quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Palestra de Cesare Battisti patrocinada com dinheiro público foi cancelada


Manifestantes italianos protestam pedindo a extradição de Battisti. O Brasil abrigou o terrorista.

Para a justiça italiana Cesare Battisti é um criminoso acusado da morte de quatro pessoas. Lá ele foi condenado a prisão perpétua pelos crimes ocorridos na década de 70. Battisti era membro de grupos terroristas. Ele nega a participação nas mortes mas a justiça italiana, durante anos, colecionou provas irrefutáveis e o condenou.

Battisti fez o que todo criminoso faz: veio para o Brasil onde entrou ilegalmente em 2004 e, preso pela Polícia Federal, ficou na cadeia até 2011 quando o Supremo Federal aceitou o pedido do presidente Lula de mante-lo no país como refugiado político. Isso abriu uma crise com o governo italiano. No Brasil foi condenado a 2 anos de prisão, pena revertida a prestação de serviços à comunidade.

Se na Itália o criminoso Battisti é condenado a prisão perpétua, no Brasil ele virou palestrante. E com patrocínio do governo federal cuja presidente também pegou em armas, assaltou bancos e participou de sequestros.

Ontem Battisti participaria de um evento na UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina - denominado "Quem Tem Direito ao Dizer" mas, na última hora, ele mesmo cancelou sua participação decorrente do movimento de protestos públicos iniciados por professores da universidade que consideraram "o evento uma afronta à instituição universitária brasileira".

Os organizadores disseram que a ordem de cancelamento foi dada pelo governo federal. Fábio Lopes da Silva, responsável pelo programa afirmou que o projeto é "dar voz aos malditos, aos proscritos e aos excluídos". Para os críticos é uma maneira de instituir a desmoralização dentro das universidades e uma afronta ao povo brasileiro ver seu dinheiro patrocinando palestras de assassinos.

Reinaldo Azevedo, colunista da Revista Veja faz uma pergunta:

- Quem será o convidado do ano que vem? Marcola? Fernandinho Beira-Mar? Afinal, esses dois são ainda mais “excluídos” do que Battisti. Não contam, não que eu saiba, com o apoio de certa elite universitária e de chefões do petismo.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O gigante continua adormecido

 Marco Antônio Villa, O Globo

O gigante voltou a adormecer. Seis meses depois das manifestações de junho, o Brasil continua o mesmo. Nada mudou. É o Brasil brasileiro de sempre. Mais uma vez, os fatores de permanência foram muito mais sólidos do que os frágeis fatores de mudança.

As instituições democráticas estavam — e continuaram — desmoralizadas. Basta observar as instâncias superiores dos Três Poderes. O Supremo Tribunal Federal chegou ao cúmulo de abrir caminho para a revisão das sentenças dos mensaleiros.

Mais uma vez — e raramente na sua história esteve na linha de frente da defesa do Estado Democrático de Direito — cedeu às pressões dos interesses políticos.

O ministro Luís Roberto Barroso — o “novato” — descobriu, depois de três meses no STF, que o volume de trabalho é irracional. Defendeu na entrevista ao GLOBO que o Supremo legisle onde o Congresso foi omisso. E que o candidato registre em cartório o seu programa, o que serviria, presumo, para cobranças por parte de seus eleitores. Convenhamos, são três conclusões fantásticas.

Mas o pior estava por vir: disse que o país não aguentava mais o processo do mensalão. E o que ele fez? Ao invés de negar a procrastinação da ação penal 470, defendeu enfaticamente a revisão da condenação dos quadrilheiros; e elogiou um dos sentenciados publicamente, em plena sessão, caso único na história daquela Corte.

O Congresso Nacional continua o mesmo. São os “white blocs”. Destroem as esperanças populares, mostram os rostos — sempre alegres — e o sorriso de escárnio. Odeiam a participação popular. Consideram o espaço da política como propriedade privada, deles. E permanecem fazendo seus negócios...

Os parlamentares, fingindo atentar à pressão das ruas, aprovaram alguns projetos moralizadores, sob a liderança de Renan Calheiros, o glutão do Planalto Central — o que dizer de alguém que adquire, com dinheiro público, duas toneladas de carne? Não deu em nada. Alguém lembra de algum?

E os partidos políticos? Nos insuportáveis programas obrigatórios apresentaram as reivindicações de junho como se fossem deles. Mas — como atores canastrões que são — fracassaram. Era pura encenação.

A poeira baixou e voltaram ao tradicional ramerrão. Basta citar o troca-troca partidário no fim de setembro e a aprovação pelo TSE de mais dois novos partidos — agora, no total, são 32. Rapidamente esqueceram o clamor das ruas e voltaram, no maior descaramento, ao “é dando que se recebe.”

E o Executivo federal? A presidente representa muito bem o tempo em que vivemos. Seu triênio governamental foi marcado pelo menor crescimento médio do PIB — só perdendo para as presidências Floriano Peixoto (em meio a uma longa guerra civil) e Fernando Collor.

A incompetência administrativa é uma marca indelével da sua gestão e de seus ministros. Sem esquecer, claro, as gravíssimas acusações de corrupção que pesaram sobre vários ministros, sem que nenhuma delas tenha sido apurada.

Tentando ser simpática às ruas, fez dois pronunciamentos em rede nacional. Alguém lembra das propostas? Vestiu vários figurinos, ora de faxineira, ora de executiva, ora de chefe exigente. Enganou quem queria ser enganado. Não existe sequer uma grande realização do governo. Nada, absolutamente nada.

As manifestações acabaram empurrando novamente Luiz Inácio Lula da Silva para o primeiro plano da cena política. Esperto como é, viu a possibilidade de desgaste político da presidente, que colocaria em risco o projeto do PT de se perpetuar no poder. Assumiu o protagonismo sem nenhum pudor. Deitou falação sobre tudo. Deu ordens à presidente de como gerir o governo e as alianças eleitorais. Foi obedecido. E como um pai severo ameaçou: “Se me encherem o saco, em 2018 estou de volta.”

Seis meses depois, estamos no mesmo lugar. A política continuou tão medíocre como era em junho. A pobreza ideológica é a mesma. Os partidos nada representam. Não passam de uma amontoado de siglas — algumas absolutamente incompreensíveis.

Política persiste como sinônimo de espetáculo. É só no “florão da América” que um tosco marqueteiro é considerado gênio político — e, pior, levado a sério.

A elite dirigente mantém-se como o malandro do outro Barroso, o Ary: “Leva a vida numa flauta/Faz questão do seu sossego/O dinheiro não lhe falta/E não quer saber de emprego/Vive contente sem passar necessidade/Tem a nota em quantidade/Dando golpe inteligente.”

Estão sempre à procura de um “golpe inteligente.” Mas a farsa deu o que tinha de dar. O que existe de novo? Qual prefeito, por exemplo, se destacou por uma gestão inovadora? Por que não temos gestores eficientes? Por que não conseguimos pensar o futuro? Por que os homens públicos foram substituídos pelos políticos profissionais? Por que, no Congresso, a legislatura atual é sempre pior que a anterior? Por que o Judiciário continua de costas para o país?

