quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Governo mudará método de alfabetização

Stanlistas Dehaene, neurocientista que há 30 anos estuda o impacto do processo de alfabetização no cérebro da criança diz, claramente, que o método utilizado no Brasil, o construtivismo, ensina o lado errado do cérebro.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

O jornal BBC News Brasil publicou, em seu site, matéria sobre possíveis mudanças no método de alfabetização no Brasil. O atual, utilizado nas redes públicas e defendido por "doutores em educação" do Ministério da Educação, é lastreado em teorias condenadas pela ciência e seus resultados são inquestionáveis: 80% dos alunos que chegam às universidades brasileiras são analfabetos funcionais e, no ensino médio, nossos alunos estão entre 60º e 66º lugares no PISA. O Enem mostra, todos os anos, como nossos estudantes estão mal. Não tem como filosofar em cima de números.

Alunos que deveriam ser alfabetizados já aos nove meses do primeiro ano do Ensino Básico, chegam ao Ensino Médio sem conseguir ler palavras com mais de duas sílabas. Mal conseguem ler e pouco conseguem compreender do texto. Isso é resultado único do método de alfabetização defendido, por exemplo, pela professora Magda Soares, considerada "emérita da Universidade Federal de Minas Gerais" e "premiada" recentemente com o prêmio Jabuti nas categorias Educação e Pedagogia.

O presidente do Grupo Editorial Record, Sérgio Machado, deixou o prêmio por não compactuar com uma "comédia de erros na avaliação e disse que o Jabuti virou um concurso de beleza com critérios de programa de TV e interesses políticos.


A "emérita da UFMG" e ganhadora do "Prêmio Jabuti": Magda Soares sentiu-se ofendida pelo posicionamento de Carlos Nadalim sobre a alfabetização defendida por ela. Nadalim aplicará o método fônico que pode alfabetizar em menos de um ano.

A matéria foi escrita pela jornalista Mariana Schreiber (que se esforça em ressalvar a idade da professora de 86 anos e sua solicitude em atender jornalistas, mesmo saída de uma cirurgia) não evolui para justificar porque o Brasil está pessimamente mal colocado no PISA (Programa de Avaliação de Estudantes mantido pela OCDE e coordenado por Andreas Schleicher, matemático, físico e estatístico alemão que criou o Programme for International Student Assessment). Faz quase 30 anos que o método atual é aplicado no Brasil com péssimos resultados. Alguém contesta os números brasileiros?

O Brasil, que participa do PISA desde do ano 2000, se mantém nas ultimas colocações entre 76 países. As provas são realizadas a cada 3 anos entre alunos de 15 anos envolve língua, matemática e ciências. O Brasil está no beirando o 60º lugar, próximo das nações africanas. A última colocação coube à Gana, na África e os analfabetos funcionais são muito mais que os 29% que o nunca confiável Ibope anunciou recentemente.

Faz 5 anos a Unesco publicou resultados da Educação Básica na América Latina. A avaliação considerou o desempenho de 134 mil alunos do ensino fundamental, de 15 países, em matemática, leitura e ciências. Na disciplina de matemática 60,3% dos alunos do 4º ano e 83,3% dos alunos do 7º ano ficaram nos níveis I e II. Somente 12% (do 4º ano) conseguiram atingir o nível IV e só 4% dos alunos do 7º ano chegaram neste patamar.

Em leitura 55,3% do 4º ano e 63,2% do 7º ano ficaram nos dois primeiros piores níveis da avaliação. O vexame continua: 80,1% dos alunos brasileiros do ensino básico ficaram nas classificações mais baixas em ciências naturais.

Isto é, as teorias de Jean Piaget e Vygotsky (crendices, como diria José Morais, professor emérito da Universidade Luxenburgo) não funcionam, mas os "doutores" da nossa educação insistem na prática construtivista. Stanislas Deheane, um dos mais importantes neurocientistas do planeta e estudioso do assunto, já disse que o construtivismo ensina o lado errado do cérebro. E ambos estranham porque o Brasil insiste num método de alfabetização que não alfabetiza. E um aluno que não for alfabetizado nos anos iniciais chegará ao Ensino Médio ou universidade analfabeto funcional.

Em que mundo vive a vovó Magda, "vencedora do prêmio Jabuti"? Se os resultados são péssimos, todos os anos, não há espaço para filosofia. Vai se culpar a falta de investimento? Ou a condição sócioeconômica do aluno? Apenas para esclarecer: os alunos mais pobres de Xangai, Japão, Vietnã, Coreia... sabem mais matemática que os alunos mais ricos da Europa. E a Coreia investe infinitamente
menos que os Estados Unidos, por exemplo, e o país lidera o PISA. São mitos derrubados.

CARLOS NADALIM ASSUME SECRETARIA DE ALFABETIZAÇÃO


Carlos Nadalim, o método fônico alfabetiza em menos de um ano 

Uma das principais causas do analfabetismo funcional no Brasil é o método construtivista. Nadalim defende o "método fônico", que apresenta as crianças às letras e aos sons da fala antes de iniciá-las em atividades com textos.

O objetivo de Carlos Nadalim é apenas provar que, depois de 30 anos se utilizando de métodos e metodologias com resultados catastróficos, o fônico alfabetiza em menos de um ano. Diz a neurociência que o "velho e bom fônico" é o melhor método para uma criança aprender ler e escrever. As provas disso estão em todos os países que lideram o PISA.

Segundo a BBC News, Nadalim diz que "uma das causas principais do alto analfabetismo funcional (quando a pessoa reconhece as letras, mas não consegue interpretar textos simples) no Brasil é a prevalência nas diretrizes do Ministério da Educação de métodos de ensino "construtivistas" - abordagem em que a criança é vista como construtora do conhecimento e o aprendizado do alfabeto ocorre de forma integrada com o uso social da leitura e escrita. Nadalim defende como alternativa o "método fônico", que apresenta as crianças às letras e aos sons da fala antes de iniciá-las em atividades com textos.

Stanlistas Dehaene, neurocientista que há 30 anos estuda o impacto do processo de alfabetização no cérebro da criança diz, claramente, que o método utilizado no Brasil, o construtivismo, ensina o lado errado do cérebro.

Dehaene – Verificamos, por meio de várias experiências, que o método mais eficaz de alfabetização é o que chamamos fônico. Ele parte do ensino das letras e da correspondência fonética de cada uma delas. Nossos estudos mostraram que a criança alfabetizada por esse método aprende a ler de forma mais rápida e eficiente. Os métodos de ensino que seguem o conceito de educação global, por outro lado, mostraram-se ineficazes. (No método global, a criança deve, primeiro, aprender o significado da palavra e, numa próxima etapa, os símbolos que a compõem.)

ÉPOCA – No Brasil, o construtivismo, que segue as premissas do método global para a alfabetização, é amplamente disseminado. Por que os sistemas que seguem o método global são ineficazes?

Dehaene – Verificamos em pesquisa com pessoas de diferentes idiomas que o aprendizado da linguagem se dá a partir da identificação da letra e do som correspondente. No português, a criança aprende primeiro a combinação de consoantes e vogais. A próxima etapa é entender a combinação entre duas consoantes e uma vogal, como o “vra” de palavra. Essa composição de formas, do menor para o maior, é feita no lado esquerdo do cérebro. Quando se usam metodologias para a alfabetização que seguem o método global, no qual a criança primeiro aprende o sentido da palavra, sem necessariamente conhecer os símbolos, o lado direito é ativado. Mas a decodificação dos símbolos terá de chegar ao lado esquerdo para que a leitura seja concluída. É um processo mais demorado, que segue na via contrária ao funcionamento do cérebro. Num certo sentido, podemos dizer que esse método ensina o lado errado primeiro. As crianças que aprendem a ler processando primeiro o lado esquerdo do cérebro estabelecem relações imediatas entre letras e seus sons, leem com mais facilidade e entendem mais rapidamente o significado do que estão lendo. Crianças com dislexia que começam a treinar o lado esquerdo do cérebro têm muito mais chances de superar a dificuldade no aprendizado da leitura.

