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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Pós e mestrados tem pouco impacto no desempenho de alunos, diz pesquisa


Pesquisas apontam evidências ignoradas pelos governantes. (Foto Getty Images)

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

As análises foram realizadas pela Consultoria iDados, do Instituto Alfa e Beto e foram publicadas no documento "Para desatar os nós da educação: Uma nova agenda", assinado pelo especialista na área, professor João Batista Araújo.

Esse documento analisa, entre outros assuntos, a evolução da matrícula e financiamento, qualidade da educação, as determinantes do desempenho escolar e apresenta propostas de longo e curto prazos como "transformar o magistério numa carreira atraente para pessoas com elevado desempenho acadêmico; substituir a cultura de leis e regulação por políticas baseadas em evidências, incentivos e resultados; inserir as políticas de educação no contexto da formação de capital humano; estabelecer um currículo de qualidade e implementar as medidas decorrentes em relação aos livros didáticos; reformar a reforma do ensino médio; aprimorar o sistema de avaliação; dar chances para a juventude engajar-se no mundo do trabalho e equacionar o financiamento da educação."

Os estudos da Consultoria iDados concluíram, também:

- É praticamente nula a relação entre tamanho da população de um município e o desempenho dos alunos da rede pública, em Matemática.
- Não há diferenças no desempenho das redes estaduais x redes municipais.
- Maior volume de despesas pelos municípios não gera impacto significativo na qualidade.
- O ensino em tempo integral apresenta resultados modestos e gera custos altos.

Professores com títulos melhoram notas dos alunos?

Destacam-se dois assuntos que chamam a atenção: a irrelevância da correlação Professores com títulos x Desempenho dos alunos e Salários x Desempenho escolar.


- Títulos de pós-graduação aumentam entre 0,2 e 1,4 pontos na prova de Matemática do 5º ano – essa prova tem um desvio-padrão de 50 pontos, portanto são aumentos irrelevantes.
- O mesmo ocorre nas séries finais. Seria de se esperar um aumento significativo devido aos cursos de Mestrado, pois estes deveriam contribuir para um maior nível de conhecimento dos conteúdos ensinados.


A pesquisa científica do iDados também concluiu que o salário do professor tem pouco impacto no desempenho dos alunos.
 
- As figuras acima mostram o ganho de pontos em função do salário dos professores do 5° e 9° anos, comparado com um salário referência de R$ 1.405,00.

- Os ganhos são modestos. Nas séries iniciais, cada R$ 500 aumenta um ponto na nota, nas séries finais, os aumentos precisam ser mais vultosos para impactar nas notas. Vale observar a diferença entre 2,8 e 3,2 mil reais e um salário de mais de 6,5 mil reais: é o dobro do custo para um aumento de apenas 2 pontos.

- A maior diferença é de 6 pontos (meio ano escolar) para uma diferença salarial de mais de 5.000 reais/mês. Essa diferença é estatisticamente significante.

Fonte: Instituto Alfa e Beto

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Escolas particulares são piores que Sobral

Além do IDEB de 7,1 das escolas particulares (média nacional), comparável com redes públicas gratuitas, a lenta evolução é assustadora: em 12 anos as particulares evoluíram apenas 1,2 pontos. No mesmo período as escolas municipais de Sobral evoluíram 5,1 pontos. Em 2017 Sobral registrou 9,1 no IDEB.

Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Faz dias um pai ligou-me contando que seu filho não sabe ler e tem imensa dificuldade de escrita. Ele estuda no terceiro ano do Ensino Básico de uma escola municipal que utiliza método global/construtivista. Queria um conselho e perguntou-me se escola particular seria uma solução.

Essa é uma dúvida comum entre pais que escolhem as escolas para seus filhos considerando tudo, menos o método e metodologias de alfabetização. Se nem mesmo secretários da educação, coordenadores pedagógicos e diretores sabem sobre alfabetização, além das teorias mofadas do método global e o construtivismo de Piaget, imagine para um pai decidir sobre tal.

MÉTODO GLOBAL NÃO ALFABETIZA

Se soubessem não repetiriam as mesmas propostas pedagógicas, anos e anos, com péssimos resultados. A maioria das cidades que usa método global/construtivista evoluiu, em 10 anos, apenas 1 ou 1,5 pontos no Ideb. E, por total ignorância em processos de alfabetização, continuam repetindo as mesmas bobagens pedagógicas, sem resultados.

Pior que tudo isso é o rio de dinheiro jogado no lixo. Garça, no Estado de S. Paulo, até novembro de 2019 investiu cerca de R$ 34 milhões na sua rede escolar de 23 escolas e cerca de 3 mil alunos (salários, transportes, materiais didáticos, merenda...) e o resultado de tanto investimento e esforço de um ano inteiro de trabalho será, provavelmente, o mesmo dos últimos 10 anos: evolução de 0,1 ponto. Resultado irrelevante e grave para uma cidade que vê tanto dinheiro desperdiçado, sem avanço significativo.

(PS: em 2021 a Secretaria Municipal de Educação da cidade de Garça abandonou o método Sesi - método global/construtivista - depois de 8 anos. Nesse período o Ideb caiu e os estudantes continuaram analfabetos).

E não raciocinam, não mudam, não pensam em novos caminhos, não tem coragem de buscar ou pelo menos conhecer método com resultados excelentes, evidentes, claros, visíveis, irrefutáveis e sentidos em todas as avaliações produzidas interno e externamente. Muitos mal consultam ou analisam os índices e se assustam com escolas paupérrimas que conseguem atingir notas acima de 9, no Ideb.

