quarta-feira, 2 de março de 2022

Por que o método fônico é eficaz na alfabetização


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

No Brasil, até a década de 70, a alfabetização ocorria já no primeiro ano escolar e o método utilizado, basicamente, era a cartilha Caminho Suave, lastreada no método fônico. Com esse método os alunos dominavam a leitura, escrita e compreensão já no primeiro ano do ensino básico, antes da páscoa.

MÉTODO/PIAGET: TEORIAS  ABANDONADAS

Nesta época algumas universidades americanas passaram a debater sobre textos do suíço Jean Piaget, incentivadas por publicações de alguns dos seus seguidores e traduzidas para o inglês, como Lev Vygotsky (um advogado russo formado em Moscou em 1918 e que faliu dez anos depois) que decidiu estudar psicologia, influenciado pelas ideias de Piaget.

Nessa época muitas escolas americanas e europeias passaram a adotar as teorias global/construtivistas, corrente rapidamente abandonada com base numa mesma conclusão: a filosofia construtivista não continha um método claro e causava grande confusão entre pedagogos. Os resultados nas salas de aulas foram péssimos. Muita invencionice pedagógica e nenhuma ciência cognitiva da leitura e alfabetização. Somente alguns países continuaram aplicando as teorias piagetianas e, por coincidência, são os que tem os piores desempenhos na educação mundial: Brasil e México, por exemplo. Todos os países, líderes no PISA, utilizam o método fônico.

Desde 1990 o país adotou, oficialmente, as propostas construtivistas - temperadas ao sabor ideológico de Paulo Freire - e resultado foi péssimo.

Nos últimos 10 anos o Brasil avançou apenas 1,5 pontos no Ideb, saltando de 4,0 para 5,5 pontos nos anos iniciais do básico. Isto é, apenas 0,15 pontos, por ano. O método global de alfabetização não funciona.

Mesmo o Ideb indicando que o método global/construtivista não alfabetiza, secretarias da educação continuam repetindo o mesmo projeto pedagógico equivocado, esperando resultados diferentes. Dentro de critérios duvidosos desse projeto "político" pedagógico espera-se que a criança esteja "alfabética" até o terceiro ano quando qualquer criança brasileira, com método fônico, pode ser alfabetizada em muito menos de um ano, com autonomia completa na leitura fluente e automatizada, compreensão perfeita, escrita de textos e excelente caligrafia, nas várias formas de letras, inclusive a cursiva.


O QUE É ALFABETIZAR?

A consistência metodológica do sistema fônico tem lastro neurocientífico. O processo de alfabetização é ensinar o funcionamento do sistema de escrito alfabético (relação entre grafemas e fonemas) para se aprender a ler e compreender e, após, escrever, com auxílio das regras ortográficas.

- O processo da compreensão da leitura, entretanto, é um processo diferente. Uma criança que não se alfabetizou já é capaz de compreender da mesma forma que um adulto analfabeto que entende o que se fala ou se lê para ele - diz João Batista de Oliveira, do instituto Alfa e Beto.

"Alfabetizar é diferente de ler e compreender"

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Califórnia investe em políticas sociais e taxa de pobreza aumenta


O estado mais rico dos Estados Unidos e com programas sociais de alto investimento tem o maior número de desempregados, pobreza e indigência.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza   
Atualizado em 15 de fevereiro de 2022

O estado americano da Califórnia seria a 5º maior economia do mundo se fosse um país. É, ainda, o centro internacional de negócios e da inovação além do seu IDH altíssimo de 0,934, a Califórnia detém um PIB de US$ 3,018 trilhões (2018) e PIB per capita de US$ 58.619 mas, caminha para a falência. Por tudo isso, o atual governador, corre o risco de sofrer impechament, uma eleição onde o eleitor diz se ele deve continuar Gavin Newsom no comando.

A Califórnia é o mais populoso e rico estado norte americano. Tem 39 538 223 habitantes e é o maior centro industrial e líder na produção de produtos agropecuários, mais de 2/3 da produção de frutas, por exemplo, nos Estados Unidos. As grandes empresas do Vale do Silício povoam a Califórnia: Intel, Google, Apple, Facebook, Twitter, Netflix, LinkedIn,Oracle.

