quarta-feira, 3 de junho de 2015

A culpa não é do professor

A universidade transforma o diploma numa patente (“Você sabe com quem está falando?”), mas submete o professor da escola básica a avaliações humilhantes feitas por crianças de 11 anos. Nessa escola idealizada pelas correntes pedagógicas hegemônicas não há espaço para a responsabilidade. O aluno é um “sujeito de direitos”, isento de qualquer dever.


Por José Maria e Silva / 08 MARÇO 2012

A greve dos professores da rede pública de ensino do Estado de Goiás fez aflorar uma tese recorrente no imaginário social – a de que os políticos não investem em educação para manter o povo na ignorância e, dessa forma, poder manipulá-lo com mais facilidade. Isso pode ter sido verdade no antigo sertão de Paulo Honório, o personagem-narrador do romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, que não gostava de ver a própria mulher, a professora Madalena, ensinando os cabras de seu latifúndio conquistado mediante esbulho. Hoje, a realidade é bem outra: quem deseja manter o povo na ignorância não são os políticos – são os mestres e doutores universitários. Eles criaram na pós-graduação das universidades uma ciência esotérica e inútil, mas paradoxalmente militante, cujo principal propósito não é o ensino, mas a manipulação. E as primeiras vítimas dessa educação malsã são os professores da escola básica – tratados com evidente menosprezo nas dissertações e teses da academia.

Encastelados especialmente nas universidades públicas, os coronéis do conhecimento (exibindo suas vistosas patentes de “doutor” na Plataforma Lattes) não costumam aceitar críticas. Sua reação a elas varia da fingida indiferença à descabelada indignação. E se a crítica parte de quem não é acadêmico, a atitude dos coronéis de beca tende a ser a mesma dos velhos coronéis de bacamarte: “Você sabe com quem está falando?” Foi essa a reação ao meu artigo “O fracasso do mérito”, publicado na edição passada do Jornal Opção, tratando da greve dos professores da rede estadual de ensino. Imaginando que sou leigo no assunto, alguns acadêmicos reagiram de modo risível nas redes sociais e no próprio espaço de comentários do jornal. Um deles, mestre em educação pela UFG e doutorando em educação pela PUC de Goiás, depois de indagar a um oponente que defendia o meu artigo se o mesmo tinha mestrado ou doutorado, chegou a afirmar textualmente: “Conversar sobre meritocracia com quem não tem nem currículo na Plataforma Lattes e são apenas graduados é difícil demais. Esta é a verdade”.

Como não chega a ser um coronel acadêmico de alta patente, com um exército de orientandos na pós-graduação, o autor dessa afirmação merece ser preservado de si mesmo e não vou revelar o seu nome. Mas o menosprezo que ele manifesta em relação a quem não tem título de doutor ou mestre é um espelho fiel da velha cultura do bacharelismo, que, ao contrário do que se imagina, ficou ainda mais grave com a expansão dos cursos de pós-graduação nas duas últimas décadas. Antes, a cultura dos bacharéis era um vírus que atacava apenas médicos, advogados e engenheiros; hoje, ela se disseminou por todas as áreas do conhecimento, a ponto de alunos de graduação e especialização lato sensu encherem a boca para falar do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e do título que ele possibilita, uma espécie de patente de cabo na hierarquia da caserna acadêmica. É o diploma substituindo o mérito em vez de expressá-lo.

Criança avalia professor
 
Paradoxalmente, essa universidade que se protege atrás de uma hierárquica barreira de títulos é a mesma universidade que despe o professor da escola básica de qualquer autoridade institucional e o obriga a se apresentar como um igual – ou até mesmo um inferior – diante de seus alunos. Hoje, nas escolas públicas, a inversão de valores é tanta que já não é o professor quem avalia o aluno, mas o aluno quem avalia o professor. É o que se constata no “Manual de Orientação para a Avaliação de Estágio Probatório dos Docentes da Secretaria Estadual de Educação”, um documento de 57 páginas, elaborado por 19 gestores com formação acadêmica e publicado em 2008. Como se sabe, de acordo com o artigo 41 da Constituição, todo servidor concursado só adquire estabilidade após um estágio probatório de três anos, em que passa por avaliações periódicas e, se não for aprovado, perde o cargo. Ou seja, o estágio probatório é algo extremamente sério, pois decide a própria vida profissional do servidor.
Agora, pasmem: na Secretaria Estadual de Educação, alunos de apenas 11 anos de idade, representando turmas de 5ª série (6º ano) do ensino fundamental, participam das comissões que avaliam o professor concursado em estágio probatório. Uma criança dessa idade é chamada a decidir o próprio destino profissional de um pai ou mãe de família que passou num concurso público, tem até pós-graduação e, sobretudo, é uma pessoa adulta, que – em nenhuma circunstância – pode ser avaliada por uma simples criança. Para se ter uma ideia da avacalhação a que o professor da escola básica é submetido – com a cumplicidade dos intelectuais universitários – a ficha de avaliação do professor que a criança de 5ª série preenche (Ficha II) é idêntica à que é preenchida pelo professor-coordenador da escola (Ficha I), pelo próprio professor que está sendo avaliado (Ficha III) e até pelo presidente da comissão de avaliação (Ficha IV).

O representante dos alunos – que, repito, pode ter apenas 11 anos de idade – atribui uma nota de 0 a 10 ao professor em cinco requisitos: idoneidade moral; assiduidade e pontualidade; disciplina; eficiência e aptidão. E a criança, a exemplo dos adultos, tem de justificar cada nota dada em um por um dos requisitos que estão sendo avaliados. Em relação à “eficiência”, o manual explica para todos os avaliadores, inclusive a criança, que se trata da “ação competente e criativa do professor para atingir com eficácia os objetivos propostos pela Unidade Escolar e pela Secretaria, na busca de resultados com qualidade”. Ora, como é que um aluno de 11 anos poderá saber se o professor que lhe ministra as aulas atingiu com eficácia as diretrizes propostas pela Secretaria de Educação? E com que critério uma escola aceita que uma criança seja eleita para falar em nome dos colegas num assunto de tamanha gravidade, instituindo uma espécie de meritocracia do acaso? Só mesmo uma pedagogia ideologicamente embriagada – que não tem o menor respeito por si mesma – pode obrigar um professor a se ajoelhar dessa forma aos pés da criança que tem por aluno. Os médicos concursados da rede pública de saúde também se submetem a estágio probatório; mas é possível imaginar um pediatra sendo avaliado profissionalmente por crianças de 11 anos?

Reizinho indisciplinado

Por que o Sintego (Sindicato dos Trabalhadores da Educação no Estado de Goiás) nunca denunciou essa forma de avaliação do estágio probatório da rede estadual de ensino? Não resta dúvida que esse tipo de tratamento dado ao professor – que é regra, não exceção – chega a ser mais deletério em sua carreira profissional do que os baixos salários. Muitos profissionais de comunicação, por exemplo, ganham igual ou menos do que o professor e não têm estabilidade no emprego, mas submetem-se a precárias condições de trabalho apenas pelo relativo prestígio que a profissão oferece. Já o professor, na maioria das vezes em que faz greve, pensa menos no aumento de salário do que no tempo em que ficará livre dos alunos e seus celulares ubíquos. Creio que muitos nem se dão conta disso quando aderem ao movimento grevista, mas só o descanso que a greve oferece pode explicar a insistência com que paralisam as atividades quase todo ano, mesmo sabendo que, ao cabo do movimento, as conquistas são ínfimas e muitas vezes se reduzem a não ter os pontos cortados. Se o professor se sentisse realizado em seu trabalho, com alunos e pais que o valorizassem, é provável que, mesmo ganhando pouco, relutaria em fazer greve.