As mesmas dificuldades encontradas nas redes públicas estaduais ou municipais estão nas escolas particulares, também. Tanto que as escolas pagas evoluem tão lentamente quanto as públicas e suas notas de Ideb são próximas. A média nacional das escolas particulares ficou em apenas 7,1 enquanto cidades como Sobral, no Ceará batem 9,1 pontos com índice de proficiência em matemática entre 8 e 9 (numa escala de 1 a 9).

SOBRAL USA FÕNICO

Quanto se foca nas metas propostas pelo MEC e na evolução nos últimos anos, a situação piora: escolas conduzidas por método global/construtivista apanham das unidades trabalhadas com método e metodologias que realmente alfabetizam no primeiro ano do ensino básico (método fônico), como são as escolas públicas de Sobral. E as diferenças são enormes.

Entre 2005 e 2017, Sobral evoluiu 5,1 pontos no IDEB (3,5 pontos acima da meta) contra 1,2 pontos das escolas particulares em todo Brasil que ficaram abaixo da meta. Além de Sobral várias outras escolas cearenses ultrapassaram a meta com facilidade inclusive as 12 cidades do Vale da Rapadura que adotaram o mesmo método fônico de Sobral.

Escolas de cidades pobres, com IDH baixo, índice de violência alto e renda per capita pequena, são melhores que as suntuosas escolas particulares. Pelo menos o Ideb escancara esses números incontestáveis. As pobres cidades cearenses que adotaram método fônico de alfabetização são melhores que as fantásticas, maravilhosas, equipadas e propagandeadas escolas do Sesi. Só uma escola Sesi obteve 7,1 no Ideb e fez espalhafatosa comemoração.

Teresina, capital de um dos mais pobres estados brasileiros e com alto índice de violência, chegou em primeiro lugar nos anos iniciais entre todas as capitais do país. Esse resultado cala os discursos das "doutoras" em educação que passaram os últimos 20 anos justificando que a condição social baixa do aluno era um grave problema para se obter resultados melhores na educação brasileira. Teresina tem IDH-M de 0,751, considerado alto ficou em primeiro lugar entre todas as capitais brasileiras, inclusive S.Paulo com o seu pomposo IDH-M de 0,833. Ocorre que Teresina jogou no lixo as invencionices pedagógicas de Piaget - usadas em S. Paulo - e usa método fônico.

IDEB 2017 SOBRAL (CE) ANOS INICIAIS
Com método fônico, Sobral evolui 5,1 pontos entre 2005 e 2017. Exatos 3,5 pontos acima da meta estabelecida pelo MEC.

IDEB 2017 BRASIL ESCOLAS PARTICULARES ANOS INICIAIS
No mesmo período as escolas particulares evoluíram apenas 1,2 pontos em 12 anos, só 0,1 ponto, por ano. E ainda ficou abaixo da meta.

Quem consulta o QEdu percebe que muitas escolas particulares fogem das provas do Saeb (Sistema de Avaliação do Ensino Básico) que indicam os índices do IDEB, com medo de notas baixas. Muitas particulares contrataram coordenadores pedagógicos do Estado, onde se pratica o construtivismo e, ao longo de poucos anos, essas escolas despencaram o nível do ensino nos anos iniciais.

O Sesi, com suas majestosas e propagandeadas super escolas equipadas, só conseguiu colocar uma única unidade (em MG) com nota 7,1. O Sesi usa método de alfabetização condenado pela neurociência e seu Ideb é menor que muitas escolas paupérrimas que usam método fônico. O quadro acima (Sobral x Escolas Particulares) responde a pergunta.

Existe relação entre gastos com educação e desempenho de alunos?




Todos os países líderes no PISA não são os mais ricos ou os que investem mais em educação.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

As evidências mostram que a correlação gastos x desempenho escolar inexiste. O tema abordado faz parte do estudo internacional Educação Baseada em Evidências (Como saber o que funciona em educação) produzido por Micheline Christophe, Gregory Elacqua, Matias Martinez e João Batista Araujo e Oliveira. Neste link encontra-se o trabalho completo.

As evidências disponíveis sugerem a inexistência de relação consistente entre gastos e desempenho. Estudos do PISA - sigla inglesa para o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, mantido pela OCDE - derrubam esse mito, pelo menos na esfera pública.

Para responder se "Dinheiro investido na educação garante bom desempenho no PISA?" os pesquisadores da Organização para Cooperação ao Desenvolvimento Econômico analisaram os países participantes do PISA em 2012 e concluíram que não importa "maior renda do país ou maior gasto em educação" para garantir bom desempenho nas provas de matemática, língua e ciência realizadas cada três anos, entre alunos na faixa de 15 anos, em todo mundo. E os resultados mostram que os melhores do PISA não são de países ricos que investiram mais na área.

MAIS DINHEIRO NA EDUCAÇÃO GARANTE BOM DESEMPENHO NO PISA?

- Países com maior renda ou que investem mais na educação não garantem melhor desempenho dos seus alunos.

- Mais importante não é quanto se investe mas como o dinheiro é investido.

- Os países líderes no PISA não são os mais ricos ou que investem mais em educação.

- A maior média na prova de Leitura do Pisa está entre países com com PIB per cápta em torno de US$ 20.000 e maior renda.

- As despesas com educação não tem relação com desempenho acadêmico quando os investimentos ultrapassam US$ 50.000 de despesa/aluno.

- Países como Estados Unidos, Noruega e Suíça que investem mais de US$ 100.000 por aluno, dos 6 aos 15 anos, tem níveis de desempenho iguais a países que investem a metade desse valor, como Estônia, Hungria e Polônia.

- Países líderes no PISA, como Coreia do Sul, China/Hong Kong, os professores tem prestígio, ganham bons salários e tem boa formação acadêmica. Nesses países os alunos com melhor desempenho não são separados dos alunos com desempenho pior.

- Cingapura investe o mesmo que Finlândia e Itália mas o desempenho em matemática dos seus alunos está muito acima destes dois países.

