quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Roberto Carlos tem perna mecânica?

Por Edson Joel Hirano kamakura de Souza

Faz algum tempo que troquei alguns comentários com Nery Porchia - vice reitor da Unimar por muitos anos - pelo Facebook, sobre a época que ele trabalhou para o Grupo Silvio Santos. Nery coordenava a equipe que organizava e realizava feiras agro-pecuárias, por todo país. Foi nesse período, na feira de Tupã, que o conheci e, junto com ele, o Leon Abravanel, o Leo Santos, irmão do Silvio.

O Leo era grandão e despachado, cara do irmão. Ele apresentava um programa de televisão veiculado nos estados do nordeste. Lá o Silvio Santos era conhecido como irmão do Leo. Ele mesmo fazia questão de contar.

Um dia descobri, no parque da feira, que o Leo tinha uma perna amputada e usava uma prótese mecânica. Ele tinha convidado muitas garotas para brincar e eu, sem saber, chamei todas para o tobogã. Elas subiram comigo. Menos ele, que ficou amuado, encostado na grade nos vendo divertir. Quando quis saber por que ele não subira foi que percebi a gafe que dei. Ele arregaçou a calça mostrando sua perna mecânica e, falando um palavrão, me perguntou "como eu vou descer no tobogã assim".

O Nery me contou que um dia, num elevador lotado, o Leo perguntou ao Roberto Carlos, em voz alta, qual era a marca da perna mecânica dele e ficou comparando as vantagens das próteses de cada um. Roberto, falando baixinho, se limitava a pedir para o Leo parar com aquele papo. Na Feira do Zebu, em Uberaba, jogaram o Leo na piscina, sem a perna. E depois, a perna mecânica.

O despachado Leo nunca fez questão de esconder que usava uma prótese, ao contrário de Roberto Carlos que pediu a proibição de uma biografia não autorizada escrita por Paulo Cesar Araújo - Roberto Carlos em Detalhes - que narra o acidente que amputou sua perna direita, ainda criança, num acidente com uma locomotiva no dia 29 de junho de 1947.

Durante 16 anos Araújo pesquisou a vida do cantor e seu livro foi proibido pela justiça sob alegação de invasão de privacidade. Mais recentemente vários "artistas" apoiaram a ideia da proibição de biografias não autorizadas.

O jornal Notícias Populares, há 30 anos, também sofreu pressão para cessar matérias relativas ao acidente. Mas o fato é que Roberto continua se negando a falar sobre um tema conhecido de todos. O livro de Araújo narra esse episódio.

"Naquele dia, Cachoeiro amanheceu sorrindo e em festa para saudar o seu santo padroeiro que, segundo a Igreja Católica, foi morto e crucificado nessa data em Roma, durante o reinado do imperador Nero, no ano 65 d. C. Era feriado na cidade, dia de desfiles, músicas, bandeiras, discursos, ruas cheias de gente e muita alegria. (…)

Como tantas outras crianças da cidade, naquele dia Roberto Carlos saiu cedo e animado de casa para assistir aos festejos. Era tanta badalação que muitos pais preparavam roupa nova para os filhos estrearem justamente nesse dia. Por isso Zunga (como Roberto era chamado na infância) estava ainda mais contente, porque iria desfilar com os sapatinhos novos que ganhara na véspera. E qual criança não fica feliz ao ganhar uma roupinha ou um novo par de sapatos? Logo que saiu à porta de casa, Roberto Carlos se encontrou com sua amiga Eunice Solino, uma menina da sua idade, que ele carinhosamente chamava de Fifinha. (…)

Pois naquela manhã os dois desceram mais uma vez juntos em direção ao local dos desfiles. Ao chegarem num largo, logo abaixo da rua em que moravam, já encontraram todos em plena euforia. Desfiles escolares, balizas e muitos balões coloriam o céu do pequeno Cachoeiro, ao mesmo tempo em que locomotivas se movimentavam para lá e para cá. Construída na época dos barões do café, no século XIX, quando a cidade era um paradouro de trem de carga, a Estrada de Ferro Leopoldina Railways atravessava Cachoeiro de ponta a ponta.

Por volta de nove e meia da manhã, Zunga e Fifinha pararam numa beirada entre a rua e a linha férrea para ver o desfile de um grupo escolar. Enquanto isso, atrás deles, uma velha locomotiva a vapor, conduzida pelo maquinista Walter Sabino, começou a fazer uma manobra relativamente lenta para pegar o outro trilho e seguir viagem. Uma das professoras que acompanhava os alunos no desfile temeu pela segurança daquelas duas crianças próximas do trem em movimento e gritou para elas saírem dali. Mas, ao mesmo tempo em que gritou, a professora avançou e puxou pelo braço a menina, que caiu sobre a calçada. Roberto Carlos se assustou com aquele gesto brusco de alguém que ele não conhecia, recuou, tropeçou e caiu na linha férrea segundos antes de a locomotiva passar.

A professora ainda gritou desesperadamente para o maquinista parar o trem, mas não houve tempo. A locomotiva avançou por cima do garoto que ficou preso embaixo do vagão, tendo sua perninha direita imprensada sob as pesadas rodas de metal. E assim, na tentativa de evitar a tragédia com duas crianças, aquela professora acabou provocando o acidente com uma delas.

Diante da gritaria e do corre-corre, o maquinista Walter Sabino freou o trem, evitando consequências ainda mais graves para o menino, que, apesar da pouca idade, teve sangue-frio bastante para segurar uma alça do limpa-trilhos que lhe salvou a vida. Uma pequena multidão logo se aglomerou em volta do local e, enquanto uns foram buscar um macaco para levantar a locomotiva, outros entravam debaixo do vagão para suspender o tirante do freio que se apoiava sobre o peito da criança. Com muita dificuldade, ela foi retirada de debaixo da pesada máquina carregada de minério de ferro. “Eu estava ali deitado, me esvaindo em sangue”, recordaria Roberto Carlos anos depois numa entrevista. Mas naquele momento alguém atravessou apressado a multidão barulhenta e tomou as providências necessárias. “Será uma loucura esperarmos a ambulância”, gritou Renato Spíndola e Castro, um rapaz moreno e forte, que trabalhava no Banco de Crédito Real.

