segunda-feira, 26 de abril de 2021

Por que as escolas do Japão reabriram durante a pandemia?

Em junho de 2020, as escolas japonesas reabriram no país. A rotina escolar obedece protocolos de segurança e as aulas presenciais são obrigatórias.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Em 1º de junho de 2020, três meses após o corona vírus ser declarado pandemia, os alunos das escolas japoneses voltaram às aulas obedecendo alguns rigorosos protocolos de segurança. Segundo o professor Ademar Oshiro, um brasileiro que dá aulas no Japão, isso não é nenhum problema porque as crianças japonesas são disciplinadas e seguem as regras.

E a correlação volta às aulas x taxas de transmissão de covid é irrelevante, sem aumento significativo de propagação. A vida escolar naquele país segue a rotina de aulas há mais de 10 meses..

Lá as aulas presenciais são obrigatórias ao contrário do que ocorre no Brasil que faculta aos pais a presença dos seus filhos nas salas que ficaram fechadas até abril de 2021.

Uma das medidas de segurança (parte do protocolo japonês), foi reduzir a sala de 40 para 20 alunos, com distanciamento entre carteiras. No Brasil as salas do ensino fundamental são de 30 alunos mas, durante a pandemia, os professores lecionam para apenas 6 alunos, por dia, por sala.  
  • No dia 7 de abril de 2020 o governo do Japão decretou Estado de Emergência, medida que permaneceu até 25 de maio. Em 1º de junho, 99% das escolas reabriram e os alunos retornaram às salas de aulas.
  • Alguns fatores essenciais davam a certeza as autoridades: acesso a tratamento de alto nível com leitos UTI suficientes, excelente nível de higiene pública e consciência dos cidadãos a respeito de higiene e possíveis ações, rápidas e eficientes, contra infecção coletiva, por parte do governo.

Crianças não transmitem e resistem ao vírus

Desde junho de 2020, para os japoneses, estava consolidado um fato: crianças não transmitem covid nem para outras crianças e nem para adultos e a taxa de mortalidade entre elas, segundo os últimos levantamentos, é de 0,0007%.

Cientistas ainda estudam outra constatação: o sistema imunológico das crianças é tão resistente que mata os vírus ou atenua, de tal forma que ficam suficientemente fragilizados para contaminarem outras pessoas. "Crianças vão para a escola e trazem para casa vírus e contaminam seus pais e avós" é uma afirmação falsa.

"A culpa não é das crianças"

Desde setembro de 2020, em plena pandemia, um trabalho intitulado "Transmissão da Covid-19 e Jovens: a culpa não é das crianças", baseado na análise de quatro estudos científicos na época, conclui o mesmo que as autoridades sanitárias japoneses: as crianças não transmitem o vírus. Os especialistas em doenças infecciosas, Benjamin Lee e William Raszka, da Universidade de Vermont, também concluíram que os resultados obtidos foram similares em diversas partes do mundo.

Na China há registro de um único caso de transmissão entre crianças, num hospital de Wuhan. As outras 9 crianças analisadas foram contaminadas por adultos. Em todos os casos os vírus foram mortos pelo sistema imunológico.
 
Na França, um aluno, contaminado por Covid-19 permaneceu estudando durante semanas, entre 80 outros colegas, da mesma escola e nenhum deles foi contaminado. O mesmo estudo concluiu que o vírus influenza tem taxas de contaminação muito maiores dentro das escolas.


Um professor brasileiro no Japão

Ademar Oshiro

Faz 16 anos que o professor Ademar Choyo Oshiro mora e trabalha no Japão. Aos 67 anos, natural de Herculândia (SP), Oshiro ainda não se "acostumou" totalmente a certos costumes do povo japonês.

"Aqui é muito normal observar crianças indo sozinhas, a pé, para suas escolas.  Este fato até hoje me causa estranheza mesmo estando há 16 anos morando por aqui, habituado que estava nos moldes do Brasil." - confessa o professor.

220 mil brasileiros no Japão

Um levantamento publicado em 2019 mostra a existência de 220.000 brasileiros no Japão e próximo de 35.000 estudam no ensino básico, conta Oshiro. Destes, cerca de 7.000 estão matriculadas em escolas japonesas por razões que variam: são de famílias de brasileiros que pretendem ficar no Japão ou por questões financeiras já que as escolas brasileiras custam de 30.000 a 50.000 ienes (em média cerca de R$ 2.000/mês).

Oshiro disse observar que muitos brasileiros estão evitando o árduo trabalho nas fábricas e  buscando outras alternativas. Os jovens que têm fluência na língua japonesa conseguem trabalhos em lojas de conveniência, fast foods e lojas de departamentos. Outros tornam-se empresários nos mais diversos segmentos embora o trabalho como operário seja a maioria.

Escolas e faculdades brasileiras no Japão

Dados levantados junto ao Consulado Geral do Brasil, em 2019, apontam 35 escolas brasileiras homologadas junto ao MEC e em funcionamento naquele país. Nem todas recebem os vultosos benefícios por não estarem vinculados ao Ministério da Educação do Japão.

Muitas faculdades brasileiras mantém polos EAD no Japão para atender jovens e adultos que pretendem prosseguir seus estudos mas, a maioria, apenas conclui o Ensino Médio.

- Mas isso também ocorre entre estudantes japoneses que nem terminam o Koko (ensino médio) e cumprem apenas a obrigatoriedade de concluir o Chugakko (ensino fundamental) - conta Ademar Oshiro. Ele explica:
 

- Nem todos que concluem o Ensino Médio japonês tem condições de acessar suas excelentes universidades por não existir ensino grátis no país. O governo, entretanto, tenta facilitar o acesso com financiamento, tipo Fies, sem burocracia..

Funcionamento das escolas brasileiras em período normal 

"As escolas brasileiras aqui não seguem um calendário escolar brasileiro ou japonês mas, no geral, caminham de acordo com o calendário das fábricas, particularmente em função da Toyota, restringindo as férias em duas semanas (uma em maio e outra em agosto)" - explica o professor.