- Shangai (China), apesar de investir a metade dos US$ 100.000 que os Estados Unidos gastam com alunos entre 6 e 15 anos, tem o melhor desempenho acadêmico do mundo.

- Os 10% dos alunos mais pobres de Shangai sabem mais matemática que os 10% dos alunos mais ricos da Europa.

- O Brasil investe, na educação, o mesmo que Turquia e Tailândia mas seus estudantes têm desempenho pior.

O PISA ainda mostrou que há um limite mínimo para investimento por alunos dos 6 anos 15 anos: a partir de US$ 7.000 os investimentos não impactam na qualidade.

A conclusão dos estudos Educação Baseada em Evidências (Como saber o que funciona em educação) diz que "As evidências produzidas por pesquisas científicas sobre a relação entre investimento em Educação e desempenho acadêmico dos alunos indicam que não adianta simplesmente injetar mais recursos nas escolas, embora também não se possa concluir que os recursos não sejam importantes, como pondera Hanushek em vários trabalhos (1998, 2001, 2010, dentre outros). Importa menos quanto se investe do que como se gastam os recursos."

Em seu relatório, sobre o tema, considera "quando o nível de gasto em educação é baixo, é muito provável que aumentar o investimento gere ganhos de aprendizagem."

O documento considera, também, que países pobres que investem na infraestrutura da escola possa aumentar a frequência e o desempenho de alunos. Outra consideração é que há correlação entre bons professores X melhor desempenho dos alunos.

Diz o estudo: "Com algumas exceções nos países da OCDE, os gastos públicos em Educação vêm aumentando na Educação Básica (que inclui Pré Escola, Ensino Fundamental e Ensino Médio). O Brasil não investe pouco, mas gasta mal, seja na distribuição entre os níveis ou dentro dos mesmos. O país investe um pouco menos da média dos membros da OCDE e acima dos EUA, por exemplo, como proporção do PIB. O gasto por aluno no Ensino Superior no Brasil é cinco vezes o gasto por aluno no Ensino Fundamental. Isso é muito acima da média dos países da OCDE, que fica na razão de 2 / 1."

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Existe relação entre gastos com educação e desempenho dos alunos?


Os países líderes no PISA não são os mais ricos ou os que investem mais em educação.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

As evidências mostram que a correlação gastos x desempenho escolar inexiste. O tema abordado faz parte do estudo internacional Educação Baseada em Evidências (Como saber o que funciona em educação) produzido por Micheline Christophe, Gregory Elacqua, Matias Martinez e João Batista Araujo e Oliveira. Neste link encontra-se o trabalho completo.

As evidências disponíveis sugerem a inexistência de relação consistente entre gastos e desempenho. Estudos do PISA - sigla inglesa para o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, mantido pela OCDE - derruba esse mito, pelo menos na esfera pública.

Para responder se "Dinheiro investido na educação garante bom desempenho no PISA?" os pesquisadores da Organização para Cooperação ao Desenvolvimento Econômico analisaram os países participantes do PISA em 2012 e concluíram que não importa "maior renda do país ou maior gasto em educação" para garantir bom desempenho nas provas de matemática, língua e ciência realizadas cada três anos, entre alunos na faixa de 15 anos, em todo mundo. E os resultados mostram que os melhores do PISA não são de países ricos que investiram mais na área.

MAIS DINHEIRO NA EDUCAÇÃO GARANTE BOM DESEMPENHO NO PISA?

- Países com maior renda ou que investem mais na educação não garantem melhor desempenho dos seus alunos.

- Mais importante não é quanto se investe mas como o dinheiro é investido.

- Os países líderes no PISA não são os mais ricos ou que investem mais em educação.

- A maior média na prova de Leitura do Pisa está entre países com com PIB per cápta em torno de US$ 20.000 e maior renda.

- As despesas com educação não tem relação com desempenho acadêmico quando os investimentos ultrapassam US$ 50.000 de despesa/aluno.

- Países como Estados Unidos, Noruega e Suíça que investem mais de US$ 100.000 por aluno, dos 6 aos 15 anos, tem níveis de desempenho iguais a países que investem a metade desse valor, como Estônia, Hungria e Polônia.

- Países líderes no PISA, como Coreia do Sul, China/Hong Kong, os professores tem prestígio, ganham bons salários e tem boa formação acadêmica. Nesses países os alunos com melhor desempenho não são separados dos alunos com desempenho pior.

- Cingapura investe o mesmo que Finlândia e Itália mas o desempenho em matemática dos seus alunos está muito acima destes dois países.

- Shangai (China), apesar de investir a metade dos US$ 100.000 que os Estados Unidos gastam com alunos entre 6 e 15 anos, tem o melhor desempenho acadêmico do mundo.

- Os 10% dos alunos mais pobres de Shangai sabem mais matemática que os 10% dos alunos mais ricos da Europa.

- O Brasil investe, na educação, o mesmo que Turquia e Tailândia mas seus estudantes têm desempenho pior.

O PISA ainda mostrou que há um limite mínimo para investimento por alunos dos 6 anos 15 anos: a partir de US$ 7.000 os investimentos não impactam na qualidade.

A conclusão dos estudos Educação Baseada em Evidências (Como saber o que funciona em educação) diz que "As evidências produzidas por pesquisas científicas sobre a relação entre investimento em Educação e desempenho acadêmico dos alunos indicam que não adianta simplesmente injetar mais recursos nas escolas, embora também não se possa concluir que os recursos não sejam importantes, como pondera Hanushek em vários trabalhos (1998, 2001, 2010, dentre outros). Importa menos quanto se investe do que como se gastam os recursos."

Em seu relatório, sobre o tema, considera "quando o nível de gasto em educação é baixo, é muito provável que aumentar o investimento gere ganhos de aprendizagem."

