altíssimo nível, com arte de altíssimo nível para alfabetização.

O “nome do jogo” é servir e nós somos servos e o que queremos é ajudar você, professor, a fazer sua criança brilhar.

PROF. CARLOS: Com certeza! Capovilla, muito obrigado pelas respostas. Tenho certeza de que muitos pais vão ficar agora mais tranquilos com todo esse conteúdo.

sexta-feira, 13 de março de 2020

A escola em Shangai e a educação brasileira

Shangai é líder no PISA e tem ingredientes comuns entre os melhores países na educação: disciplina, professores comprometidos e método fônico.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Quando uma professora de Shangai entra na sala de aula, rigorosamente no horário, as crianças se levantam e saúdam com um uníssono "bom dia professora" acompanhado do respeitoso gesto de se curvar diante de alguém que se respeita. O gesto é repetido pela professora. Imediatamente a aula tem início. Diferente do Brasil onde o professor perde um bom tempo para "acalmar" alunos sem disciplina.

As diferenças são enormes entre a educação praticada no Brasil e em Shangai, na China. Elas passam pela pedagogia, métodos e metodologias, pela disciplina de alunos e, principalmente, pelo comprometimento dos professores. Shangai está no topo da lista dos melhores na educação do PISA que avalia estudantes na faixa de 15 anos, em 76 países, a cada três anos. O sistema Chinês é dividido em três níveis: Elementar (1º ao 6º ), Médio (7º ao 9º) e o High School (três anos) com alguma variação regional.

Diferenças gigantescas


As escolas de Shangai tem muitas coisas em comum com as escolas japonesas ou com as coreanas e nenhuma com as brasileiras. São estruturas comuns, com pouco aparato tecnológico mas... limpas. Tal e qual as escolas japonesas, os alunos são disciplinados e tão comprometidos com a limpeza como os diretores e professores. São eles que mantém suas salas limpas e cuidam para evitar depredações. As aulas tem 50 minutos com intervalo de 10 minutos entre elas. Depois do "bom dia Sra Professora", a aula se inicia. 


Professores não faltam

Os professores não faltam porque sabem que isso interromperá a sequência trabalhada no currículo. Nem seus alunos se ausentam porque sabem que terão tarefas duplicadas pra fazer em casa. As crianças de Shangai, além de cumprir sua jornada na escola, terão mais 3 horas de tarefas pra fazer em casa. Apenas em casos de acidentes ou cirurgias programadas, um professor se ausentará. No Brasil, absurdamente, a legislação permite ao funcionário público atrasar 10 minutos (a aula tem 50) e "beneficios" como direito a seis faltas por ano, sem dar satisfação, além de licenças intermináveis.

Alfabetização com Método Fônico


O método de alfabetização em Shangai, como na Coreia do Sul e Japão, é o fônico, um sistema lastreado em evidências científicas. No Brasil utiliza-se as teorias do método global/construtivista que confundem alunos e professores. Em Shangai os alunos são alfabetizados em menos de um ano enquanto os brasileiros chegarão ao 5º ano com graves deficiências para ler e compreender e assim permanecerão além do ensino médio. Os alunos de Shangai são os primeiros do mundo e os brasileiros, os últimos.

Salas de aulas em Shangai tem mais alunos que salas brasileiras

Os campeões do mundo em educação tem salas de aulas com 30 a 35 anos de 1º ao 6º anos, 40 na salas do 7º ao 9º e mais de 40 na série Hight School. Quando o método de alfabetização é bom e há disciplina, independe o tamanho das salas e nem o nível social dos alunos. As crianças mais pobres de Xangai sabem mais matemática que as crianças mais ricas dos Estados Unidos e Europa. No Brasil a desculpa para justificar o atraso na aprendizagem é o tamanho da sala com 35 alunos. Em algumas regiões as salas podem ter acima de 50 alunos. Estatísticas do PISA mostram que salas com 20 alunos tem rendimento próximo de salas com 35.

Os professores chineses são rigorosos na disciplina e não compreendem bem porque os alunos brasileiros agridem seus colegas e professores. É inimaginável para sua cultura um aluno ofender um professor.

Experiência em Jafa aponta caminhos

Professoras brasileiras que participaram de um projeto piloto, com método fônico, numa escola de ensino básico, no interior do Estado de São Paulo, explicaram que a disciplina melhorou 90% depois que o programa foi implantado:

- Os alunos dos três primeiros anos foram alfabetizados em pouco tempo e, na medida que passaram a entender o que os professores pediam, executavam suas atividades com uma disposição que a gente nunca observara antes" - disse uma delas.

A disciplina melhorou 90%. "Os próprios alunos passaram a exigir bom comportamento dos colegas e eles compreendem bem o que pedimos nas atividades" - afirmam as professoras.

"Parecia que, antes, a gente falava uma língua desconhecida e eles acabavam se dispersando simplesmente porque não estavam entendendo nada" - confessou. As professoras que usaram o método fônico pela primeira vez notaram que, antes, as crianças iam para a biblioteca para brincar mas passaram a frequentar o local para ler, em silêncio. Antes eles tinham imensas dificuldades para ler.

Os alunos do primeiro ano, depois de 70 dias de alfabetização, leram os enunciados das suas provas, sem ajuda do professor leitor, auxílio necessário até hoje para alunos do terceiro ano.

A sala dos professores de Shangai é bem diferente das brasileiras. Na verdade cada professor tem uma baia, equipada com computador, onde prepara suas aulas. Um professor faz o papel de "inspetor" visitando frequentemente os alunos em suas salas e agindo com mediador escola/família. Ele conhece todos as crianças, mesmo numa grande escola, e seus problemas, famílias e casos comuns. Os professores são orientados não gritar em sala de aula e alunos respeitam. Em matéria de disciplina as chamadas escolas militares brasileiras são próximas das de Shangai, inclusive no uso do método fônico.