Todavia, como é que pais e alunos vão valorizar o professor da escola básica se as próprias universidades não o respeitam e insistem em tratá-lo como um despreparado, que precisa não apenas ser capacitado por elas, mas até mesmo aprender com os próprios alunos? Infelizmente, o Sintego é parceiro das faculdades de pedagogia e demais cursos de licenciatura, com quem professa o pensamento dos derivados modernos e pós-modernos do marxismo, como Antonio Gramsci (1891-1937), Lev Vygotsky (1896-1934), Paulo Freire (1921-1997), Michel Foucault (1926-1984), Pierre Bourdieu (1930-2002) e Emilia Ferreiro (1936), entre vários outros. Todos os mestres e doutores contemporâneos que se filiam a essas ou outras correntes das humanidades têm em comum a crença de que a função da escola é “construir sujeitos” e “transformar a sociedade”. Daí a unção do construtivismo de Jean Piaget (1896-1980), que se tornou uma espécie de religião pedagógica da esquerda, assim como o evolucionismo de Charles Darwin (1809-1882) é a religião biológica dessa gente.

Nessa escola idealizada pelas correntes pedagógicas hegemônicas não há espaço para a responsabilidade. O aluno é um “sujeito de direitos”, isento de qualquer dever. Logo, todo e qualquer fracasso desse reizinho indisciplinado é jogado sobre os ombros do professor. É o que se vê, por exemplo, na Resolução nº 4, de 13 de julho de 2010, do Conselho Nacional de Educação, que define as “Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica”. Composta de 60 artigos e uma infinidade de parágrafos, alíneas e incisos, essa resolução – sintomaticamente publicada na data de aniversário do famigerado Estatuto da Criança e do Adolescente – é um documento que oscila entre a insanidade e a arrogância, exigindo do professor o impossível e do aluno, nada. Seus autores – entre os quais estão algumas sumidades acadêmicas do país, como o professor Mozart Neves Ramos, um dos pais do movimento “Todos pela Educação” – deviam ser condenados a aplicá-lo pessoalmente numa escola de periferia brasileira, ganhando o que ganham os professores da rede básica.

As “Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica” inviabilizam qualquer proposta de uma escola meritocrática, pois não se pode cobrar mérito apenas do professor, deixando o aluno à vontade para fazer o que quer, como ocorre hoje. Mesmo a proposta de premiar os bons alunos, como prevê o “Pacto pela Educação” do governo Marconi Perillo, tende a não funcionar. Se o aluno indisciplinado não pode ser suspenso muito menos expulso da escola, a sala de aula se torna insalubre para o aprendizado e não há caderneta de poupança para o aluno que dê jeito nisso, como acredita o secretário estadual de Educação, Thiago Peixoto.

Sem contar que, pelos critérios amorais – e até imorais – da pedagogia moderna, nada impede que um aluno indisciplinado, violento ou drogado, apenas por um rasgo de bom comportamento, venha a ser premiado com uma poupança escolar, em detrimento de um aluno bem comportado. A cultura da imoralidade – cultivada na academia – está arraigada na educação e não será o esqueminha de aluno de administração da Bain & Company, importado pelo secretário, que irá mudar essa realidade.

Enganando os pobres

Se o professor tiver de cumprir as Diretrizes Curriculares Nacionais da Escola Básica, ele não poderá conjugar nenhum outro verbo na vida a não ser “trabalhar”. E mesmo sem comer, dormir ou amar, cada dia do professor precisaria ser como um dia do planeta Vênus (243 dias terrestres) para que ele pudesse dar conta de todas as responsabilidades que lhe são impostas. Exemplo disso é o artigo 47 das Diretrizes, que reza: “A avaliação da aprendizagem baseia-se na concepção de educação que norteia a relação professor-estudante-conhecimento-vida em movimento, devendo ser um ato reflexo de reconstrução da prática pedagógica avaliativa, premissa básica e fundamental para se questionar o educar, transformando a mudança em ato, acima de tudo, político”. Reparem no caráter imoral dessa resolução: ela deixa claro que o objetivo da escola não é ensinar o aluno a ler, escrever e contar, mas usá-lo – “acima de tudo” – como instrumento político, a partir de um professor transformado em militante.

Os acadêmicos que escreveram essa resolução – entre eles, a goiana Clelia Brandão, ex-reitora da PUC de Goiás – deveriam ter a coragem de sustentar na cara do pedreiro e da faxineira que a função da escola não é dar ao filho desses operários a formação que seus pais não tiveram e, sim, usá-lo como massa de manobra da utopia de transformação do mundo. E quando o pedreiro e a lavadeira perguntassem a esses doutores universitários se seus próprios filhos também recebem uma educação “acima de tudo, política”, como a que é oferecida na escola pública, os acadêmicos deveriam ter a honradez de confessar a verdade: “Não, seu Zé, não, dona Maria, nossos filhos precisam passar nos concorridos concursos públicos e nos vestibulares de medicina e direito das universidades públicas, onde vão estudar de graça, por isso nós os matriculamos em boas escolas privadas, onde aprendem muita matemática, português, biologia e química”.

Mas esses coronéis do conhecimento só têm respeito pela própria patente de doutor, como fica claro na linguagem utopicamente desabusada das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. O seu artigo 55 estabelece que a gestão democrática da escola “constitui-se em instrumento de horizontalização das relações, de vivência e convivência colegiada, superando o autoritarismo no planejamento e na concepção e organização curricular, educando para a conquista da cidadania plena e fortalecendo a ação conjunta que busca criar e recriar o trabalho da e na escola”. Como se vê, o Conselho Nacional de Educação, influenciado pelas universidades, impõe à escola básica a “horizontalização das relações”, o que significa igualar completamente professor e aluno, retirando toda autoridade do mestre; no entanto, não existe nada mais vertical do que a hierarquia da pós-graduação nas universidades. Um aluno só chega ao doutorado de uma universidade pública se contar com o apadrinhamento dos coronéis de beca, pois as linhas de pesquisa nesse nível da pós-graduação são geridas de modo subjetivo, dependendo de cartas de apresentação de um doutor para outro.

Inventar a escola

Um exemplo das exigências sobre-humanas que são feitas ao professor está no parágrafo 3º do artigo 13 das Diretrizes Curriculares Nacionais da Escola Básica. Diz o texto que “a organização do percurso formativo, aberto e contextualizado, deve ser construída em função das peculiaridades do meio e das características, interesses e necessidades dos estudantes, incluindo não só os componentes curriculares centrais obrigatórios, previstos na legislação e nas normas educacionais, mas outros, também, de modo flexível e variável, conforme cada projeto escolar”, e assegurando, entre outras questões, “a ampliação e diversificação dos tempos e espaços curriculares que pressuponham profissionais da educação dispostos a inventar e construir a escola de qualidade social, com responsabilidade compartilhada com as demais autoridades que respondem pela gestão dos órgãos do poder público, na busca de parcerias possíveis e necessárias, até porque educar é responsabilidade da família, do Estado e da sociedade”. Que norma prolixa e doentia é essa que manda o professor “inventar” a escola de qualidade social? Alô, Sintego e Faculdades de Pedagogia, o Conselho Federal de Medicina ficaria calado diante de uma norma do Ministério da Saúde que mandasse o médico “inventar” o hospital de qualidade?