O documento considera, também, que países pobres que investem na infraestrutura da escola possa aumentar a frequência e o desempenho de alunos. Outra consideração é que há correlação entre bons professores X melhor desempenho dos alunos.

Diz o estudo: "Com algumas exceções nos países da OCDE, os gastos públicos em Educação vêm aumentando na Educação Básica (que inclui Pré Escola, Ensino Fundamental e Ensino Médio). O Brasil não investe pouco, mas gasta mal, seja na distribuição entre os níveis ou dentro dos mesmos. O país investe um pouco menos da média dos membros da OCDE e acima dos EUA, por exemplo, como proporção do PIB. O gasto por aluno no Ensino Superior no Brasil é cinco vezes o gasto por aluno no Ensino Fundamental. Isso é muito acima da média dos países da OCDE, que fica na razão de 2 / 1."

Quanto os países gastam em educação?

O tema abordado faz parte do estudo internacional Educação Baseada em Evidências (Como saber o que funciona em educação) produzido por Micheline Christophe, Gregory Elacqua, Matias Martinez e João Batista Araujo e Oliveira.


Por João Batista Oliveira

As opiniões são divididas, mas raramente os argumentos se baseiam nos mesmos dados. De um lado, as evidências disponíveis sugerem, como documentado no presente capítulo, a inexistência de relação consistente entre gastos e desempenho. De outro lado, atores educacionais – em todos os países do mundo – argumentam que a Educação vai mal porque os recursos são limitados. No presente capítulo, examinamos os dados referentes aos gastos educacionais de diversos países, com base nos relatórios da OCDE (Organizaçāo para a Cooperaçāo e Desenvolvimento Econômico), revemos os principais estudos nacionais e internacionais sobre o tema e concluímos com uma breve discussão a respeito do tema. Cabe uma nota: a maioria dos estudos considera apenas os gastos públicos, não incorpora os gastos privados com o ensino, que, em alguns países, pode representar uma parcela significativa dos investimentos e que poderia estar associada aos resultados que não seriam explicados apenas pelos investimentos dos governos.

Os últimos dados disponíveis no anuário da OCDE de 2013 referem-se a 2010. São cálculos para os países da OCDE e parceiros. O gasto de um aluno nos níveis primários até o ensino superior, em 2010, oscila de US$ 4.000 ou menos (na Argentina, Brasil e México) a mais de US$ 10.000 (na Austrália, Áustria, Dinamarca, Finlândia, França, Irlanda, Japão, Holanda, Noruega, Suécia, Suíça e Reino Unido) atingindo US$ 15.000 nos EUA (Figura 2.1).

A Figura 2.1 mostra o gasto anual público e privado por aluno, nas instituições de ensino, em equivalentes PPPs (poder de paridade de compra). Discrimina a despesa por tipo de serviço: serviços básicos educacionais (inclui todas as despesas diretamente relacionadas com ensino: professores, instalações, material didático, livros e despesas administrativas das escolas) e serviços complementares (como transporte, refeições, alojamento) e P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). Para alguns países, os dados disponíveis só informam o total de gasto por aluno (caso dos países localizados à direita na figura). Em média, os países da OCDE gastam US$ 9.313 por aluno, por ano, nos diferentes níveis de ensino, sendo US$ 7.974 no primário, US$ 9.014 no ensino médio e US$ 13.528 no Ensino Superior. Em média, os países da OCDE gastam por aluno no ensino superior o dobro do gasto por aluno no primário (equivalente, no Brasil, ao Primeiro Fundamental). Quando se exclui a despesa com P&D e serviços complementares, o custo do aluno no ensino superior é 10% maior do que o custo do aluno no primário (Figura 2.2).


O Brasil gasta cinco vezes mais por aluno no ensino superior, sendo o que mais gasta dentre os países pesquisados. Na Figura 2.2 estão apresentadas as proporções de gastos por aluno dos países nos diversos níveis em relação à educação primária (considerada 100), com os países ordenados pelo gasto por aluno no ensino superior em relação ao primário. Uma razão de 300 de gasto por aluno no ensino superior significa que o custo é três vezes o gasto por aluno no nível Primário. Observa-se na Figura 2.2 que o Brasil fica completamente fora da média, gastando quase cinco vezes mais com um aluno no Ensino Superior que com o aluno do Primário. No Primário e Secundário (Fundamental e Médio, no Brasil), 94% dos gastos por aluno são alocados em serviços educacionais básicos, ligados ao ensino. No Ensino Superior, essa proporção se altera, uma vez que 31% da despesa é gasta em PeD. De 2005 a 2010, o gasto por aluno aumentou 17% em média nos países da OCDE, mas, entre 2009 e 2010, o investimento em educação em 1/3 dos países da OCDE diminuiu, basicamente, em função da crise econômica. O cálculo da média mascara uma grande diferença de gastos por aluno nos diversos países, variando por um fator de 11 no Primário e 7 no Ensino Médio. No Primário, os gastos variam de US$ 2.400, ou menos por aluno (México e Turquia) a US$ 21.240 em Luxemburgo. No secundário, a diferença oscila entre US$ 2.600, ou menos por aluno (Brasil e Turquia) a US$ 17.633 em Luxemburgo (Figura 2.3).





Educação Baseada em Evidências é um estudo produzido por Micheline Christophe, Gregory Elacqua, Matias Martinez e João Batista Araujo e Oliveira.

Micheline Christophe é Mestre em Demografia e Estudos Populacionais (ENCE/IBGE), especialista em Educação (UFRJ) e Administração Pública (FGV), com licenciatura em História (PUC-Rio). Foi Coordenadora Geral do Centro de Documentação e Disseminação de Informações do IBGE, pesquisadora do IETS e membro da equipe técnica do Instituto Alfa e Beto.