Em palestra para diretores e coordenadores pedagógicos de Santa Catarina, Dehaene garantiu que “embora desagrade a muitos, não se aprende a ler de cem maneiras diferentes. Cada criança é única, mas, quando se trata de alfabetização, todas têm basicamente o mesmo cérebro que impõe a mesma sequência de aprendizagem. Quanto mais respeitarmos sua lógica, mais rápida e eficaz será a alfabetização”.

Milhares de estudos em laboratório mostram que "os cérebros ativam os circuitos corretos para a leitura quando a criança aprende a relação de sons e símbolos gráficos ganhando velocidade e autonomia para lerem palavras novas, de forma muito mais rápida", disse o cientista. "O atual método utilizado no Brasil, o construtivismo, é ineficaz e isso está provado não apenas em laboratório mas em centenas de experimentos realizados em inúmeros países. E esses conhecimentos científicos estão reorientando as políticas públicas em vários deles" - cita o site da Secretaria da Educação de Santa Catarina.

O que a vovó defende?
"As crianças aprendem com mais interesse e entusiasmo quando se alfabetiza com base em palavras e frases de textos reais, lidos pela professora, e em tentativas de escrever, de modo que aprender as relações fonema-grafema ganham sentido", defende.Mentira! Todas as avaliações, no Brasil e no mundo, contrariam essa afirmação da vovó. Particularmente no Brasil.

PS: Stanislas Deheane e Carlos Nadalim nunca receberam um prêmio Jabuti.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O problema da educação está no 1º Ano do Ensino Básico

 
Editorial do Estadão aponta que o problema da educação nacional está no Ensino Médio ao admitir que alunos de 19 anos mal conseguem ler e pouco compreendem da leitura.

Por Edson Joel Hirano Kamakura e Souza

Um editorial do jornal O Estado de São Paulo, de 14 de janeiro deste ano, intitulado "A tragédia do ensino médio" tenta mostrar o caos da educação no país. Porém, mostra também a ignorância jornalística de um dos principais jornais brasileiros.

O autor lamenta a crise na educação "que vem sacrificando o futuro de novas gerações" sustentando-se em pesquisas do movimento Todos pela educação - grupo sem fins lucrativos que reúne pedagogos e gestores escolares - que apontam que 4, de cada 10 jovens na faixa etária de 19 anos, não concluíram o Ensino Médio na idade considerada para esse ciclo. E que, do total de brasileiros nessa faixa, 62% já estão fora da escola e 55% abandonaram ainda no ensino fundamental. Diz ainda que o Brasil está longe de atingir as metas projetadas que previam 90% dos jovens com ensino médio completo (em 2018 só 63,5% concluíram o curso).

Os dados levantados estão corretos mas, as conclusões apresentadas para justificar o atraso escolar dos alunos do ensino médio, completamente erradas. Absurdamente falsas.

Diz o editorial sobre o ensino médio:

"E, como a qualidade desse ciclo educacional é ruim, entre os alunos que conseguem concluí-lo muitos apresentam conhecimento insuficiente em leitura, ciências e matemática, enfrentando problemas para ler palavras com mais de uma sílaba, identificar o assunto de um texto, reconhecer figuras geométricas e contar objetos. Na Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2017, o ensino médio alcançou o nível 2 de proficiência, numa escala de 0 a 9 – quanto mais baixo é o número, pior é a avaliação. Com excesso de matérias, currículo desconectado da realidade socioeconômica e conteúdos ultrapassados, o ensino médio é considerado o mais problemático de todos os ciclos do sistema educacional. E é justamente por isso que ele se destaca por altas taxas de abandono e de reprovação."

O diganóstico está na frase "insuficiente em leitura, enfrentando problemas para ler palavras com mais de uma sílaba, identificar o assunto de um texto".

A alfabetização ocorre nos primeiros anos do Ensino Básico e não no Ensino Médio. Um aluno na faixa dos 19 anos, que tem dificuldades para ler e compreender o que conseguiu balbuciar, simplesmente não foi alfabetizado nos anos iniciais do básico. Só isso. Portanto, não é excesso de matérias, desconexão com a realidade sócioeconômica ou conteúdos ultrapassados que colocam os jovens do Ensino Médio nas piores posições da educação mundial. E, pior, um aluno que passou pelo básico e não foi alfabetizado, jamais se recupera.

O problema brasileiro está no método de alfabetização, que não alfabetiza - lastreado em teorias condenadas pela ciência - e não no ensino médio. Bastaria o articulista pesquisar um pouco mais e não ficar sentado em press-release que mostra pesquisas e conclui os caminhos a seguir, sem lógica. O desinteresse dos alunos do ensino médio decorre de um fato simples: eles não conseguem ler. Não sabem matemática porque tem dificuldades de interpretar um simples enunciado. A raiz chama-se 1º ano do ensino básico, quando a criança é alfabetizada. O método utilizado no Brasil, não alfabetiza. Vejam todos os números disponíveis em inúmeras avaliações.

Pior que os péssimos resultados da educação é a insistência dos nossos "doutores em educação" insistir corrigir erros no lugar errado. O método fônico alfabetiza em menos de 9 meses. Em Xangai ou em Brejo Santo, no Ceará. Granja, cidade com o penúltimo IDH do Ceará tem escolas com índice de proficiência em matemática no nível 9 da escala Saeb. 

O problema nem está em investimentos de vulto. Basta lembrar que a Coreia do Sul investe infinitamente menos que os Estados Unidos e seus alunos estão na ponta do PISA, programa que avalia estudantes na faixa de 15 anos, em mais de 75 países.

A condição sócio econômica pode, sim, provocar algum dano no avanço escolar mas, para destruir esse argumento como grande trava no avanço escolar brasileiro, basta citar que os alunos mais pobres de Xangai, Japão e Vietnã sabem mais matemática que os alunos mais ricos da Europa. Estes assuntos estão nos Mitos da Educação, derrubados por profundas pesquisas e análises do PISA. Há 4 anos a Unesco publicou a avaliação no Ensino Básico dos países latino americanos. O Brasil ficou nas últimas colocações.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Os filhos não podem tudo. Cabe aos pais impor limites


Por Içami Tiba

As crianças aprendem a comportar-se em sociedade ao conviver com outras pessoas, principalmente com os próprios pais. A maioria dos comportamentos infantis é aprendida por meio da imitação, da experimentação e da invenção. Se os pais permitem que os filhos, por menores que sejam, façam tudo o que desejam, não estão lhes ensinando noções de limites individuais e relacionais nem lhes passando noções do que podem ou não podem fazer.

Os pais usam diversos argumentos para isso: “Eles não sabem o que estão fazendo”. “São muito pequenos para aprender.” “Sabemos que não devemos deixar…, mas é tão engraçadinho.”

Buscando platéia

É preciso lembrar que uma criança, quando faz algo pela primeira vez, sempre olha em volta para ver se agradou alguém. Se agradou, repete o comportamento, pois entende que agrado é aprovação – e ela ainda não tem condições de avaliar a adequação do seu gesto.