Quando digo que essas diretrizes oscilam entre a arrogância e a insanidade, estou usando de eufemismo, para evitar um julgamento moral. Pois, no fundo não são loucas, são charlatãs. Ou é possível levar a sério uma resolução que fala em “escolha da abordagem didático-pedagógica disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar pela escola, que oriente o projeto político-pedagógico e resulte de pacto estabelecido entre os profissionais da escola, conselhos escolares e comunidade, subsidiando a organização da matriz curricular, a definição de eixos temáticos e a constituição de redes de aprendizagem”? Eu queria ver um dos autores dessa resolução, numa sala de aula, separando concretamente, em sua prática didático-pedagógica, o que é “pluridisciplinar” do que é “interdisciplinar” e do que é “transdisciplinar”. Eis o coronelismo acadêmico exibindo sua patente em forma de linguagem cuja suposta complexidade é apenas um disfarce para o vazio do cérebro.

A resolução diz que a “escolha da abordagem didático-pedagógica” deve orientar o “projeto político-pedagógico” e, ao mesmo tempo, deve resultar de “pacto estabelecido entre os profissionais da escola, conselhos escolares e comunidade”, que, por sua vez, vai subsidiar “a organização da matriz curricular, a definição de eixos temáticos e a constituição de redes de aprendizagem”. Ora, um pacto entre os profissionais da escola e a comunidade já pressupõe a existência de um “projeto político-pedagógico”; logo, a “escolha da abordagem didático-pedagógica” vai derivar desse projeto e não orientá-lo. Inclusive porque a abordagem didática é um insumo da educação que pode variar de uma aula para outra, enquanto um projeto político-pedagógico é um conjunto de diretrizes gerais que norteiam todo o ensino num dado estabelecimento educacional.

Como se vê, os autores das Diretrizes Curriculares Nacionais da Escola Básica, encastelados no Conselho Nacional da Educação, não sabem o que estão escrevendo. Juntam palavras apenas pelo seu valor ideológico, como “construção”, “sujeito”, “cidadania”, “pluralidade”, “diversidade” e outros abracadabras do gênero.

Entretanto, mesmo diante de todas essas exigências que o Conselho Nacional de Educação faz ao professor da escola básica, o pedagogo José Carlos Libâneo – ao criticar o “Pacto pela Educação” do governo estadual – teve a coragem de indagar: “Onde estão as professoras que dominam os conteúdos, que sabem pensar, raciocinar, argumentar e têm uma visão crítica das coisas?” Sem dúvida, o próprio Libâneo – e não Thiago Peixoto – é quem, olhando-se no espelho, deveria dar resposta a essa pergunta.

Afinal, quem tem de saber onde estão essas professoras são as Faculdades de Pedagogia, que não fazem outra coisa senão preparar seus graduandos para um mundo que não existe. Os cursos de formação de professores das universidades, na maioria dos casos, fazem é deformar os professores, começando por incutir-lhes uma falsa ideia de liberdade, que os leva a romper com o mundo real para perder-se em utopias. Isso porque a pedagogia construtivista – que manda o professor respeitar a realidade do aluno – jamais respeita a realidade do professor. É, sobretudo, contra essa arrogância acadêmica que o professor da escola básica deve lutar. Ao contrário do que pensam os professores em greve, o governante de plantão é um mal passageiro – o coronelismo acadêmico é que é um mal permanente.

José Maria e Silva é sociólogo e jornalista.

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domingo, 31 de maio de 2015

A "evolução" do ensino de matemática no Brasil


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza  

Recolhi um e-mail, entre dezenas que leio diariamente, contando uma pequena história narrada por uma professora de matemática. Força de expressão ou não, os fatos são críveis e honestos sobre a "evolução" da educação no Brasil. Diz ela:

"Semana passada, comprei um produto que custou R$ 15,80. Dei à balconista R$ 20,00 e peguei na minha bolsa 80 centavos, para evitar receber ainda mais moedas. A balconista pegou o dinheiro e ficou olhando para a máquina registradora, aparentemente sem saber o que fazer. Tentei explicar que ela tinha que me dar R$ 5,00 reais de troco, mas ela não se convenceu e chamou o gerente para ajudá-la.

Ficou com lágrimas nos olhos enquanto o gerente tentava explicar e ela aparentemente continuava sem entender. Por que estou contando isso? Porque me dei conta da evolução do ensino de matemática, desde 1950, que foi assim:

1. Ensino de matemática em 1950  

Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.
O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda.
Qual é o lucro?

2. Ensino de matemática em 1970
 

Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.
O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda ou R$ 80,00.
Qual é o lucro?


3. Ensino de matemática em 1980

Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.
O custo de produção é R$ 80,00.
Qual é o lucro?

4. Ensino de matemática em 1990
 
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.
O custo de produção é R$ 80,00.
Escolha a resposta certa, que indica o lucro

(  )R$ 20,00
(  )R$ 40,00
(  )R$ 60,00
(  )R$ 80,00
(  )R$ 100,00


5. Ensino de matemática em 2000
 
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.
O custo de produção é R$ 80,00.
O lucro é de R$ 20,00.
Está certo? 

(  )SIM (  ) NÃO


7. Ensino de matemática em 2010

Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00
O custo de produção é R$ 80,00
Se você souber ler, coloque um X no R$ 20,00
 

(Se você é afro descendente, especial, indígena ou de qualquer outra minoria social, não precisa responder pois é proibido reprová-los).
 

(  )R$ 20,00 (  )R$ 40,00 (  )R$ 60,00 (  )R$ 80,00 (  )R$ 100,00 


No final do texto vem uma observação sobre a moderna pedagogia disciplinar aplicada nas salas de aulas do país. "Caso um moleque resolver pichar a sala de aula e a professora fizer com que ele pinte a sala novamente, os pais ficarão enfurecidos e a professora será acusada de provocar traumas na criança". Outro conselho é para que "nunca levante a voz para um aluno porque isso representa voltar ao passado repressor. Ou, não faça isso porque o aprendiz meliante pode estar armado".