Não entendemos até hoje que a permanência desta estrutura antirrepublicana amarra o crescimento econômico e dificulta o enfrentamento dos inúmeros desafios, daqueles que só são lembrados — oportunisticamente — nas campanhas eleitorais.

O gigante continua adormecido. Em junho, teve somente um espasmo. Nada mais que isso. Quando acordou, como ao longo dos últimos cem anos, preferiu rapidamente voltar ao leito. É mais confortável.

No fundo, não gostamos de política. Achamos chato. Voltamos à pasmaceira trágica. É sempre mais fácil encontrar um salvador. Que pense, fale, decida e governe (mal) em nosso nome.

Marco Antonio Villla é historiador

Lula traidor

Pior que a traição de Lula depois que o PT conquistou o poder sob a bandeira da esquerda e assumiu uma postura digna da extrema direita, são as justificativas dadas pelos pseudo-cientistas políticos que estão na folha de pagamento do governo federal.

A extrema esquerda, que se sentiu apunhalada pelo abandono das suas teses, saiu do partido e criou o PSOL e PSTU, passando a criticar com veemência as posturas de um Lula conservador que ditou uma política econômica digna do melhor capitalismo. Oras, se se conquistou o poder pregando a social democracia e pratica-se o mais puro neoliberalismo, merece-se um nome: traidor. E Lula traiu a esquerda. Assim mostra a história.

Mas, para os defensores de Lula, pagos pelo governo, essas críticas só favorecem a direita que tem o mesmo objetivo: derrubar o PT. E, por isso, tentam jogar no colo da extrema esquerda a maldição de uma aliança oportunista com a direita. 

Mas eles, entretanto, se calam diante da aliança espúria de Lula com Maluf. Ou com Sarney, Collor, Renan e outras figurinhas tão condenadas pela esquerda que estão na base de apoio de Dilma ocupando um dos 39 ministérios criados para abrigar tantos fisiologistas.  Disso, nada explicam. E o que dizer das privatizações da Dilma?  

Lula nunca teve nada de esquerda exceto os discursos montados por intelectuais trotskistas que ele guardava na memória. Depois de eleito colecionou um amontado de besteiras em suas falas improvisadas. Seu besteirol só se compara aos da Dilma. Lula é apenas um populista. E trairão das teses de esquerda.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Símbolos falsos

Por Ricardo Noblat

Que país é este onde até outro dia o ex-senador Demóstenes Torres (DEM-GO) era o símbolo do respeito à ética na política; o bilionário Eike Batista, da rápida e espantosa ascensão empresarial; e a presidente Dilma Rousseff da gestora bem-sucedida?

O primeiro terminou cassado por envolvimento com um bicheiro e sua gangue; o segundo corre o risco de falir; e o terceiro de se reeleger no próximo ano.

Temos uma certa queda para acreditar em símbolos duvidosos. Demóstenes era capaz de, com a mesma naturalidade, falar com um ministro do Supremo Tribunal Federal sobre a constitucionalidade de uma nova lei em exame no Congresso para, na ligação seguinte, discutir com o bicheiro Carlinhos Cachoeira quanto lhe caberia num negócio irregular ainda em curso.

Há pouco mais de um ano Eike foi apresentado por Dilma como “o padrão” do empresário nacional, “a nossa expectativa” e, sobretudo, “o orgulho do Brasil quando se trata de um empresário do setor privado”.

Na época, empresas de Eike davam sinais de que iam mal. Nem por isso o BNDES e a Caixa Econômica rejeitaram pedidos do empresário por mais dinheiro. Agora, a falência está às portas.

Foi no final de 2005, em conversa com deputados nordestinos, que Lula falou pela primeira vez no nome de Dilma para sucedê-lo. Talvez até mesmo em 2006 se ele não conseguisse escapar do “mensalão”. Conseguiu.

Mas tão logo se reelegeu, Lula passou a exaltar as qualidades de Dilma como gestora e a preparar o caminho de sua candidatura em 2010.

No governo da gestora exemplar obras importantes estão paralisadas, outras se arrastam, ideias não saem do papel, assim como dinheiro liberado para aplicação não sai do Tesouro Nacional.

Oito entre dez empresários de grande porte concordam: como gestora, Dilma é uma pessoa simpática. Como simpática ela não é... O coração dos empresários bate forte por Lula e, à falta dele, por Eduardo Campos.

Somente Lula enxergou em Dilma as qualidades que ela não tem. Os demais aliados dele sempre mantiveram um pé atrás quanto às chances de sucesso de quem tinha rala experiência como executiva.

Lula encantou-se pelo que julgou ser eficiência de Dilma em atender às suas encomendas. E admirou sua falta de cerimônia em tratar os subordinados com a mão pesada. Confundiu capatazia com gerência.

A administração medíocre feita por Dilma até aqui deve-se em boa parte a uma série de razões. Por exemplo, o loteamento do governo. Lula fez isso no seu segundo mandato, mas Lula é Lula. E o loteamento favoreceu à corrupção.

Dilma nomeou gente despreparada para ocupar cargos importantes. Por fraqueza política, e a condição de estranha no PT, cedeu mais do que desejava.

As indicações para as empresas estatais foram politizadas, assim como para as agências de desenvolvimento.

A Petrobras ficou impedida de reajustar o preço dos combustíveis para segurar a inflação que ameaçava sair de controle.

São discutíveis os benefícios produzidos pela política de desonerações. Calcula-se que o próximo governo, seja de quem for, se esgotará tentando corrigir o estrago causado pelo atual na economia.

E, contudo...

Demóstenes parecia ter uma longa vida política pela frente. Virou ficha suja. Eike não deixará de ser rico, mas revelou-se um incauto charlatão.

Quanto a Dilma, suará muito para se reeleger. Não conseguiu construir uma marca para si. Lula é o pai dos pobres e mãe dos ricos. O que Dilma é além de “a mulher de Lula”?

domingo, 3 de novembro de 2013

A decadência de Cuba

É proibido prosperar em Cuba
A reportagem de Duda Teixeira, para a revista Veja, mostra a decadente Cuba onde prosperar, mesmo honestamente, "é um ato tão subversivo quanto dar opinião contra a política nacional", diz a revista. Não existe imprensa livre, o país não sabe o que é eleição desde que Fidel Castro assumiu o poder e tudo depende de autorização do estado, até mesmo para viajar de uma cidade para outra. Imagine para o exterior.

No mundo existem apenas Cuba e Coréia do Norte que se mantém comunistas na politica e na economia. Enquanto sua vizinha do sul transformou-se numa potência econômica, a Coreia do Norte depende da ajuda internacional para dar de comer para 18 milhões de habitantes famintos. 

Mesmo com a ajuda do Brasil, China e Canada, a situação em Cuba degringolou-se. Tudo é controlado pelo governo, desde fábricas de calçados, confecções até restaurantes e taxis. Mesmo passando o comando para o irmão, Raul Castro, e prometendo reformas, as perseguições políticas continuam de forma mais grave.