Providencialmente, Renato tirou seu paletó de linho branco e com ele deu um garrote na perna ferida do garoto, estancando a hemorragia. “Até hoje me lembro do sangue empapando aquele paletó. E só então percebi a extensão do meu desastre”, afirma Roberto, que desmaiou instantes após ser socorrido. Esse momento trágico de sua vida ele iria registrar anos depois no verso de sua canção O Divã, quando diz: “Relembro bem a festa, o apito/ e na multidão um grito/ o sangue no linho branco…”, numa referência à cor do paletó que Renato Spíndola usava no momento em que o socorreu. (…)

Naquela mesma manhã, no hospital da Santa Casa, o médico aplicou uma anestesia local de novocaína no acidentado e deu início à cirurgia. (…)

Na época, em casos semelhantes, era comum fazer a amputação da perna acima do joelho, prática mais rápida e segura. Mas Romildo tinha acabado de ler um estudo americano sobre ciência médica que explicava que os membros acidentados devem ser cortados o mínimo possível. Assim, a amputação da perna do garoto foi feita entre o terço médio e o superior da canela – apenas um pouco acima de onde a roda de metal passou. Essa providência fez com que Roberto Carlos não perdesse os movimentos do joelho direito e pudesse andar com mais desenvoltura."






terça-feira, 13 de dezembro de 2016

O professor não tem culpa

O vexame do Ensino Médio começa no primeiro ano do Ensino Fundamental

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

O professor não tem culpa pela tragédia da educação brasileira. Apesar da sua precária formação, são os menos responsáveis por esse caos. O problema está centrado no processo de alfabetização utilizado no Ensino Fundamental, método usado que não alfabetiza. Os parâmetros Curriculares Nacionais introduziram teorias pedagógicas mofadas que a ciência já condenou faz mais de 30 anos e que confundem os professores. E alunos.

Os resultados estão ai: no 5.º ano do ensino fundamental, a criança não consegue entender o que lê. Considere que, pelo método fônico, qualquer criança brasileira pode ser alfabetizada em menos de um ano. Isso já ocorre em muitos municípios que abandonaram as cartilhas federais.

Diante de resultados ruins, o MEC criou os projetos Alfabetização na Idade Certa (copiando um projeto do governo do Ceará), Ler e Escrever e EMAI, este último para melhorar o ensino de matemática. Nada adiantou e os resultados pioraram.

Enganos pedagógicos

Os mesmos enganos pedagógicos são repetidos por muitos governos estaduais e municipais em suas cartilhas próprias e com resultados trágicos. Sequer as escolas públicas fazem uma adequada apresentação dos fonemas e grafemas, essencial no processo de alfabetização ou atividades próprias para desenvolver fluência de leitura. Os autores das cartilhas do MEC consideram importante a promoção do "letramento, a intertextualidade, os usos sociais da língua e suas múltiplas linguagens..." mas jogam código alfabético no lixo. O método utilizado nas escolas públicas brasileiras não alfabetiza.

Quem afirma isso são os maiores neurocientistas do planeta e todos os resultados de avaliações conhecidas. Todos, inclusive do Terceiro Estudo Regional Comparativo e Explicativo, divulgados em julho de 2015, no Chile, que colocam a educação Fundamental do Brasil em posições decepcionantes. Nossos alunos ocuparam os mais baixos níveis de aprendizado (I e II numa escala que chega a IV). A avaliação, que é coordenada pelo Escritório Regional de Educação da UNESCO, considerou o desempenho de 134 mil alunos do ensino fundamental, de 15 países, em matemática, leitura e ciências.

Líderes no PISA usam método fônico

O MEC ainda insiste em teorias ultrapassadas que a ciência condena, apesar dos resultados péssimos nos últimos 25 anos. Com o avanço da neurociência os países desenvolvidos adotaram os métodos fônicos pela sua evidente superioridade como Coreia do Sul, Japão, China, Hong-Kong, Singapura... ,os tops do ranking em educação no mundo. Só o Brasil, México, Argentina e alguns latinos persistem no erro. É bom lembrar que todos eles estão nas últimas posições do PISA.

As novas orientações curriculares dos Estados Unidos romperam, definitivamente, com teorias ultrapassadas ao publicar novas orientações curriculares. Nenhum projeto educacional tem apoio governamental ou privado naquele país caso a base curricular seja, por exemplo, construtivista.

Faltam investimentos?

Falta investimento na educação brasileira? Sim, mas a essência do problema é a formulação da política de alfabetização. Mesmo porque, apesar do Brasil triplicar seus investimentos em educação na última década, nada melhorou. Em 2012, por exemplo, o país foi o 15º que mais investiu, no mundo, entre todos os participantes do PISA. Mas continuamos na rabeira. Como explicar, por exemplo, que o Vietnã, destruído por uma guerra violenta, uma economia paupérrima e investimentos infinitamente menores que o Brasil, está no topo da educação e nós, nas últimas colocações? Uma intelectóide do MEC disse que a Coreia do Sul investe três vezes mais que o Brasil. Mas ela não disse que os coreanos investem quatro vezes menos que os Estados Unidos que amargam um 22º colocado contra os primeiros lugares dos asiáticos. E que países latino americanos que ficaram à frente do Brasil investem 10 vezes menos que nós.

Falta melhor formação para os professores? Sim, mas eles foram treinados para replicar bobagens pedagógicas que nem os professores unespianos entendem. Falta melhor salário na área? Sim, ganhos melhores incentivam mas, nem isso ajudará a promover avanços se mantidos os atuais métodos de alfabetização.

PISA derruba mitos

Salas de aulas com número reduzido de alunos, segundo estatística do PISA, tem ganho irrelevante e a desculpa do nível social é desmentido por outros números da OCDE - Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico - que mostram que os alunos mais pobres de Xangai sabem mais matemática que os alunos mais ricos dos Estados Unidos e Europa. O Brasil tem exemplos de regiões paupérrimas com excelentes índices na educação, a maioria no Ceará. Em 6 anos algumas escolas subiram o Ideb de 2,9 para 7,2. Na classificação do Ideb de 2015, das 100 melhores escolas públicas do Ensino Fundamental dos anos iniciais, 77 são do Estado do Ceará. As 24 melhores escolas classificadas entre as 100, são todas daquele estado com notas 9,8. O segredo é que essas escolas abandonaram as invencionices pedagógicas e partiram para os métodos fônicos.

É preciso colocar a neurociência em sala de aula para vencermos essa guerra que já vitimou milhões de jovens que continuam analfabetos, protagonistas dos maiores fracassos da nossa educação. Pior é lembrar que o processo é irreversível. Em 2015 o Brasil ficou em 63ª posição em ciências (401 pontos), na 59ª em leitura (407 pontos) e na 66ª colocação em matemática (377 pontos).

É preciso compreender que o vexame do Ensino Médio brasileiro começa no primeiro ano do Ensino Fundamental.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

PISA avalia resultados dos alunos brasileiros

Andreas Schleicher, criador do
PISA e ainda seu coordenador.
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Os resultados obtidos com a avaliação do PISA, um programa internacional que avalia a qualidade do ensino nos países de todo mundo, aponta o Brasil com graves problemas na área. Basta citar que estamos nas últimas posições: na 63ª posição em ciências (401 pontos), na 59ª em leitura (407 pontos) e na 66ª colocação em matemática (377 pontos). O Brasil patina desde 2000 quando o país entrou no PISA, como convidado. Alunos na faixa dos 15 anos são avaliados em todo mundo. Este ano o foco foi ciências. O ranking mundial pode ser visto neste link. Os dados abaixo, sobre o Brasil, são observações do PISA ainda coordenado por Andreas Schleicher, seu idealizador.