O e-mail é finalizado com um pedido: "Passe adiante! Precisamos mudar já ou corremos o sério risco de largarmos o mundo para um bando de analfabetos, egocêntricos, alienados e sem a menor noção de vida em sociedade e respeito a qualquer regra que seja!"

terça-feira, 26 de maio de 2015

Transporte público: socialismo x capitalismo

 
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Está é a realidade de Cuba e do capitalismo "selvagem" na Europa e Japão. Sessenta anos depois, a revolução de Fidel deixou o povo sem o mínimo necessário. Sem liberdade para se expressar, o povo resignado espera a revolução  resolver os problemas criados por ela mesma. As fotos e vídeos mostram a realidade do socialismo e do capitalismo.
Sistema de transporte público socialista cubano
Capitalistmo: o trem bala japonês
Sistema cubano de transporte
Este ônibus cubano é chamado de camêlo. Isto é o máximo que a revolução comunista cubana oferece ao povo da ilha. Os veículos adaptados datam de 1950






Sistemas de transporte público em países capitalistas na Europa

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Brasil cai para 60º em educação

Asiáticos lideram os 76 países que formam a relação da OCDE

Florência Costa

Países da Ásia estão no topo de um ranking global de educação em matemática e ciências divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com Cingapura em primeiro, Hong Kong (região administrativa da China) em segundo, Coreia do Sul em terceiro, e Japão e Taiwan empatados em quarto lugar. Em um dos mais completos rankings mundiais de qualidade de educação, a OCDE mostra a relação entre educação e crescimento econômico.

A organização analisou 76 países ricos e pobres. Isso representa o total de um terço das nações do mundo. O Brasil figura em um distante 60º lugar, próximo das nações africanas. A última colocação coube à Gana, na África.

Reino Unido, que ficou na 20ª posição, a França (23º), a Itália (27º), e os EUA, maior economia do planeta, que amargou o 28º lugar. O Brasil, 60º . 

Os asiáticos, que começaram a investir pesado em educação na década de 90, deixaram países industrializados ocidentais para trás, como o Reino Unido, que ficou na 20ª posição, a França (23º), a Itália (27º), e os EUA, maior economia do planeta, que amargou o 28º lugar, atrás de países mais pobres como o Vietnã, em uma impressionante 12ª colocação. O ranking foi estabelecido com base em resultados de testes de matemática e ciências aplicados nesses países. Foram considerados os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), o TIMSS (dos EUA), e o TERCE, da América Latina.

A China e a Índia não estão na lista porque se recusam a participar da aferição da OCDE. Entre os países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)analisados, a Rússia está aparece melhor, em 34ª posição. A África do Sul está pior do que o Brasil, em 76º lugar. Imediatamente à frente do Brasil estão a Geórgia (59º), o Líbano (58º) e Barein (57º).

Boa educação melhoraria PIB brasileiro  

A OCDE calcula que o PIB do Brasil poderá crescer mais de sete vezes nas próximas décadas se o país oferecer educação básica universal de qualidade para todos os adolescentes de 15 anos, informou a BBC Brasil. “Políticas e práticas educativas deficientes deixam muitos países em um permanente estado de recessão econômica”,afirma o relatório da OCDE.Na América Latina, o país que se saiu melhor foi a Costa Rica, em 53º lugar, seguido do México, em 54ª colocação, e do Uruguai, em 55ª posição. Mas a Argentina está atrás do Brasil, em 62º lugar. Outros países da região que estão na lanterninha do ranking são Colômbia (67º), Peru (71º) e Honduras(74º).

Queda da Finlândia e declínio da Suécia

O primeiro país não asiático a aparecer na lista é a Finlândia, em sexto lugar, seguida da Estônia (7º), Suíça (8º), Holanda(9º), e Canadá (10º). O relatório da organização ressalta também o declínio da Suécia, em 35º lugar, imediatamente atrás da Rússia. A OCDE já havia advertido, em um relatório divulgado na semana passada, que o país nórdico sofre de uma série de problemas em seus sistema educacional.

Segundo o diretor de educação da organização, Andreas Schleicher, a ideia é permitir aos países, ricos e pobres que comparem seu desempenho com as nações líderes em educação, “para descobrirem suas forças e fraquezas relativas, e para perceberam os ganhos econômicos de longo prazo que terão com a melhoria da educação”.

O novo ranking é diferente do mais conhecido Pisa, também da OCDE, a referência internacional mais usada para avaliar a educação, e que até agora focava principalmente nos países industrializados mais ricos.“Esta é a primeira vez que temos verdadeiramente uma escala global sobre a qualidade da educação”, disse Schleicher.

“Se você assistir uma aula em uma escola asiática, vai perceber que os professores esperam que cada um de seus alunos tenha sucesso. Há muito rigor, muito foco e coerência”.

Se os cinco primeiro lugares estão na Ásia, os cinco piores resultados estão na África, América Latina e Oriente Médio. O sucesso da Ásia na educação, diz Schleicher, se explica não somente pela prioridade dada pelos governos à educação, embora este seja o principal fator. Mas a cultura que valoriza o conhecimento e a obtenção do sucesso também tem forte influência. “Se você assistir uma aula em uma escola asiática, vai perceber que os professores esperam que cada um de seus alunos tenha sucesso. Há muito rigor, muito foco e coerência”, conta ele.
 
Cingapura tinha altos índices de analfabetismo na década de 60.

Cingapura, a estrela do ranking, tinha altos índices de analfabetismo nos anos 60. A cidade-Estado, de 5,5 milhões de habitantes,já registrou altos níveis de analfabetismo na década de 60. Seu desempenho excelente é citado como um exemplo da evolução educacional em uma sociedade em um período de tempo relativamente curto. Ex-colônia britânica, o país asiático se tornou independente somente em 1965.

Os resultados desta pesquisa serão formalmente apresentados no Fórum Mundial de Educação, que será realizado na Coreia do Sul, na próxima semana, quando as Nações Unidas vão encabeçar uma conferência sobre os alvos para a evolução da educação global até 2030.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Em Brejo Santo, Ceará, alunos são alfabetizados em um ano

Brejo Santo: com método fônico IDEB saltou de 2,9 para 7,2 em seis anos

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Brejo Santo é um município cearense da região do Cariri distante pouco mais de 500 quilômetros de Fortaleza. Tem 47 mil habitantes e sua renda per capita é uma das menores do país, 70% menor que a média nacional. 

Pois bem, Brejo Santo obteve o maior percentual de alunos com desempenho considerado adequado na Prova Brasil de 2013 - medição do Ideb, Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - superando muitas capitais do país: nota 7,2, muito acima da média nacional que é de 5,2. Seis anos antes o Ideb de Brejo Santo foi de 2,9. 

Em menos de 6 anos uma revolução mudou o cenário local da educação: em 2013, 99,6% das crianças encerraram o primeiro ano do ensino básico lendo e escrevendo. Basta citar que pelo método utilizado nas escolas paulistas, um aluno chegará ao 5º ano mal escrevendo, mal lendo e nada entendendo do que leu.

A repórter Bianca Bibiano, da Veja, escreveu na última edição da revista: "Em uma das unidades locais de ensino, a Escola Municipal Maria Leite de Araujo, a presença de galinhas no pátio de terra batida não permite suspeitar de uma nota invejável: 9,2. O curioso é que, até 2009, a cidade cearense era ainda mais parecida com o Brasil. Cerca de 70% dos alunos não aprendiam o esperado em português e matemática. De lá para cá, a rede de ensino vem registrando avanços seguidos. Em 2013, finalmente, virou o jogo: 72% dos estudantes do 5º ano atingiram o patamar adequado de aprendizagem em matemática, por exemplo, taxa que chegou a impressionantes 100% na Maria Leite de Araujo. O índice brasileiro é 32%."

Como se explica isso?