Isso se deve à conveniência de manterem as crianças em escolas já que a grande maioria dos pais trabalha em fábricas de autopeças. O mês de janeiro é destinado a recuperação de notas e conteúdos de alunos mas muitos pais deixam os filhos sob a guarda da escola uma vez que lá não tem férias prolongadas, como no Brasil. As escolas servem, também, como um local de abrigo principalmente às crianças do maternal, infantil e fundamental I. O ano letivo da maioria das escolas brasileiras inicia oficialmente fevereiro e estarão ativas o ano todo. 

Em período da pandemia 

As escolas brasileiras no Japão seguem normas das respectivas províncias japonesas onde se localizam. Algumas, no início de 2020, chegaram fechar mas reabriram em junho do mesmo ano obedecendo os rígidos protocolos das autoridades de saúde do país. As aulas são presenciais e obrigatórias.

Oshiro lembra que se recorda de uma única vez que houve o afastamento imediato de um aluno com covid e de toda sua sala. Atividades com aglomerações, como festas junina, foram canceladas.
 

Escolas japonesas em período normal e na pandemia.

O professor Ademar Oshiro salienta que a diferença entre o sistema educacional japonês e o brasileiro, particularmente no quesito disciplina, é enorme.  

 - Normalmente os alunos da escola japonesa seguem um rígido ritual de comportamento. Eles são os responsáveis pela limpeza, higiene da escola, distribuição de alimentação onde todos, num esquema de rodízio, participam. Aqui há prática de esportes e atividades culturais e cada aluno escolhe sua preferida. Cada aluno tem um professor responsável que não se limita apenas em enviar recados escritos aos pais mas até mesmo de visitar a casa de cada aluno se detectar algo anormal na sua vida escolar - explica ele, concluindo. 

- Essa experiência eu tive pessoalmente quando, recém chegado do Brasil, matriculei o meu filho numa escola japonesa. Como ele não se adaptava, as visitas da professora dele eram frequentes, sempre tentando ajudar e facilitar sua adaptação.

  • Os alunos do Ensino Básico japonês utilizam 2 máscaras por dia, 2 toalhinhas de mãos, por dia, no Ensino Infantil, higienização permanente com os professores em vigilância constante, incluindo correção no uso de máscaras quando necessária.
  • A alimentação, que é feita cada qual em suas respectivas carteiras, foram colocadas uma carteira na frente da outra com divisão de material plástico, desde o ano passado.
  • A higienização bucal é feita em pequenos grupos, mantendo rigidamente o distanciamento social.
  • No ano passado não aconteceram atividades sociais como reuniões, competições e, principalmente, visitas dos professores responsáveis às casas dos alunos quando no início do ano letivo. Neste ano as visitas foram retomadas, seguindo protocolos de segurança.
  • Nas bibliotecas (muito utilizadas, por sinal), o acesso continua limitado a pequenos grupos e todos os livros são higienizados, após a utilização. 
  • No Japão, cada bairro tem sua escola e os alunos vão em grupos (infantil e fundamental I) sempre liderados por um aluno escolhido pela escola junto à comunidade e, em todas as esquinas do trajeto, grupo de pais ou voluntários se encarregam de cuidar da travessia das crianças. Empresas liberam os pais para essa prática e isso é determinado por lei. 
  • No Japão não se observa aglomerações de carros diante das escolas, exceto em dias de festividades.

Faculdades japonesas na pandemia

No ano passado as faculdades tiveram suas atividades, na maior parte do tempo, sob o regime online. O distanciamento social, durante as aulas presenciais que ocorreram duas vezes por semana, em média, foi rigorosamente imposto e as salas divididas em dois grupos que alternavam nas respectivas frequências.

Casos no Japão
Atualizado em 26 de abr. à(s) 17:05, hora local
Confirmados
566.863
+4.722
Mortes
9.972
+59
Recuperados
504.738
+3.129

Colaborações:
- Ademar Chyo Oshiro é professor, engenheiro civil, matemático e pedagogo e atua no Japão como professor de Matemática, Física e Química em diversas escolas brasileiras, como a Escola Nikken Gakuen, do Sistema Objetivo de Ensino, onde também foi diretor até 2020. Ele atende alunos online com casos especiais - dificuldades de locomoção, ausência de escolas próximas, tutor de home schooling e produz vídeos educativos no seu canal de Youtube (Prof. Adetiam).
- Carlos Shinoda, autor do livro MEC no Japão, profundo estudioso da comunidade brasileira com relação à Educação no Japão.
- Clarissa Cardinalli, mãe de 4 filhos, todos estudando em escolas japonesas. A primogênita faz faculdade de Modas, em Tóquio.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Como as vacinas funcionam e como são desenvolvidas e testadas?

Edward Jenner criou a primeira vacina, contra a varíola, antes da descoberta do vírus.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Como funciona a vacina, quais são seus tipos e como são produzidas, testadas e aprovadas?
Ao contrário do que pensam alguns leigos, a aprovação de uma vacina não depende da "opinião de cientistas" mas dos resultados dos testes, em várias fases, para verificação da sua eficiência e segurança.

De onde vem a palavra vacina?

Primeira criança imunizada
Edward Janner, um médico inglês, percebeu que moradores da zona rural da sua região não se contaminavam com o vírus da varíola. Jenner descobriu que eles contraiam um tipo de vírus da varíola bovina, mais leve, das vacas que ordenhavam e, por isso, tornavam-se imunes ao vírus da varíola que sequer era conhecido por volta de 1796.

Jenner retirou a lesão de uma ordenhadeira e inoculou em James Phipps, garoto de 8 anos, filho de um jardineiro. O menino adquiriu a varíola, de forma branda e se curou.

Vacinnus, do latim, significa "derivado da vaca" ou "da vaca", termo que passou a ser usado em homenagem a Jenner, morto por AVC em 1823.

Como funciona uma vacina?

As vacinas são criadas para reduzir o risco de se contrair uma doença. As vacinas criam anticorpos que protegem seu corpo passando a reconhecer bactérias ou vírus invasores e combatendo-os. Os anticorpos são proteínas produzidas naturalmente pelo sistema imunológico do corpo.

 Quais são os tipos de vacinas?

Existem vacinas produzidas com vírus morto ou inativado, vacinas com vírus vivos atenuados e vacinas Messenger RNA, de tecnologia mais recente e, ainda, em experimentação.