Portanto, cada vez que os pais aceitam uma contrariedade, um desrespeito, a quebra de limites, estão fazendo com que seus filhos rompam o limite natural para seu comportamento em família e em sociedade. Apesar de serem mais fortes, os pais que não reagem à quebra de limites dos filhos acabam permitindo que estes, muito mais fracos, os maltratem, invertendo a ordem natural de que o mais fraco deve respeitar o mais forte.

Estabelecer limites

A força dos pais está em transmitir aos filhos a diferença entre o que é aceitável ou não, adequado ou não, entre o que é essencial e supérfluo, e assim por diante.

Pedir um brinquedo é aceitável, mas quebrar o brinquedo meia hora depois de ganha-lo e pedir outro, é inaceitável. É importante estabelecer limites bem cedo e de maneira bastante clara, pois, mais tarde, será preciso dizer ao adolescente de quinze anos que sair para dar uma volta com o carro do pai não é permitido, e ponto final.

Responsabilidade

O estudo é essencial; portanto, os filhos têm obrigação de estudar. Caso não o façam, terão sempre que arcar com as consequências de seus atos, e estas deverão ser previamente estabelecidas pelos pais. Só poderão brincar depois de estudar, por exemplo. Naquilo que é essencial, os pais deverão dedicar mais tempo para acompanhar de perto se o combinado está sendo respeitado. Os filhos precisam entender que têm a responsabilidade de estudar e que seus pais os estão ajudando a cumprir um dever que faz parte da “brincadeira” da vida.

Fonte: Livro Disciplina – Limite na medida certa, de Içami Tiba. Editora Integrare.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Brasil é campeão em número de estatais entre economias mais desenvolvidas

País tem 418 empresas controladas direta ou indiretamente por União, Estados ou municípios, de acordo com levantamento da FGV

Renée Pereira, O Estado de S.Paulo
03 Novembro 2018 | 05h00


Mesmo depois de uma onda de privatização nas décadas de 80 e 90, o Brasil é o país que tem o maior número de estatais entre as 36 nações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No total, são 418 empresas controladas direta ou indiretamente por União, Estados e municípios. Dessas, 138 são federais e poderão ser alvo de privatização no governo de Jair Bolsonaro (PSL).

Relatório culpa repasses por situação dos Correios Foto: ALOISIO MAURICIO | PAGOS
Juntas, essas companhias empregam mais de 800 mil pessoas, sendo cerca de 500 mil do governo federal. Nesse quesito, o Brasil também é campeão entre os países da OCDE seguido de perto pela França, mostra levantamento do Observatório das Estatais, da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os dados da OCDE – clube que reúne os países mais desenvolvidos e do qual o Brasil quer ser integrante – não consideram China e Índia e incluem apenas as empresas do governo central, já que a estrutura dos países não tem estatais estaduais e municipais.

“Apesar dos movimentos de desestatização dos anos 90, as empresas estatais ainda estão bem presentes na vida econômica do País”, afirma o economista Márcio Holland, da FGV. Nesse grupo, estão algumas das maiores empresas brasileiras, como Petrobrás, Eletrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Algumas dessas companhias controladas pelo Estado foram alvo, nos últimos anos, de abuso do poder controlador e de elevado nível de influência político-partidária, além de estarem envolvidas em recorrentes escândalos de desvio de finalidade e de corrupção, lembra Holland.

Para melhorar a gestão e reduzir a ingerência política nessas empresas, foi criada em 2016 a chamada Lei das Estatais, com regras específicas para nomeação de diretores, membros do conselho e um rígido programa de regras de conduta.

Planos. A privatização é sempre um caminho apontado pelos especialistas para reduzir o tamanho do Estado, modernizar alguns serviços e acabar com as interferências políticas. O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) já afirmou que pretende fazer uma série de privatizações, mas desde que não envolvam empresas estratégicas. A declaração trouxe uma série de dúvidas sobre o que isso significa e que companhias poderiam ser transferidas para a iniciativa privada.

No ano passado, a União gastou R$ 9,3 bilhões a mais com empresas estatais do que arrecadou, segundo relatório divulgado na semana passada pelo Tesouro Nacional. O governo federal recebeu R$ 5,5 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio das estatais federais no ano passado, mas desembolsou R$ 14,8 bilhões em gastos com pessoal, investimento ou manutenção dessas empresas.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Números do desastre petista


A trágica herança deixada pelos últimos anos da era lulopetista fica evidente nos dados do IBGE. Em 2016, o Brasil perdeu 70,8 mil empresas, o que resultou na demissão de 1,6 milhão de pessoas

O Estado de S.Paulo
04 Outubro 2018 | 03h00

O custo crescente da folha de salários da União já se tornou um problema tão ou mais grave que o desequilíbrio estrutural das contas da Previdência. Por isso, além de propor a reforma do sistema de aposentadorias e pensões, o futuro presidente da República terá de tomar decisões urgentes e corajosas para conter o aumento dos gastos com os servidores. Se não agir com rapidez e sobretudo com competência política nessa questão que envolve interesses de uma corporação poderosa e muito bem organizada, o próximo ocupante do Palácio do Planalto poderá ter grandes dificuldades para executar seu programa de governo. A seu favor, se estiver disposto a examinar o tema com o cuidado que ele exige, disporá não apenas de diagnósticos precisos sobre os problemas do funcionalismo, mas também de propostas que estão sendo concluídas pela área técnica do Ministério do Planejamento encarregada da gestão de pessoal da União.

Essas propostas resultam do reexame de outras já apresentadas pelo Planejamento e sua concretização depende de leis ordinárias, que podem ser aprovadas por maioria simples, o que tornaria menos penosas as negociações com o Congresso. Temas polêmicos, como a estabilidade do servidor no emprego e a estrutura salarial dos militares, não são tratados nessas propostas. As mudanças valeriam para quem entrar no serviço público depois de aprovadas as novas regras, o que tenderia a reduzir as reações corporativas.

Um dos objetivos centrais da reforma das carreiras de servidores públicos federais, como mostrou reportagem do Estado, é o fim da progressão automática por tempo de serviço. Pela proposta do Ministério do Planejamento - que a oferecerá ao presidente a ser eleito em outubro -, as promoções dos funcionários passarão a ser condicionadas a critérios como mérito, desempenho e capacitação.

Desse modo, o servidor levaria mais tempo para ser promovido e, portanto, para atingir o topo da carreira. Pelas regras atuais, em algumas carreiras o servidor pode chegar ao ponto mais alto, e também à remuneração mais alta, em apenas seis anos. Os gestores da área de pessoal do Ministério do Planejamento consideram que, numa situação dessas, o servidor ou se desinteressa pelo aperfeiçoamento e pelo treinamento profissional ou passa a pressionar o empregador, isto é, a União, para obter ganhos adicionais fora da estrutura salarial de sua carreira, como os penduricalhos pagos a servidores da área jurídica. Várias carreiras obtiveram vantagens desse tipo nos últimos anos.

Outra mudança pretendida é tornar a remuneração inicial das diversas carreiras compatível com os salários observados no mercado de trabalho privado. Em boa parte das carreiras, a fixação de um salário inicial em torno de R$ 5 mil permitiria alinhar os vencimentos do setor público com os salários privados e eliminaria distorções gritantes, como um salário inicial de R$ 18 mil - remuneração alcançada por poucos profissionais do setor privado no topo de suas carreiras - pago a diversas carreiras do setor público federal.

A fixação de vencimento inicial menor também eliminaria outra distorção observada em algumas carreiras, nas quais o salário máximo é pouco maior do que o mínimo. Em algumas funções, o salário inicial é de R$ 16,8 mil e o de fim de carreira, de R$ 22,8 mil.