O padrão de qualidade conquistado nas salas de aula de Brejo Santo tem uma explicação bem mais simples do que se possa imaginar: a escola municipal acabou com o método global/construtivista e mediocridades das suas vertentes radicais e implantou um sistema de alfabetização baseado no método fônico, considerado pela neurociência como ideal para uma boa e rápida alfabetização.

Por ele a criança aprende verdadeiramente a ler em menos de um ano e a compreensão do texto é excelente, enquanto as teorias construtivistas levam 5 anos para alfabetizar alunos que nada entendem do pouco que leem. Os professores exploram a leitura, prática constante nas salas de Brejo Santo, e os resultados são números incontestáveis.

Os salários são melhores que os R$ 1 917,78 reais determinados pelo MEC. Lá o professor recebe como valor inicial R$ 2.673,00. A prefeitura da pequena cidade investe em infra estrutura, formação continuada de professores e, principalmente, uma política educacional sem invencionices e pautada em eficiência, meritocracia e equidade. Lá alunos tem dever de casa e os professores não são meros intermediários mas responsáveis diretos em transmitir conhecimento aos seus alunos. Os professores com péssimos resultados em sala de aula, foram demitidos. Alunos pobres de Brejo Santo são alfabetizados 4 anos mais rápidos que os estudantes de escolas públicas paulistas, por exemplo, e sabem mais de matemática que seus colegas do resto do país.

Detalhe: as séries finais da educação básica da cidade, apesar de serem melhores que a média nacional, ainda estão abaixo dos resultados obtidos pelos alunos das séries iniciais. Ocorre que a renovação na educação da cidade começou só em 2009. Isto é, alunos de 6º a 9º ano pertencem ainda ao período da educação construtivista. 

Crianças pobres não tem mais dificuldades na aprendizagem

Mais do que bons resultados, as escolas de Brejo Santo derrubaram outro mito: de que crianças pobres tem mais dificuldades para apreender e estão fadadas ao fracasso. Tal e qual as crianças pobres de Xangai que sabem mais matemática que os alunos mais ricos dos Estados Unidos e Europa, segundo estatística recentemente divulgada pelo PISA, programa internacional que avalia estudantes de todo o mundo.

Além da cidade cearense Cerquilho (SP), Lucas do Rio Verde (MT) e Sapiranga (RS) estão em posições fantásticas. O indicador abaixo mostra as posições destas cidades na Prova Brasil de 2013. Em todas elas não se usa construtivismo. Em todas elas a educação avançou.

Publicação da revista Veja

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segunda-feira, 20 de abril de 2015

500 policiais são mortos, por ano, no Brasil

500 policiais mortos por ano no Brasil

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Todos os meses cerca de 40 policiais morrem no Brasil, quase 500 em um ano. É o país onde mais se mata policiais. E, absurdamente, esse massacre já é conhecido pelos governantes, as causas apontadas e as decisões para reduzir esse número, nunca chegam. Nos Estados Unidos, onde a venda de armas é liberada, 70 policiais morrem por ano, em média. Considere que a população americana passa dos 300 milhões contra os 200 milhões do Brasil
.

O jornalista Alexandre Garcia, da TV Globo, dá o tom do problema, num dos seus comentários a respeito da tragédia: "os agentes da lei são enfraquecidos pelas autoridades". O modelo de segurança pública no país precisa ser urgentemente revisto, diz ele.

No Bom Dia Brasil, Garcia comentou, em editorial:

"É difícil ser punido no Brasil. A maior parte dos crimes não são solucionados. A maior parte dos criminosos não são julgados. A maior parte dos condenados não são presos. E a maior parte dos que acabam cumprindo pena têm um altíssimo índice de reincidência. Voltam a praticar o crime.

Temos uma guerra interna; 154 brasileiros são mortos por dia em assassinatos em que não estão computados os crimes de trânsito. E é o país do mundo onde mais policiais são mortos. Nosso modelo de segurança pública precisa ser revisto. A responsabilidade tem que ser dos três entes federativos: União, estados e municípios. As drogas, que são o combustível da maior parte do crime, entram pelos vizinhos, como Bolívia, Colômbia, Paraguai, assim como as armas potentes dos bandidos.

Somos o maior consumidor de crack do mundo; o segundo de cocaína. E nós, brasileiros, ficamos olhando. Como nação, apoiamos a quem? Apoiamos a lei, ou desacreditamos na lei, na polícia?

Nos países do mundo desenvolvido, acreditam na polícia e nas leis. Nossas leis apoiam as vítimas? Garantem a punição aos bandidos? Nos Estados Unidos, o policial herói é tratado como herói. Aqui, não. É difícil ser policial neste país; policial por vocação, como a maioria. Os que dão a vida pela lei, pelos outros, essa é a maioria.

Aos que traem suas instituições, se desviam e viram bandidos. Neste país, agentes da lei são enfraquecidos pelas próprias autoridades - e não me refiro àqueles, que mesmo não sendo deuses, querem estar acima da lei. A propósito, quem está a serviço da lei precisa ser seu maior escravo. Do policial ao juiz."

Em em 2010 foram 36 mil mortos catalogados como vítimas de armas de fogo, no Brasil, um número quase 4 vezes maior que as mortes nos Estados Unidos (9.960 no mesmo período). Mas tem outro detalhe: os americanos tem 295 milhões de armas contra 15 milhões no Brasil. Mata-se no Brasil 19,3 pessoas para cada 100 mil habitantes. Nos Estados Unidos, 3,2 mortos para cada grupo de 100 mil. A Venezuela, o país mais violento do mundo, este índice é de 39.

As campanhas de desarmamento no Brasil - demagogia dos governantes populistas diante de um quadro gravíssimo - recolheram, até então, 620 mil armas. Recentemente os deputados paulistas aprovaram a lei que proíbe a fabricação e venda de armas de brinquedo sob alegação de que 40% dos "assaltos a mão armada", foram praticados por armas falsas. Para muitos promotores, delegados e juízes o Estatuto da Criança e do Adolescente é a licença para menores matarem, sem piedade.

Não há motivos para otimismo enquanto os responsáveis pela politica de segurança continuarem acreditando em bobagens como estas e o alto comando das polícias continuarem sem voz diante diante dos governantes sem noção. A polícia precisa, sim, expurgar os maus policiais, a sociedade exigir mudanças e os governantes tomarem vergonha na cara.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Alunos brasileiros vão mal "também" em matemática

Matemática: conhecimento é adequado só em 10% dos municípios

As escolas públicas brasileiras não têm conseguido fazer com que seus alunos absorvam o conhecimento adequado às séries que estão cursando, aponta um levantamento divulgado nesta quinta-feira pelo movimento Todos Pela Educação (TPE), com base no desempenho dos alunos do 5º anos e do 9º ano do ensino fundamental.

Paula Adamo Idoeta -BBC Brasil em São Paulo   12 fevereiro 2015

O estudo viu que no 9º ano, o último do ensino fundamental, a maior parte dos alunos não está sendo capaz de entender textos narrativos longos e com vocabulário complexo, não consegue resolver problemas matemáticos ou usar porcentagens e medidas padronizadas (como km e kg), o que seria esperado nessa etapa, segundo métricas do próprio governo.