No primeiro caso, os vírus da doença são cultivados em laboratórios e depois mortos com calor ou produtos químicos. A partir desses vírus inativados são produzidos as vacinas. Mesmo "mortos" o sistema imunológico cria anticorpos que reconhecerão vírus invasores do mesmo tipo e retém sua evolução no organismo.

No segundo caso, vírus vivos são atenuados por processos diversos que reduzem sua força. Enfraquecidos, os vírus não conseguirão evoluir no organismo. Esses dois processos produzem as vacinas mais eficientes e seguras, com baixa taxa de riscos.

No terceiro caso não se usa vírus para produção de vacinas mRNA. Esta é uma tecnologia sintética já que o processo manipula o DNA do corpo. Esta vacina "ativa um neutralizador" que aciona o sistema imunológico do corpo que combate o vírus. Por enquanto não há respostas científicas para possíveis reações do organismo pela manipulação do DNA.

Além dos vírus a vacina contém ingredientes ajudam a preserva-la por algum tempo.

Como as vacinas são desenvolvidas e testadas?

As vacinas mais comumente usadas já existem há décadas, com milhões de pessoas recebendo-as com segurança todos os anos. Como acontece com todos os medicamentos, toda vacina deve passar por testes extensivos e rigorosos para garantir que seja segura antes de poder ser introduzida em um país.

Fases dos testes experimentais

Uma vacina experimental é testada pela primeira vez em animais para avaliar sua segurança e potencial para prevenir doenças. Em seguida, é testado em ensaios clínicos humanos, em três fases:

Na fase I, a vacina é administrada a um pequeno número de voluntários para avaliar sua segurança, confirmar se ela gera uma resposta imune e determinar a dosagem certa.

Na fase II, a vacina geralmente recebe centenas de voluntários, que são monitorados de perto quanto a quaisquer efeitos colaterais, para avaliar melhor sua capacidade de gerar uma resposta imune. Nessa fase, os dados também são coletados, sempre que possível, sobre os desfechos da doença, mas geralmente não em números grandes o suficiente para ter uma imagem clara do efeito da vacina sobre a doença. Os participantes dessa fase têm as mesmas características (como idade e sexo) das pessoas para as quais a vacina se destina. Nesta fase, alguns voluntários recebem a vacina e outros não, o que permite fazer comparações e tirar conclusões sobre a vacina.

Na fase III, a vacina é administrada a milhares de voluntários - alguns dos quais recebem a vacina experimental e outros não, assim como nos estudos de fase II. Os dados de ambos os grupos são cuidadosamente comparados para verificar se a vacina é segura e eficaz contra a doença contra a qual se destina.

Resultados

Assim que os resultados dos ensaios clínicos estiverem disponíveis, uma série de etapas é necessária, incluindo análises de eficácia, segurança e fabricação para aprovações de políticas regulatórias e de saúde pública, antes que uma vacina possa ser introduzida em um programa nacional de imunização.

Após a introdução de uma vacina, o monitoramento próximo continua a detectar quaisquer efeitos colaterais adversos inesperados e a avaliar a eficácia no ambiente de uso rotineiro entre um número ainda maior de pessoas para continuar avaliando a melhor forma de usar a vacina para obter o maior impacto protetor. Mais informações sobre o desenvolvimento e segurança de vacinas estão disponíveis aqui.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Método fônico: 70 dias letivos de alfabetização e 100% de aprovação

Profª Miriam Nitcipurenco de Souza, diretora

Seguindo as evidências científicas, 100% dos alunos de uma escola municipal, das três primeiras séries do ensino básico, fecharam o período de 70 dias letivos, plenamente alfabetizados. E foram os próprios alunos, do primeiro ano, que leram os enunciados das suas últimas provas, sem ajuda do professor leitor.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

A escola municipal Norma Mônico Truzzi, de Jafa, um distrito do município de Garça (SP), passou os dois últimos bimestres de 2019 executando seu mais ambicioso programa pedagógico: alfabetizar os alunos dos três primeiros anos do ensino básico nos 70 dias letivos restantes do ano. O projeto piloto foi proposto pela diretora Miriam Nitcipurenco de Souza depois de analisar o baixo nível de conhecimento conquistado pelos alunos nos últimos 12 anos, com o método global, utilizado nas escolas do município.

O Ideb de sua escola, em 2017, foi de 5,8 pontos e saltou para 6,5 em 2019. Em 2017 a média da rede de Garça atingiu apenas 6,1. Em 12 anos - entre 2005 e 2017 - o avanço da rede municipal foi de apenas 1,4 pontos, uma evolução irrelevante (0,11 por ano) comparando-se com o ritmo de escolas que utilizam o método fônico, como Sobral, que saltou 5,1 pontos (de 4,0 para 9,1), no mesmo período.  E as escolas das 12 cidades pertencentes ao chamado Vale da Rapadura, no Ceará, chegaram entre as 80 melhores notas no IDEB nacional usando o mesmo método copiado de Sobral: método fônico.

- No inicio do segundo semestre de 2019 as avaliações indicaram que a maioria dos nossos alunos não lia com fluência e o conhecimento da escrita era lastimável. Propusemos um projeto pedagógico baseado na alfabetização pelo método fônico e, diante de tantas evidências científicas a proposta foi aprovada pela então secretária da Educação - explica Miriam, diretora na rede há um ano e meio. 

Mas havia um problema sério a ser enfrentado para a implementação do projeto: os professores e a coordenadora pedagógica só tinham formação pelo Método Sesi, igualmente Global e construtivista e utilizado nos últimos 8 anos. Durante esse período o Ideb da rede municipal despencou. A maioria dos professores não tinha nenhum conhecimento do método fônico.

- Solucionada a questão financeira, adquirimos material de de Língua Portuguesa para os três primeiras anos e a formação dos professores foi realizada, online, com o Instituto Alfa e Beto - diz Miriam. Em duas sessões de uma hora e meia estávamos prontas - confessa, aliviada.

- Os alunos ganharam total autonomia e eles próprios leram os enunciados dos seus testes, sem ajuda do professor leitor. Inclusive os do primeiro ano - afirma a diretora. Ela lembrou que o avanço ocorreu também em outras matérias e a disciplina melhorou 90%.

Para os professores a implantação e execução do projeto foi um processo simples e descomplicado e comparam com as imensas dificuldades dos alunos com o método global. O vídeo é um resumo dos bons frutos colhidos em apenas 70 dias letivos.