Foi anexado aos Estados Unidos na década de 1850, após a Guerra Mexicana. Das vinte maiores cidades americanas, quatro estão na Califórnia, inclusive Sacramento, sua capital. Apesar de cobrar os impostos mais caros do planeta, a Califórnia está abaixo da linha de equilíbrio e caminho para a insolvência. Onde está o problema?

"Apenas dar dinheiro só atrai mais carentes e não resolve" (discurso da população opositora da atual política social do governador Gavin Newsom)

Por décadas o estado é governado pelos Democratas e suas políticas sociais atraem votos progressistas. Enquanto os investimentos de bilhões de dólares socorrem os carentes o estado aumentou seu número de desempregados. E a pobreza. A carga tributária californiana é imensa, uma das mais caras do mundo. Mesmo assim a indigência se alastra e a fonte arrecadadora - taxas e impostos - começa a se esgotar com a saída de milhares de empresas do estado.

O número de  moradores de rua saltou mais de 50% nos últimos 7 anos. A pobreza atinge mais de 6.5 milhões de californianos. Somente em Los Angeles - 3.9 milhões de habitantes - são mais de 70 mil indigentes. Os empregos oferecidos pagam 15 dólares/hora, insuficientes para um aluguel simples que custa acima disso, por mês.

San Francisco, Los Angeles,San Diego, Sacramento e San José: cidades californianas.

Como explicar?

Governado pelos Democratas desde 2011, a Califórnia é servida por programas sociais que "objetivam reduzir as diferenças e desigualdades". Porém, quanto mais investiu dinheiro as diferenças e desigualdades aumentaram. Programas de renda mínima para pagar aluguéis ou dinheiro para imigrantes ilegais fazem parte da plataforma política do atual governador.

Newsom também aprovou a ideia de não punir ladrões de objetos - tipo celular - se o valor roubado não passar de 50 dólares. Com isso lojas são invadidas por grupos que assaltam, roubam e fogem sem a interferência dos proprietários. Se reagirem são formalmente acusados de descumprir a lei.

Ele está envolvido no escândalo dos bilhões de dólares pagos para uma agência de empregos, do estado. A taxa de pobreza dobrou, apesar de tanto investimento social. Enquanto isso dezenas de empresas e mais de 500 mil moradores saíram do estado, onde as cargas tributárias são altas, em direção ao Texas. Inclusive Elon Musk.

Partido Democrata legalizou o crime de furto na Califórnia.

Os prejuízos para os varejistas, por ano, somam US$ 45 bilhões. Deste valor, 33 bilhões de dólares são repassados aos contribuintes.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Ladrões entram numa loja de eletrônicos, em horário comercial, roubam vários celulares novos e saem andando, tranquilamente. Os funcionários e o proprietário assistem e não reagem. Na Califórnia isso não é considerado crime graças a "leis progressistas" aprovadas pelos Democratas californianos. O "shoplifting" - furto de mercadorias em lojas -  não é mais crime mas apenas um delito de monta menor. A lei reverteu em benefício para as gangues que partiram do furto para roubos, escancarados. Sob o silêncio e conivência do Estado. 

O furto caracteriza-se pela subtração de um objeto, de forma furtiva (furto de um celular, numa loja). Roubo é a apropriação de um celular, numa loja, com uso de ameaça ou violência. Se houver uso de armas, assalto.

Caso a soma dos produtos furtados atingirem monta menor que US$ 950 (hoje, R$ 4.935,00) os ladrões nada sofrerão mas, se os proprietários reagirem, estarão transgredindo as leis aprovadas por políticos americanos. Cenas de furtos, assim, são comuns na Califórnia, um estado rico onde a pobreza aumenta vertiginosamente junto com a violência.   

A Associação Nacional de Prevenção de Furtos em Lojas dos Estados Unidos informou que os prejuízos para os varejistas, por ano, somam US$ 45 bilhões. Deste valor pelo menos 33 bilhões de dólares são repassados aos contribuintes.

As leis estudadas durante anos e aprovadas no ano 2021, na Califórnia, objetivavam reduzir os custos com a população carcerária e a carga sobre o judiciário. Como era de se esperar, saques de lojas praticadas em grupos se espalharam por todo estado causando pavor e raiva entre a população cujo descontentamento igualmente explodiu. Funcionários das lojas são orientados a não reagirem. Era tudo que as gangues queriam. Diante da impotência, centenas de lojas encerraram suas atividades.