Resultados principais

• O desempenho dos alunos no Brasil está abaixo da média dos alunos em países da OCDE em ciências (401 pontos, comparados à média de 493 pontos), em leitura (407 pontos, comparados à média de 493 points) e em matemática (377 pontos, comparados à média de 490 pontos).• A média do Brasil na área de ciências se manteve estável desde 2006, o último ciclo do PISA com foco em ciências (uma elevação aproximada de 10 pontos nas notas - que passaram de 390 pontos em 2006 para 401 pontos em 2015 – não representa uma mudança estatisticamente significativa). Estes resultados são semelhantes à evolução histórica observada entre os países da OCDE: um leve declínio na média de 498 pontos em 2006 para 493 pontos em 2015 também não representa uma mudança estatisticamente significativa. 

• A média do Brasil na área de leitura também se manteve estável desde o ano 2000. Embora tenha havido uma elevação na pontuação de 396 pontos em 2000 para 407 pontos em 2015, esta diferença não representa uma mudança estatisticamente significativa.  Na área de matemática, houve um aumento significativo de 21 pontos na média dos alunos entre 2003 a 2015. Ao mesmo tempo, houve um declínio de 11 pontos se compararmos a média de 2012 à média de 2015.

• O PIB per capita do Brasil (USD 15 893) corresponde a menos da metade da média do PIB per capita nos países da OCDE (USD 39 333). O gasto acumulado por aluno entre 6 e 15 anos de idade no Brasil (USD 38 190) equivale a 42% da média do gasto por aluno em países da OCDE (USD 90 294). Esta proporção correspondia a 32% em 2012. Aumentos no investimento em educação precisam agora ser convertidos em melhores resultados na aprendizagem dos alunos. Outros países, como a Colômbia, o México e o Uruguai obtiveram resultados melhores em 2015 em comparação ao Brasil muito embora tenham um custo médio por aluno inferior. O Chile, com um gasto por aluno semelhante ao do Brasil (USD 40 607), também obteve uma pontuação melhor (477 pontos) em ciências. 

• No Brasil, 71% dos jovens na faixa de 15 anos de idade estão matriculados na escola a partir da 7a. série, o que corresponde a um acréscimo de 15 pontos percentuais em relação a 2003, uma ampliação notável de escolarização. O fato de o Brasil ter expandido o acesso escolar a novas parcelas da população de jovens sem declínios no desempenho médio dos alunos é um desenvolvimento bastante positivo.

Resumo dos resultados nacionais do PISA 2015

• Entre os países da OCDE, o desempenho em ciências de um aluno de nível sócioeconômico mais elevado é, em média, 38 pontos superior ao de um aluno com um nível sócioeconômico menor. No Brasil, esta diferença corresponde a 27 pontos, o que equivale a aproximadamente ao aprendizado de um ano letivo.

• No Brasil, menos de 1% dos jovens do sexo masculino estão entre os alunos com rendimento mais elevado no PISA em ciências (aqueles com pontuação no nível de proficiência 5 ou superior). Entre os países da OCDE, esta proporção corresponde a 8.9% dos jovens do sexo masculino. Apenas 0.5% do grupo feminino no Brasil alcançou este mesmo nível de desempenho. Entre os países da OCDE, 6.5% das meninas se destacaram neste nível elevado de proficiência.  No Brasil, entre alunos de baixo rendimento em ciências (aqueles com pontuação inferior ao nível básico de proficiência, o nível 2), uma proporção maior entre o grupo feminino espera seguir uma carreira na área de ciências.

• Menos de 10% dos alunos que participaram do PISA 2015 no Brasil são imigrantes (primeira ou segunda geração). Numa comparação entre alunos de mesmo nível sócioeconômico, a média dos alunos imigrantes em ciências é 66 pontos inferior à média de alunos não-imigrantes.

• O Brasil tem uma alto percentual de alunos em camadas desfavorecidas: 43% dos alunos se situam entre os 20% mais desfavorecidos na escala internacional de níveis sócioeconômicos do PISA, uma parcela muito superior à media de 12% de alunos nesta faixa entre os países da OCDE. Esta proporção, no entanto, é semelhante àquela observada na Colômbia. Apenas dois outros países latino-americanos possuem uma proporção ainda maior de alunos neste nível sócio-econômico, o México e o Peru.

• Uma parcela muito reduzida de pais de alunos alcançou o nível superior de ensino no Brasil. Menos de 15% dos adultos na faixa etária de 35 a 44 anos de idade possuem um diploma universitário, uma taxa bem menor que a média de 37% observada entre os países da OCDE. Entre os países que participaram do PISA 2015, o Brasil está entre os dois países com a menor proporção de adultos com nível superior, ficando atrás apenas da Indonésia onde menos de 9% dos adultos nesta faixa etária alcançaram este nível de escolaridade. A faixa etária entre 35 e 44 anos corresponde aproximadamente à idade dos pais de alunos que participaram do PISA 2015.

• No Brasil, 36% dos jovens de 15 anos afirmam ter repetido uma série escolar ao menos uma vez, uma proporção semelhante à do Uruguai. Entre os países latino-americanos que participaram do PISA 2015, apenas a Colômbia possui uma taxa de repetência escolar (43%) superior à do Brasil. Esta prática é mais comum entre países com um baixo desempenho no PISA e está associada a níveis mais elevados de desigualdade social na escola. No Brasil, altos índices de repetência escolar estão ligados a níveis elevados de abandono da escola. Entre 2009 e 2015, houve um declínio de 6% na taxa de repetência escolar no Brasil, observado principalmente entre os alunos do ensino médio.

O problema está no Fundamental

Na última década o Brasil triplicou seu investimento em educação mas os resultados continuaram péssimos. Em 2012 o Brasil foi o 15º que mais investiu na área mas a qualidade do ensino continua ruim. Curioso é que países que estão no topo tem investimentos menores que grandes potências, como os Estados Unidos. O próprio PISA detectou que os alunos mais pobres de Xangai sabem mais matemática que os 10% dos alunos norte americanos mais ricos. Na América Latina países que investiram menos que o Brasil se saíram melhores na avaliação.

O ministro da Educação Mendonça Filho afirmou que "as políticas públicas de educação do Brasil falharam nos últimos anos e os resultados da avaliação do PISA foram "uma tragédia". E concluiu dizendo que "as ações serão prioritárias na alfabetização, porque os alunos chegam ao ensino médio com acúmulo de deficiências muito grave".