"Por fim, a população continua impedida de progredir. Aos olhos do regime castrista, a concentração da propriedade contradiz a essência do socialismo e jamais será permitida. "A China precisou de apenas cinco anos para liberar o capitalismo de maneira irrevogável", diz o economista Rafael Romeu, da Associação para o Estudo da Economia Cubana, em Washington. "Raúl Castro completou sete anos no poder e a economia continua na mesma" conclui a matéria de Duda Teixeira.





sábado, 2 de novembro de 2013

Por quem Dilma chora


Aqui jaz o PIB

Risco da euforia

Cristovam Buarque

O Brasil está comemorando agora o que diversos países comemoraram no passado: a descoberta de grandes reservas de petróleo. Passados 50 anos, a maior parte deles, como os árabes e a Venezuela, tem o que comemorar pelo consumo de seus habitantes, mas não pelo fortalecimento de suas nações. Alguns deles sofreram o que Celso Furtado e outros economistas chamaram de “maldição do petróleo”.

Com tantos dólares disponíveis, não desenvolveram suas forças vivas: educação, indústria, ciência e tecnologia. Para evitar isso, o Brasil tomou uma precaução sob a forma da Lei 12.858/13, que reverte parte dos royalties do pré-sal para a saúde e a educação. Mas o texto da lei diz “prioritariamente” para a educação básica.

Com isso, os governantes estão apresentando o pré-sal como a solução que resolverá nosso atraso educacional, escondendo que, se tudo der certo e todas as receitas do petróleo, inclusive os royalties, forem para a educação básica, daqui a 15 ou 20 anos o setor receberá quantia estimada em R$ 35 bilhões a mais por ano.

Assim, cada criança na escola receberá R$ 600 a mais por ano para sua educação, ou seja, R$ 3 por dia letivo. Passaremos de R$ 2.500 para R$ 3.100, em vez dos R$ 9 mil por ano que precisamos para oferecer uma boa educação.

O Brasil deve ficar alegre com as possibilidades do pré-sal, mas sem cair na euforia da ilusão, especialmente porque os riscos são muitos e grandes.

Há o risco ecológico do vazamento de petróleo nessa profundidade, que ninguém sabe como controlar. Em uma profundidade menor, no Golfo do México, as empresas precisaram de semanas para conter o vazamento.

Especificamente no caso do Campo de Libra, há o risco financeiro de a Petrobras não conseguir os 40% das centenas de bilhões de reais necessários para o investimento.

Nesse caso, teremos o sério risco de o Tesouro ser obrigado a emitir títulos da dívida pública para capitalizar a Petrobras, como tem feito para financiar o BNDES, criando efeitos negativos sobre as finanças e a economia. Tem o risco de que, tudo dando certo, ocorra um fluxo de dólares que trará a maldição da desindustrialização, porque, enquanto houver petróleo, tudo ficará mais barato no exterior do que internamente.

Há o risco da espera com o Brasil se acomodando à espera de recursos do pré-sal. Tem o risco tecnológico e operacional, tanto pela dificuldade de conseguir explorar petróleo nessa profundidade, quanto por falta de mão de obra especializada.

Há também o forte risco de o preço do petróleo cair por causa do aumento da oferta em outros campos, da descoberta de novas fontes energéticas ou pelas restrições legais ao uso do petróleo em razão do aquecimento global.

Finalmente, temos o risco da euforia que estamos vivendo ao comemorar uma receita incerta e arriscada e que, se tudo der certo, daqui a algumas décadas, deverá deixar R$ 3 por dia letivo para cada criança na escola.

Alegria sim, euforia não. Risco da euforia.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF).

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A história refém da memória


Por Denise Rollemberg

O historiador que estuda a ditadura civil-militar já conhece o debate que agora ganha maior amplitude devido à expectativa em relação à decisão judiciária sobre a ação movida por editores, questionando a faculdade de os biografados ou seus herdeiros proibirem biografias.

Para o pesquisador, historiador, jornalista etc, ter acesso à documentação produzida pelos órgãos de informação e de repressão, na qual alguém estivesse citado, era necessária autorização do mesmo ou da família, caso já tivesse falecido.

As restrições criaram, assim, graves distorções observadas sem maiores dificuldades, justamente e sobretudo, nas biografias, fossem escritas por historiadores ou jornalistas.

O debate atual, independentemente da época em que o biografado viveu ou vive, enfrenta aspectos semelhantes.

Não há como negar que a autorização interfere na autonomia e na independência de que o pesquisador precisa para escrever, ainda mais, um texto biográfico. No acordo estabelecido entre biografado e biógrafo, estabelece-se uma espécie de dívida que pode comprometer interpretações que venham na contracorrente do que o biografado ou sua família esperam ou desejam ver publicado. O biógrafo torna-se refém do biografado.

Se assim não for, ele, o biógrafo, parece ter quebrado a confiança que nele fora depositada, para não falar do impedimento da publicação de seu trabalho.

Seja quem for o biografado, é certo que sua vida e sua obra estarão permeadas por aspectos de todo tipo, dos mais aos menos nobres, para não entrar aqui nos casos de personagens tais como ditadores, genocidas etc.

O fato é que há uma enorme dificuldade de se enfrentar o lado escuro da Lua, os aspectos pouco edificantes na vida de quem quer que seja, como se as trajetórias humanas não fossem feitas também de desacertos, equívocos, misérias.

Assim, para se obter a autorização, não raramente se fica — ou se pode ficar — refém de uma relação cujo compromisso nem sempre se baseia na produção do conhecimento, mas, frequentemente, na construção e/ou preservação de determinada memória.

No confronto entre a memória e a história, a história tem perdido. A memória é seletiva, apaziguadora, maleável às vontades do presente. A história, não. Releva o personagem sem retoques, em sua grandeza e sua pequeneza, e tudo mais que existe entre os dois extremos.

Muitas das biografias autorizadas são hagiografias e, portanto, nenhum interesse têm para quem quer conhecer a história de homens e mulheres cujas trajetórias tiveram — ou têm — importância em sua época. A narrativa dessas vidas não pode ser acessível a uns e não a outros.

Ninguém deve se tornar guardião da memória, dono da história. Nem da própria história, principalmente quem se colocou no mundo através da política, da arte, do esporte etc., expressando suas ideias e posições, deixando, portanto, nele seu registro.

É exatamente a possibilidade de narrar a história de homens e mulheres dignos de biografias, abordando-os em sua dimensão humana, em suas contradições e tensões, do tempo e deles mesmos, a maior homenagem que se lhes pode fazer. O desrespeito seria deformá-los como seres perfeitos, mantendo-os desconhecidos e isolados do mundo no qual atuaram.

No mais, quando ouço o argumento segundo o qual o biografado se vê vulnerável a difamações e invasão de privacidade, lembro-me de Theodor Adorno que disse ser uma ofensa procurar nos judeus a razão da perseguição dos nazistas.