Há, ainda, grandes e injustificáveis disparidades entre as remunerações das diferentes carreiras do serviço público federal. Um professor universitário concursado em início de carreira ganha cerca de R$ 6 mil e um analista da Câmara dos Deputados inicia sua carreira ganhando mais de R$ 20 mil. A proposta em elaboração pelo Ministério do Planejamento reduz de 309 para cerca de 20 as carreiras.

Atualmente, o governo federal gasta cerca de R$ 300 bilhões por ano com a folha de pessoal formada por 1,3 milhão de servidores, incluindo os inativos. Do ponto de vista fiscal, os ganhos imediatos não seriam muito expressivos. Mas o resultado seria vultoso no prazo de 15 anos.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Mais da metade dos alunos de 14 a 17 anos tem nota insuficiente em Português e Matemática

Resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o mais importante exame brasileiro, estão sendo divulgados nesta quinta-feira pelo Ministério da Educação

Renata Cafardo e Victor Vieira, O Estado de S.Paulo
30 Agosto 2018 | 11h00


Mesmo no 3º ano do ensino médio, a maior parte dos jovens não sabe identificar a informação principal de uma reportagem ou calcular porcentagem Foto: SERGIO CASTRO/ESTADÃO

SÃO PAULO - Mais da metade dos alunos de 14 a 17 anos do País não aprendeu praticamente nada do esperado para as séries que estão cursando, tanto em Português quanto em Matemática. Mesmo no 3º ano do ensino médio, a maior parte dos jovens não sabe identificar a informação principal de uma reportagem ou calcular porcentagem, por exemplo. Esses são alguns do resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o mais importante exame brasileiro, que mede desempenho dos alunos. A prova é feita pelo Ministério da Educação (MEC) para todos os estudantes do 5º ano e 9º ano do ensino fundamental e do 3º do médio desde 1995 nas escolas públicas. A rede particular este ano pôde se voluntariar para participar (até o ano passado, o MEC as selecionava por amostragem).

Os resultados do exame de 2017 foram divulgados nesta quinta-feira, 30, pelo governo. Mais de 5,4 milhões de alunos participaram do Saeb. O desempenho de Português e Matemática é usado para compor o Índice de Desempenho da Educação Básica (Ideb), que inclui ainda dados de aprovação e reprovação.

O quadro é mais grave no ensino médio, em que 7 em cada grupo de 10 alunos estão nos níveis considerados insuficientes de aprendizagem nas duas disciplinas. “É uma das coisas mais preocupantes que a gente tem no País. Ou o aluno abandona a escola ou fica e não aprende nada”, diz o ministro da Educação, Rossieli Soares Silva.

O ensino médio é considerado por especialistas como a etapa mais preocupante da educação brasileira pelos altos índices de evasão e por ter um currículo distante dos jovens. Apesar dos resultados serem ruins em todas as etapas, estudantes do fundamental têm desempenho melhor. “Se continuar tudo como está, há possibilidade de, em 2021 e 2023, os alunos do fundamental já terem ultrapassado os médio”, afirma o ministro.

Os dados do Saeb mostram que, em três Estados, isso já aconteceu. No Ceará e no Amazonas, estudantes do 9º ano já têm nota maior que os do ensino médio em Português. Em Santa Catarina, isso acontece em Matemática. Isso quer dizer que se ambos fizessem a mesma prova, os mais novos se sairiam melhor.

O governo Michel Temer enviou ao Congresso por medida provisória - que depois se tornou lei - uma reforma para o ensino médio que flexibiliza o currículo e cria diversos caminhos que podem ser escolhidos pelos jovens, entre eles o ensino técnico.

A proposta é polêmica, principalmente pela dificuldade de estrutura e professores para oferecer as diferentes formações. Entre os candidatos à Presidência, há os que defendem a revogação da lei. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a etapa, desenvolvida pelo atual governo, ainda não foi aprovada e também corre risco de ser mudada numa próxima gestão.

Fundamental

Na etapa de 1º ao 5º, o cenário é um pouco melhor, com 39% dos alunos nos mais baixos níveis de aprendizagem em Português e 33% em Matemática no Saeb. Foi também a média nacional que mais cresceu com relação ao último exame, em 2015. Passou de 208 para 215 (numa escola de 0 a mil) em Português e de 219 para 224 em Matemática. Mesmo sendo o melhor resultado, as crianças de 11 anos no Brasil, em geral, não são capazes de reconhecer o assunto de um poema ou uma tirinha, por exemplo.

Cerca de 5,46 milhões de alunos do fundamental e do médio fizeram a prova no ano passado. A previsão é que o ministério divulgue os resultados do Ideb na próxima semana. Pela primeira vez, os dados do Saeb e do Ideb foram divulgados separadamente. O ministério informou que o fatiamento da divulgação tem o objetivo de dar ênfase à discussão sobre aprendizagem.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

A Croácia, além do futebol



Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

O mundo conheceu a Croácia pelo seu futebol na Copa do Mundo e uma das características da equipe foi sua garra e determinação. De onde veio esse futebol? Aliás, o que é a Croácia?

A Croácia surgiu, como reino, no ano de 925 e durou até o começo do século XI quando passou a ser governada por líderes húngaros. Por volta de 1530 fez parte do império romano/germânico e libertou-se do império austro-húngaro em 1928 incorporando-se a Iugoslávia.

Durante a Segunda Grande Guerra a Iugoslávia foi tomada por Hitler que permitiu a ascensão das milícias nacionalistas da Uastse, na Croácia. Esse grupo radical objetivava purificação étnica e mataram 300 mil sérvios, ciganos e judeus durante os 5 anos do conflito mundial. A Croácia é um país com 4 milhões e 100 mil habitantes, mais de 85% católicos romanos e seu IDH é muito elevado: 827 (45º lugar no mundo). Sua língua é o croata, um idioma eslavo que utiliza o alfabeto latino. A capital é Zagreb.

Os croatas conquistaram sua independência em 1991 e estão na mesma região da Bósnia e Herzegovina, Montenegro, Sérvia, Eslovênia, Macedônia e Kosovo. Estes países também faziam parte da antiga República Socialista Federativa da Iugoslávia, (Europa Central até os Bálcãs) formada por várias etnias, quatro idiomas e três religiões.

Até 1948 a Iugoslávia seguia a linha comunista da extinta União Republicana Socialista Soviética. O ditador do país, Josip Broz Tito (que era Croata), rompeu com a linha de Josef Stalin recusando sujeitar-se ao comando soviético. Tito, (morto em 1980) durante 40 anos, manteve certa paz entre Croatas e Sérvios, maioria na região.

Mas quando caiu o Muro de Berlin (1989) e ocorreu o fim da URSS (1991) os ventos da liberdade também sopraram sobre as repúblicas que compunham a Iugoslávia e, rapidamente, gritaram suas independências. O Partido Comunista da Iugoslávia acabou em 1990 quando eslovenos e croatas deixaram o congresso - contrariando os sérvios - que discutia o futuro da liga. A Sérvia considerou-se sucessora da extinta Iugoslávia e lutou contra os grupos que se declararam independentes e isso provocou uma das guerras mais violentas da Europa pós Segunda Guerra Mundial, principalmente na Bósnia, formada por Sérvios e Croatas.