Ocorre que o método de alfabetização utilizado no Brasil, lastreado no construtivismo, não alfabetiza. A afirmação vem da neurociência e todas as avaliações comprovam. Aos 15 anos de idade nossos alunos ainda são analfabetos. Provas? Olha o PISA.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Últimos no PISA: a tragédia da educação brasileira

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza 

Mendonça Filho, Ministro da Educação, disse ontem que as políticas públicas de educação do Brasil falharam nos últimos anos e os resultados da avaliação do PISA foram "uma tragédia". Seu discurso ocorre depois da divulgação dos números do programa internacional de avaliação de estudantes que colocou o Brasil nas últimas colocações. Interessante é ouvir um membro do governo afirmar algo que já ocorre no país desde 1980/90.

O PISA avalia a educação em todo mundo, a cada três anos, entre estudantes de 15 anos de idade. Leitura, matemática e ciências são as três faixas focadas. O Brasil, como ocorre desde o ano 2000, está patinando: em 2015 ficou em 63ª posição em ciências (401 pontos), na 59ª em leitura (407 pontos) e na 66ª colocação em matemática (377 pontos).


Os países líderes em matemática foram 1º Cingapura: 564 pontos, 2º Hong Kong (China): 548 pontos, 3º Macau (China): 544 pontos, 4º Taipei chinesa: 542 pontos, 5º Japão: 532 pontos.

Em leitura, 1º Cingapura: 535 pontos, 2º Hong Kong (China): 527 pontos, 3º Canadá: 527 pontos, 4º Finlândia: 526 pontos, 5º Irlanda: 521 pontos.

Em ciências os cinco melhores foram 1º Cingapura: 556 pontos, 2º Japão: 538 pontos, 3º Estônia: 534 pontos, 4º Taipei chinesa: 532 pontos, 5º Finlândia: 531 pontos.

A Finlândia surge em 5º porque este ano o foco foi Ciências. Em matemática, o país que foi modelo em educação no ano 2000, caiu para 12º em 2012 e se manteve este ano.

A distância entre as crianças brasileiras e os líderes do PISA assusta. Basta lembrar que 70,25% deles estão abaixo do nível básico de proficiência em matemática, 50,99% em leitura e 56,6% em ciências. Os níveis de avaliação são abaixo do básico, básico, adequado e avançado.

Investimentos sem resultados

Considerando que o Brasil triplicou os investimentos em educação na última década fica claro, portanto, que o problema não tem muito a ver com falta de verba. Mas, a cada resultado ruim, os "doutores em educação" do MEC justificam como falta de investimento e melhor infra estrutura. Em 2012 o Brasil foi o 15º país que mais investiu em educação e os resultados continuaram pífios.  

Outra desculpa, comum entre os intelectóides da educação também foi desmentida: jogam a culpa sobre a condição social das crianças brasileiras, particularmente do ensino público. Então, como explicar que os alunos mais pobres dos países que lideram o PISA sabem mais de matemática que os alunos mais ricos dos Estados Unidos e Europa? A fonte dessas informações está nas estatísticas do PISA que também mostram que salas de aulas com menos alunos tem resultados irrelevantes. No Brasil os investimentos precisam reverter em resultados, o que não ocorre faz décadas.

Mas o ministro teve um relampejo de inteligência ao citar que "as nossas ações serão prioritárias para alfabetização, porque os alunos chegam ao ensino médio com acúmulo de deficiências muito grave". Caramba, Mendonça! Você disse o que qualquer imbecil sabe, faz 30 anos. As crianças do Fundamental, pelo método aplicado hoje, não são alfabetizadas. Não compreendem o que leem e mal conseguem entender um enunciado de matemática. Por isso são péssimos nessa matéria, também. Para tentar compensar o atraso criaram EMAI e Ler e Escrever, projetos que tentam melhorar o nível em matemática e línguas com resultados absurdamente negativos. Prova disso? Olhem os resultados!

Todos as avaliações nacionais ou internacionais mostram que a mudança deve começar nos anos iniciais. Na verdade o problema está na alfabetização no primeiro ano do Ensino Fundamental onde se utiliza teorias mofadas. Os maiores neurocientistas do planeta afirmam que o método utilizado no Brasil, não alfabetiza. A prova está ai.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Internet que envergonha os brasileiros

A piada: a velocidade média da internet banda larga no Brasil não passa 2,7 Mbps. Em Hong kong é de 65.4 Mbps. A internet mais barata é a  do Japão.
Por Edson Joel

O Brasil tem uma das piores velocidades de navegação de internet do mundo e operadoras que cobram os maiores preços do planeta. Este é o resultado catastrófico de dois fatores: usuários que não reclamam ou só reclamam mas não brigam pra valer por mais qualidade, combinado com governantes frouxos, corruptos e ignorantes.

Os economistas Samy Dana e Victor Candido consideraram a relação do valor cobrado pelas operadoras por 1 Mbps e a renda da população pesquisada em 15 países e concluíram que o Brasil tem a segunda internet mais cara do planeta. Significa dizer que o brasileiro precisa trabalhar mais de 5 horas por mês para pagar uma conexão de 1 Mbps enquanto o japonês precisaria de apenas 0,015. Pra você entender, considere que no Brasil há um tributo cobrado pelo governo que chega a estonteantes 40% enquanto no Japão, apenas 5%. Pior, são poucas empresas oferecendo os serviços. Sem concorrência, tributos altos e ineficiência da agência reguladora, o resultado é esse quadro patético de comunicação.

A velocidade média nacional mal chega a 2,7 megabytes por segundo, conforme publicação “State of the Internet”, de 2014, da Akamai Technogies, empresa especializada nesse tipo de medição (quantos mgabytes por segundo nos picos médios de navegação). Esse valor é uma piada.

Hong Kong tem 65.4 Mbps de pico, Coreia 63.6, Japão 52.0 são os três primeiros do mundo com velocidades consideradas altíssimas. Em 4º lugar está Singapura com 50.1 Mbps seguida de Israel, em 5º (47.7), 6º Romênia (45.4), 7º Letônia (43.1), 8º Taiwan (42.7), 9º Holanda (39.3), 10º Bélgica (39.6).

Vivo,  GVT, Net, Oi, Claro, Tim são algumas das empresas que envergonham os brasileiros pelos serviços de baixíssima qualidade e preços exorbitantes nesse segmento. Não há pra onde correr e nem governantes responsáveis para se fiar. O Brasil vai acumulando títulos de pior do mundo também na internet.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Glutamato Monossódico faz mal?