O problema, defendeu o filósofo alemão, não estava nos judeus, e sim nos nazistas, nos perseguidores, e não nos perseguidos. Seguindo o lúcido raciocínio, pode-se dizer que difamações e invasão de privacidade falam dos biógrafos, não dos biografados.

Denise Rollemberg é professora da UFF.

Medicina cubana

San Miguel Molina Cobas, o aluno proscrito e expulso da Universidade de Ciências Médicas de Santiago de Cuba.

O mito da excelência da medicina em Cuba cai de podre
http://notalatina.blogspot.com.br

O “grande êxito” do sistema de saúde cubano deve-se apenas à propaganda oficial. Segundo María Werlau, diretora da excelente organização Archivo Cuba, criado pelo Dr. Constantine Menges, “a saúde em Cuba é péssima para o cidadão por falta de recursos. Existe um apartheid que favorece a elite governante e os estrangeiros que pagam em dólar e euros, enquanto nega-se atenção médica aos presos e alguns dissidentes por motivos políticos”.

Também o Dr. Darsi Ferrer, um médico cubano refugiado político nos Estados Unidos desde 2012, assegura que o sistema de atenção primária, aquela da qual os cubanos que foram importados para o Brasil se ufanam tanto, “está praticamente desarticulado, os consultórios estão vazios, seus profissionais foram enviados às lucrativas missões internacionais, sobretudo na Venezuela”, e eu acrescento, agora também ao Brasil. Berta Soler, líder das Damas de Branco que é técnica em microbiologia, trabalhou até 2009 no hospital América Arias de El Vedado, hoje “semi-fechado”. Ela afirma que “a saúde não é gratuita: isso é um mito. Às vezes os profissionais sugerem que se peça os medicamentos aos familiares no exílio” porque não se encontram nas farmácias.

Bem, voltei a falar neste assunto porque essas denúncias feitas pelo estudante do 2º ano de medicina, da Universidade de Ciências Médicas de Santiago de Cuba, San Miguel Molina Cobas, renderam-lhe a expulsão não só desta faculdade, mas de qualquer universidade existente em Cuba. Hoje ele é um proscrito, que foi execrado em sessão especial dentro da universidade, onde participaram o reitor, alunos, funcionários e até agentes do MinInt num grande linchamento moral, cujo vídeo apresentarei em minha palestra amanhã, no auditório do Hospital Maria Lucinda em Recife e depois aqui no blog.

Assistam ao vídeo e entendam porquê a maravilha da medicina cubana é um mito macabro. Fiquem com Deus e até a próxima!

Comentários e traduções: G. Salgueiro


terça-feira, 29 de outubro de 2013

O direito do leitor



Por Helio Saboya Filho

No debate sobre biografias travado entre, de um lado, escritores e editores, e, de outro, celebridades, não faltaram judiciosos argumentos contrapondo a liberdade de expressão ao direito de privacidade.

Mas e a respeito do digníssimo leitor, o destinatário da obra?

Biografia não é ficção. A escritora tcheca Janet Malcolm traça uma didática distinção entre um ficcionista e um biógrafo: o primeiro é “dono de sua própria casa e pode fazer nela o que quiser; pode até derrubá-la, se tiver inclinação para tanto”, ao passo que o biógrafo “é apenas um inquilino, que se deve ater às cláusulas do contrato, que estipula que ele deve deixar a casa (conhecida pelo nome de Realidade) nas mesmas condições que a encontrou”.

"Não sou contra biografias não autorizadas, "mas é preciso conversar" (Roberto Carlos)

Ao comprarmos um romance, esperamos “consumir” personagens, situações e locais fictícios, excitando nossa imaginação com suas inverossimilhanças e suas fantasias.

Não nos é dado o direito de reclamar da desarrumação premeditada, da ousadia do dono da casa que eventualmente a bote abaixo conosco dentro, pois ao sermos convidados a entrar nesse espaço já devíamos contar com isso. Se gostamos ou não do que lemos, é outra história.

A mesma condescendência não merece o escritor de não ficção. A casa que habita não é dele; é a realidade. Desarrumando-a, nos oferece um produto defeituoso. Derrubando-a, nos vende escombros, puro entulho literário.

Com cada grupo puxando brasa para sua sardinha em discursos nos quais ética e liberdade não raramente servem para ocultar o fundo pecuniário que os motiva, editores e biografados passaram a advogar complexas teses jurídicas submetidas aos tribunais — o que lhes é de direito, mesmo atuando dissimuladamente em causa própria.

Por parte de nós, apreciadores do gênero, convém apenas advertir que, por mais convincentes as entrevistas com seus protagonistas, por mais fidedignas suas fontes e por mais exaustivas as investigações empreendidas pelo escritor, nada nos livrará do risco de levar para a mesa de cabeceira uma mercadoria estragada, sem nenhuma garantia de qualidade, sem direito a troca, nem a devolução. E isso vale para biografias autorizadas ou não.

Helio Saboya Filho é advogado
Do Blog do Noblat 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O harakiri de Dilma

Suely Caldas, O Estado de S.Paulo

No dia em que o campo gigante de Libra foi vendido para a Petrobrás e quatro empresas estrangeiras, a presidente Dilma Rousseff foi à TV comemorar o sucesso do leilão e garantir que seu governo não privatizou o petróleo do pré-sal.

Ora, então por que leiloou? Por que despachou equipes para a Europa, EUA e China com a missão de "vender" o petróleo do pré-sal como um bom negócio? Por que a tristeza e a decepção de seu governo quando as gigantes Chevron, British Petroleum e Exxon Mobil desistiram da licitação?

Por que a alegria e o alívio quando a francesa Total e a anglo-holandesa Shell aderiram ao consórcio vencedor? Por que negar algo tão simples e óbvio?

A resposta veio de um ex-tucano (hoje aliado querido de Dilma), o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes: "O discurso antiprivatista ainda resiste no Brasil de 2013, quando a gente vê pessoas fazendo questão de dizer que não estão privatizando ou negociando com o setor privado", afirmou ele na manhã seguinte ao discurso da aliada, misturando espanto, lamento e decepção.

Afinal, em mais de 20 anos a privatização já deu provas e provas de que mais enriquece a população do que empobrece o patrimônio público. Privatização e autonomia do Banco Central nasceram liberais e tornaram-se políticas universais.

Mas com espantosa insistência ela ainda é atacada, por oportunismo político de quem usa o argumento do falso nacionalismo para impressionar e comover os brios do sincero patriotismo dos brasileiros. Pura enganação.

O que os políticos defendem são seus interesses e privilégios, temem o desmanche de uma parcela do Estado que sempre usaram para trocar favores, comprar aliados, fazer caixa para suas campanhas eleitorais. Só alguns exemplos: os bancos estaduais, as elétricas estaduais, as siderúrgicas federais, a Rede Ferroviária Federal (a Valec pode seguir caminho igual) e muitas outras. Felizmente privatizadas.

A Vale privada ganhou em qualidade de gestão e passou a arrecadar para o Estado mais dinheiro em impostos do que em dividendos quando era estatal.