A nova geografia política veio acompanhada de grande pobreza, ódio étnico, diferenças religiosas e forte presença do crime organizado.






domingo, 10 de junho de 2018

Estônia: Alunos têm muita lição de casa, mas pouca prova

Objetivo é que escolas valorizem menos o conteúdo; professores são treinados para combinar disciplinas

Renata Cafardo, O Estado de S.Paulo
09 Junho 2018 | 20h00

Estônia: a melhor educação da Europa
Professora entrega provas para crianças na Escola Peetri, na cidade de Peetri, perto da capital Tallinn. Fazer ou não provas é prerrogativa de cada docente ou escola  Foto: Renata Cafardo/ESTADÃO

TALLINN (ESTÔNIA) - A estudante Karina Pent, de 15 anos, aprendia numa manhã como fazer uma capa de crochê para a tampa do pote de geleia. A professora explicava o detalhe de cada ponto para formar o desenho. A aula de artesanato é obrigatória no currículo nacional estoniano. A menina diz que é relaxante. “Principalmente porque fui dormir às 3 horas de tanta lição de casa.” 


A maior queixa dos adolescentes é a quantidade de tarefas extraclasse e de leituras. Professores justificam dizendo que é uma boa forma de eles aprenderem a ter autonomia. Segundo relatórios da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) são 17,3 horas semanais de lição de casa na Estônia, acima da média de outros países, de 17,1 horas. Mesmo assim, a OCDE avalia que o tempo é adequado porque os estudantes têm bom desempenho. Há críticas, no entanto, para nações como o Brasil, em que as tarefas ocupam 21,8 horas e as notas são baixas.


“É muita pressão. Mas se queremos ser alguém na vida precisamos de boa educação”, diz Mia Vahimets, de 15 anos, aluna da Escola Inglesa de Tallinn. Na Escola 21, na mesma cidade, a fala é parecida. “Esperam muito de nós, mas é bom. Se não esperarem nada, não faremos nada”, diz Iris Inek, de 17 anos. O foco do currículo da escola são as artes, o empreendedorismo e a robótica. Uma sala equipada com milhares de blocos de Lego e mesas de cálculo é usada por todas as séries.

Alunos elogiam o fato de nem todas as disciplinas terem provas. É comum professores pedirem só trabalhos ou projetos para avaliação. Na Escola Peetri também não há notas até o 6.º ano. Os pais só recebem relatórios sobre o desempenho dos filhos.

Apesar disso, Triin Ulla, professora de Pedagogia da Universidade de Tallinn, acredita que muitas escolas ainda se preocupam com competição e conteúdo, algo alimentado pelos professores antigos. “Escolas no topo do ranking fazem de tudo para não cair”, critica, referindo-se à avaliação do governo no fim do ensino médio, cujo ranking é feito pela mídia – algo como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para ela, isso acontece apesar do direcionamento do ministério para um ensino que valorize as habilidades socioemocionais. “A grande pergunta para qual não tenho resposta é: os resultados do Pisa são por causa das políticas dos últimos anos ou é um legado de antes, do ensino tradicional?”

De qualquer modo, diz Triin, a formação do professor mudou e está focada em competências como resolver problemas e autonomia. O docente também é treinado para combinar disciplinas como Arte e Matemática e trabalhar com tecnologia. As salas de aula têm computador, muitos materiais didáticos online, mas ainda há dificuldades. O objetivo da Estônia é que, até 2020, as escolas valorizem menos conteúdo.

As novas notas do Pisa, das provas feitas em maio, serão divulgadas em 2019. No Brasil os alunos mal sabem do que se trata. Lá os jovens ganham diplomas. “Mostramos o quanto são especiais por representarem o país”, diz a responsável pelo Pisa na Estônia, Gunda Tire.

Em 1922, país já era 90% alfabetizado

A Estônia sofreu diversas invasões ao longo da história – de suecos, alemães e russos – e só se tornou independente em 1918. Mas em 1944 foi anexada à ex-União Soviética e só conseguiu ser novamente um país livre em 1991. Os diferentes povos, no entanto, ajudaram a fortalecer a educação na cultura estoniana. Já no século 17, a Estônia tinha uma universidade. Em 1922, 90% da população estava alfabetizada.

Hoje o país – que ajudou a criar o Skype – tem uma economia de livre mercado e é um dos mais tecnológicos do mundo. Cunhou o conceito de e-residência, que permite que estrageiros possam ter empresas sem morar na Estônia e até as eleições presidenciais foram feitas online. A capital Tallinn – com 400 mil habitantes – tem um dos centros medievais mais bem preservados da Europa e praias de mar azul esverdeado.

“O que vivemos no passado influencia muito no presente”, diz a guia de turismo Margit Raud, de 58 anos. Ao apresentar o Museu da KGB, com provas de que a polícia russa espionava visitantes em um hotel da cidade, ela deixa claro seu orgulho. “Temos um sentimento de querer ser modernos, progressistas, de ser os melhores.”

Brasil x Estônia

- Resultado em exames

A Estônia está em 3º lugar em Ciência no Pisa, 6º em Leitura e a 9º em Matemática, o melhor resultado da Europa. O Brasil está em 63ª, 59ª e 66ª posição, respectivamente.

- Igualdade

No país europeu, 42% dos alunos pobres têm boas notas; no Brasil, onde o sistema de ensino tem mais desigualdades internas, são 2%. Diminuir a influência do fator socioeconômico na educação é um desafio no mundo todo.

- PIB per capita

Na Estônia é de US$ 28 mil (R$ 103 mil), um dos mais baixos da União Europeia, mas maior que o do Brasil (R$ 31 mil).

- Investimento por aluno/ano

Na Estônia, US$ 7 mil (R$ 26 mil). No Brasil, R$ 6,6 mil. Há discussão aqui para que o valor aumente, já que se investe três vezes mais no ensino superior do que na educação básica.

- Autonomia

Diretores podem contratar e demitir professores na Estônia. No Brasil, há concurso público, o docente escolhe onde vai trabalhar e tem estabilidade.

- Currículo

A Estônia fez em 1996 seu 1º currículo nacional. O Brasil aprovou a Base Curricular em 2017 para o ensino infantil e fundamental; a do médio está em discussão.

- Salário do professor

Estônia elevou em 80%, hoje ¤1.290 (R$ 5.624). No Brasil, a média na rede pública é de R$ 3.628, menos que em outras carreiras com ensino superior.





“O que o museu tem a ver com educação?”

sábado, 26 de maio de 2018

A velocidade e o preço da internet no Japão

Por Edson Joel

A propaganda da banda larga da Vivo, em Marília, é patética: Vivo Fibra com ultra velocidade de 100 megas (100 mbs+telefone fixo) por R$ 149,99. Em  letras miúdas o alerta que esse valor é somente no primeiro ano e sobe para R$ 174,96, após.

O que está errado nesse anúncio ou nos serviços de internet? Pra mim, tudo. A velocidade e os preços, inclusive. Enquanto Marília "comemora a chegada de 100 megas via fibra da Vivo por R$ 150, o Japão lança 2 Gbs por... R$ 100.

Perceberam o quanto a Vivo está atrasada e como são patéticos? Pior, perceberam como os brasileiros estão desinformados e pagando uma dos piores e mais caros serviços do planeta?

So-net, o provedor japonês que lançou o serviço dá 2 Gbps de velocidade, a maior do mundo para uso doméstico, faz parte do grupo Sony e cobrará 4.980 yenes mensal cuja instalação inscrita online sai de graça. O upload é de 1Gbs. 

O Japão, curiosamente, é o segundo colocado mundial em residências atendidas por fibra ótica - 25% - como conexão para internet. O primeiro lugar é dos Emirados Árabes com 70% de cobertura.