O uso constante desse sal pode causar, além das dores de cabeça e dores nas articulações, ganho de peso, hipertensão, formigamento, erupção cutânea, falta de ar, taquicardia, dores nos músculos e distúrbios no sistema nervoso.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Sabe aquela sua dor de cabeça que, sem motivos, vai e volta, sem explicação? Ou aquela quase enxaqueca perturbadora e irritante que ninguém consegue descobrir a causa? Ou aquelas dores nas articulações, parecidas com artrite? Ou a pressão arterial que "do nada", aumenta?

Pois bem, prepare-se para descobrir que as causas podem estar dentro da sua casa, guardadas na cozinha. Chama-se glutamato monossódico ou GMS (sal sódico do ácido glutâmico), um aminoácido (aminoácido é a molécula que forma a proteína) encontrado na maioria dos alimentos processados para realçar o sabor de alimentos como hambúrgueres, sopas, batatas fritas, salsichas, molhos para saladas, carnes defumadas e grelhadas, condimentos preparados, molhos e biscoitos. Aji-No-Moto é seu nome comercial.

O uso constante desse sal pode causar, além das dores de cabeça e dores nas juntas, hipertensão, formigamento, erupção cutânea, falta de ar, taquicardia, ganho de peso, dores nos músculos e distúrbios no sistema nervoso.

"Brain lesions, obesity, and other disturbances in mice treated with monosodium glutamate" (lesões cerebrais, obesidade e outros distúrbios em ratos tratados com glutamato monossódico), de John Olney, pesquisador e professor de Psiquiatria, Patologia e Imunologia da Universidade de Washington é um estudo que os "defensores" do sal não conseguem contestar. O consumo de GMS aumenta a concentração de ácido glutâmico no organismo e isso pode desencadear o transtorno de hiperatividade. Já se associou este sal com depressão, fadiga, dores no peito e náuseas. Quimicamente o glutamato é 78% ácido glutâmico livre, 21% sódio e 1% de contaminantes, considerado excito-toxina, uma substância que estimula células.

O médico Robert Ho Man Kwok foi o primeiro a estabelecer relação entre o mal estar que sentia depois de comer em restaurante chinês com o glutamato. Em 1968 ele escreveu para o New England Journal of Medicine e o assunto tornou-se conhecido. Este aminoácido é comum em muitos alimentos, incluindo cogumelo seco, tomate, queijo parmesão e até mesmo no leite materno. Entretanto, os problemas relatados vem do consumo de GMS proveniente da cana de açúcar, presente na maioria dos alimentos industrializados.

A Federação das Sociedades Americanas de Biologia Experimental, a pedido da Food and Drug Administration (FDA) - órgão norte americano que regula o comércio de alimentos - promoveu uma avaliação de todos os estudos científicos a respeito. Concluíram que havia "evidências suficientes apontando para a existência de um grupo de indivíduos saudáveis que reagiam mal a altas doses de glutamato", geralmente uma hora após a ingestão de 3 gramas ou mais de glutamato, diluído em água. O experimento, entretanto, deveria considerar o consumo do sal misturado em alimentos e não em água.

E, segundo a FDA, o consumo diário da maioria dos indivíduos, no ano 2000, era de 0,55 gramas. Atualmente a presença do glutamato nos alimentos processados é quase 80% e a concentração consumida é muito maior. Mesmo assim a FDA considerou seguro seu consumo. O site do fabricante tenta desqualificar as denúncias.

A experiência de uma família, sem glutamato

Durante anos uma família de Marília, de nosso relacionamento, consumiu fartamente Aji-No-Moto na comida caseira e em restaurantes. Os três filhos se queixavam de dores nas juntas e constantes dores de cabeça. Uma delas fez tour em diversos especialistas para descobrir o que provocava dores nas articulações dos pés, sem sucesso. O marido, apesar da boa saúde, queixava-se de dores de cabeça e taquicardia constantes e a esposa incluía, além, pressão alta.

Somente alguns anos após a morte da mulher e um novo casamento, percebeu-se a diminuição drástica dos problemas, em pouco tempo: a nova esposa não usa glutamato na comida de casa. Ela mesma já tinha vivido uma experiência de falta de ar, pressão alta, alteração no ritmo de batimentos cardíacos e dores de cabeça constantes, até abolir este sal do seu cotidiano. Alertados, os filhos passaram a evitar o consumo do glutamato com fantásticos resultados. O que se pensou ser artrite herdado da mãe era, na verdade, resultado do consumo de Aji-No-Moto.

Se você tem dúvidas a respeito, faça uma experiência bem simples: deixe de usar glutamato ou de comprar alimentos processados com este sal. O único inconveniente é ter que ler os rótulos dos produtos para descobrir se contém glutamato monossódico ou não. Vale a pena e você não corre nenhum risco.

Glutamato monossódico

Composto químicoFórmula: C5H8NO4Na
IUPAC: Sodium 2-Aminopentanedioate
Massa molar: 169,111 g/mol
Ponto de fusão: 232 °C
Densidade: 1,62 g/cm³
Classificação: Aminoácido
Solúvel em: Água

Fontes de pesquisa: BBC Brasil, LUCAS, D.R. and NEWHOUSE, J. P. The toxic effect of sodium-L-glutamate on the inner layers of the retina. AMA Arch Ophthalmol 58: 193-201, 1957. – Link: http://archopht.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=625186 OLNEY, J.W. Brain lesions, obesity, and other disturbances in mice treated with monosodium glutamate. Science 164: 719-721, 1969. – Link: http://www.sciencemag.org/content/164/3880/719, FAO Nutrition Meetings -Report Series No. 48A WHO/FOOD ADD/70.39 TOXICOLOGICAL EVALUATION OF SOME EXTRACTION SOLVENTS AND CERTAIN OTHER SUBSTANCES” – Link: http://www.inchem.org/documents/jecfa/jecmono/v48aje09.htm / "Brain lesions, obesity, and other disturbances in mice treated with monosodium glutamate" (lesões cerebrais, obesidade e outros distúrbios em ratos tratados com glutamato monossódico). Autor: John Olney, pesquisador e professor de Psiquiatria, Patologia e Imunologia da Universidade de Washington.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Vietnã: cadê o socialismo que estava aqui?

Faz 40 anos que os norte americanos foram expulsos do Vietnã, tomado por comunistas depois de contabilizar mais de 2 milhões de vítimas em toda guerra. O socialismo não funcionou e o Vietnã se transformou num dos mais importantes países capitalistas do planeta. E suas fábricas trabalham para os americanos. O comunismo perdeu, de novo.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

A guerra do Vietnã começou, na verdade, em 1955, mas foi a partir de 1959 que as escaramuças provocadas pelos guerrilheiros do norte se tornaram mais sérias. O país se dividiu ao meio - comunistas, do norte, apoiados pela China e soviéticos - e o sul, que a partir de 1965 passou a receber um maior apoio bélico dos Estados Unidos, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia.