Gregory Elacqua Ph.D. em Políticas Públicas (Princeton University, EUA), Mestre em International and Public Affairs (Columbia University, EUA) e bacharel em Ciências Sociais (Boston University, EUA), Gregory Elacqua dedicou boa parte das suas pesquisas em escolas no Chile e outros países da América Latina, onde trabalhou ativamente com reformas de políticas públicas relacionadas à Educaçāo. Foi Diretor do Instituto de Políticas Públicas na School od Business and Economics da Universidad Diego Portales (UDP), no Chile. Atialmente é Economista Principal na Divisão de Educação do Departamento do Setor Social no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Washington DC (EUA).

Matías Martínez Bacharel em Economia e Mestre em Políticas Públicas pela Universidad de Chile, é pesquisador do Instituto de Políticas Públicas da Universidad Diego Portales, no Chile. Sua pesquisa enfoca a análise das diversas políticas educativas como: incentivos docentes, violência escolar, livre escolha e accountability.

Joāo Batista Araujo e Oliveira PhD em Educação e psicólogo, com mais de 50 anos de vida dedicados à Educação, lecionou na Rede do Estado de Minas Gerais e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No exterior, foi professor em universidades como a Université de Bourgogne (França), bem como funcionário de instituições como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, e o Banco Mundial, em Washington. Concluiu sua carreira pública como Secretário Executivo do Ministério da Educação (MEC), em 1995. Desde 2006 criou e preside o Instituto Alfa e Beto.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Evolução no IDEB x Investimento na Educação

Sala de aula da Escola Esmerino Arruda, em Granja (CE): A meta do Ideb para 2017 era de 4,0 pontos mas a escola atingiu 9,3 com índice 9 do Saeb de proficiência em matemática. Granja tem o segundo pior IDH do estado do Ceará que tem um dos mais baixos índices brasileiros.
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Quando se compara a Evolução do Ideb x Despesas em Educação por Aluno de algumas cidades brasileiras, evidências ficam expostas com muita clareza: a correlação "mais investimento/melhores índices do Ideb" não se consuma. Pelo menos nas análises dos anos iniciais do Ensino Básico, nas redes municipais.

Em 2017 Sobral (CE) obteve a melhor nota nacional do Ideb (Aprendizado 9,12/Fluxo 1,00/Ideb 9,1) investindo a quantia média de R$ 4.722,33 por aluno enquanto Marília (SP) despendeu mais de R$ 9.000,00/aluno para conseguir nota 7,2. Os investimentos referem-se aos últimos 5 anos e as notas do Ideb referem-se a 2017. Sobral investiu quase a metade (52,24%) que a rica cidade de Marília. Quando se confrontam dados do IDH-M entre as duas cidades percebe-se que caem as justificativas de que a condição social do aluno fosse o impedimento para seu avanço escolar. Basta lembrar que estatísticas do PISA mostram que os alunos mais pobres de Xangai, Vietnã, Japão, Coreia do Sul sabem mais matemática que os 10% dos alunos mais ricos da Europa. Idem Sobral, Brejo Santo e dezenas de cidades cearenses cujas redes são movidas pelo método fônico.

Sobral tem IDH-M de 0,714 e Marília 0,798 e a renda per capita da cidade cearense é menos da metade de Marília: R$ 448,89 x R$ R$ 953,20. Mesmo assim Sobral evoluiu quase 5 pontos nos últimos 10 anos contra 1,6 da cidade paulista. A rede Sesi, com prédios suntuosos e infra estrutura invejável, leva uma surra das escolas cearenses, pobres e desestruturadas. Motivo principal: o método utilizado para alfabetizar em muitas escolas cearenses é o fônico.
O vexame paulista conduzido pelo construtivismo se espalha por médias e grandes cidades como Campinas onde cada aluno custou, nos últimos 5 anos, R$ 15.478,40 aos cofres públicos e, pior, com um IDEB de apenas 6,1. O investimento total na rede, durante este período,  foi de R$ 907.527.741,17. Pra onde escorre tanto dinheiro?
Tupã e Garça, duas cidades da região da alta paulista gerenciadas por "doutores em educação" formados pela Unesp, entram na lista de vexames. Cada aluno de Tupã custou, no período, R$ 8,953,17 de um total de investimento de R$ quase 36 milhões e seu  IDEB foi de 6,8.

Garça, com quase 45 mil habitantes, conduzida pelo construtivismo, atingiu apenas 6,1 de IDEB (abaixo da meta) e despejou R$ 38 milhões em 2019. Nos últimos 5 anos o investimento médio foi de R$ 29.224,95 e cada aluno custou R$ 6.933,89.

Onde está o erro? No primeiro ano do ensino básico. No método de alfabetização que não alfabetiza. E, todos os anos, os gestores carregados de títulos, repetem a mesma pedagogia...e obtém os mesmos péssimos resultados. Todos os anos. Garça, por exemplo, em 10 anos, evoluiu 1 ponto no Ideb mesmo pagando ao Sesi por um método que não alfabetiza.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Educação: governos ignoram evidências científicas


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

- O que falta para melhorar a educação em nosso país? - perguntei para um empresário mariliense com a curiosidade de descobrir qual era seu nível de conhecimento nessa área. Imaginei que poderia até aceitar desconhecimento sobre o tema mas que jamais respondesse algo do tipo "falta investimento", assim buscando um culpado por tantos erros na educação, sem especificar quanto, onde e porque.

- Faltam investimentos! - proclamou ele, para minha decepção. E passou a discorrer o óbvio quando alguém ignora os números que apontam para o caos.