Vídeo mostra os resultados obtidos com a implantação do Projeto Piloto Alfabetização Sem Complicação, com método fônico, numa escola municipal de Jafa,
distrito de Garça (SP).

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Nos Estados Unidos 6% das mortes da pandemia foram causadas exclusivamente por COVID-19.

Os outros 94% tinham 2,6 doenças associadas, em média, por morte. 91,76% das vítimas tinham acima de 55 anos.

O CDC, Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos publicou a relação óbitos causados pela pandemia naquele país e concluiu que 6% das mortes foram causadas diretamente pelo Covid-19.

Por Edson Joel (Hirano Kamakura) de Souza

No último dia 26 de agosto o Centro de Controle e Prevenção de Doenças - Agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos - listou as causas como as principais condições médicas subjacentes relacionadas às mortes por Corona vírus, naquele país: 94% das mortes por Covid-19 tinham outras causas associadas à morte e 6% morreram por consequência direta do vírus.

Isto é, do total das 161.392 mortes na pandemia, naquele país, 9.683 morreram vítimas diretamente do vírus Covid-19 e 151.708 mortes foram associadas a outras comorbidades, além do corona.

Nos óbitos com doenças ou causas, além do Covid-19, os pacientes portavam 2,6 doenças associadas, por cada morte. Esse quadro deve ser repetido em outros países.

Outro dado que chama a atenção é a faixa etária: das 161.392 vítimas, 91,76% dos mortos  (148.083 pessoas) tinham entre 55 a 85 anos ou mais e 8,24% (13.300) estavam entre zero a 54 anos. A publicação resume o total de mortos até 26 de agosto de 2020 em todos os estados americanos. Entre os 94% dos mortos atestados com Covid, as causas associadas mais comuns relatadas às mortes foram:

- Influenza e pneumonia
- Parada respiratória
- Doença hipertensiva
- Diabetes
- Demência vascular não especificada
- Parada cardíaca
- Insuficiência cardíaca
- Insuficiência renal
- Lesões intencionais e não intencionais, envenenamento e eventos adversos.

A base da consulta feita pela CDC é a certidão de óbito, certificado considerado confiável e contém dados de raça, etnia, comorbidades e local do óbito.

Até 22 de agosto deste ano, em todos os estados americanos morreram 1.778.821 pessoas por todas as causas. As informações desta matéria foram colhidas diretamente do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Como o cérebro aprende a ler

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Stanislas Dehaene

O Professor Stanislas Dehaene, em palestra no World Innovation Summit for Education (WISE), mostra como o cérebro de uma criança funciona e quais caminhos e sequências segue na aprendizagem da leitura. Dehaene tem repetido que não existem 100 maneiras diferentes de se ensinar uma criança ler. Pessoas são diferentes mas seus cérebros usam a mesma sequência na hora de aprender a ler e, quanto mais se respeitar esses caminhos, mais rápido será a alfabetização. Evidências científicas incontestáveis.

O neurocientista Stanislas Dehaene há 30 anos estuda o impacto dos números e das letras no cérebro humano. Ele afirma que o método mais eficaz de alfabetização é o que chamamos fônico. Ele parte do ensino das letras e da correspondência fonética de cada uma delas, como se fazia antigamente.

Muitas escolas nordestinas que usam fônico são melhores que particulares e públicas de São Paulo

O método e metodologias lastreados no fônico colocaram dezenas de escolas nordestinas na liderança do IDEB - Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico - com os melhores índices nacionais no Saeb (Sistema de Avaliação do Ensino Básico) que analisa a proficiência em matemática e português.

O início desta mudança no cenário educacional ocorreu em Sobral e espalhou pelo Vale da Rapadura (12 cidades desta região que copiaram o método fônico de Sobral) que estão entre as melhores do país. Aliás, mais de 70 cidades nordestinas aparecem entre as 100 melhores do país, liderada por Sobral. Basta citar que a capital líder no Ensino Básico, entre todas do Brasil, é Teresina cuja rede municipal adotou o método fônico faz 10 anos e lidera como o melhor índice do Ideb entre todas as capitais.

Granja, cidade nordestina com o segundo o pior IDH do estado, atingiu nota 7,7 no Ideb em 2017. Escolas do nordeste que adotaram o método fônico, como Esmerino Arruda Filho, tem índices que humilham as melhores escolas públicas e particulares do Estado de São Paulo: Ideb de 9,3 de 2017 enquanto Campinas chegou a 6,1 pontos e a capital do estado a 6,0. O índice Brasil foi de apenas 5,5 pontos no Ideb.. 

Em matemática a referida escola chegou a escala 9, do Saeb - Sistema de Avaliação do Ensino Básico - com 327,76 pontos e em português 293,93 pontos, 8 na escala Saeb. A escala Saeb vai de um a nove.
Pequenas escolas nordestinas, que usam método fônico, humilham as mais caras escolas particulares do Estado de São Paulo com índices do IDEB elevadíssimos. 

A Escola Norma Mônico Truzzi, de ensino infantil e básico de Jafa, região de Garça, instituiu o método fônico para as três primeiras séries, no final de 2019 e, em 70 dias letivos, todos aprenderam ler com fluência e fantástica compreensão e escrever, inclusive com letra cursiva, nas formas variadas propostas. A maioria dos alunos, das três séries, tinha o mesmo nível: dificuldades para ler, compreender e escrever.

Palestra do Professor Stanislas Dehaene

vídeo original da palestra do neurocientista está em inglês mas o vídeo abaixo está
legendado em português.

Olá, meu nome é Stanislas Dehaene, eu sou um neurocientista cognitivo francês, eu estudo o cérebro e hoje eu gostaria para falar sobre nossa pesquisa de como o cérebro aprende a ler e por que é isso é pertinente para a educação.

Meu laboratório está situado ao sul de Paris, especializado em visualizar o cérebro para várias necessidades, e eu creio que você está ciente de que hoje temos uma variedade crescente de métodos de visualização cerebral que incluem visualização por ressonância magnética funcional, além de eletroencefalografia e magnetoencefalografia  para mapear a dinâmica da atividade cerebral.

Você pode não estar ciente de que estas técnicas estão agora disponíveis também para estudar a educação e para estudar o cérebro da criança.