Atividades relevantes programadas


Enquanto muitos professores brasileiros improvisam suas aulas, as atividades relevantes ocupam a maior parte do tempo nas salas chinesas. Esse procedimento melhora a qualidade do ensino como já demonstrou o PISA.

Participação espontânea em Shangai e em Jafa


Professoras que participaram do Projeto Piloto com Método Fônico da escola municipal de Jafa, confessaram-se muito surpresas com um fato corriqueiro mas muito significativo.


"Quando testamos leitura todos os alunos levantam as mãos e querem participar. Antes eles evitavam ser chamados simplesmente porque não sabiam ler" - disse uma professora do terceiro ano. O mesmo ocorre com as crianças chinesas: todas erquem os braços desejando responder. A lição errada de um aluno é é ensinada e corrigida pelos colegas que sabem a resposta.

A disciplina só será instalada numa sala de aula onde os alunos conseguem ser alfabetizados, quando ganha autonomia na leitura e escrita. Para isso é preciso que o método de alfabetização alfabetize e não confunda.

quarta-feira, 11 de março de 2020

Sistema de voto eletrônico brasileiro não é confiável

Por que Estados Unidos, França, Alemanha e Japão ainda não confiam em voto eletrônico?
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Ao alegar que houve fraude nas eleições que o elegeram em 2018, Jair Bolsonaro trás à tona a questão da insegurança do chamado voto eletrônico. O presidente diz ter provas de que se elegeu no primeiro turno. Os especialistas são claros: o sistema de votação eletrônica não é confiável e são passíveis de fraudes. Mas a juíza Rosa Weber, analfabeta no tema, diz que as urnas são absolutamente confiáveis tal e qual afirmou Dias Toffoli, quando no comando do TSE.

A corte da Alemanha, por exemplo, diz que a votação eletrônica não atende o Princípio de Investigação das Eleições, exigido na constituição da Alemanha que prevê que qualquer cidadão possa conferir seu voto, sem necessitar de muitos conhecimentos técnicos para tal. Estados Unidos, Japão e França, idem.

A implantação do sistema biométrico apenas pode evitar que eleitores fantasmas votem mas não impedirá a ocorrência de fraude no sistema de votação. Um país envolvido em corrupção eleitoral, a Venezuela de Maduro, usa urna eletrônica e sistema de biometria.

Insegurança evidente

Em julho de 2017, durante a maior conferência de hackers do mundo, a Defcon, todos os modelos de urnas e sistemas eletrônicos de votação testados, inclusive as urnas fabricadas no Brasil, foram violados em menos de duas horas. Segundo Ronaldo Lemos, representante do MIT Media Lab no Brasil, “as urnas foram hackeadas até por conexão wi-fi insegura”, sem contato físico com a peça. Não apenas as urnas mas todo processo de programação pode ser alterado. A insegurança aumenta quando a justiça se nega a aceitar a impressão do voto eletrônico, isto é, a comprovação em quem o eleitor votou, em papel, além do voto eletrônico.

A alegação é mais suspeita: que o custo seria alto. O valor certamente poderia ser pago pelos vinhos premiados que abastecem e servem a casta especial que habita "nosso supremo tribunal" ou pelo dinheiro que vem sendo recuperado da corrupção praticada pelos que defendem as tais urnas sem impressão do voto.

Sistemas eletrônicos vulneráveis

O professor universitário Diego Aranha alertou para a fragilidade do sistema de urnas eletrônicas do Brasil durante entrevista no programa de Danilo Gentili, na Band TV. Aranha, que é especialista em segurança da informação, apontou que o sistema tem vários estágios de vulnerabilidade passíveis de fraude e com relativa facilidade. Mesmo diante dessas evidências, Dias Toffoli, presidente do TSE, afirma o contrário, mas negou-se a realizar testes públicos com as urnas.

As urnas eletrônicas, "orgulho nacional" para muitos brasileiros, segundo doutores em segurança digital, são manipuláveis e sujeitas a fraude interna e externamente. Isso significa dizer que o sistema pode ser invadido e alterado por operadores internos do processo ou por hackers. Essa fragilidade já foi tema discutido no congresso nacional, mas por razões desconhecidas, o assunto não prosperou contrariando as exposições feitas por Aranha que em 2012 coordenou os testes públicos das urnas eletrônicas e conseguiu quebrar o único dispositivo que dava segurança ao sigilo do voto.

Estranhamente o TSE recusa a ideia da impressão do voto. O eleitor, depois de votar na urna eletrônica , poderia obter a comprovação do seu voto, em papel impresso pela própria máquina. O voto em papel seria depositado numa urna anexa e seria o confronto para a contagem.

Alemanha, Japão, França e Estados Unidos não usam

A justiça da Alemanha proibiu o uso de urnas eletrônicas pela facilidade de fraude que ela proporciona. E por que o Japão, França e os Estados Unidos também continuam utilizando sistemas de apuração voto a voto, no papel, paralelamente com o voto eletrônico? Porque, ainda, o processo eletrônico não garante sigilo e confiabilidade nas apurações.

O sistema de urnas denominadas DRE, de primeira geração - Direct Recordind Eletronic - entre vários processos é o mais atrasado de todos. Ele grava o voto em memória mas não permite que o eleitor confira se o seu voto foi registrado corretamente. Dezenas de países que avaliaram o sistema brasileiro, recusaram as urnas.

Existem máquinas de segunda e terceiras gerações que usam o sistema biométrico, permite a conferência do voto, imprimem os votos e garantem sigilo do votante.