Da próxima vez que você comemorar internet de 100 Mbs por 150 reais por mês, sinta-se envergonhado.

Banda larga de 2gbs no Japão custa R$ 100 mês. A Vivo cobra R$ 170 por 100 Mbs 

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Leis trabalhistas não existem nos Estados Unidos


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Andando pela Avenida Paulista, em São Paulo, dei de cara com John, um amigo americano de longa data.

- Olá, John! Fico alegre em te ver.
- Me too, Joel.
- O que tá rolando? Está de férias remuneradas? Trinta dias?
- Are you crazy? There is no vacation pay in America, did you know?

Nos Estados Unidos não há férias remuneradas como no Brasil. Aqui, uma vez por ano, o trabalhador privado ou do serviço público sai 30 dias com direito a receber pelo descanso. O trabalhador americano, se negociar com seu patrão, conseguirá, se muito, 10 dias de licença paga. Normalmente 1 de cada 4 trabalhadores do Tio Sam não tem férias e se aproveita apenas dos feriados nacionais segundo o Center for Economic and Policy Research.

Mas, na Austrália, os patrões se preocupam em garantir que seu funcionário não trabalhe muito para não se estressar. "Estudos" teriam mostrado aos australianos que se preocupar demais com trabalho causa prejuízo. Lá o governo concede 20 dias de férias remuneradas além de 7 feriados. Espanha, Itália e Alemanha concedem 30 dias de descanso, por ano, ao trabalhador. Na China, por sua cultura, é proibido trabalhar em janeiro inteiro mas, no resto do ano, os feriados são escassos.

Não existe Lei Trabalhista nos Estados Unidos mas existe o Ato de Padrões Justos de Trabalho, de 1938. Este documento regula o máximo de horas que o operário pode trabalhar, o menor salário que pode ser pago, normas sobre horas extras e trabalho infantil.

Salários, bônus, horário de trabalho e férias são negociados entre empregado e patrão e, se você quiser sair nada vai te impedir de buscar outra oportunidade. De um modo geral o americano quer ser mais competitivo e culturalmente quem gosta de férias é  folgado, uma imagem ruim e pouco apreciada por lá.

"Preguiçoso ou desleal" são chamados os colegas que pedem folgas no trabalho. Mas os trabalhadores americanos que tem férias  pagas em seus contratos de trabalho geralmente tiram apenas a metade que tem direito. Eles alegam ter medo de "ficar para trás" na competição.

As leis trabalhistas no Brasil - que sofreram pequenas reformas recentemente - mais atrapalham que ajudam. São tantos os benefícios como "direito de chegar atrasado" instituído por lei. Se ainda está em vigor, a CLT "tolera" atraso diário entre 5 e 10 minutos. Pergunta-se: porque não se estabeleceu chegar 10 minutos antes?

Considerando que um professor chegue atrasado 10 minutos e uma aula tenha 50 de duração, os alunos perderam 20% do tempo. Mas, essa estupidez está institucionalizada. E quem fez isso? O congresso nacional, um amontoado de frouxos que aprova conforme seus interesses eleitorais.
Em países sérios os trabalhadores comprometidos chegam 10 minutos antes, se organizam e, exatamente no horário, iniciam o expediente, principalmente se o setor atende o público. 

Certa vez auxiliei o João, marido de uma funcionária terceirizada, arrumar um emprego. Algum tempo depois perguntei como ele estava indo no trabalho. Ela me olhou envergonhada e disse que o marido tinha pedido demissão pra ficar 5 meses recebendo ajuda desemprego. Quanto ao John, soube que se casou, tem uma filha e trabalha no mesmo emprego, com bom salário. Suas férias remuneradas são de cinco dias por ano.

sábado, 10 de março de 2018

Walmart e Hiper Varejo vendem pneus vencidos

Pneus vendidos por Walmart e entregues por Hiper Varejo: vendidos como novos mas com validade vencida. Pesquisa no Reclame Aqui mostra que Walmart e outras empresas tem práticas semelhantes.  

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Muitos leitores se surpreenderão quando souberem que pneus tem prazo de validade. Pior, acabarão descobrindo que os pneus que compraram na semana passada estão vencendo ou vencidos. E, neste caso, correndo sério risco de acidentes. Não estamos falando de garantia de fábrica (a fábrica repõe o pneu com defeito de fabricação), mas da segurança natural do produto.

O prazo de validade da segurança de um pneu, usado ou não, é de 5 anos para a maioria dos modelos. Após esse período a borracha perde suas propriedades e provoca a soltura do cinto de aço da estrutura do pneu. Os riscos de acidentes são enormes. Muitos "acidentes inexplicáveis" podem ser esclarecidos se o perito observar a data de fabricação dos pneus do carro envolvido. Se o cinto de aço se soltar, o pneu se transforma num monte de borracha sem função. Quantos já morreram em acidentes provocados por produtos vencidos?

ONDE INDICA?

Basta observar quatro números impressos (em relevo, no pneu),que indicam quando o produto foi fabricado. Por exemplo, 1113 significa que ele foi fabricado na 11ª semana de 2013. Se o pneu que você esta comprando hoje foi fabricado há 4 anos, você terá apenas um ano pra usa-lo com segurança. Depois de cinco anos ele perde a validade de segurança e a garantia.



Dia 05 de fevereiro de 2018: outra queixa recente de pneu vencido vendido pela Hiper Marca. 
WALMART E HIPER VAREJO VENDERAM PNEUS VENCIDOS

Faz pouco tempo comprei dois pneus Continental 185/55/R15 (largura, altura e roda) para um carro da família. A compra foi efetuada pelo site do Walmart e entregue pela Hiper Varejo. Fiquei atento para a data da fabricação e não me surpreendi quando vi que os pneus "já estavam vencidos". Foram fabricados em 1113, isto é, 5 anos antes. Portanto, pneus sem segurança e sem garantia de fábrica. Um crime gravíssimo.

Mesmo tendo me manifestado pelo Facebook, na página do Walmart, o assunto foi tratado com desdém pelo parceiro Hipervarejo que alegou não ter outro produto para repor e que cancelaria o pedido, neste caso. Imediatamente mostrei que se tratava de mentira já que as páginas do Hiper Varejo continha anúncios do mesmo pneu. Quando deixei claro que esse comportamento estúpido não me convenceria, resolveram mudar a tática e prometeram novos pneus. A alegação foi de que o "departamento de controle de qualidade falhou" e se limitaram a pedir desculpas por isso. Numa ligação telefônica, gravada, a supervisora Cristiane "lamentou o ocorrido e garantiu enviar pneus de valor maior, pelo mesmo preço."

Walmart alegou que esse não é seu padrão (vender pneus vencidos) mas, encontrei nas páginas do Reclame Aqui outra queixa de pneu fora da segurança. Portanto, a venda de pneus vencidos parece ser prática comum no Walmart e outras empresas.

A Hiper Varejo responde justificando que houve falha no seu padrão de qualidade mas, no dia 5 de fevereiro de 2018, 20 dias antes de me enviarem pneus condenados eles venderam pneus com 6 anos de fabricação para um consumidor. A mentira tem perna curta.

COMO FICOU

Walmart/Hiper varejo substituíram os pneus, pediram desculpas e assumiram o erro. Mas, na nota que me enviaram disseram que "não é padrão da empresa essa prática" (vender pneus vencidos).  Mas observei que a Hiper Varejo vendeu pneus com 6 anos de fabricação pra outro consumidor em fevereiro deste ano, uma semana antes de venderam pra mim pneus com 5 anos de fabricação. Os pneus que me venderam eram mais velhos que os pneus desgastados que substitui. 

quinta-feira, 1 de março de 2018

Alunos brasileiros demorarão 260 anos para atingir índice de leitura dos países ricos, diz Banco Mundial

Em matemática, a estimativa é de 75 anos, segundo relatório produzido a partir de dados do Pisa.