Não parece o caso da presidente Dilma. O combustível que a move é ideológico, mas de uma forma tão confusa e atrapalhada - porque contraditória (afinal, ela precisa do capital privado) - que mais tem prejudicado sua gestão do que satisfeito seu preconceito.

No leilão de Libra a presença de petroleiros nas ruas denunciando-a por ter "traído" o compromisso de não privatizar o pré-sal levou Dilma a recuar aos anos 70 e ignorar que aqueles ideais desmoronaram junto com o Muro de Berlim, e foi à telinha da TV responder, negar a "traição" e a privatização que seu governo acabara de fazer.

Seu argumento: não seria privatização porque 85% da renda de Libra irá para a Petrobrás e a União. Principal idealizadora do modelo de exploração do pré-sal, logo após o leilão Dilma repetiu duas vezes que não vai alterar nada, mesmo com Libra - o filé do filé do pré-sal - tendo atraído um único consórcio e vendido a maior reserva de petróleo do mundo pelo preço mínimo, sem nenhuma disputa.

Para garantir 85% da renda para o Estado não precisaria criar mais gasto público com uma nova estatal (a PPSA, que vai administrar o pré-sal) nem sacrificar a Petrobrás com a obrigatoriedade de bancar 30% de todos os poços, tampouco afastar o investidor desconfiado com frequentes interferências políticas do governo em estatais.

Para isso bastaria elevar taxas e impostos para valores equivalentes, manter o regime de partilha, mas tirar da Petrobrás o peso maior pelos investimentos. O efeito de gerar riqueza para aplicar na área social seria o mesmo.

Dilma precisa do capital privado para seu programa de investimentos em portos, aeroportos, ferrovias, rodovias, energia e petróleo. Se hoje a crise de confiança entre seu governo e empresários tem causado graves prejuízos e inibido investimentos, o que esperar de um discurso escancaradamente anti-privatista da própria presidente, levado a público em rede nacional de TV?

Há muito tempo a repressão é coisa nossa...

Por Carlos Molina

Com Black Bloc ou sem Black Bloc é só o Movimento Social querer retomar as ruas que o cassetete desce. Com eles enchendo o saco ou não em Pindorama a receita para a solução dos problema sociais a muito tempo é camburão, bombas de gás, cassetetes e tiros ...

O único agravante na ação deles é dar o discurso para a Polícia tentar justificar o que sempre fez de melhor, reprimir as constitucionais liberdades de organização, manifestação e expressão do Movimento Popular.

Antes destes trouxas inconsequentes surgirem a forte repressão já existia, eles não são a causa, não a inventaram. Só servem de desculpas para quem tem por principal função "manter o povo em seu devido lugar".

A "democracia" com profundas desigualdades sociais, e sem garantias democráticas de organização manifestação e expressão para que estas sejam superadas pela pressão da vontade popular, não é democracia, é ditadura.

Ameaça a democracia é o estado policial espancando petroleiros, professores, estudantes, índios, sem terras, etc..

Estes jovens, por mais equivocados que estejam, não são a causa do descontentamento popular, são sim a mera consequência de uma sociedade onde não se estimula outras formas de organização, e muito menos espaços para que o povo organizado canalize junto aos poderes as suas aspirações transformadas em legítimas reivindicações.

Os Black Blocs, que não são propriamente um movimento organizado, mas manifestações anárquicas, só ocuparam este espaço pelo fato do Movimento Social Organizado por causa da governabilidade (realpolitik) ter se atrelado ao parlamento burguês e refluído nas suas ações representativas nas ruas. Eles surgem no vácuo causado pela proposital desorganização social.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Jornal britânico diz que leilão de Libra foi ‘medíocre’

Em artigo, 'Financial Times' questiona o governo brasileiro por comemorar o resultado de um leilão que teve apenas um concorrente

Fernando Nakagawa, correspondente da Agência Estado

LONDRES - O resultado do leilão do pré-sal, realizado na última segunda-feira, 21, volta a ser destaque na imprensa europeia. Em artigo publicado na edição desta sexta-feira, 25, do Financial Times, o chefe da sucursal brasileira do jornal britânico, Joe Leahy, questiona o comportamento do governo brasileiro, que comemorou o resultado de um leilão que teve apenas um concorrente. "Algo está errado com a formulação das políticas no Brasil", diz o texto, que classifica o resultado da oferta como "medíocre". Sem disputa, Petrobrás venceu leilão de Libra com Shell, Total e duas chinesas.

Com o título "Por que políticos brasileiros enalteceram o leilão com um lance", a análise de Leahy diz que o "entusiasmo do governo com o leilão que não foi um leilão pode ter sido, em parte, para esconder sua decepção". "Mas a explicação mais preocupante é que o governo está realmente satisfeito com o leilão que não conseguiu atrair concorrência. O governo pode estar aliviado com o resultado medíocre", diz o texto. A explicação de Leahy está na cláusula da operação que exige um mínimo de "óleo lucro" para o governo.

"Como isso (a falta de concorrência) aconteceu, o consórcio vencedor ofereceu o mínimo de 41,6%. Mas, se houvesse muita concorrência, o número poderia ter sido maior. Isso pode ter prejudicado a Petrobrás, cujas finanças estão tão ''tensas'' que não poderiam oferecer algo mais generoso para o governo", diz o texto. O artigo compara esse conflito visto no leilão de Libra - desejo do governo de concorrência versus falta de fôlego financeiro da Petrobrás - com outros fenômenos conflitantes da economia brasileira.

"De fato, tais resultados são cada vez mais comuns com o governo fazendo malabarismos com tantos objetivos conflitantes. Ele está tentando reduzir a inflação enquanto enfraquece a taxa de câmbio. Está aumentando o gasto público enquanto aumenta as taxas de juros. E, na indústria do petróleo, tenta aumentar a participação do Estado ao mesmo tempo em que tenta atrair o setor privado. Até o governo já não parece tão certo sobre o que realmente está tentando conseguir", diz o texto.

Elogios pagos

Samsung multada por forjar elogios na internet
A multinacional Samsung foi multada em 750 mil reais por forjar elogios em fóruns na internet. A multa foi aplicada após investigações realizadas pela Comissão de Comércio Justo de Taiwan que concluíram que a empresa pagou pessoas para que escrevessem comentários favoráveis sobre a marca. Pior é que se provou que pessoas também eram contratadas para escreverem comentários negativos da concorrência.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Dilma privatizou Libra, sim

Por Carlos Tautz

Nada mais falso no Brasil dos últimos dias do que a afirmação de Dilma de que ela não teria privatizado o campo de Libra, no pré-sal brasileiro. Não adianta enrolar, presidenta.  A senhora vendeu, sim, e por um preço vil, aquele que pode ser o primeiro de vários campos bilionários de petróleo. Pode incluir esse crime de lesa-prátria no seu currículo e preparar-se para ser cobrada por ele nas eleições de 2014. O seu PT tem como tática eleitoral o discurso da defesa do patrimônio público e sempre acusou (aliás, com razão) os tucanos de serem privatistas, sabendo que a desestatização, em sua maioria, gerou produtos e serviços caros e de péssima qualidade.