Explico: há retração na demanda de matrículas e por professores e a atual estrutura escolar é mais que suficiente. É preciso mudar o método de alfabetização e todos os números mostram isso. Aliás, não existe guerra para se escolher método de alfabetização. Existem números que apontam que o caos está no primeiro ano do ensino básico: o método de alfabetização utilizado no Brasil não alfabetiza.

Identicamente as matérias jornalísticas sobre educação produzidas por BBC Brasil, Rede Globo, e mesmo por revistas "especializadas" mostram a profunda falta de conhecimento sobre o tema. Por exemplo, para justificar os excelentes resultados das escolas municipais de Brejo Santo (cidade cearense de 48 mil habitantes, IDH baixo, renda per capita 70% menor que a média nacional) o repórter global ressalvou a merenda acompanhada por nutricionista, transporte de alunos e atualização dos professores mas, em nenhum momento citou que a explosiva mudança na qualidade do ensino tenha ocorrido por conta do método e metodologias de alfabetização, baseados no fônico. Lá, alunos do 5º ano tem 100% de aproveitamento em matemática, índice que escolas construtivistas estão distantes de alcançar. Em outras cidades cearenses escolas atingem índice 9 do Saeb de proficiência em matemática (escala de um a 9) impensável para Campinas e São Paulo, por exemplo. Das 100 melhores notas do Ideb em 2017, mais de 80 são de escolas que usam método fônico.

Evidências: escolas de Granja, uma pobre cidade do Ceará, tem índices de 9,3 no IDEB e proficiência de matemática de 9 na escala Saeb (que vai de zero a 9). Todas as escolas do Vale da Rapadura (região do Ceará com 12 cidades que adotaram o método fônico) tem IDEBd melhor que qualquer escola paulista (exceto as que adotaram o método fônico, também).

Em artigo recente assinado por João Batista Oliveira, o especialista em alfabetização disse que "os governos e empresários continuam torrando milhões – e mesmo bilhões de reais – em iniciativas inócuas" ignorando todas as evidências cientificas que mostram um caminho oposto ao trilhado ate agora.

João Batista Oliveira explica que "no campo da pesquisa educacional existem duas áreas exaustivamente pesquisadas em todo o mundo, com estudos rigorosos e resultados robustos. Uma delas diz respeito à leitura interativa para crianças desde o berço. A outra, à eficácia dos métodos de alfabetização de base fônica."

Enquanto isso o governo paulista de João Dória anunciou a ampliação das chamadas Escolas de Tempo Integral ignorando pesquisas sérias que mostram que os resultados são irrelevantes na correlação "mais horas na sala de aula X notas dos alunos."

Redes estaduais de educação são melhores do que as redes municipais?

Não há uma tendência consistente de melhoria nas redes estaduais ou municipais. O que há são bons exemplos isolados de alguns poucos estados e municípios.
Desempenho de redes municipais e estaduais é muito semelhante, e essa semelhança não se alterou ao longo dos últimos anos. (Camila Domingues, Palácio Piratini/Divulgação)

Por João Batista Oliveira  |  21 out 2019, 12h52

No 12º post da série baseada no Estudo “Para desatar os nós da educação – uma nova agenda”, tratamos de procurar saber se as redes estaduais são melhores do que as redes municipais. Para isso, é preciso que a maioria dos alunos das redes estaduais, na maioria dos municípios de um mesmo Estado, tenham melhor desempenho do que os alunos das redes municipais. 

Dado o que sabemos sobre a influência de fatores externos sobre o desempenho dos alunos e dado que o ambiente da cidade afetaria a todos de forma semelhante, somente uma rede estadual com uma seleção de alunos (ou uma gestão pedagógica muito eficaz) seria capaz de provocar tais resultados 

Há muita especulação a respeito. Por exemplo, as redes estaduais seriam mais organizadas, mais bem equipadas, possuem estruturas regionais – e, portanto, seriam mais capazes de prover bons serviços educacionais do que os municípios, especialmente os muito pequenos ou isolados. 

Outro argumento frequentemente levantado é o de que as redes estaduais conseguem atrair professores melhores – municípios muitas vezes não possuem critérios rigorosos de seleção ou não oferecem condições adequadas para os professores de sua rede. Também se especula que as redes estaduais possuem maior estabilidade – as equipes são mais permanentes tanto na sede quanto nas regionais. Enfim, são teorias, e que podem ser submetidas a testes. Fatos? Ou Mitos?

Eis o que dizem os dados. O gráfico abaixo apresenta o resultado agregado do conjunto das redes estaduais e das redes municipais. No conjunto, o desempenho é muito semelhante, e essa semelhança não se alterou ao longo do período estudado (2005 a 2017). Fizemos o mesmo estudo para as séries finais, e os resultados foram os mesmos.


Os dados estão aí, não dá para brigar com eles. Mas cabem interpretações. Uma delas é que as redes essencialmente seguem orientações semelhantes – seja por indução das redes estaduais, do MEC ou pela inércia. A outra seria que intervenções propostas pelas redes estaduais, mesmo onde são mais rigorosas, não seriam adequadas ou suficientes para surtir efeito. Uma terceira explicação seria a rotatividade de governos – pode até haver boas iniciativas, mas dificilmente elas resistem a mudanças de governo. 

O fato revelado pelos dados é que – quaisquer que sejam as causas – não há uma tendência consistente e sustentada de melhoria nas redes estaduais ou municipais. O que há, sempre, são casos individuais de estados e municípios – e, dentre esses, poucos se sustentam ao longo de vários anos.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Eficácia na sala de aula

O desempenho dos alunos melhora consideravelmente quando os professores utilizam mais tempo em sala de aula com atividades relevantes.

Por Miriam Nitcipurenco de Souza

Quando se pergunta o que falta para melhorar a educação no Brasil, as respostas são velhas conhecidas e, quase sempre, contrariam a realidade: faltam investimentos, faltam professores, faltam escolas.