As maiores cidades californianas transformaram-se em abrigo para indigentes. A pobreza vem aumentando e o desemprego assusta ao estado mais rico dos Estados Unidos que mais investe em programas sociais. O californiano comum não se espanta com os péssimos resultados de tanto investimento: quanto mais dinheiro for distribuído nestes programas mais dependentes virão para a Califórnia.

Os crimes de homicídio quase dobraram em 2020 em Los Angeles, Sacramento, San José e São Francisco.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Os nós que emperram a educação: por que o Brasil não decola no Pisa?

Por João Batista Oliveira 


O primeiro nó reside no diagnóstico errado, que leva a prognósticos equivocados. A maioria dos educadores, estudiosos da educação e profissionais da mídia, no Brasil, compartilha de um diagnóstico que, a meu ver, parece incorreto a respeito das causas de nossos problemas.

Esse diagnóstico se resume pelo princípio da carência, ou seja, bastaria dar “mais” para resolver os problemas: mais dinheiro, mais vagas, mais escolas, mais professores, mais professores com títulos mais elevados, mais salários, mais horas de aula etc. Essa visão é consagrada em documentos como o PNE – o Plano Nacional de Educação. Diagnóstico errado leva a soluções erradas.

O segundo nó reside no centralismo – de um lado isso se reflete na busca de consensos, ainda que a qualquer custo. E, de outro, na crença de que tudo depende e virá do Ministério da Educação. Dois exemplos ilustram essa postura. No último ano, o Ministério da Educação claramente perdeu o seu protagonismo e concentrou o seu ativismo numa agenda diferente – a chamada “agenda cultural”. Em vez de avançar com suas agendas, estados e municípios permanecem paralisados, à espera de que o MEC volte a agir como sempre agiu, mesmo sem qualquer evidência de que as políticas patrocinadas pelo MEC tenham levado a resultados positivos no passado.

Outro exemplo é o da alfabetização das crianças, tema já tratado inúmeras vezes no âmbito do NCPe. Há mais de duas décadas as evidências têm nos mostrado o que funciona e como fazer. Há cerca de um ano o Ministério da Educação reconheceu essas evidências. Mas, apesar disso, estados, municípios e ONGs que sempre promovem grandes iniciativas em educação permanecem em silêncio, fingindo-se de mortos – como se ações burocráticas do MEC tivessem mais importância do que evidências científicas para começar a alfabetizar as crianças.

Um terceiro nó decorre dos anteriores, e parece residir na dificuldade de estabelecer iniciativas e reformas educativas eficazes. O Brasil tem um único caso de município com sucesso consistente que já atingiu um nível razoável de qualidade (Sobral), e um único caso de estado (Ceará) que promoveu importantes avanços no desempenho dos alunos das séries iniciais. A reforma de Sobral começou há mais de vinte anos, e o sucesso começou a aparecer há cerca de 10. Centenas de municípios já estiveram por lá, mas nenhum fez ou conseguiu algo parecido. O mesmo ocorre com o programa estadual do Ceará. E há sucessos de intervenções isoladas.

Psicólogo e Ph.D. em Educação pela Florida State University . Pós-doutorado e Visiting Scholar da Graduate School of Business, Stanford University. Professor universitário no Brasil (UFMG, COPPEAD/UFRJ) e na França (Université de Bourgogne, Dijon).

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Empresas de tecnologia ignoram a moral e ética em busca de lucros.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

A conclusão é de Mehran Sahami, professor de ciências da computação e engenharia, na Universidade de Stanford, Califórnia, um dos autores do livro "Erro de Sistema: onde a Big Tech errou e como podemos reinicializar". Sahami alerta que o livro é um ato de intensa preocupação e foi escrito para causar impacto sobre um tema que deve ser discutido além do ambiente acadêmico.

- As grandes corporações de tecnologia estão tomando decisões que levam em conta apenas seus interesses financeiros ignorando os resultados negativos na sociedade - diz Sahami, em entrevista ao site NeoFeed.

Para ele as fusões do Facebook com Instagram, por exemplo, deveriam ser sumariamente impedidas. Considerando que a base da preocupação dessas empresas é o lucro e para alcançar seus objetivos "ultrapassam barreiras e causam impacto negativo na sociedade", fusões eliminam concorrentes.