Escaneando o cérebro enquanto ele aprende

É perfeitamente possível hoje, com o treinamento com um simulador de scanner, recebendo-se crianças dentro desse scanner, obtendo-se excelentes imagens do cérebro da criança enquanto ela aprende, mesmo fazendo escaneamentos repetidos, as crianças ficam extremamente felizes por vir ao laboratório e participar desta pesquisa, só precisamos contar a elas que são como astronautas dentro desta nave espacial, sem se mexer, o que é muito importante para nós. Elas contribuem para a ciência, mas também contribuem para a nave espacial ao não se movendo. Com isso podemos estudar como a Educação muda o cérebro. 

Eu gostaria de mencionar neste slide o que penso que a neurociência pode trazer para a educação. Tem um ponto muito simples, eu acho que é uma pena que os professores saibam mais sobre o funcionamento de um carro do que eles sabem sobre o funcionamento do cérebro de seus alunos.

Eu creio nisso, penso que se você deseja alterar o sistema, você precisa entender como ele funciona. Eu acredito que, ao emponderar os professores com o conhecimento apropriado, sobre os princípios da plasticidade do cérebro e educação, isso deverá conduzir-nos a melhores práticas em sala de aula.

Ciência cognitiva

Há muito que já sabemos em neurociência cognitiva que é relevante, as competências da criança pequena para o visual, linguagem, números, muitos outros como a aprendizagem funciona, o papel de atenção, o papel da recompensa, o papel do sono, a importância do sono para a consolidação da aprendizagem, a transferência de conhecimento explícito para implícito, muitos outros tópicos são relevantes.

Eu também acho que a ciência cognitiva pode ajudar a medir progressos na educação, e na experimentação é absolutamente essencial a fim de testar protocolos educacionais e quantificar seus efeitos no comportamento no cérebro.

E, finalmente, acredito também que a neurociência cognitiva também pode participar no desenvolvimento de dispositivos de ensino, tais como currículos escolares, manuais ou software. Vou dar um exemplo disso no final.

Como o cérebro aprende a ler

Hoje quero falar especificamente sobre o tópico da leitura, e o que entendemos sobre isso no ponto de vista do cérebro.

Se você não tivesse aprendido a ler, qualquer página de texto pareceria a você como uma pedra: uma textura, mas sem sentido. Mas porque você aprendeu a ler você pode ter uma conversa com os mortos, você pode ouvir os mortos com seus olhos, porque você pode ler o que eles escreveram 2000 anos atrás. Você pode comunicar pensamentos para a mente através dos olhos, o que é uma grande invenção do mundo, de acordo com Lincoln.

Então, como isso funciona? Bem, esta é uma foto do seu hemisfério esquerdo, a parte do cérebro mais essencial para a linguagem e leitura. Somente para orientar vocês, esta é a parte de trás do cérebro, que foi ligeiramente ampliada de modo que você possa ver dentro das dobras. E agora eu quero mostrar a ativação do cérebro enquanto você lê uma palavra. Nós vemos isso em tempo real.


Arquitetura cerebral de leitura

Você tem a palavra que se desenrola da parte de trás do cérebro para a frente do cérebro, ele vai repetir este ciclo várias vezes. Você pode ver que a informação entra no polo occipital, que é o lado visual do cérebro, se movimentando para as áreas ventrais, e depois explode no hemisfério esquerdo - atividade distribuída.

Eu naturalmente não tenho tempo para explicar a você todas os detalhes dessa atividade cerebral, mas quero mostrar uma espécie de caricatura que você pode se lembrar. E é muito simples que a leitura comece como qualquer outro estímulo visual, nas áreas geralmente visuais do polo occipital do cérebro, mas rapidamente se movimenta para uma área que descobrimos que se concentra o reconhecimento da palavra escrita. Eu chamei ela de "caixa de letras" do cérebro, porque é onde armazenamos nossos conhecimento sobre as letras.

E a partir daí que você viu, e esta explosão de atividades em pelo menos duas redes, uma que diz respeito ao significado das palavras e a outra que diz respeito à pronúncia e a articulação da palavra. Então, podemos dizer essencialmente pela perspectiva do cérebro é que aprender a ler consiste primeiro em reconhecer as letras e como se combinam em palavras escritas, e segundo lugar conectando-as a estes sistemas chamados de sons de fala, e significado.

E o que é impressionante é que todas as áreas em laranja e verde aqui já existem para a língua escrita. Elas são compartilhadas entre a linguagem falada e a escrita.

Estudos com bebês

Não apenas isso, mas elas já existem em crianças pequenas. Nós podemos visualizar o cérebro de bebês ainda quando são extremamente novos, com poucos meses de idade, nós temos vários métodos para isto. E quando nós não ouvimos língua, já podemos ver essas redes de regiões que existem também em outros cérebros e que processam a linguagem falada.

Então podemos dizer que ler não é criar algo completamente novo, ler consiste essencialmente na conexão, criação de uma interface entre a visão e o sistema de linguagem, o sistema de linguagem oral.

Quando a criança chega à escola para aprender a ler, ela já tem um sofisticado sistema de linguagem falada, ela já possui um sofisticado sistema de visão, mas ela precisa criar esta interface, esta área visual de formação de palavras, esta “caixa de letras” do cérebro e conectá-la adequadamente, e ao fazê-lo também precisa alterar alguns desses sistemas-alvo.

Como isso funciona exatamente?

Nós realizamos um grande número de estudos em diferentes laboratórios no mundo, que analisam o que foi alterado no cérebro de crianças ou adultos depois de aprenderem a ler, e, em particular, quero mencionar aqui o estudo que fizemos muito recentemente, que foi publicado na revista Science, onde graças a uma vasta colaboração internacional, nós pudemos escanear sujeitos letrados e iletrados, em vários níveis de alfabetização, no Brasil e em Portugal, levando-os a nosso laboratório na França.

Graças a este experimento, conseguimos fazer um mapa completo das áreas que foram modificadas pela aprendizagem da leitura, e como todos vocês nesta sala sabem ler, podem considerar que seu cérebro foi modificado dramaticamente.