Além disso, presidenta, a senhora sabia que o modelo de partilha, aplicado à Libra, desde pelo menos 2007 já não garantia a remuneração justa para o Brasil do petróleo a ser explorado na camada pré-sal, devido à quantidade e à facilidade de encontrar óleo nesta faixa.

“Quando o pré-sal foi confirmado (uma teoria de décadas, que só pôde ser comprovada com o avanço da geofísica e dos novos modelos computacionais, nos anos de 2004, 2005, 2006 e 2007 na Petrobras), o modelo de partilha foi superado, já ali”, explicou ao jornal Correio da Cidadania, o professor titular da USP e ex-diretor da Petrobras Ildo Sauer.

“São 15 bilhões (de barris) em Libra; 9 bilhões em Lula (antigo Tupi); 4 bilhões em Iara; 10 bilhões no campo de Carioca; 9 bilhões no campo de Franco; 2 bilhões em Guará; cerca de 5 bilhões nas áreas das chamadas baleias”, listou Sauer, que também aconselhou: melhor seria o governo contratar a Petrobrás, como prevê a lei 12.351/2010, a Lei da Partilha, para avaliar a totalidade das reservas, antes de começar a vendê-las.

“Há, no entanto, muitos geólogos e especialistas acreditando que o Brasil tem no mínimo 100 bilhões de barris, podendo chegar a 300 bilhões, o que seria a maior reserva do mundo”, lembra Sauer.

Presidenta, há anos, desde quando ocupava o Ministério de Minas e Energia (MME), a senhora sabe até onde podem chegar as reservas brasileiras, que carecem de muito mais pesquisa e planejamento estratégico antes de serem alienadas.

Mesmo assim, resolveu montar a operação de guerra que a senhora montou para garantir o leilão. Isso para não falar que há poucas semanas a imprensa noticiou a espionagem estadunidense justamente sobre o MME e a Petrobrás...

Prepare-se, Dilma: em 2014, a senhora não poderá mais levantar, como fez na campanha de 2010, a bandeira da defesa do patrimônio público, porque a jogou fora na segunda-feira.

Carlos Tautz, jornalista, é coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.

Discurso de Dilma em Campo Maurão: a mulher tem problemas mentais sérios

Em discurso da presidente em Campo Mourão (PR), Dilma diz ter apreço pela fome de sua audiência e que criança gosta de dar problema de madrugada.

Dilma: "criança gosta de ter asma de madrugada, não em horário comercial"