Foi a guerra do socialismo x capitalismo. Os americanos perderam 58 mil soldados até o final do conflito. Em 30 de abril de 1975, Saigon, capital do sul, caiu e o Vietnã passou a se chamar República Socialista do Vietnã e Saigon se chama hoje Ho Chi Minh, líder dos vencedores. Quase 4 milhões de soldados do norte e sul morreram no conflito que acabou envolvendo também a Coreia do Sul que lutou ao lado dos americanos. Os comunistas venceram a guerra.

E o que virou o Vietnã?


O sonho capitalista dentro do Vietnã: as conquistas sociais e melhor qualidade de vida chegaram pelo livre mercado. Restam dois países comunistas fundamentalistas: Coreia do Norte onde 18 dos 24 milhões habitantes passam fome e a falida Cuba até então liderada por um patético. Cuba, em breve, será o novo paraíso capitalista.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

A fantástica transformação de um aluno indisciplinado

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Rafael chora compulsivamente na sala da diretora. Ele tem 10 anos e estuda numa escola pública estadual de Marília, desde o primeiro ano do fundamental.

Era conhecido, desde o início, como um aluno desregrado. Não fazia as atividades, ameaçava colegas e enfrentava as professoras. Esta não foi sua primeira vez na diretoria e a mãe já fora notificada de sua indisciplina, outras vezes. Ela é separada e convive com outro drama: um filho de dois anos que sofreu danos cerebrais por falta de oxigênio. Ela não trabalha e vive do Bolsa Família. É considerada "marrenta e mal educada" pelos funcionários da escola. Classicamente Rafael se encaixa na faixa de risco social.

Novo comportamento em 6 meses

Porém, há seis meses, o garoto vinha se comportando bem e participando de todas as atividades escolares. Rafael tinha melhorado consideravelmente seu relacionamento com colegas e vivia sorrindo. Seu aprendizado evoluiu. Estava mais focado. Tinha se transformado de tal maneira que seus professores não conseguiam explicação mais lógica considerando que todas teorias da psicologia moderna tinham sido aplicadas, mas sem sucesso.

Mas uma coisa chamou muita a atenção da diretora: nunca antes Rafael chorara tanto e copiosamente quando advertido em sua sala. Ele sempre contava com a tolerância e com os limites punitivos e pouco se importava com as consequências. Mas, agora, o choro compulsivo denunciava algum fato novo.

O segredo desvendado

O segredo foi desvendado: a mãe contou que, desde do começo do ano, Rafael conseguira se inscrever na escola de Baseball do Nikkey Clube da cidade, um clube que abriu as portas para jovens de todas as idades e tem revelado talentos no esporte. Pelo menos 5 atletas marilienses compõe a seleção nacional principal de Baseball e outros tantos acabaram contratados por outros países. O projeto Baseball Solidário não atrai apenas praticantes do esporte, mas voluntários também - pais, parentes e amigos - que atuam em diversas atividades. Apesar de ser um esporte tradicionalmente praticado no Brasil pela colônia japonesa, o grupo de Marília tem 75% de brasileiros. Rafael é um deles.

A cultura da disciplina e do respeito dos japoneses é o primeiro passo a ser conquistado pelos alunos, independentes da idade e condição social. Não há imposição. Existem regras simples e elas devem ser respeitadas. Nada além. Foi exatamente isso que Rafael aprendeu desde sua introdução ao grupo: disciplina.

Disciplina e respeito

A contrapartida é que essa disciplina e respeito ultrapassem as fronteiras do Nikkey e sejam praticados no seio da família, entre amigos e na escola. Foi por ter transgredido essa regra que Rafael chorou, desesperado. Era o receio de perder o convívio de um grupo que lhe aceitou tão bem simplesmente porque lá todos são iguais, inclusive na hora de respeitar regras. Se for indisciplinado, dentro ou fora do Nikkey, ele perde o patrocínio, mesmo sendo um bom jogador. Um dos diretores do clube confirmou que não há registro de casos de drogas ou comportamento negativo entre seus inscritos.

A mesma criança, desregrada na escola pública, tornou-se disciplinada e responsável na escola japonesa.

- Meu filho é outra criança! - comemora a mãe que sonha colocar também a filha no Nikkey. Ela contou que o filho já tem sonhos para o futuro e "se pela de medo de sair da escolinha japonesa". - Eles mudaram o Rafael - confessa, feliz.

Regras simples e eficientes

No Japão as crianças japonesas são disciplinadas. As escolas não tem faxineiros e são os próprios alunos que cuidam da limpeza das salas, corredores e banheiros além da distribuição da comida e limpeza dos pratos. Isso cria responsabilidade no cuidado com o bem público, bem diferente do que ocorre no Brasil onde o vandalismo impressiona. Essa mesma regra não pode ser aplicada no Brasil porque o famigerado Estatuto da Criança e Adolescentes considera opressor e trabalho infantil escravo. Países com índices de educação elevados priorizam a disciplina como primeiro passo para qualquer caminhada. Coreia do Sul, Singapura, Xangai e Japão são exemplos disso. Primeiros do mundo.

Rafael é exemplo de uma criança que pode avançar nos estudos e conquistar conhecimento, independente da sua cor e condição social e sem depender de invenções pedagógicas estúpidas. Basta começar com respeito e disciplina para conhecer seus direitos, deveres e limites. É assim que se constrói cidadania.

PS: A direção do Nikkey confirmou que Rafael é um bom atleta e custeado pelo clube. Se houver indisciplina, dentro ou fora do campo, ele perde o patrocínio. Na sexta, dia 2 de dezembro ele foi escalado para jogar uma disputa em Londrina. Apenas o nome do personagem não é verdadeiro. A mãe tornou-se mais afável e educada.

Leituras relacionadas: Disciplina: Brasil x Japão

Mortos no acidente podem ser 76

Avião bateu em local de difícil acesso próximo de Ciudad Union, Colombia

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

São mais de 76 vítimas fatais com a queda do avião quadrimotor da Empresa Aérea Lamia que transportava a equipe da Chapecoence, anunciaram autoridades da Colômbia. A equipe viajava para participar da final da Copa Sul América. Chovia no momento do acidente. Falou-se em pane elétrica. O acidente ocorreu nesta madrugada próximo de Ciudad La Únion, Colombia. O aparelho deveria ter pousado em Medellin as Há registro de cinco sobreviventes.

O comentarista do canal FoxSports, o ex-jogador Mario Sergio também está entre as vítimas. Os jogadores da equipe de Santa Catarina que estavam no voo eram Danilo, Follmann, Gimenez, Dener, Alan Ruschel e Caramelo, Marcelo, Filipe Machado, Thiego, Neto, Josimar, Gil, Sérgio Manoel, Matheus Biteco, Cleber Santana, Arthur Maia, Kempes, Ananias, Lucas Gomes, Tiaguinho, Bruno Rangel e Canela.