Sobre investimentos, estatísticas do Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) mostram que investir dinheiro nem sempre significa dar boa educação.

Coreanos e brasileiros

A Coreia do Sul, cujos alunos permanecem entre os líderes do Pisa (particularmente em matemática), investe, em média, bem menos que a maioria dos países integrados na OCDE com resultados muito melhores.

Todas as capitais brasileiras perderam para Teresina, que atingiu o primeiro lugar na lista das melhores notas dos anos iniciais do Ideb, embora se localize num dos estados mais pobres do Brasil. Identicamente os investimentos na educação no Ceará são infinitamente menores que S. Paulo e Campinas mas, em 2017, 82 escolas cearenses estiveram na lista das 100 melhores notas do Ideb do país. Sobral atingiu nota 9,1 em 2017 contra 6 da capital paulista e 6,1 de Campinas.

Granja, um município com pouco mais de 50 mil habitantes, PIB per capita baixíssimo e detentora do segundo pior IDH do estado cearense, colocou três escolas na lista das melhores notas do Ideb do país. A maioria dos matriculados da Escola Esmerino Arruda é pobre mas seus alunos conquistaram nível de proficiência 9 em matemática, nível máxima da escala do Saeb. O método utilizado para alfabetização é o fônico.

Qualidade com equidade

“A demanda por matrículas e professores caiu em todo país e o sistema educacional já expandiu além dos limites”, como disse o professor João Batista Araújo em artigo no Jornal O Estado de S. Paulo. Para ele o desafio agora é “promover a qualidade com equidade e para isso é necessário utilizar melhor o tempo na sala se aula”.

Mais tempo com atividades relevantes

Estudos do Banco Mundial e pesquisas do iDados mostram que o desempenho dos alunos melhora consideravelmente quando os professores utilizam mais tempo em sala de aula com atividades relevantes. A mesma pesquisa mostra que, no Brasil, os professores que usam pelo menos 80% do seu tempo com atividades relevantes ficam entre 35% a 58% no 5º ano e entre 36% a 48% no 9º ano.

Considerando que as escolas públicas do país oferecem entre 4 a 4:30h de aulas por dia e levando em conta o recreio e o tempo desperdiçado acima citado, restam 2 horas/dia de aula, metade das 800 horas anuais e um desperdício de R$ 150 bilhões.

Outro ponto questionado: escola de tempo integral melhora os índices de aprendizado? Os números mostram que não. O aumento de tempo não está correlacionado com o desempenho nas notas da Prova Brasil. Isto é, os benefícios são irrelevantes.

A sugestão é simples: utilizar melhor o tempo em sala de aula (na média internacional os professores usam mais de 80% com atividades relevantes) além de aumentar para 5 horas o tempo das aulas. E um currículo simples e bem estruturado com práticas pedagógicas eficazes

Miriam Nitcipurenco de Souza é pedagoga

terça-feira, 28 de maio de 2019

A imprensa e o método de alfabetização

Por Carol Desoti

Um artigo do jornalista Hélio Schwartsman no Jornal Folha de São Paulo de hoje, 22 de março, revela dois importantes aspectos de um debate que não existe sobre a questão do método fônico na alfabetização.

Com muita argúcia e conhecimento de causa, o jornalista mostra que existem dois lados: um lado simpático, popular, que advoga o que ele chama de “construtivismo”. E um lado científico, das evidências, que são incontroversas a respeito da superioridade do método fônico e de seu uso nos países desenvolvidos. E o articulista da Folha conclui que a imprensa prefere tomar o lado simpático, em vez do lado que funciona.

Estamos diante de uma oportunidade única para avançar nessa questão. Há vinte anos militando na área de alfabetização, estou acostumado a conviver com a arrogância, prepotência, incompreensão, ignorância, má vontade, má fé e tantas outras características perversas da natureza humana. E é triste quando ela vem de pessoas que foram educadas, tiveram formação científica, ocupam posições importantes, mas abrem mão de tudo isso para, como diz Hélio Schwartsman, ficar do lado “simpático”.

O Instituto Alfa e Beto sempre esteve e estará ao lado das evidências. E continuaremos assim, ajudando a alfabetizar as crianças nos municípios onde somos bem-vindos.

A expectativa é que haja mais vozes como a do jornalista Hélio Schwartsman.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Educação: Tupã leva surra de Brejo Santo

Cidades pobres do Ceará que adotaram o método fônico surram escolas paulistas que insistem no método global, que não alfabetiza. Mesmo assim, os doutores em educação continuam insistindo no erro. 
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Brejo Santo, uma pequena cidade cearense de 48 mil habitantes, tem melhor educação básica que Tupã, conforme mostra o Ideb de 2017 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), principal avaliação da qualidade do ensino no país. Enquanto Tupã, cidade com 60 mil habitantes, conseguiu 6,7 pontos (a meta era 6,5), Brejo Santo bateu 7,9, (a meta era muito acima da meta estabelecida.

O que impressiona é rápida evolução da cidade cearense: ela saltou de 2,9 em 2007 para 7,9 em 2017 - cinco pontos, em 10 anos - enquanto Tupã se arrastou abaixo da meta e só em 2017 conseguiu tirar o nariz pra fora da água saindo de 5 pontos em 2007 para 6,7. Uma evolução de apenas 1,7, em 10 anos.

A EVOLUÇÃO DE BREJO SANTO PELO MÉTODO FÔNICO

O Estado do Ceará rompeu com as invencionices pedagógicas do sócio construtivismo (método de alfabetização lastreado em teorias do suíço Jean Piaget) e adotou o método fônico. Com ele, as crianças da rede municipal conseguem ser alfabetizadas em menos de um ano e alunos do 5º ano chegam a 100% de aproveitamento em matemática, por exemplo. As crianças de muitas escolas da cidade disputam o recreio com as galinhas, no pátio de chão batido. O maior investimento foi na troca do método de alfabetização e grande suporte na atualização dos professores. Muitas cidades paulistas também adotaram o fônico com excelentes resultados.