E essa adequação – do que eles aprenderam para o que deveriam ter aprendido – não tem evoluído conforme o esperado; em alguns casos, estagnou ou mesmo recuou. Segundo o levantamento, feito a partir da comparação de notas do exame nacional Prova Brasil com metas – expectativas de notas – específicas à realidade de cada cidade estudada, apenas 10,8% dos municípios têm alunos com o aprendizado adequado ao que se espera no 9º ano (contra 28% em 2011) em matemática. Em português, esse percentual é de 30% (contra 55% em 2011).

"A adequação não é necessariamente decrescente, porque estabelecemos metas mais ambiciosas para os municípios. Alguns podem ter melhorado (a qualidade do ensino), mas não atingiram essas metas", diz à BBC Brasil Alejandra Meraz Velasco, coordenadora-geral do TPE. "A conclusão é que o aprendizado simplesmente não está melhorando como o desejado."

E tudo indica que a deficiência em português e matemática se estende também às demais disciplinas ensinadas nas escolas, apesar de isso não ter sido mensurado. "Se o aluno não domina a leitura e a compreensão de textos, ele vai ter dificuldade em entender as outras matérias também", prossegue Velasco.

Assim, o estudante acaba carregando falhas de aprendizado para os anos seguintes, o que estimula a evasão escolar e perpetua a qualidade insuficiente do ensino.

Em apenas 10% dos municípios conhecimento
em 
matemática é adequado para alunos do 9º ano
A avaliação do TPE usa dados das notas de matemática e português do Prova Brasil de 2013. O movimento também estabeleceu metas (não oficiais) para os municípios, levando em conta o patamar da educação em cada um deles. O objetivo do movimento é que, a partir do cumprimento dessas metas, ao menos 70% dos alunos brasileiros estejam com aprendizado adequado ao seu ano até 2022. No que diz respeito ao 5º ano do ensino fundamental, a avaliação constatou que apenas 48% dos municípios tinham, em 2013, alunos com conhecimento adequado em português (índice semelhante ao de 2011) e 61,7% tinham conhecimento adequado em matemática (contra 69% em 2011).

Desafio dos anos finais

Segundo Velasco, o diagnóstico do estudo reforça uma conclusão já tirada de outros levantamentos oficiais: que a educação brasileira nos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio está estagnada. "As reformas educacionais mais óbvias já foram feitas nos municípios, mas o país ainda precisa pensar em políticas que o permitam mudar de patamar e não estagnar mais nos anos finais", diz ela.

A solução dos problemas não é única nem simples, opina o TPE – passa por melhorias na formação de professores, muitas vezes pouco preparados para os desafios da sala de aula; por medidas para corrigir a defasagem de aprendizado dos alunos; e por reestruturações curriculares.

"Nas eleições, o debate girou em torno da aprovação (automática) ou não dos alunos, mas o que temos de lembrar é que tanto a aprovação quanto a reprovação podem levar o aluno a abandonar a escola se ele não aprender", diz a coordenadora do TPE.

Em uma análise por Estado, o estudo identificou que Acre, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rondônia, Santa Catarina e Ceará avançaram significativamente na adequação entre série e aprendizado de matemática no 5º ano do ensino fundamental.

Em português, porém, apenas o Acre teve mais de 80% de seus municípios com bons níveis de adequação no 5º ano. Isso pode acontecer porque o Estado partiu de um patamar mais baixo e, portanto, tinha metas mais modestas na escala do Todos Pela Educação.

O quadro estadual é pior quando avalia-se o 9º ano do ensino fundamental: em matemática, o maior índice de avanço na adequação é observado no Ceará, mas ele é de apenas 28,3%.

domingo, 12 de abril de 2015

The New York Times: o caos na Vanezuela

SIMON ROMERO
GIRISH GUPTA
DE "THE NEW YORK TIMES", EM CARACAS23/02/2015 12h19
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Para vislumbrar a desordem que a economia da Venezuela vive, entre em uma agência de viagens em Caracas e reserve uma passagem aérea de ida e volta para Maracaibo, do outro lado do país: o preço é de apenas US$ 16. Você quer um livro para ler durante a viagem? Para quem tiver moeda forte em mãos, "50 Tons de Cinza" sai por US$ 2,50. Esqueceu o creme dental? Um tubo de Colgate custa sete centavos de dólar. Grande pechincha, não?

Jorge Silva - 13.fev.2015/Folhapress
Nota de cem bolívares com a inscrição "desvalorizado" é colocada em mercado de Caracas
Nota de cem bolívares com a inscrição "desvalorizado" é colocada em mercado de Caracas

Mas para a maioria dos venezuelanos, desprovidos de acesso fácil a dólares, preços surreais como esses refletem uma imensa desvalorização cambial, uma economia em contração - o Produto Interno Bruto (PIB) deve cair em 7% este ano por conta da queda do petróleo - e controles de preços que produzem escassez aguda de produtos como leite, detergente e camisinhas.

"Vi pessoas morrerem na mesa de operações porque não dispúnhamos dos instrumentos básicos de cirurgia", disse Valentina Herrara, 35, pediatra em um hospital público de Maracay, cidade próxima de Caracas. Ela disse que seu plano é procurar outro emprego, porque conseguir manter as contas em dia com seu salário mensal de 5.622 bolívares - US$ 33 pela nova taxa de câmbio recentemente adotada - era impossível.

Diante de índices de aprovação em queda livre por conta do choque econômico que abala os venezuelanos, o presidente Nicolás Maduro vem intensificando a repressão aos seus oponentes, como reflete a detenção de Antonio Ledezma, o prefeito de Caracas, na semana passada; ele foi indiciado por acusações de conspiração e complô para promover um golpe de Estado com apoio dos Estados Unidos. Maduro, protegido do presidente Hugo Chávez, que morreu em 2013, vem adotando tom cada vez mais estridente no discurso contra os oponentes da chamada "revolução bolivariana".

Como prova contra a oposição, Maduro citou uma carta aberta veiculada este mês que pede um "acordo nacional de transição", e que levava a assinatura de Ledezma; Leopoldo López, outro líder oposicionista aprisionado há um ano; e María Corina Machado, política de oposição acusada em dezembro de conspirar para o assassinato de Maduro.

"Na Venezuela, estamos impedindo um golpe apoiado e promovido do norte", afirmou Maduro no Twitter, no final de semana. "A agressão do poder dos Estados Unidos é total e acontece diariamente". Maduro está se inspirando em Chávez, que foi derrubado durante alguns dias em 2002 por um golpe de Estado realizado com aprovação tácita do governo Bush, e depois transformou as críticas a Washington e o encarceramento de pessoas acusadas de golpismo em um dos traços que definiram seu governo.

Mas o Departamento de Estado norte-americano contesta as imputações de Maduro e diz que os Estados Unidos não estão promovendo a inquietação na Venezuela. Ao mesmo tempo, as ações de Maduro apontam para um endurecimento no tratamento dos líderes oposicionistas. Dos 50 prefeitos oposicionistas da Venezuela, 33 estão enfrentando processos judiciais relacionados a protestos antigovernamentais que causaram 43 mortes no ano passado, de acordo com Gerardo Blyde, prefeito de Baruta, uma cidade na periferia de Caracas.

