Idosos recebem atendimento e até banho nos corredores do Hospital São Paulo
Por Wanderley Preite Sobrinho - iG São Paulo | 23/09/2013 11:00
A perna esquerda do aposentado A.D.S, de 70 anos, foi amputada do joelho para baixo há cerca de um ano. A direita passaria pelo mesmo processo na última quinta-feira. “Tenho um problema vascular há muito tempo”, explicou ele ao iGenquanto aguardava atendimento médico em um dos corredores do pronto-socorro do Hospital São Paulo, zona sul da cidade. “Estou no corredor faz dois dias. Há 15, precisei ser internado e esperei aqui fora por duas semanas.”
A.D.S prefere preservar sua identidade por receio de não receber atendimento. Este é o mesmo temor da professora Cristiane Pereira da Silva, de 28 anos, que prefere não revelar o nome da tia (31 anos), que dormia em outra maca minutos depois de receber medicamento no corredor.
“Chegamos ontem (quarta) às 16h, mas só recebemos alguma informação sobre o estado de saúde da minha tia à 1h da madrugada. Me avisaram que ela precisará ficar internada mesmo sem vaga em um quarto.”
Vinte e quatro macas se espalham por cinco corredores do P.S do Hospital.
Foto: Wanderley Preite Sobrinho/iG São Paulo
Esses são dois exemplos do drama vivido por dezenas de pacientes que na última semana (19) recebiam atendimento na parte externa do pronto-socorro. Ao todo, 24 macas estão espalhadas por cinco corredores do P.S., que ficam ainda mais espremidos pelos acompanhantes que, sem cadeira, ficam de pé ao redor da maca auxiliando no tratamento recomendado por médicos e enfermeiras.
De acordo com os usuários, faltam cobertores, lençóis e travesseiros. “A comida só chegou 24 horas depois da internação. A primeira refeição nós tivemos de comprar”, lamenta Cristiane. Segundo uma enfermeira ouvida pelo iG , até o banho nos pacientes, 90% idosos, acontece no corredor. Apenas um “biombo” protege a intimidade dos doentes.
A superlotação no pronto-socorro do Hospital São Paulo só deve mudar quando o governo do Estado entregar à Unifesp os R$ 20 milhões prometidos pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) em fevereiro deste ano. Ao todo, o governo do Estado vai destinar R$ 77 milhões
para o complexo até 2015.
A professora Cristiane Pereira da Silva (esquerda) acompanha, de pé, o atendimento da tia, no corredor havia um dia e meio (Wanderley Preite Sobrinho/iG São Paulo)
Este ano, a Secretaria de Saúde liberou R$ 6 milhões, que foram investidos “no centro obstétrico, UTI Pediátrica, Unidade de Internação, UTI da Cardiologia e Unidade de Internação de Ortopedia, que foi inaugurada no dia 12 de setembro de 2013”, segundo a assessoria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que administra o hospital.
Segundo a enfermeira, que prefere ficar sob sigilo, o complexo recebeu recentemente uma doação de 30 camas e espalhou as antigas pelos corredores. Ela diz que médicos e enfermeiros, em falta, passam apuros para atender a demanda, que só cresce.
Na Emergência Clínica há apenas seis monitores para medir oxigenação sanguínea e alterações cardíacas, apesar de o setor receber cerca de dez doentes diariamente. Na Emergência de Traumas (para atendimento de acidentados), há quatro aparelhos para o dobro de pacientes.
Ao iG , a assessoria da Unifesp admite que “a demanda é superior à sua capacidade instalada”. Esses pacientes viriam “de todas as regiões da cidade, que procuram o hospital espontaneamente ou são encaminhados por outras unidades de saúde do Estado e município.”
R.M.S, de 23 anos, gritava por comida no corredor. Com problemas mentais e sem companhia, ele aguardava atendimento com os pulsos amarrados à cama. Dramas como esse só devem acabar em 2015. O início da reforma do P.S está previsto para começar apenas no segundo semestre de 2014.