- No final das contas, eu acho que as big tech precisam fazer muito mais para entender como seus produtos e serviços impactam a sociedade e depois agir de forma incisiva para minimizar os efeitos colaterais, mesmo que isso signifique diminuir a lucratividade. Mas as empresas não estão predispostas a fazer isso. A solução que oferecemos no livro é a regulamentação com regras claras, porque senão a motivação financeira vai puxar o volante para o outro lado.

De forma simplista as empresas de tecnologia respondem que, se o usuário não está gostando, que delete sua conta. Analogicamente Sahami explica que os fabricantes de carros inseguros poderiam dizer a mesma coisa: se acha inseguro, não ande em nossos carros. Mas, na época, centenas de pessoas morreram por conta da ausência de regulamentação no setor. Então foram criados semáforos e os códigos de mão e contra mão, sinalizações, etc.

- Precisamos fazer o mesmo na tecnologia, diz Sahami.

"Me preocupo profundamente com o fato de que, quanto mais criamos uma distração para passar tempo no metaverso, menos nos preocupamos com os problemas no mundo real."

Como resolver?

Ele sugere que todas as plataformas sociais, por exemplo, deveriam dar portabilidade permitindo que o usuário utilizasse de várias redes, com o mesmo APIs. Ele sugere a criação de uma política federal de privacidade, como na Europa que tem servido de modelo.

Por enquanto a democracia parece estar nas mãos de algumas plataformas que se acham no direito de decidir o que é certo ou errado baseando-se na amarração elaborada por alguns censores. Sem deliberação.

Sahami aconselha que as pessoas tem que ser mais céticas quando buscam no Google e o que encontram nem sempre é a verdade.

Questionado se o ideal não seria um padrão global, ele explica que isso seria impossível considerando regulamentações e culturas diferentes em cada país. Se nos Estados Unidos há mais tolerância para a liberdade de expressão na Alemanha será condenado quem promover o nazismo.

Fonte: Entrevista de Sahami ao Neofeed abordando o livro “System Error: Where Big Tech Went Wrong and How We Can Reboot” de autoria de Mehran Sahami, Rob Reich e Jeremy Weisntein.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Noruega: vacinar crianças contra covid, só com solicitação dos pais

Pandemia: protocolos sem muito rigor e menos mortos. Vacinar crianças só se os pais pedirem.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza
Atualizado em 04/02/22

Segundo a página no site do Instituto Norueguês de Saúde Pública, a vacina contra Covid-19 será oferecida a crianças de 5 a 11 anos, se houver solicitação dos pais ou responsáveis. Esta vacinação é fornecida de forma voluntária, e não há recomendação geral para vacinar todas as crianças nessa faixa etária.

"As crianças raramente adoecem seriamente, e o conhecimento ainda é limitado sobre efeitos colaterais raros ou efeitos colaterais que podem surgir em um momento distante. Há pouco benefício individual para a maioria das crianças, e o Instituto Norueguês de Saúde Pública não recomendou que todas as crianças de 5 a 11 anos sejam vacinadas. No entanto, concordou que todos os pais e responsáveis podem receber uma vacina para seus filhos. Isso será mais relevante para apenas alguns grupos de crianças", diz o ministro dos Serviços de Saúde e Cuidados, Ingvild Kjerkol.

"Estamos seguindo a recomendação do Instituto Norueguês de Saúde Pública, e as crianças receberão vacinação gratuita se seus pais ou responsáveis solicitarem isso", afirma Kjerkol.

As vacinas são voluntárias e são os pais que devem decidir se querem vacinar seus filhos. O Instituto de Saúde Pública do país pede que os municípios tenham máxima cautela quanto à organização da vacinação nas escolas.

Avaliação e recomendação

Como é senso comum em todo mundo, crianças e adolescentes correm um risco muito baixo de adoecer seriamente com o COVID-19 e, quando contaminadas, seu sistema imunológico é altamente resistente para eliminar ou enfraquecer o vírus. Nesta fase a criança não retransmite para outras crianças ou adultos. A doença raramente resulta em crianças internadas, e o período médio de internação, quando ocorre, é de um dia.

O Instituto Norueguês de Saúde Pública acredita que a eficácia da vacina contra a doença sintomática da variante Omicron é consideravelmente reduzida comparando-se com variantes anteriores. Afirma que ela continua eficaz na prevenção de doenças graves. O informe diz que há limitado conhecimento sobre os efeitos colaterais para a faixa etária de 5 a 11 anos, que exige que seja exercida cautela em termos de escolha da vacinação.