Um proeminente prefeito oposicionista, Daniel Ceballos, de San Cristóbal, está na prisão há um ano, enquanto outro, Enzo Scarano, da cidade industrial de San Diego, no Estado de Carabobo, foi transferido da cadeia para a prisão domiciliar, no mês passado, devido à deterioração de sua saúde.
A prisão de Ledezma, 59, que foi eleito democraticamente mas privado da maior parte de sua autoridade em 2009, levou até mesmo alguns analistas pró-Chávez a questionarem a decisão de Maduro. Embora Ledezma tenha aderido a uma facção oposicionista linha dura chamada "a Saída", no ano passado, ele não era visto como especialmente influente ou importante. "Alimentar suspeitas é uma tática de distração para desviar a atenção da imensa desvalorização cambial que tivemos de suportar", disse Nicmer Evans, consultor político pró-Chávez que está entre as figuras de esquerda que agora se opõem abertamente a Maduro. "O que não fica claro é a prova de qualquer delito, neste caso".

Com a inflação disparando para 68%, as autoridades venezuelanas estão tentando administrar a crise econômica por meio de uma complexa teia de três taxas oficiais de câmbio. Por exemplo, alguns produtos básicos são importados ao câmbio de 6,3 ou 12 bolívares por dólar, mas uma nova taxa flutuante de câmbio de cerca de 171 bolívares por dólar foi adotada na semana passada, o que reflete uma desvalorização real de quase 70% na moeda da Venezuela.

No mercado negro, que alguns venezuelanos usam para realizar transações básicas, o dólar tem cotação ainda mais alta, da ordem de 190 bolívares. Mesmo para alguns dos adeptos mais leais de Chávez, Maduro não parece estar à altura de enfrentar a corrida por moeda forte. Jorge Giordani, um dos principais assessores econômicos de Chávez, declarou este mês que a Venezuela estava se tornando "piada" na América Latina, mencionando a corrupção e a burocracia labiríntica como fatores que acentuam o atoleiro econômico. "Precisamos reconhecer a crise, camaradas", disse Giordani, a quem o presidente demitiu no ano passado de seu posto como ministro das Finanças e Planejamento.

De fato, alguns economistas dizem que a hesitação do governo em reformar seus complexos controles cambiais pode intensificar os problemas econômicos da Venezuela."O sistema está completamente descontrolado", disse Francisco Rodríguez, economista chefe do Bank of America Merrill Lynch para a região andina, enfatizando que a disparada nos preços pode em breve ingressar no reino da hiperinflação, acelerando para os três dígitos este ano e para mais de 1.000% em 2016 se as políticas atuais forem mantidas. Maduro parece reconhecer que algumas mudanças econômicas profundas são necessárias na Venezuela, detentora das maiores reservas mundiais de petróleo, o que cria a ilusão de riqueza inexaurível.

Ele apoia um aumento no preço da gasolina, que custa menos de três centavos de dólar por litro à taxa oficial de câmbio mais forte; existe resistência considerável a essa medida mesmo que os subsídios ao combustível custem mais de US$ 12 bilhões (R$ 34,8 bilhões) ao ano para o governo.

Haverá eleições legislativas este ano e os partidários de Maduro parecem vulneráveis, e por isso o presidente está tentando escorar sua base. A despeito das queixas generalizadas sobre as dificuldades econômicas e os índices elevados de crimes violentos, há quem continue leal a Maduro por conta da vasta gama de programas sociais do governo. Para alguns venezuelanos que enfrentam dificuldades para se manter, a desordem econômica que veem em torno deles explica por que o presidente decidiu tomar os oposicionistas como alvo.

"Maduro está apavorado, e por isso está usando métodos mais totalitários, usando a polícia para colocar políticos na prisão", disse Eduardo de Sousa, 28, assistente em um laboratório farmacêutico. "Eles sabem que a revolução acabou, e estão com medo".

Tradução de PAULO MIGLIACCI
Folha de São Paulo

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Números do PISA derrubam mitos na educação

Exame internacional desfaz 7 mitos sobre eficiência da educação.


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza | Atualizado em 05.03.2020

Andreas Schleicher é um físico, matemático e estatístico alemão nascido em 1964 e grande pesquisador na área da educação. É ele o criador e atual responsável pela aplicação do PISA, sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes de responsabilidade da OCDE, sigla para Organização para Cooperação ao Desenvolvimento Econômico.

O PISA avalia estudantes na faixa de 15 anos, de todo mundo, a cada 3 anos. O objetivo é avaliar os sistemas educacionais de pelo menos 65 países com provas de leitura, matemática e ciências. No teste de 2012 participaram mais de 500 mil estudantes, inclusive o Brasil que classificou-se em 58º lugar em leitura, 55º em matemática e 59º em ciências. Shangai, Cingapura e Hong Kong foram os primeiros colocados.

Baseado nos números obtidos na avaliação, Andreas Schleicher destrói alguns mitos, ainda arraigados entre educadores brasileiros e usados para justificar o atraso escolar dos alunos. A matéria foi publicada pela BBC Brasil.

Andreas Schleicher, criador do projeto e ainda
seu coordenador
BBC BRASIL  8 DE ABRIL DE 2015

Mito 1. Alunos pobres estão destinados a fracassar na escola

Em salas de aula de todo o mundo, professores lutam para impedir que alunos mais pobres fiquem em desvantagem também no aprendizado. No entanto, resultados do Pisa mostram que 10% dos estudantes de 15 anos de idade mais pobres em Shangai, na China, sabem mais matemática do que os 10% dos estudantes mais privilegiados dos Estados Unidos e de vários países europeus.

Crianças de níveis sociais similares podem ter desempenhos muito diferentes, dependendo da escola que frequentam ou do país onde vivem. Sistemas de educação em que estudantes mais pobres são bem sucedidos tem capacidade para moderar a desigualdade social. Eles tendem a atrair os professores mais talentosos para as salas de aula mais difíceis e os diretores mais capazes para as escolas mais pobres, desafiando os estudantes com padrões altos e um ensino excelente.

Alguns americanos criticam comparações educacionais internacionais, argumentando que elas têm um valor limitado porque os Estados Unidos têm divisões sócio econômicas muito particulares.

Estudantes em escolas mais simples em Xangai
costumam se sair melhores que estudantes ricos
dos Estados Unidos
Mas os Estados Unidos são mais ricos do que a maioria dos outros países e gastam mais dinheiro com educação do que a maioria. Pais e mães americanos têm melhor nível educacional do que a maioria dos pais e mães em outros países e a proporção de estudantes de nível sócio econômico baixo nos EUA está perto da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).

O que as comparações revelam é que as desvantagens sócio econômicas têm impacto particularmente forte sobre o desempenho de estudantes nos Estados Unidos. Em outras palavras, nos Estados Unidos, dois alunos de níveis sócio econômicos diferentes variam muito mais em seu aprendizado do que se observa em outros países que integram a OCDE.

Mito 2. Países onde há muitos imigrantes têm pior desempenho

Integrar estudantes imigrantes, ou descendentes de imigrantes, pode ser um desafio. No entanto, resultados dos exames Pisa mostram que não há relação entre a porcentagem de estudantes imigrantes - ou descendentes de imigrantes – em um dado país e o desempenho dos estudantes daquele país nos exames.