Caixa de letras

Eu lhes falei sobre estas áreas para a linguagem, a primeira grande mudança que vemos no cérebro alfabetizado é esta “caixa de letras”, tornando-se ativa somente em pessoas que aprenderam a ler. Ela será ativada em proporção direta com o desempenho da leitura, ela ativará em resposta as letras que você conhece. Ela não será ativada, por exemplo, pelo chinês, se você não souber chinês.

Então, ela aprende as formas do letras. Isto é acompanhada por uma grande mudança no córtex visual, em suas áreas visuais iniciais, que são genéricas e servem para muitas tarefas visuais que você mudou a precisão da codificação em seu córtex visual porque você aprendeu a ler. Mas mais importante, você também mudou sua representação de sons da fala. Se você aprendeu uma língua alfabética, você mudou a maneira como seu córtex codifica os fonemas da fala, os componentes elementares de fala. E aprender a ler é, em grande medida, a capacidade de atentar para os fonemas individuais da fala, e atribuir a eles letras diferentes.

Ouvindo sons e pensando em letras

Quando vemos este mapa, nós podemos pensar, certamente, que as áreas de conexão também devem ser modificadas. E eu fico feliz em dizer que, com novos métodos para identificar as conexões do cérebro humano, também podemos monitora estas mudanças. Podemos ver, mesmo em uma pessoa viva, todas estas trilhas de fibras que conectam às áreas do cérebro, nós podemos ver uma microestrutura, e o que vemos é que, de fato, este conjunto de conexões que existem em todos os cérebros, é reforçado, foi modificado em pessoas que aprenderam a ler, e há uma boa probabilidade de que este conjunto seja envolvido em conectar as letras aos sons bidireccionalmente. Quando você escuta os sons, você também pode pensar nas letras.

Esta mudança é sutil, mas é uma alteração anatômica. Então, a anatomia do cérebro também é mudada porque as crianças aprendem a ler.  Nós fazemos essas mudanças essenciais que certamente criam uma nova modalidade de entrada da linguagem.

A área cerebral antes de aprender a ler

Há muitas coisas que entendemos sobre os detalhes deste processo, e eu quero mostrar a vocês, primeiramente, o que essa área faz antes de aprendermos a ler.

Bem, não é naturalmente uma área que se desenvolveu pra ler, então ela deve estar fazendo alguma outra coisa, e o que descobrimos é que essa região também reage a rostos e objetos, ela é envolvida no reconhecimento visual em todas as espécies, na verdade, em todos os primatas, pelo menos.

E o que nós descobrimos é que, à medida que você aprende a ler, então isto são resultados da leitura aqui no eixo X. 

O que você pode ver é que a resposta a sequências de caracteres aumenta nesta área, mas a resposta a outras categorias diminui. Então existe uma espécie de competição no cérebro do leitor e a nova função da leitura tem que encontrar algum espaço no córtex, criando espaço por assim dizer, e o que nós também vemos é que a representação dos rostos é, portanto, deslocado para o hemisfério direito.

As palavras competem com os rostos no cérebro do leitor, não é uma competição massiva, mas é uma espécie de reorganização que ocorre quando as crianças aprendem a ler.

Leitura espelhada nada a ver com dislexia

Graças a esta compreensão, nós também podemos explicar o quebra-cabeças sobre aquisição de leitura. Um quebra-cabeça que fomos capazes de explicar, pelo ponto de vista do cérebro, é algo que você pode ter visto em suas crianças, que é esta noção de leitura e escrita espelhada. 

Muitas crianças, quando assinam os seus desenhos, escrevem seus nomes na direção imprópria, da direita para a esquerda. Neste caso aqui temos um exemplo de uma criança que escreveu "Theodore ti voglio bene", e a criança escreve da direita para a esquerda, da direita para a esquerda, alternando, em um sistema de escrita que é conhecido como "boustrophedon", que quer dizer como o "boi golpeia". Esta era a maneira de escrever na Grécia Antiga. Mas é claro que as crianças não sabem sobre a Grécia Antiga nesta idade.  

Então como eles são capazes de fazer essas coisas, e muitos pais pensam que é essa dislexia? 

Nós entendemos agora do que se trata, que não é dislexia. O que ocorre é um traço desta antiga função do sistema que está tentando aprender a ler. Todos nós temos, todos os primatas têm um mecanismo de simetria que permite que você observe que estes dois rostos são da mesma pessoa, mesmo que em sua retina sejam imagens completamente diferentes, mas elas são imagens espelhadas uma da outra. E este é um sistema evoluído que temos que desaprender quando aprendemos a ler, porque não é útil, precisamos distinguir estes itens como duas palavras diferentes ou palavras em potencial.

Nós descobrimos de fato que a área principal que tem maior sensibilidade a esta simetria é precisamente a área que é chamada de "caixa de letras" do cérebro que está tentando aprender a ler.

Então, essencialmente não é de se admirar que as crianças tenham dificuldade com a leitura e escrita espelhadas, isto não tem nenhuma relação com dislexia, é uma dificuldade universal para todas as crianças que elas precisam superar, e nós podemos ensiná-las explicitamente pelos gestos da escrita, para ajudá-las a superar esta dificuldade.

Leitura de palavras completas é mito

Outra coisa que entendemos um pouco melhor agora é esta questão clássica sobre fonética versus treinamento com palavras completas. Vocês sabem que tem havido muito debate na psicologia e na educação: deveríamos ensinar em nível de palavras completas ou deveríamos realmente ensinar cada letras e sua pronúncia?

Existe efetivamente algo como a forma global das palavras que tem sido usado na leitura? Aqui tem algo muito importante: como adultos, nós esquecemos como éramos quando crianças. Nós esquecemos o quão difícil era aprender a ler, e achamos que podemos apenas colocar os olhos em uma palavra e imediatamente vem à mente. E realmente, existe esta noção de leitura paralela, nós lemos todas as letras ao mesmo tempo, isto nos dá a ilusão de leitura de palavras completas, mas na verdade se olharmos para o cérebro, o cérebro ainda processa cada uma das letras e não olha para o formato global.

Então, a leitura das palavras completas é um mito, basicamente. O que temos é o processamento de letras, mas processamento de letras em paralelo através de todas as letras da palavra. O cérebro não usa a forma global da palavra e, de fato nas crianças é ainda pior, as crianças precisam de mais e mais tempo, para mais e mais palavras.