Diz a nota que "por isso, o Instituto Norueguês de Saúde Pública não quer fazer uma recomendação geral para vacinar todas as crianças, mas acredita que tanto a primeira quanto a segunda doses para crianças e adolescentes podem reduzir o risco de doença entre algumas crianças."

O link, a seguir, aponta para a nota, em norueguês: Covid-19: Svar på oppdrag fra Helse- og omsorgsdepartementet - FHI

MENOS MORTOS, SEM LOCKDOWN

Contenção da pandemia sem lockdown
Durante o pico da pandemia, em 2020, a Noruega - com 5.4 milhões de habitantes - não adotou medidas restritivas e o número de mortos foi o menor entre todos os países europeus que adotaram o lockdown. 

Finlândia, Suécia e Dinamarca também não praticaram protocolos rígidos e controlaram a pandemia mantendo a média diária de mortos de menos um por milhão.

Estes países, como a Suécia também, foram "duramente criticados pela imprensa" que tenta minimizar os bons resultados. A estratégia da Noruega e seus vizinhos foi usar testes, rastreamento de contatos e isolamento residencial para manter o nível de infecções baixo, sem restrições rigorosas – concluiu o relatório que apontou aquelas ações ideais para o mundo.

Mas, como explicar que a taxa de mortalidade da Dinamarca, Finlândia e Noruega foram menores ainda que a Suécia, 7,7%? A Dinamarca (1,5%) e a Finlândia (1,0%), na verdade, adotaram políticas muito menos restritivas que as suecas. A Noruega registrou 0% de mortalidade em excesso.

domingo, 30 de janeiro de 2022

Analfabetismo no século 21


“Alfabetizar” refere-se à capacidade de usar o código alfabético para ler e escrever"

João Batista Araújo e Oliveira

O Estado de S.Paulo

Nos 200 anos da Independência do Brasil ainda seremos um país com quase 12 milhões de analfabetos com carteirinha expedida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – algo em torno de 7,2% da população com 15 anos ou mais. Em mais duas décadas esse número vai sofrer uma redução significativa, porque a maioria dos integrantes desse grupo se encontra entre a população mais idosa. Mas o buraco é mais embaixo.

O conceito de analfabeto vem da década de 1950: o IBGE pergunta se a pessoa sabe ler e escrever o nome. No século 21, isso ajuda pouco. Esta é uma excelente oportunidade para refletirmos sobre o problema da alfabetização.

No Brasil, o termo e o tema da alfabetização provocam batalhas ideológicas campais, mas pouca ação efetiva. Neste artigo, trato de três aspectos do tema: o sentido original do termo “alfabetizar”, o fenômeno brasileiro do analfabetismo escolar e as consequências de ser alfabetizado. Usaremos os dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) como pano de fundo.

“Alfabetizar” refere-se à capacidade de usar o código alfabético para ler e escrever. Essa é uma habilidade que, na maioria dos países e línguas, se ensina e se aprende no primeiro ano da escola formal. No Brasil, isso não é entendido nem reconhecido pelas autoridades educacionais. O resultado é desastroso.

Num teste aplicado recentemente a alunos dos três primeiros anos de um município com cerca de 150 mil habitantes e nota média na Prova Brasil, apenas 22%, 56% e 78% dos alunos foram capazes de fazer um ditado e escrever frases simples ao final do primeiro, do segundo e do terceiro anos, respectivamente. Não houve consistência alguma nos resultados dentro das escolas ou entre escolas, o que mostra as consequências de deixar a responsabilidade pelo assunto a critério de cada secretaria, escola ou professor.

A depender da nova a Base Nacional Curricular Comum, isso só vai piorar.

Alfabetização funcional é um segundo conceito importante. Mas seu significado varia em cada contexto. Um aluno pode ser considerado “analfabeto funcional” se não for capaz de copiar rápida e corretamente um texto do quadro ao iniciar o segundo ano escolar. Um cidadão comum é considerado analfabeto funcional se não entender o que lê na coluna de pequenos anúncios de um jornal. Por este último critério, quase 70% dos brasileiros com mais de 15 anos são analfabetos funcionais e os menores de 15 anos são analfabetos escolarizados – um neologismo genuinamente nacional.
O terceiro conceito é fornecido pelo Pisa, que distingue oito níveis de compreensão de leitura. Os quatro primeiros níveis do Pisa (1, 1A, 1B, 2) significam que o aluno não é capaz de fazer sentido elementar a partir do que lê. No melhor caso, foi apenas alfabetizado. Em média, 20% dos alunos dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) encontram-se nesse nível ou abaixo dele. O índice do Brasil em 2015 era de 58%. Ou seja, esses brasileiros – e milhões de outros que concluem o ensino médio a cada ano – serão analfabetos funcionais pelo resto de sua vida.