Estudantes com históricos de imigração e níveis sociais similares apresentam desempenhos variados em países diferentes, o que sugere que as escolas onde os alunos estudam fazem muito mais diferença do que os lugares de onde os alunos vêm.

Mito 3. É tudo uma questão de dinheiro

A Coreia do Sul - país com melhor desempenho (em termos individuais) em matemática na OCDE - gasta, por estudante, bem menos do que a média. O mundo não está mais
dividido entre países ricos e bem educados e países pobres e mal educados. O sucesso em sistemas educacionais não depende mais de quanto dinheiro é gasto e, sim, de como o dinheiro é gasto.

Estudantes eslovacos apresentam uma média de
desempenho similar à de um estudante americano,
apesar de os EUA gastarem mais que o
dobro por estudante.
Se quiserem competir em uma economia global cada vez mais focada no conhecimento, os países precisam investir em melhorias na educação. Porém, entre os integrantes da OCDE, gastos com educação por estudante explicam menos de 20% da variação no desempenho dos alunos.

Por exemplo, aos 15 anos de idade, estudantes eslovacos apresentam uma média de desempenho similar à de um estudante americano da mesma idade. No entanto, a Eslováquia gasta cerca de US$ 53.000 para educar cada estudante dos 6 aos 15 anos de idade, enquanto os Estados Unidos gastam mais de US$ 115.000 por estudante. 

Mito 4. Salas de aula menores elevam o nível

Por toda parte, professores, pais e autoridades responsáveis por políticas educacionais apontam salas de aula pequenas, com poucos alunos, como essenciais para uma educação melhor e mais personalizada. Reduções no tamanho da classe foram a principal razão para os aumentos significativos nos gastos por estudante verificados na maioria dos países ao longo da última década.

Apesar disso, os resultados do Pisa mostram que não há relação entre o tamanho da classe e o aprendizado, seja internamente, em cada país, ou se compararmos os vários países.

E o que é mais interessante: os sistemas educacionais com melhor desempenho no Pisa tendem a dar mais prioridade à qualidade dos professores do que ao tamanho da classe. Sempre que têm de escolher entre uma sala menor e um professor melhor, escolhem a segunda opção. Por exemplo, em vez de gastarem dinheiro com classes pequenas, eles investem em salários mais competitivos para os professores, desenvolvimento profissional constante e cargas horárias equilibradas.

Sistema educacional americano tem altos custos mas com resultados mistos

Mito 5. Sistemas únicos de educação são mais justos, sistemas seletivos oferecem resultados melhores

Parece haver um consenso, entre educadores, de que sistemas educacionais não seletivos, que oferecem um mesmo programa de ensino para todos os estudantes, são a opção mais justa e igualitária. E que sistemas onde alunos aparentemente mais inteligentes são selecionados para frequentar escolas com programas diferenciados oferecem melhor qualidade e excelência de resultados. No entanto, comparações internacionais mostram que não há incompatibilidade entre qualidade do aprendizado e igualdade. Os sistemas educacionais que apresentam melhores resultados combinam os dois modelos. Nenhum dos países com alto índice de estratificação está no grupo de sistemas educacionais com os melhores resultados - ou entre os sistemas com a maior proporção de estudantes com o melhor desempenho.

Mito 6. O mundo digital requer novas matérias e um currículo novo

Globalização e mudanças tecnológicas estão tendo um grande impacto sobre os conteúdos que estudantes precisam aprender. Num mundo onde somos capazes de acessar tantos conteúdos no Google, onde habilidades rotineiras estão sendo digitalizadas ou terceirizadas e onde atividades profissionais mudam constantemente, o foco deve estar em permitir que as pessoas tornem-se aprendizes para a vida toda, para que possam lidar com formas complexas de pensar e trabalhar.

Resumindo, o mundo moderno não nos recompensa mais apenas pelo que sabemos, mas pelo que podemos fazer com o que sabemos. Como resposta, muitos países estão expandindo currículos escolares para incluir novas matérias. A tendência mais recente, reforçada pela crise financeira, foi ensinar finanças aos estudantes.

Porém, os resultados do Pisa mostram que não há relação entre o grau de educação financeira e a competência dos estudantes no assunto. Na verdade, alguns dos sistemas de educação em que os estudantes tiveram o melhor desempenho nas provas do Pisa que avaliaram competência em finanças não ensinam finanças - mas investem pesado no desenvolvimento de habilidades matemáticas profundas.

De maneira geral, nos sistemas educacionais de melhor desempenho, o currículo não é amplo e raso. Ele tende a ser rigoroso, com poucas matérias que são bem ensinadas e com grande profundidade.

Mito 7. O segredo do sucesso é o talento inato

Livros de psicólogos especializados em educação tendem a reforçar a crença de que o desempenho de um aluno brilhante resulta de inteligência inata, e não do trabalho duro. Os resultados do Pisa questionam também este mito.

Escola em Sichuan, na China, mostra que não há incompatibilidade entre resultados bons e acesso justo

Às vezes, professores se sentem culpados por pressionar estudantes tidos como menos capazes, acham injusto fazer isso com o aluno. O mais provável é que tentem fazer com que cada estudante atinja a média de desempenho dos alunos em sua classe. Na Finlândia, em Cingapura ou Xangai, por outro lado, o objetivo do professor é que alunos alcancem padrões altos em termos universais.

Uma comparação entre as notas escolares e o desempenho de estudantes no Pisa também indica que, frequentemente, professores esperam menos de alunos de nível sócio econômico mais baixo. E pode ser que os próprios alunos e seus pais também esperem menos. A não ser que aceitem que todas as crianças podem alcançar os níveis mais altos de desempenho, é pouco provável que os sistemas educacionais (com resultados piores) possam se equiparar aos dos países com índices de aprendizado mais altos.

Na Finlândia, Japão, Cingapura, Shangai e Hong Kong, estudantes, pais, professores e o público em geral tendem a compartilhar a crença de que todos os estudantes são capazes de alcançar níveis altos. Um dos padrões mais interessantes observados entre alguns dos países com melhor desempenho foi o abandono gradual de sistemas nos quais estudantes eram separados em diferentes tipos de escolas secundárias.

Esses países não fizeram essa transição calculando a média de desempenho (entre todos os grupos) e usando essa média como o novo padrão a ser almejado. Em vez disso, eles colocaram a nova meta lá em cima, exigindo que todos os estudantes alcançassem o nível que antes era esperado apenas dos estudantes de elite.

Nota do autor: São muitos os exemplos de alunos brasileiros pobres em regiões com IDH baixo e com índices altos, como mais de 80 escolas do Ceará (que usam método fônico) entre as 100 melhores notas nacionais do  IDEB. Escolas localizadas em regiões de pobreza e violência e com índices de IDEB elevados - como Teresina que chegou em primeiro entre todas as capitais do país em 2017 - são evidências que a maioria dos governantes ignoram e os "doutores em educação" escondem. Sobral com 9,1 pontos é a cidade campeã no IDEB anos iniciais do ensino básico, entre todas as escolas do país. E, nos anos finais, a nota de Sobral foi, em 2017, de 7,2 quando a nota média do Brasil, neste segmento, é 4,4 pontos, apenas.

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