Além dos jogadores, viajavam vários jornalistas de rádio e TV. Cinco sobreviventes foram levados para hospitais da região. O aparelho caiu perto de La Ceja em local de difícil acesso. Estavam à bordo 81 pessoas sendo 9 tripulantes.

Um dos acidentados resgatado com vida

Cai na Colômbia avião que transportava Chapecoence. Fala-se em 20 a 25 mortos, mas não há registro oficial

Foto do aparelho da Lâmia, acidentado com a equipe da Chapecoence
Por Edson Joel

O avião quadrimotor que transportava a euipe da Chapecoence para a final da Copa Sul-América, contra o Atlético Nacional da Colombia, sofreu pane e fez pouso de emergência nesta madrugada de terça feira. Chovia no momento do acidente.

O avião RJ85, da empresa aérea Lamia, fez um pouso forçado às 22 horas locais, em Ciudad La Únion, Colombia. Além dos jogadores, o aparelho transportava vários jornalistas de rádio, jornal e televisão brasileiros.

O piloto anunciou emergência devido a pene elétrica, segundo informou a torre de controle do aeroporto. Seis sobreviventes teriam sido resgatados do aparelho e levado para hospitais da região, mas não há registro oficial. Um militar anunciou que o número de mortos seria muito maior.


Alan Ruschel, lateral da equipe foi o primeiro a ser socorrido. O pouso forçado ocorreu perto de La Ceja em local de difícil acesso. Estavam à bordo 81 pessoas sendo 9 tripulantes. As informações são confusas e fala-se em mais de 28 mortos, porém não confirmados. O local do acidente é de difícil acesso.




O que o Jornal Nacional precisa saber sobre Cuba.

Como era Cuba antes de 1959: maior renda per capita entre países ibero-americanos

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Cuba divide-se em duas épocas: antes e depois da revolução de Fidel Castro, em 1959. E o que existia em Cuba, antes do comunismo? O que você sabe sobre o país antes da chegada de Castro no poder? Se você desconhece, não se sinta mal. A Globo mostrou que também não sabe.

O jornalismo da emissora, na cobertura da morte de Fidel, passou uma falsa ideia do "líder do povo cubano", como denominou a emissora em seu principal jornal e da realidade do país. Sempre simpático e sorridente nas imagens selecionadas pela Globo, Castro posou de herói. Oras, o "presidente de Cuba"  nunca foi eleito e o povo, sob armas, nunca pode contesta-lo. Que líder foi esse?

Na verdade Fidel permaneceu no poder sob um regime de ditadura extrema e violenta e a custa de mais de 120 mil fuzilamentos e prisões de opositores que promoveu logo no início do seu governo. E, até mais recentemente, fuzilamento dos que tentavam fugir da ilha. Desde 1959, quando tomou o poder pelas armas, nunca houve eleição em Cuba. Jornal, apenas um, o Granma, oficial do regime. A emissora de TV é controlada pelo governo. Nenhuma liberdade individual. Até o sorvete na praça só o fabricado pelo governo. A comida conseguida pelo cartão de racionamento dura 5 dias e o salário de um cubano dá pra comprar 4 quilos de carne de frango. As "casas" dadas pelo governo são prédios antigos, construídos antes do socialismo.

Restaram os carros antigos - americanos - da década de 50 e esperança de dias melhores, sem a revolução que separou famílias e gerações. Os jovens cubanos pouca importância dão para Fidel e sua revolução. Eles não tem internet em casa porque é proibido e nas lan-houses só podem acessar os sites autorizados pelo governo. Tudo é controlado.

Pior que a simpatia global foram citações mentirosas como creditar a Castro a excelente qualidade da educação e a saúde pública do país.  Oras, uma pesquisa simples mostraria que já em 1956 a ONU reconhecia Cuba como o país íbero americano com o menor índice de analfabetismo. O que Fidel fez foi apenas manter a mesma estrutura e política educacional implantada 20 anos antes da Revolução Cubana. Segundo Yoani Sánchez, opositora ao regime, também é falsa a informação de que a educação é grátis pois, os pais são obrigados a comprar material escolar, consertar cadeiras e pagar por lâmpadas e encanamentos. Nem refeições para crianças do fundamental existem. O "lanche" obrigatório oferecido pelo governo é recusado pelas crianças e os pais levam comida de casa que geralmente é repartido com os professores.

Mais por ignorância jornalística que má fé, a emissora brasileira deu a entender que foi graças a "revolucion" que Cuba forma uma grande quantidade de médicos, um mito comunista. Mentira: antes de Fidel, por volta de 1957, Cuba já detinha o maior número de médicos per-capita, segundo a ONU, entre países ibero-americanos. Hoje os serviços desses profissionais são "vendidos" pelo governo de Cuba que fica com 70% do salário pago por outros países. Os hospitais da "revolucion" são sujos, mal conservados e os pacientes são obrigados a levar roupa de cama, produtos de higiene pessoal e para limpeza dos banheiros, material hospitalar como injeções, gases, material cirúrgico e até medicamentos. O que estão fazendo, então, tantos repórteres na ilha?


Cuba em 1956: renda per capita invejável

A ilha cubana foi um enorme centro turístico - até a chegada de Fidel - com moderníssimos hotéis, com maior número de carros entre países ibero-americano e, na década de 50, chegou a ocupar a segunda posição em renda per-capita entre países do centro e sul da América, maior que a Itália e mais que o dobro da Espanha e causava inveja a Áustria, Irlanda e Japão. Por volta de 57 a paridade dólar/peso cubano era 1 por 1.


O Captólio cubano - cópia do americano - e todos os prédios em concreto armado, foram construídos antes de Fidel e sua revolução. Hoje Havana é um amontoado de lixo e prédios desabando. Como Havana transformara-se num paraíso para turistas, a tecnologia chegava fácil e rápido à ilha, como ar condicionado central no Hotel Riviera, muito antes de chegar ao Brasil, por exemplo.

A jornada de trabalho de 8 horas, salário mínimo e autonomia universitária já existiam em  Cuba por volta de 1937. Não foi obra do socialismo. A TV em cores, que no Brasil chegou na década de 70, já existia em Cuba no ano de 1958. Havana já tinha mais de 160 emissoras de rádio na década de 50/60 e mais de um milhão de rádios receptores e mais de 350 salas de cinema. A primeira estação de rádio foi fundada em 1922.