Por Flávio Morgenstern

No site oficial do Planalto estão disponíveis os discursos da emérita presidente Dilma Rousseff. No final da tarde de sexta, a presidente esteve em Campo Mourão, no interior do Paraná, para entrega de máquinas para a  BR-158 e a BR-487.
Como não conseguimos entrevistar a presidente no empurra-empurra na saída, deixamos nossa tentativa de diálogo comentando o discurso abaixo.
Boa tarde. Eu gosto muito de aplausos, mas acho que vocês estão com a barriga vazia. Então, também eu tenho consideração e apreço pela fome de vocês todos.
Isso aí, Dilma. Admitir ter apreço pela fome dos outros é só para quem tem culhões de titânio. Coragem!
Queria dizer para vocês e iniciar cumprimentando aqui… Eu tenho muito prazer de estar aqui em Campo Mourão, portanto, eu queria cumprimentar, primeiro, todos os moradores e as moradoras aqui, de Campo Mourão.
A presidente sabe que está aqui, em Campo Mourão, e por isso vai cumprimentar quem está aqui, em Campo Mourão. Irrefutável.
E aí, eu tenho que iniciar cumprimentando aqui os nossos prefeitos, os prefeitos aqui e as prefeitas, porque eu vi muitas prefeitas, o que muito me orgulha ver que o Brasil crescentemente dá representação às mulheres. Porque é muito importante no nosso país que isso ocorra. Nós somos 50% da população, um pouquinho mais, não é, gente? E aí não tem… Eu vi aqui que teve, num primeiro momento, algum problema de dizer só as prefeitas? Não, as prefeitas, agora, os prefeitos não podem achar ruim, não, porque todo prefeito tem uma mãe, todo prefeito tem uma mãe e está todo mundo em casa.
Está todo mundo em casa. Cadê todo mundo?
Então queria primeiro dizer da importância que é o fato principalmente dos prefeitos e das prefeitas dos municípios de até 50 mil habitantes no Brasil, 50 mil habitantes. E nós sabemos que 90%, mais de 90% dos municípios têm até 50 mil habitantes no nosso país. Então, primeiro, eu cumprimento eles.
Fora existirem, qual é, afinal, a importância de haver prefeituras para cidades com menos de 50 mil habitantes? Não seria mais legal trocar, por, sei lá, um pesque-e-pague?
Depois eu queria cumprimentar, também, essa região, pela força aqui da agricultura.
Muito educado, senhora presidente! Nunca podemos ver um mapa-múndi sem cumprimentar cada país, então no nosso mapa devemos cumprimentar cada região sempre que ela aparece na nossa frente.
E fico muito feliz de estar aqui, também, discutindo tanto a infraestrutura, no que se refere a rodovias, quanto… porque armazenagem também é logística, armazenagem é uma questão estratégica para o nosso país.
Bravo, presidente! Será o anúncio extra-oficial da criação do Ministério dos Silos? Qualquer jogador de Command & Conquer sabe da importância deles.
Então eu queria aproveitar, cumprimentar vocês, iniciar cumprimentando o nosso governador do Paraná, o governador Beto Richa.
Mas quanta educação, sra. presidente! Não precisa de tanto, de verdade. Não precisa. Sério.
Cumprimentar o deputado, também do Paraná, o presidente em exercício da Câmara dos Deputados, André Vargas,
É sério, presidente, pode começar, já.
Queria cumprimentar os ministros: a ministra Gleisi Hoffmann, que é, de fato, falaram aqui que ela é minha mão direita. Ela é minha mão direita, minha mão esquerda, não é, Gleisi? É várias mãos.
Ô loco, sra. presidente.
Cumprimentar o nosso ministro dos Transportes, César Borges; cumprimentar o ministro também paranaense, o nosso querido Paulo Bernardo, das Comunicações; cumprimentar o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas.
Tá bom, presidente. Agora, sra. presidente, não pode fundir tanto ministro pra inaugurar trecho de obra de rodovia num ministério só? Sei lá, o ministério do Mão Na Massa. Dá até pra falar a sigla de boca fechada: MMNM. O que o seu, o meu, o “nosso querido” Paulo Bernardo tá fazendo aí em Campo Mourão, presidente, sendo ministro das Comunicações? Ainda mais sem comunicar nada, quietinho ali no fundo? Só por ser paranaense e marido da Gleisi?
Ô gente, pessoal dos Correios, outro dia eu fui pedir para não vaiarem uma governadora, e aí o jornal deu o seguinte: “Presidente Dilma é vaiada quando tenta não deixar vaiar uma governadora”. Então, estou pedindo aqui para vocês, vou tentar impedir que vocês não vaiem o Paulo Bernardo. Então, vocês não me vaiem não, heim? Sabem por que eu estou pedindo, gente? Eu sei que a vaia é uma manifestação, mas estou pedindo porque nós estamos aqui num momento de… Não, nós estamos num momento de confraternização. Eu entendo e acho legítimo o pleito de vocês. Nós vivemos numa democracia, todo mundo tem direito, no nosso país, de pleitear, reivindicar, debater, discutir, não estou tirando a razão de ninguém. Mas, um abraço para todos vocês.
Pô, presidente, pedindo com tanto carinho assim, não tem como resistir e não vaiar. Toma um abraço aí pra todos vocês do governo também, presidente.
Queria também cumprimentar a secretária de Comunicação Social, a ministra que é chefe da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas,
Presidente, é sério, já rolamos duas páginas pra baixo, pode parar de cumprimentar gente.
Dar um abraço à prefeita de Campo Mourão, Regina do Vale. E cumprimentar também seu marido, Laércio do Vale. Vale, não é?
Hahaha! Muito engraçado, sra. presidente. Vale, não é? Hahaha! Vale! Pegou? Haha.
Queria também cumprimentar a (…) Queria cumprimentar o (…) Cumprimentar o (…) Cumprimentar a todos os (…) Cumprimentar o (…) Cumprimentar os senhores e as senhoras (…)
Eu queria também dizer para a Regina que eu gostaria muito – viu, Regina? – de voltar aqui em algum momento e comer um carneiro no buraco. Nesse momento do dia, eu acho que todos nós sonhamos com um carneiro no buraco.
Então, Regina, eu não sei bem do que presidente está falando, mas acredite, a presidente achou errado quando falou do sonho de todos nós. Em uma rápida pesquisa de opinião entre meus cupinchas, descobri que há mais sonhos envolvendo a Olivia Wilde do que carneiros no buraco.
Eu queria iniciar dizendo para vocês o seguinte:
Presidente, poderia ter iniciado lá em cima, chuchu. Sério.
Um dos prefeitos, ou alguns dos prefeitos me disseram uma coisa que a mim toca muito, que é o fato que muitas vezes as pequenas prefeituras não têm a atenção que merecem ter.
Presidente, até entendo sua preocupação, mas você vai mesmo atender cada município com prefeitura? Tomar um cafézinho com cada um? Não é mais fácil mandar um cartão com felicitações gerais, assim, “oi, todos os prefeitos”, igual aquele clássico “oi, internautas”?
Por isso nós… eu quero começar explicando por que nós fizemos esse programa do kit. O kit motoniveladora, retroescavadeira e caminhão-caçamba.
Presidente, é sério, pode começar, a gente tá esperando desde o começo.
Tem município que tem mil quilômetros de estrada vicinal linear, tem município que tem 500 quilômetros. Isso significa que por ali, por essas estradas, elas são verdadeiras veias de alimentação do organismo econômico.
Mas que metáfora, presidente.
Por isso que o governo federal resolveu fazer isso através de doação. Nós estamos doando, passando, como se diz, com papel assinado, esses equipamentos, porque achamos que muitos, também me disseram aqui e em outros lugares do país, que os equipamentos estavam sucateados.
Mas que belo, Dilma! Então a senhora está DOANDO. Aposto que tirou tudo do seu próprio bolso e está aí, DOANDO seu rico dinheirinho para a população, não é? Certeza de que não aumentou imposto, não pegou nada de ninguém para dar para outrém. Adoro ver doação, presidente. Toca meu coração, muito melhor que esse modelo falido de cobrar imposto dos outros e dizer que está fazendo algo pelo social.
Na verdade, nós estamos fazendo um esforço para fornecer, para o Brasil inteiro – são 5.061 municípios, 5.061 municípios no Brasil inteiro, mais ou menos 90% de todos os municípios.
Imagine, presidente, a conta da senhora está muito humilde. 5.061 municípios de 5.061 municípios dá mesmo é 100% de todos os municípios (prova dos nove tirada).
E por que é que tinham que ser fábricas que produzem aqui no Brasil? Porque um programa desses, que é feito com recursos que nós cobramos dos contribuintes, nós temos que sempre olhar como é que devolvemos para o contribuinte a melhor e o melhor efeito e condição.
Mas, presidente, e aquele papo brother de “doação”? Era tudo “doação imposta”, assim? :(
A demanda é de vocês, agora, ganha também a cidade porque vai ganhar em melhoria do emprego e aumento da produção.
Presidente, não era mais fácil pra aumentar a produção não tungar tudo o que produzem em imposto? Assim, vocês param de tomar dinheiro do “contribuiente”, ele fica mais rico e a produção fica com ele. Não é uma idéia bem “social”?