O neurocientista francês Stanislas Dehaene há 30 anos estuda o impacto dos números e das letras no cérebro humano. Ele afirma que o método mais eficaz de alfabetização é o que chamamos fônico. Ele parte do ensino das letras e da correspondência fonética de cada uma delas, como se fazia antigamente. Estudos mostraram que a criança alfabetizada por esse método aprende a ler de forma mais rápida e eficiente com excelente interpretação de texto.

BREJO SANTO: Entre 2007 e 2017, Brejo Santo subiu 5 pontos. Seu Ideb, de 7,9, está muito acima da meta Brasil de 5,2. O índice de aprendizado de 8,01 é considerado excelente. Neste item a pequena cidade cearense também vence São Paulo (6,1) e a maioria das capitais e grandes centros, como Campinas (6,4).


BREJO SANTO: A média de proficiência em português e matemática coloca a rede municipal cearense nos níveis 6 e 7, numa escala de 9 níveis do Saeb. Em algumas escolas o aproveitamento de matemática no 5º ano chega a 100%. Sobral, também no Ceará, obteve 9,1 no Ideb de 2017 e altíssimos níveis de proficiência não alcançados por nenhuma escola construtivista. O método utilizado é o fônico que alfabetiza até 99% dos alunos no primeiro ano do ensino básico. As altas notas de proficiência em matemática demonstram o excelente grau de alfabetização. No método construtivista alunos tem sérias dificuldades para compreender um simples enunciado de matemática.

TUPÃ: Apesar de mais rica e com nível IDH maior, a cidade passou uma década bem abaixo da média do Ideb e sua evolução foi pequena: apenas 1,7 pontos ou 0,17 por ano. Apenas entre 2007 e 2009 a educação de Tupã ganhou certo fôlego mas despois voltou a afundar. Apesar da estagnação, seus secretários da educação preferem manter o sócio construtivismo contrariando a neurociência e os resultados. As telas abaixo mostram o indicador de aprendizado e a evolução lenta da rede municipal de Tupã.
Tupã: O índice de proficiência de português atingiu 228,66 na escala Saeb (30,92 pontos menos que Brejo Santo) e 248,63 de matemática (30,95 pontos menos que Brejo Santo)

E por que o método global/construtivista é ineficaz?

Neste método, primeiro, se deve aprender o significado da palavra e, numa próxima etapa, as letras que a compõem. O resultado é catastrófico: a criança que deveria ser alfabetizada em menos de um ano pelo fônico vai precisar de mais 3 para aprender escrever e ler de forma rudimentar e sem boa compreensão do texto. Elas terminarão seu ciclo sem se alfabetizar e entrarão no ensino médio, na rede pública, sem ter compreensão do que leem. Alguém contesta essa realidade nas escolas públicas do país? Os resultados estão em todas as avaliações produzidas pelo próprio sistema.

Dehaene, o neurocientista francês, explica que se verificou em pesquisas com pessoas de diferentes idiomas que o aprendizado da linguagem se dá a partir da identificação da letra e do som correspondente. Esse processo ocorre no lado esquerdo do cérebro. No método construtivista a criança primeiro aprende o sentido da palavra, sem necessariamente conhecer as letras. Neste caso o lado direito do cérebro é ativado. Mas a decodificação dos símbolos terá que chegar ao lado esquerdo para que a leitura seja concluída. Para Dehaene é um processo mais demorado, que segue na via contrária ao funcionamento do cérebro.

- Num certo sentido, podemos dizer que esse método ensina o lado errado, primeiro. Porém, as crianças que aprendem a ler processando primeiro o lado esquerdo do cérebro (método fônico) estabelecem relações imediatas entre letras e seus sons, leem com mais facilidade e entendem mais rapidamente o significado do que estão lendo - diz o neurocientista.

Doutor em desenvolvimento da cognição e psicolinguística, o português José Morais defende o envolvimento da neurociência na alfabetização para reformar os pensamentos pedagógicos. Ele diz que a psicologia cognitiva mostra que a leitura de textos não é uma elaboração contínua de hipóteses sobre as palavras do texto, mas sim, um processo automático, não intencional e muito complexo de processamento das letras e das unidades da estrutura fono-ortográfica de cada palavra, que conduz ao seu reconhecimento ou à sua identificação.

E como é essa relação entre a atividade cerebral e a leitura? Em matéria de O Globo, em 2014, José Morais (nada a ver com um homônimo do MEC, por favor, não confundam) diz:

- A leitura visual não se faz nos olhos, mas no cérebro — a retina, embriologicamente, faz parte do cérebro. Não há leitura sem uma atividade cerebral que mobiliza vastas regiões do cérebro e, em primeiro lugar, a chamada Área da Forma Visual das Palavras. Ela se situa no hemisfério esquerdo do cérebro e não é ativada por palavras escritas nos indivíduos analfabetos. Nos alfabetizados ela é ativada fortemente, e o seu grau de ativação aumenta à medida que a criança aprende a ler.

No leitor competente, a leitura de um texto baseia-se no reconhecimento ou na identificação das palavras escritas sucessivamente. À medida que elas são processadas, essa informação é enviada para outras áreas cerebrais que se ocupam do processamento da língua, independentemente da modalidade perceptiva (em particular, o processamento semântico e sintáxico), assim como da codificação da informação na memória de trabalho verbal e do acesso à memória a longo prazo. Tudo isso permite a compreensão do texto e a sua interpretação e avaliação.

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