O país, que hoje vive de cotas de alimentos, já foi segundo colocado na América no consumo calórico per-capita diário. Bem antes, por volta de 1829, Cuba já se utilizava de máquinas e barcos à vapor. A ferrovia foi instalada em 1837. Telefonia sem interferência de telefonistas foi implantada em Cuba muito antes que nos países latino-americanos. Em 1918 o país já concedia o divórcio que só chegou ao Brasil quase 60 anos depois.

A democracia cubana elegeu na década de quarenta seu primeiro presidente negro, fato que só ocorreu nos Estados Unidos 68 anos depois. Cuba detinha uma constituição considerada avançadíssima para a época como reconhecer o direito do voto das mulheres, igualdade de direitos entre sexos e raças e direitos trabalhistas. A ilha, antes da revolução, era a terceira maior produtora de arroz nas Américas Central e do Sul.


As desigualdades sociais - comuns na maioria dos países, naquele período - levaram Fidel Castro liderar uma guerrilha contra Fulgêncio Batista, derrubado em janeiro de 1959. As promessas da "revolucion" eram de fartura e igualdade. Castro tomou o poder, acabou com as eleições, implantou uma ditadura violenta, matou mais de 120 mil cubanos opositores e destruiu o país. O comunismo cubano foi sustentado pela URSS até falir em 1989. Sem a ajuda soviética, Cuba definhou mais rapidamente.

Sem sucessores, o comunismo acabou em Cuba sem Fidel.

Fontes: ONU, NY Times, Yaoni Sànchez
Capitolio cubano, construção antes da revolução
Construções modernas, antes da revolução
Bondes chegaram em Cuba no começo do século
"Fuzilaremos, sim. Temos fuziliado. Fuzilaremos e continuaremos fuzilando se for necessário" Discurso de Che Guevara na ONU.
Fidel Castro: discurso de 9 horas falando da revolução. Os jovens ignoram Fidel e a história revolucionária.
Fidel amarra opositor que será fuzilado. Raul Castro coloca venda enquanto Guevara observa. Mais de 120 mil fuzilados por discordar da revolução. Muitos morreram tentando escapar da ditadura.
O que restou de Cuba: prédios antigos construídos antes da revolução.
Na foto o capitão Gracia Olay é fuzilado em Santa Clara, sob o comando de Che Guevara.
Cuba hoje, 57 anos de revolução: decadência e pobreza. Faixa tenta motivar o povo cansado de ter esperança e viver sem liberdade.

sábado, 26 de novembro de 2016

Havana. Como me dóis!


YOANI SÁNCHEZ, La Habana | 16/11/2014
Posted on Janeiro 11, 2015 by H. Sisley

Ser “habanero” não é ter nascido numa cidade, é levar essa região nas costas e não poder se desligar dela. Na primeira vez em que me dei conta de que pertencia a esta cidade eu tinha sete anos. Estava num pequeno povoado de Villa Clara, tratando de alcançar umas goiabas num galho quando um monte de crianças daquele lugar rodeou a mim e a minha irmã. “São de Havana! São de La Habana!” berravam. Nesse instante não entendíamos tanto alvoroço, porém com o tempo nos demos conta que nos havia tocado um triste privilégio: haver nascido nesta urbe em declínio, nesta cidade cujo maior atrativo é o que pôde ser e não o que é.

Sou totalmente urbana, citadina. Criei-me num local do bairro Cayo Hueso onde as árvores mais próximas ficavam a mais de quinhentos metros. Sinto-me filha do asfalto, do odor de querosene, dos varais que gotejam nas varandas e das tubulações de alvenaria que transbordam de vez em quando. Esta nunca foi uma cidade fácil. Nem sequer nos postais para turistas com suas cores retocadas se pode ver uma Havana cômoda e que possa ser resumida.

Às vezes já não quero caminhar por ela, porque me dói. Vou subindo pela Belascoaín e as minhas costas o mar fica com essa brisa que conheço tão bem. Chego à esquina da Rua Reina. Há uma igreja no estilo gótico que quando menina me dava a impressão que se perdia entre as nuvens. Ali vi pela primeira vez, quando tinha dezessete anos, uma árvore de Natal. Avanço pelos portais dando um pulo aqui e outro lá. Fios de água correm de algumas escadas e uma senhora tenta me vender uns doces de leite que têm a mesma cor da rua.

Havana é uma cidade de gritos e sussurros. Quem só ouve sua tagarelice nunca poderá escutar os seus cochichos.

Já vejo o sinal de trânsito de Galiano, porém o passo se torna mais lento porque há muita gente. Um policial dobra a esquina e alguns se escondem atrás das portas ou entram nas lojas como se fossem comprar algo. Quando o guarda se for voltarão a oferecer suas mercadorias num murmúrio. Porque Havana é uma cidade de gritos e sussurros. Quem só ouve sua tagarelice nunca poderá escutar os seus cochichos. O mais importante é sempre dito com um sinal, um gesto ou um simples movimento dos lábios que te adverte: “cuidado, aí vem, siga-me”. Uma linguagem desenvolvida em décadas de clandestinidade e ilegalidade.

A Rua Netuno está próxima. Ouvi um casal de anciãos dizer em frente a uma fachada: “Ha, não era aqui que ficava…?” Porém não consegui ouvir o final da frase. Melhor assim, porque Havana é uma sequencia de nostalgias e recordações. Quando alguém caminha é como se transitasse por um caminho de perdas. Onde desaba um edifício se mantém os escombros por dias ou por semanas. Depois fazem um estacionamento no buraco que restou ou colocam um quiosque metálico para vender sabonetes, miudezas e rum. Muito rum, porque esta é uma cidade que afoga seus sofrimentos em álcool.

 Esta é uma cidade que afoga seus sofrimentos em álcool 

Chego ao malecón. Em menos de meia hora percorri a porção da cidade que, na minha infância, parecia conter toda a urbe. Porque fui uma “camponesa de Centro Havana”, dessas que pensam que depois da Rua Infanta começam “as zonas verdes”. Com o tempo compreendi que esta capital é muito grande para se conhecer. Também soube que a mesma sensação de dor é percebida por quem nasceu em Diez de Octubre, El Cerro, El Vedado ou Marianao. Dá no mesmo, Havana mostra suas feridas em qualquer bairro.

Toco o muro que nos separa do mar. É áspero e quente. Onde estarão aquelas criancinhas que na minha infância – e num povoado diminuto – olhavam-me assombradas porque eu era “habanera”? Desejarão carregar este fardo? Terão também terminado nesta urbe, vivendo entre suas latas de lixo e suas luzes? Dói-lhes tanto como a mim? Estou certa que sim, porque La Habana não é só essa localidade escrita em nosso documento de identidade. Esta cidade é uma cruz que se leva a todas as partes, uma região em que uma vez que nela viveste já não te abandona.

Tradução por Humberto Sisley