Quero também lembrar a vocês uma outra questão relativa a todos os municípios, que é a questão do Mais Médicos. O Mais Médicos, eu sempre escuto os prefeitos. Por que é que eu escuto os prefeitos? Porque é lá que está a população do país, ninguém mora na União, ninguém mora… “Onde você mora?” “Ah, eu moro no Federal.” Não tem isso, você mora no município, porque mora na cidade. Então escuto os prefeitos porque lá está a fala da população.
Mas que ouvinte a senhora é, presidente! E olha que agora há pouco a senhora estava tão educada que até chegou a “cumprimentar a região”, agora está sabendo que as pessoas “moram no município, porque mora na cidade”. E olha que você está elogiando justamente a população rural, que mora no município sem morar na cidade!
E eu queria dizer que uma das maiores reclamações, reivindicações, análises que eu escutei dos prefeitos, era falta de médico, a falta de médico. De outro lado, os governadores também falam a mesma coisa, os senhores governadores também, de outro lado, o Ministério da Saúde também fala a mesma coisa. De outro lado, se você olhar as pesquisas, o que é que as pesquisas dizem? Ah, as pesquisas dizem o seguinte: o que é que a população quer? melhor saúde. E o que é que ela diz que é um problema para ela? “Eu quero que haja um atendimento médico para mim”, é isso que a pessoa responde. (…) Eu estou falando de pesquisas específicas de Saúde, não estou falando de pesquisa política. Específica de Saúde, contratadas por todos os órgãos que fazem análises sobre isso.
As pesquisas de saúde garantem que as pessoas querem melhor saúde. Irrefutável, presidente! Não sei por que perdemos tanto tempo discutindo positivismo, fenomenologia, pragmatismo ou estruturalismo com uma fonte de sabedoria tão pujante na nossa cara!
Então, nós criamos o Mais Médicos para: Como? Fazer o quê? Por quê? São as perguntas. Quando?
Só faltou “onde” e “quem”.
Mas, também, não olhamos com nenhum preconceito médico formado fora do Brasil. Ah, por que é que não olhamos? É porque nós, nós inventamos isso? Não.
Que susto, Dilma. Por um momento, quase acreditei que o Brasil tinha inventado o estrangeiro. Ainda bem que eu estava errado. Ainda mais depois de descobrir que tudo foi inventado em 2002.
Hoje eu quero aqui explicar que nós vamos distribuí-los de acordo com o seguinte: população. Por que população? Porque nós queremos que a maior quantidade de pessoas seja atendida, daí o critério população. Quanto mais população, mais carência de médico, é ou não é?
Éééééé, presidente!
Segundo critério: pobreza. Nós somos um país que tem que focar na questão da pobreza, sim. Por isso, o outro critério é pobreza, porque a pobreza, ela não está em um lugar só do Brasil. O Brasil é um país que não tem a pobreza… que você fala, “olha, ela se localiza ali”, “ela se localiza lá”. Não, ela é bastante espalhada, e é… ela é territorialmente localizada, se a gente considerar o percentual, mas todo estado da Federação tem seus núcleos mais pobres.
Nada mal para quem cumprimenta região e depois diz que não se mora na União, mas na cidade, presidente.
Nós sabemos o que é uma mãe, e criança geralmente gosta de ter asma de madrugada, ou bronquite ou qualquer coisa, não é no horário comercial, criança tem… dá problema é de madrugada.
Mas criança é mesmo uma peste, né, presidente?
Mas voltando à questão das pequenas prefeituras, dos municípios. Eu acredito que esse programa das retroescavadeiras é um programa de independência desses municípios.
Mas que mudança de tom, presidente! De uma criança pentelhando só porque tem esse prazer diabólico em ter asma, bronquite ou qualquer coisa fora do horário da novela pra uma retroescavadeira, que garantirá independência aos municípios!
Queria também falar que junto com essa estrutura, como o ministro Pepe disse, por onde passa um caminhão com a safra, passa, eu gostaria de falar do ônibus escolar, passa o ônibus escolar. Por que é que eu falo primeiro do ônibus escolar? Porque eu acho que esteja… seja, seja urbano ou rural, seja agricultura, indústria ou serviços, nosso país só será um grande país se nós formos capazes de mudar a qualidade da educação no nosso país.
Sabe o que mais passa onde passa caminhão, presidente? Isso mesmo: frango. Aliás, sabe por que a galinha atravessou a rodovia?
Agora nós temos dinheiro e é por isso que é passaporte para o futuro. (…) Por isso que é importantíssimo para os prefeitos, para nós, do governo federal, e para o governador, esse programa de royalties e Fundo Social do Petróleo. O petróleo um dia acaba. Se nós mudarmos a qualidade da educação do Brasil, os brasileiros e as brasileiras, os brasileirinhos e as brasileirinhas, pelas creches que nós estamos fazendo, e pelo fato de nós termos que dar muita importância para a professora que alfabetiza as crianças. Isso é o nosso futuro, e nós temos quee agarrar isso com as duas mãos.
Pede ajuda pra Gleisi, presidente!
Ninguém vai poder ficar fazendo aquela… porque tem hora que tem isso. O cara faz demagogia, o cara ou a cara. Faz demagogia, diz “ah, eu tenho que melhorar o salário”, agora, não diz de onde a gente tira o dinheiro. Desse jeito, não, nós sabemos de onde está saindo esse dinheiro. Esse dinheiro é carimbado. Esse dinheiro é para a nossa… nós gastarmos com isso, com educação. As crianças deste país, aos oito anos, elas têm que saber português, interpretar um texto simplinho, saber escrever um texto simples, ler um texto simples, têm que saber as quatro operações aritméticas elementares.
É verdade, tem muita gente no país precisando saber escrever um texto simples, presidente.
E eu quero dizer também para os prefeitos e as prefeitas aqui presentes que é muito importante um programa do governo federal chamado Pronatec, Pronatec. A parte – e eu estou me referindo aqui a duas partes: à parte que é o chamado Pronatec Bolsa Família, ou melhor, Pronatec Brasil sem Miséria, e à parte chamada Pronatec capacitação profissional.
Agora o texto ficou muito complicado, presidente. Repete.
 Esse beneficiário do Minha Casa, Minha Vida pega esse cartão, que é de cinco mil reais e tem direito, durante um ano, de comprar, com juro subsidiado e prestações que duram cinco anos, tem direito de comprar o quê? Fogão, geladeira, televisão de plasma, e para nós, mulheres, uma máquina de lavar automática. Não é tanquinho, é máquina de lavar automática. Tira a mulher do tanque. E eu estou de olho no tanque, viu, meninas?
Presidente, a sra. já ouviu a opinião da Lola Aronovich e do movimento feminista sobre essa última passagem?
Estou falando isso porque muitos de vocês… tem gente do Minha Casa, Minha Vida, então tem que ajudar a gente a divulgar o programa, avisar para a pessoa “olha, você tem direito a isso”. Se você não tem colchão, você pode comprar colchão. Ele não precisa comprar tudo, pode comprar o que ele quiser e tem um ano, pode comprar devagar, tem um ano para escolher.
Ah, é verdade. Eu não preciso comprar um colchão agora, posso esperar mais um pouco, presidente.
Finalmente, eu quero, antes de encerrar porque todo mundo está com fome, eu quero falar sobre esse programa… sobre três coisas. Primeiro, eu tentarei voltar aqui, lá em Maringá, para o Contorno Norte de Maringá, em novembro. Eu acho importantíssimo a gente fazer a Boiadeira. Darei o meu maior empenho, ficarei sempre disponível para que nós superemos todos os entraves que eventualmente possam ocorrer. E, terceiro, eu acredito que o Programa de Armazenagem é um dos programas mais importantes do meu governo.
Olha, presidente, também parece importante frisar o negócio sobre precisar saber operação aritmética. Por exemplo, depois do “primeiro” vem o “segundo”.
 Eu incomodo todo santo dia o Osmar. Cadê o Osmar? Todo santo dia eu incomodo o Osmar, e todo santo dia ele me incomoda também. Então nós nos incomodamos por um objetivo muito bom, não é, Osmar? Nós queremos gastar, nós queremos… porque tem gente que não quer. O governo federal quer, nós queremos gastar, todos os anos, R$ 5 bilhões.
Na real, presidente, eu quero que você gaste o quanto quiser, desde que não seja do meudinheiro, né? Esse negócio de gastar dinheiro dos outros é fácil, difícil é controlar o cartão de crédito que não é nosso.
É um dinheiro baratíssimo.
R$ 5 bilhões, presidente? Sua conta tá assim, já? Agora explica como é isso de “dinheiro caro” e “dinheiro barato”, se todos custam… dinheiro.
Um país que, esse ano, tudo indica, será o maior produtor de soja do mundo, por quê? Porque nós fizemos por onde, e os outros tiveram um certo azar climático.
Que modéstia, presidente.
Nós somos capazes, este país é um país de gente gigante, gigante não na sua estatura física, gigante no seu esforço, na sua capacidade de trabalho e na estatura moral.
Um beijo e um abraço a todos vocês.
Um beijo gigante pra minha mãe, pro meu pai e pra você também, presidente.