Estimativa do Banco Mundial é de que os alunos brasileiros demorem mais de 260 anos para
chegar no índices de proficiência de leitura dos países ricos (Foto: Reprodução/TV TEM)
Por G1
28/02/2018 10h32 Atualizado 28/02/2018 11h06


Os estudantes brasileiros podem demorar mais de 260 anos para atingir a proficiência em leitura dos alunos dos países ricos. Em matemática, a previsão é de que os brasileiros levarão 75 anos para atingir a pontuação média registrada nos países desenvolvidos. As estimativas são de um relatório sobre a crise da aprendizagem produzido pelo Banco Mundial com dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).

O Pisa é uma prova coordenada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aplicada a cada três anos entre 35 membros da OCDE e 35 parceiros, incluindo o Brasil. Entre outros itens ela avalia o conhecimento dos alunos em ciências, leitura e matemática.

O relatório aponta que em países como o Quênia, Tanzânia e Uganda, quando se pediu aos alunos do 3º ano do ensino fundamental que lessem em inglês ou kiswahili uma frase simples como “o nome do cão é Filhote”, 75% deles não compreenderam seu significado. Na zona rural da Índia cerca de 75% dos alunos do mesmo ano não foram capazes de fazer uma subtração de dois dígitos.

Para que a aprendizagem cumpra a promessa de eliminar a pobreza e criar oportunidades para todos, o Banco Mundial aponta três recomendações de políticas públicas:

- Avaliação da aprendizagem. Segundo o estudo, só metade dos países em desenvolvimento tem dispositivos para medir a aprendizagem no final do ensino fundamental e das primeiras séries do médio.

- Fazer as escolas trabalharem para todas as crianças. O relatório propõe desde oferecer nutrição adequada até a utilização da tecnologia que ajudem os professores a ensinar;.

- Mobilizar todas as pessoas interessadas na aprendizagem, como a comunidade.

O relatório aponta casos de países que investiram em estratégias de aprendizagem e tiveram sucesso em avaliações internacionais. Um exemplo citado é a Coreia do Sul, país que foi assolado pela guerra e tinha taxas de alfabetização muito baixas em 1950, mas conseguiu universalizar o acesso de matrículas em 1995 e atingir altos índices em rankings de aprendizagem.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

A ditadura da verdade: como funciona o silêncio nas redes sociais


"Uma das principais causas para as pessoas darem suas opiniões publicamente, ou ficarem caladas sobre elas, é o nível de medo do isolamento social"

Por Cristian Derosa    Postado em 01/02/2017

A Teoria da Espiral do Silêncio foi desenvolvida na Alemanha, por Elisabeth Noelle-Neumann, em uma análise prolongada dos resultados das pesquisas eleitorais. Os pesquisadores observaram, após vários testes que incluíram uma diversidade de métodos, que uma das principais causas para as pessoas darem suas opiniões publicamente, ou ficarem caladas sobre elas, é o nível de medo do isolamento social. Esse medo ficou comprovado em sucessivos testes de campo. Se uma opinião é vista como majoritária, os opinadores dela terão mais coragem em se manifestar. Por outro lado, os contrários a ela terão uma tendência a ficarem calados. O resultado é um clima de opinião determinado pela propaganda de que uma ou outra opinião é majoritária. Um dos fatores mais importantes, portanto, é a atenção dada pelas pessoas ao comportamento opinativo do entorno social. A teoria foi formulada na década de 1970.

O medo do isolamento e a internet

"O meio virtual como um simulacro do meio social contribui para o alívio da solidão humana"

Antes do advento da Internet, portanto, as pessoas se informavam por canais mais simples como ouvir conversas no ônibus, em grupos de amigos ou acompanhar o noticiário opinativo. Parecia não haver lugar seguro para o isolado socialmente, aquele que possui uma opinião não compartilhada pela maioria (ou suposta maioria). Por isso, muitas pessoas mesmo intrigadas com determinadas questões públicas, precisavam de um longo período de silêncio até compreender a opinião do entorno e escolher se exporiam sua opinião ou não. O fator determinante era o medo do isolamento. Com a Internet, isso mudou substancialmente.

Segundo Neumann, no cálculo do risco de isolamento social, o indivíduo opta por empregar algum esforço na observação do entorno opinativo para reduzir o risco de confronto quando for externar sua opinião.

O computador pessoal se tornou rapidamente uma extensão da mente humana. Foi possível pesquisar solitariamente informações sobre assuntos, de modo que a pessoa possa manter-se em silêncio até ter informações suficientes para uma opinião mais segura. Inclusive informações sobre as opiniões correntes e mais aceitas. Os filtros de busca, como o Google, tornaram mais facilitada a procura por companheiros de mesma opinião, o que reduziu a sensação de isolamento e, com isso, o seu medo natural do ostracismo. O meio virtual como um simulacro do meio social contribui para o alívio da solidão humana e isso influi consideravelmente na criação de afetos e solidariedades grupais importantes para o reforço de personalidades, muitas vezes fortes e conflitantes com a maioria, o que sem a rede ocasionava isolamentos sociais dolorosos ou, o que é mais comum, o silêncio sobre as próprias opiniões e o fingimento de uma adequação social.

A espiral nas redes sociais


No Facebook, o feed de cada pessoa constitui o clima de opinião a que a pessoa tem acesso e serve, portanto, de critério de análise do que se pode ou não dizer, sempre por meio do cálculo do risco de isolamento, mensuradas com certa eficiência pelas curtidas, compartilhamentos ou comentários. A possibilidade de bloquear quem pensa diferente pode significar uma resposta ao velho medo do isolamento, o que é dado com um isolamento voluntário (ou seria a satisfação inerente à sensação de estar isolando o outro?). Por outro lado, o bloqueio pode ser uma ferramenta eficiente para se sair do mecanismo da espiral do silêncio. Ou pensar que se está saindo ao criar (randomizar) o próprio entorno social. Assim, gera-se um ambiente propício à externalização das próprias ideias de modo que eles até mesmo as reforçam.

O ambiente social, seja nas redes ou na realidade física, é um importante fator para determinar o que é dito ou não. A geração de um ambiente confortável à circulação de determinadas ideias pode representar também uma prisão ou um entorno igualmente hostil a ideias diferentes, o que impediria a entrada de ideias novas de outras pessoas ou mesmo da própria pessoa dona do perfil “configurado” para aceitar suas ideias. Portanto, o bloqueio ou o que se chama “limpeza” do feed, pode representar uma faca de dois gumes. Nem todas as pessoas possuem força interior, hoje, para retirarem-se de seus ambientes sociais toda vez que o ambiente se torna hostil às suas ideias. Em algum momento, as pessoas desistem de desfazer amizades e bloquear inimigos e passam a concordar com o entorno. Isso pode ser muito bem compreendido quando entendemos a mudança do caráter social no último século.

"O problema é que, apesar de possíveis problemas, as redes sociais forneceram, nos últimos anos, um importante incremento à informação"

O reforço psicológico do grupo de apoio das próprias opiniões pode, por isso, favorecer uma radicalização ou até mesmo uma estagnação de indiferença e, por fim, o isolamento voluntário. É a isso que se referem, em geral, as reportagens comuns sobre o “ódio nas redes”. O problema é que, apesar de possíveis problemas, as redes sociais forneceram, nos últimos anos, um importante incremento à informação. Mesmo considerando verdadeiras as acusações da grande mídia, de que as redes sociais se tornaram o lugar do ódio.