Vocês podem ver isto neste gráfico, este é o número de letras em uma palavra e o tempo de reação de crianças. No 1º ano elas são muito lentas e precisam de mais e mais tempo para cada letra. Então, isso não é absolutamente leitura de palavras completas. É um processo lento, serial, uma letra por vez, e à medida que as crianças progridem, 2ª ano, 3ª ano, isto desaparece, e isto dá a ilusão de leitura de palavras completas.

Então eu acho que podemos ser muito claros sobre este ponto, porque há uma forte convergência em pesquisa educacional sugerindo que o cérebro não tem relação com este tipo de exercício que meu filho teve de selecionar as letras ascendentes e descendentes, e decidindo que isto corresponde a esta palavra ("lapin" na tela). O formato global não é utilizado.

A neurociência: a correspondência entre letra e som é a maneira mais rápida de adquirir a leitura e a compreensão.

Algumas palavras de conclusão. Eu penso que a neurociência pode auxiliar na educação. Nós entendemos agora muito sobre leitura. Nós entendemos que em todas as culturas não há tanta variação, nós sempre temos os mesmos mecanismos cerebrais.  A leitura sempre exige a especialização do sistema de visão para o formato das letras, conectando-os a sons da fala, mesmo em chinês. A propósito, não há mais letras, mas há caracteres e alguns deles são mapeados estatisticamente aos sons.

Ensinar a correspondência da letra ao som é, portanto, essencial, é uma das principais partes que foi transformada no cérebro. A pesquisa do cérebro é convergente à pesquisa em educação, ensinando que o ensino da correspondência entre letra e som é a maneira mais rápida de adquirir a leitura e a compreensão, não apenas, você sabe, ser capaz de decodificar as palavras.

Como isto funciona? Isto funciona porque existe uma forma de autoensino, uma vez que as correspondências são aprendidas, as crianças têm estas correspondências entre letras e sons, então eles podem reconhecer as palavras usando auditivamente seu léxico auditivo. E então esta rota mais direta entre letras e significado pode ser treinada. Ela pode ser auto treinada na medida que a criança lê sozinha, mesmo sem um professor. Então, essa noção de duas rotas da leitura desempenha um papel central em todos os modelos contemporâneos do processo de leitura.

Ciência cognitiva e softwares

A neurociência cognitiva também pode levar a novas ferramentas de software e, rapidamente eu gostaria de mencionar que nossos colegas da Finlândia, que têm desenvolvido ao longo de muitos anos este jogo gráfico (Graphogame). um sofisticado software que parece um jogo para crianças, onde você deve selecionar letras com base no som que você ouve, e muitos outros jogos de treinamento desse tipo, e eles mostraram que apenas algumas horas de treinamento com este joguinho são suficientes para a crianças em fase pré-escolar, as crianças já começam a desenvolver este sistema visual de formas de palavras sobre o qual tenho falado. 

Então, com ferramentas eficientes que atraem a atenção da criança e as recompensam pelo que podem fazer, nós temos mudanças muito rápidas nestes cérebros com plasticidade, nesta idade jovem.

Eu quero mencionar que essa noção de reciclagem neuronal, a ideia de que algumas áreas tem plasticidade suficiente para podemos redirecionar sua função sensivelmente, que é o que ocorre com a leitura, é um tipo de princípio geral. Todos nós somos como esta caricatura de Darwin, nós somos humanos, mas também somos primatas e, como primatas, herdamos restrições em nosso cérebro. Nosso aprendizado é limitado pelas representações que herdamos da evolução, que vem não apenas da linguagem, mas também dos números, espaço, tempo. E os professores devem levar em conta esse conhecimento inicial da criança, porque se compreendemos o que elas têm que redirecionar no cérebro da criança, nós podemos ensinar melhor.

Os números no cérebro

Eu quero mencionar que isso é relevante para a leitura, mas também, penso eu, muito fortemente para a matemática. Nós começamos a entender que nosso cérebro, o cérebro humano, da mesma forma que em outros primatas, é organizado para compreender conceitos do mundo externo, tal como o conceito de número.

São as mesmas áreas do cérebro que se relacionam aos números no cérebro de um macaco e no cérebro humano e, com base nisto, podemos começar a entender qual é o fundamento da intuição do senso de números, que se desenvolve mais tarde em um sistema complexo de aritmética. Então, baseado no mesmo princípio desta noção de que são todos os sistemas cerebrais que precisam ser reciclados, podemos propor uma compreensão do desenvolvimento da aritmética.

E eu quero mencionar que é agora culminando em meu laboratório no desenvolvimento de ferramentas de software que são baseadas em princípios cognitivos e que podem ajudar as crianças a desenvolver um melhor sentido dos números. E este software de "Number Catcher" está disponível hoje em thenumbercatcher.com, e é um novo software que está disponível gratuitamente para ajudar as crianças a desenvolver suas intuições sobre os números.

Finalmente, eu quero terminar dizendo que vocês podem ler sobre esses tópicos com mais detalhes, eu percebi que 20 minutos não são suficientes para transmitir todas estas ideias, mas principalmente agora penso que podemos ter uma breve discussão. Muito obrigado por sua atenção.

Para ler assuntos relacionados a educação, pesquise no campo correspondente buscando educação, método fônico, método global, Ideb, Pisa, ou clique abaixo.

Alfabetização sem complicação: 70 dias letivos com método fônico
Sobral: Ideb de 9,1 humilha construtivismo paulista
Neurocientista apresenta método de alfabetização letra por letra
Por que o método fônico alfabetiza
Pisa derruba mitos na educação
Educação inicial é o grande problema, diz Cláudio Moura Castro
Cientista condena o construtivismo como método de alfabetização
Nuno Crato: como recuperar o tempo perdido
Brasil em 58ª em educação, entre 65 países avaliados
A vertente radical do construtivismo é um equívoco pedagógico completo
Professor coreano ganha 4 vezes mais que os colegas brasileiros

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Você sabia? 200 mil brasileiros morreram de pneumonia, 80% idosos.