É pouco provável que uma sociedade que não consegue alfabetizar adequadamente os alunos dentro da escola, ao longo de mais de dez anos de vida escolar, seja capaz de fazê-lo em programas emergenciais ou arranjos com alto teor de demagogia. A outra ponta dos dados do Pisa revela que apenas 8% dos brasileiros escolarizados se encontram no nível 4 ou acima, quer dizer, têm condições básicas para compreender o que leem e exercitar algum grau de raciocínio crítico.

Nos últimos dias que precederam a aprovação da Base Nacional Curricular Comum, um grupo de pesquisadores brasileiros especialistas no tema dirigiu um apelo ao Ministério da Educação (MEC) e ao Conselho Nacional de Educação (CNE) para que revissem pelo menos os capítulos referentes à alfabetização. O MEC enviou-lhes obliquamente uma nota redigida pelos consultores responsáveis na qual se limitam a repetir a litania que o País vem ouvindo sobre o tema há mais de 30 anos. O CNE, que também se negou a ouvir o grupo, enviou, por intermédio de seus membros uma nota dizendo que “será preciso definir exatamente o sentido do conceito de sistema de escrita alfabética (...) e que (...) isso deverá ser feito nos diferentes sistemas de ensino e mesmo nas escolas (...)”.

Esse é o Brasil. Independentemente da definição de alfabetização adotada, são poucos os cidadãos preparados para ler, entender o sentido do que leem e, a partir daí, exercitar o espírito crítico.

José Morais, um dos mais notáveis especialistas no tema, observa que o termo “literacia”, usado em Portugal, designa um conceito duplo: a capacidade de leitura e escrita, mas também o que essa capacidade produz. Nessa acepção, a expressão “mente letrada” refere-se ao conjunto das capacidades mentais influenciadas pelas atividades de leitura e escrita. Por exemplo, a fala do letrado, seu raciocínio crítico e argumentativo e até sua criatividade são muito superiores aos da mente iletrada e têm um poder de ação e transformação da realidade muito maior. Ser alfabetizado é condição necessária, mas não suficiente para ser letrado. Alfabetização é a porta de entrada para o mundo letrado.

A escrita foi inventada há pouco mais de 4 mil anos e o seu domínio traz grandes benefícios. A grande maioria dos brasileiros é e continuará a ser privada dos benefícios dessa grande invenção em razão da incapacidade de nossos governantes de arbitrar entre ciência e ideologia, entre o que as evidências científicas dizem a respeito de alfabetização (e sobre como alfabetizar) e os decibéis dos ruídos daqueles que se fazem ouvir em Brasília. As pessoas, os grupos e as ONGs que ficam indignados com os números do IBGE são incapazes de se manifestar e se mobilizar diante do genocídio mental que representa o analfabetismo escolar.

sábado, 29 de janeiro de 2022

Poesia erótica para crianças do Ensino Básico

Ciuminho básico
(Ana Elisa Ribeiro)


escuta
calado
a proposta rude
deste meu
ciúme:
vou cercar tua boca
com arame farpado
pôr cerca elétrica
ao redor dos braços
na envergadura
pra bloquear o abraço
vou serrar teus sorrisos
deixar apenas os sisos
esculhambar com teus olhos
furá-los com farpas
queimar os cabelos
no pau acendo uma tocha
que se apague apenas
ao sinal da minha xota
finco no cu uma placa
"não há vagas, vagabundas"
na bunda ponho uma cerca
proíbo os arrepios
exceto os de medo
e marco no lombo, a brasa,
a impressão única do meu dedo

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

O poema acima, de Ana Eliza Ribeiro, foi apresentado aos alunos do 5º ano do Ensino Básico da Escola Jaime Avelar Lima, no Bairro Bom Destino, em Santa Luzia, cidade localizada na região metropolitana de Belo Horizonte e causou furor entre alunos e seus pais. Crianças de 10 anos leram e participaram de atividades baseadas nesse poema. Uma cópia foi anexada aos cadernos dos alunos. O trabalho escolar faz parte de um concurso que contou com a presença da autora do texto durante a leitura dos alunos. O fato ocorreu por volta de 2015.