Nos últimos anos, no Brasil, o Facebook foi amplamente usado para a mobilização que culminou no Impeachment de Dilma Roussef, em 2015. Além disso, a Internet tem sido palco de numerosas análises e divulgação de fatos e informações sistematicamente sonegados da população, o que evidentemente causa preocupação àqueles engenheiros sociais (ou seus repetidores úteis) que creem no perigo destruidor das massas e que, sem o auxílio da elite de iluminados que mantenha a massa domesticada, o caos e a final destruição serão os únicos destinos da civilização.

O upgrade da espiral do silêncio e as falsas avaliações

Em uma matéria recente da Revista Veja, uma suposta novidade produzida pelas redes parece estar assustando analistas de mídia. São os “haters” (odiadores), que parecem estar povoando as redes e disseminando preconceitos raciais, sexuais e produzindo uma cultura de “bullying virtual”.

O que esses analistas não percebem (ou fingem não perceber) é que essa nova classe de pessoas sempre existiu, mas era constrangida por um clima de opinião que as ameaçava de isolamento. A espiral do silêncio não é algo dependente da mídia, mas que acontece no meio social de qualquer forma. A criação da palavra “haters”, assim como a própria matéria da Veja, representa, na verdade, a tentativa de upgrade da Espiral do Silêncio, ameaçando com o isolamento e a humilhação pública aqueles que ousem dizer aquilo que pensam.

Muito pior que qualquer difamação racial ou sexual, o que a Veja faz, ecoando as ideias dos meios universitários do Brasil e deste preocupado mundo, é nada mais que instituir a perseguição à livre opinião, o que no caso representa a perseguição da revelação da verdade. Opinião é uma palavra bastante dúbia nos dias de hoje. Ela tanto pode ser digna de um Prêmio Nobel da Paz como pode tornar alguém o alvo preferencial de acusações de ódio e de todo tipo de preconceito.

Ditadura da verdade: impor um único ponto de vista

O que chamam de preconceito racial, social, sexual e bullying, assim como denunciam ataques sofridos por celebridades (como se celebridades fossem midiaticamente indefesas), é na verdade a opinião sincera, temida desde que se começou a estudar meios de controlar as massas. Intelectuais como Gustav LeBon, Walter Lippmann, H. G. Wells, entre outros, acreditavam que a massa era incontrolável e tinha o potencial de dizimar a democracia e toda forma de liberdade por meio da sua espontaneidade caótica. Eles baseavam-se em teorias contratualistas como a de Thomas Hobbes e Rousseau, para quem a sociedade civilizada se originava de um contrato social, sem o qual o caos imperaria. Assim, a espontaneidade para esses intelectuais e seus seguidores, sempre será um mal que deve ser contido mediante o que Karl Mannheim chamou de “técnicas sociais”.

Leszeck Kolakowski, no célebre livro O espírito revolucionário – Marxismo: utopia e anti-utopia, afirma vir desses intelectuais aquilo que ele chama de intolerância da indiferença. Uma tal suposta”ditadura da verdade”, que o autor considera um “círculo quadrado”, pode ser imposta por dois motivos:

1) afirmando que a falsidade e o erro não podem ser tolerados porque a sociedade estaria perfeitamente convencida da verdade; ou

2) acreditando que verdade e justiça não possuem objeto e que seria preferível impor um único ponto de vista a todos do que deixar que os seres humanos briguem por futilidades.


Esta última hipótese, comum entre os estudiosos das teorias funcionalistas das ciências humanas, gira em torno da crença de que todo o estudo da realidade tem, em última análise, uma função social. Essa função era vista como formadora, normativa e organizadora da sociedade. Qualquer organização é melhor que o caos, para eles.


A explicação precisa preexistir aos fatos

O poder da mídia está menos na difusão de fatos do que na interpretação deles. Explicar o que está acontecendo é, para os intelectuais por trás da mídia, muito mais importante do que apenas apresentar os fatos. O momento dos fatos é o momento em que a forma da mente das pessoas precisa estar adequada para recebê-los. Para isso, a mídia precisa oferecer constantes análises e explicações da realidade. Quando as redes sociais resultam em um movimento de repúdio às ideias difundidas por essa elite seguidora daquelas ideias, tudo fica incompreensível e a mídia precisa oferecer uma nova explicação. A desestruturação do sistema social é a explicação mais utilizada, pois ela leva a pensar em soluções de reintegração, o que na forma da mente das pessoas significa imposição de uma ordem qualquer para resolver o problema do caos.

Espiral sempre existirá

Vivemos o império da empatia. As amizades, o círculo social, ganharam um valor acima de todos os valores culturais que imperavam nos séculos anteriores, o que deu à socialização um valor quase absoluto. Portanto, embora a espiral do silêncio possa ser atenuada em determinadas épocas, ela pode também ser reforçada por uma mudança naquilo que a sociedade considera mais importante de acordo com verdadeiras ou supostas ameaças sociais. O isolamento social já foi a marca característica de santos e heróis em épocas nas quais era fácil compreender que a verdadeira salvação está no abandono de si mesmo, o que implica diretamente no abandono do entorno social e de todo o respeito humano. O heroísmo dos indivíduos do passado, mesmo os cidadãos comuns que abriam empresas e chefiavam suas famílias, vai ficando cada vez menos compreendido em um mundo para o qual a direção da vida deve ser dada pelo movimento social. Mesmo a luta interna dos indivíduos contra o entorno, algo universal no ser humano, pode ser feita através de uma conduta imitativa, na qual o apreço social inerente à aparência de independência motive reações e modos de vida inteiros aparentemente livres.

O mundo da tolerância abstrata é o mesmo que não tolera opiniões diversas do ideal de tolerância calibrado pelos meios de comunicação e repercutido nos meios sociais. Opiniões independentes quase sempre sofrem a pressão das acusações de rompimento com o ideal de “empatia” permitido. Por isso, mesmo nas redes sociais o crime mais comum entre as acusações é o da arrogância, normalmente confundido com opinião independente.

É claro que em um mundo neuroticamente socializado, dizer coisas que não são reconhecidas imediatamente dentro do padrão de opiniões circulantes, identifica-se com o rompimento da lógica socializadora e, portanto, solidária e tolerante. Essa aparente disfunção dos valores sociais vigentes só pode ser interpretada como um excessivo centro em si mesmo, um individualismo exacerbado, quando na verdade é apenas uma verdade não reconhecida pela linguagem dos cânones midiáticos.

A espiral do silêncio está presente nitidamente inclusive em ambientes religiosos, nos quais a conduta padrão é a dos santos e mártires, mas nos quais ainda assim impera o medo e a ameaça constante do isolamento social. Essa situação permitiu uma nova interpretação dos próprios mandamentos cristãos, como o Primeiro Mandamento (amar a Deus sobre todas as coisas), que facilmente era entendido noutras épocas, mas que hoje se encontra totalmente submetido ao amor ao próximo, algo cada vez mais ambíguo quando a interpretação corrente facilmente confunde o próximo com todo o entorno social e as ideias que circulam graciosamente pelo ambiente advindas da mídia de massa.

O homem precisa do reforço do próximo e esta afirmação evidencia a sua imperfeição e limitação. O limite do homem certamente está na sociedade que o envolve, assim como o que o transcende só pode estar obviamente fora do ambiente físico e social, ainda que seja nele que a sua transcendência se manifeste.

Publicação original do site Estudos Nacionais