Até 12 de junho de 2020 são mais de 41 mil brasileiros mortos por Covid-19 e uma grande tensão com cobertura nacional. Mas a imprensa ignorou 200 mil mortos provocados por vírus e bactérias entre 2015 e 2017.
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza
Atualizado em 12.06.2020

Dados do Ministério da Saúde, publicados por alguns jornais em junho de 2019, curiosamente não chamaram a atenção da população tão atenta hoje com o placar de contaminados e mortos pelo corona vírus: 200 mil brasileiros morreram de pneumonia, entre 2015 e 2017 e, destes, 80% eram idosos. O objetivo da divulgação, no ano passado, era chamar a atenção para a vulnerabilidade da população acima de 60 anos, mais afetada pelas complicações da pneumonia.

Oito em cada dez mortes por pneumonia no Brasil, entre 2015 e 2017, foram de idosos, o que corresponde a mais de 80% das mortes pela doença. Nesse período, foram registrados cerca de 200 mil óbitos por causa da doença, uma média de 66,5 mil casos por ano, ou sete por hora. Embora a referência seja uma "média por ano", a incidência maior ocorreu no período de alguns meses do inverno.

Porque 200 mil mortos por pneumonia no Brasil chamaram tão pouca atenção? Uma busca no Google mostra pouca referência da mídia, na época e nem recentemente, sobre o tema. Ao contrário do que ocorre hoje, o jornalismo criou placares de contaminados, suspeitos e mortos pelo Covid-19.

Até esta data - atualizado em 12 de junho de 2020 - , o Covid-19 ceifou a vida de 413 mil pessoas, em todo mundo (7,5 bilhões de habitantes) 41.058 no Brasil, cuja população é de 207,8 milhões de habitantes.

Próximo de 115 mil morreram nos Estados Unidos (Hab 325 milhões) , 41,1 mil no Reino Unido (Hab 66,7 milhões), 34,1 mil na Itália (Hab 60,6 milhões), 27,5 mil na Espanha (Hab 46,6 milhões), 29,3 mil na França (Hab 64,8 milhões), 8,9 mil na Alemanha (Hab 82,6 milhões), 6.7 mil na Rússia (Hab 145,5 milhões).

O quadro abaixo é um resumo das principais causas de mortes, mundo, em 2017, pesquisado pela Global Burden of Disease, da IHME e publicado em maio, pela BBC Brasil.


Pneumonia bacteriana e contaminação

As bactérias causadoras da pneumonia - Streptococcus pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae e Haemophilus influenzae - usam a gripe como porta principal de entrada para causar a enfermidade.

A pneumonia bacteriana não é contagiosa na maioria dos casos mas, os germes do streptococcus pneumoniae podem contaminar crianças ou adultos com baixa imunidade que tenham contato direto e mais prolongado com um paciente infectado.

A mycoplasma pneumoniae e chlamydophila pneumoniae são bactérias transmissíveis entre pessoas por secreções respiratórias tal e qual a propagação de viroses. Geralmente o quadro clínico é mais brando.

Pneumonia viral e transmissão

As chamadas infecções do trato respiratório, de causa viral, são as formas mais comuns que afetam a humanidade. As pneumonias virais mais comuns são provocadas pelos vírus influenza A e B, parainfluenza 1, 2 e 3, adenovírus e vírus sincicial respiratório. O primeiro é o agente infeccioso da gripe, já os três restantes são vírus que provocam resfriado.

Em pacientes susceptíveis, essas viroses podem ir além de uma virose respiratória simples, provocando uma pneumonia viral. Esta situação é muito comum em idosos, crianças pequenas e pessoas com imunidade comprometida. Na verdade a transmissão ocorre pela virose. Exemplo: caso tenha contato com um paciente portador de pneumonia por influenza, o risco maior é você ficar resfriado mas, caso a imunidade estiver baixa, o quadro pode evoluir para uma pneumonia viral.


Na pneumonia viral os principais responsáveis são os vírus que causam gripes e resfriados como o Influenza A, B ou C, H1N1, H5N1 e o COVID-19. Outros, como vírus parainfluenza, vírus sincicial respiratório e adenovírus podem ser transmitidos nas gotículas de saliva ou tosse de secreção respiratória que ficam suspensas no ar.

Nas pneumonias virais, dependendo do estado imunológico do paciente e do agente infectante, haverá variação no nível do quadro clínico. Com grande letalidade, o mundo conheceu a família corona causadora da síndrome respiratória aguda grave (da sigla em inglês Sars) e síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers). O primeiro agente veio do pato e o segundo, do camelo. Os vírus Influenza, H5N1 e hantavírus mostraram-se muito letais.

Idade e comorbidade

- Além de uma imunidade naturalmente reduzida em relação aos mais jovens, os idosos costumam ter outros problemas de saúde que diminuem a capacidade do organismo de lutar contra agentes invasores. Com a idade avançada, o sistema imunológico já não responde tão bem como antes. Nos idosos, há mais diabetes, hipertensão, doenças cardiológicas e renais. Esses fatores também aumentam o risco de óbito. Outros sistemas não estão atuando, digamos, 100%” - explica o pneumologista Elie Fiss, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Durante o período mais frio a propagação de vírus causadores de gripe, aumenta consideravelmente.

- Existe a sazonalidade do influenza e de outros vírus que circulam no hemisfério no inverno. Ambientes fechados em dias de muito frio propiciam a transmissão com facilidade de uma para a outra” - conclui Elie Fiss.

Mas não é preciso ter uma gripe para facilitar a infecção. Pessoas idosas tem mais dificuldades para engolir alimentos e isso provoca refluxos que podem facilitar a contaminação. O risco é maior quando idosos estão acamados.

Prevenção

Recomenda-se que, em caso de cansaço, falta de ar, febre, tosse, taquicardia, falta de ar e febre o idoso seja levado ao médico. O Ministério da Saúde diz que a vacina contra a gripe pode reduzir até 75% o risco de morte. Adverte-se para uma boa higiene bucal e atenção maior com idosos com comorbidades.

A diferença entre pneumonia viral e bacteriana é o início mais repetino e alguns sintomas como catarro mais transparente, como congestão nasal, sinusite, espirros, irritação nos olhos. Exames que identifiquem o agente torna o tratamento mais eficaz.

Leituras relacionadas:


(*) O Estudo Global de Carga de Doenças é um programa de pesquisa regional e global abrangente sobre a carga de doenças que avalia a mortalidade e a incapacidade de doenças graves, lesões e fatores de risco. O GBD é uma colaboração de mais de 3600 pesquisadores de 145 países.