Pais queixaram-se e a prefeitura prometeu uma sindicância.

Mas o próprio Ministério da Educação publica livros e cartilhas considerados apologia ao homossexualismo. Numa das cartilhas sugere à criança optar sexualmente por homem e mulher, ao mesmo tempo, considerando que isso evitará que o garoto fique sozinho "se, no final de semana não achar uma namorada ele pode ficar com outro menino".

Esse tipo de material vinha sendo distribuído para as escolas da rede pública e contendo aulas de como as meninas devem se masturbar e "como se fica, as melhores ficadas, com quem e como". Há um espaço para as menores anotarem "suas melhores ficadas e como foram". Numa das cartilhas conta-se a história do "Fazendeiro Solitário" com um pênis enorme e as galinhas com as cloacas gigantes, sugerindo zoofilia.


Livros contendo orientação homossexual eram a preferência entre "educadores" do MEC. Alguns títulos, como o Rei & o Rei, um conto que narra a busca de um príncipe por outro príncipe e se casam e são felizes para sempre. Essa leitura era destinada a crianças de 2 e 3 anos de idade. "Menino ama menino" é outra título para crianças do fundamental como "Menino brinca de boneca?".

Para Lilia Rossi, então na alta cúpula do Ministério da Saúde, "uma educação diferenciada pode fazer desabrochar em todo menino seu lado feminino e em toda menina seu lado masculino".

O foco também estava perdido na área da saúde. Ao invés da prevenção as drogas, o SUS, Sistema Único de Saúde, elaborou uma cartilha destinada as crianças em idade escolar do fundamental onde orienta que "após fumar o crack deve-se passar um protetor labial para evitar o ressecamento".

As cartilhas contém informações e advertências as crianças: "Se você consumir cocaína, não use canudo de papel pois eles contém bactérias, use canudinhos de plástico" - diz o manual do Ministério da Saúde e distribuído pelo Ministério da Educação. Para muitos educadores, o Estado capitulou diante do avanço das drogas e prefere advertir para os perigos de ressecamento dos lábios do que para o vício.

Sobre o consumo de ecstasy, o Ministério da Saúde na época advertia as crianças prestarem atenção se não estão comprando "gato por lebre", isto é, verificar se o "fornecedor" - o traficante - é sério e vende produto de boa qualidade.

Os responsáveis por esse nível de "educação sexual" não são os professores de uma pequena escola de interior, mas os gestores do MEC naquele período.


Escola de periferia, sem estrutura e sem direção. Poemas eróticos
para crianças que mal sabem ler e escrever.

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Os assassinatos que assombram Lula


Depois do crime brutal de Celso ocorreram mais 7 assassinatos, todos ligados ao caso e denúncias de corrupção e chantagem que envolveram Lula e o PT.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Poucos dias depois do assassinato brutal do ex-prefeito petista Celso Daniel, 50 anos, morto em 18 de janeiro de 2002, em Juquitiba, São Paulo, o Partido dos Trabalhadores emitiu nota aceitando a morte como crime comum. Tão rápido quando a aceitação- apesar do sequestro, tortura e o assassinato com 11 tiros - foi a suspeição levantada do envolvimento de políticos graúdos nesse crime, com interesses inconfessáveis.

Em 2002 Celso Daniel era o responsável financeiro da campanha de Lula para presidente e teria descoberto um desvio do dinheiro arrecadado de propinas pagas ao Partido dos Trabalhadores por empresários de ônibus e outras empresas. Santo André é vizinha de São Bernardo, famosa pela sua planta industrial automobilística e base de Lula. Para o Ministério Público, Celso foi vítima de um crime por encomenda. Ele tinha conhecimento do esquema destinado a desviar recursos para sustentar a campanha petista.

Os misteriosos assassinatos nunca explicados

Depois do crime brutal - Celso foi sequestrado quando saia de um restaurante na zona sul de São Paulo - ocorreram mais 7 assassinatos, todos ligados ao caso, denúncias de corrupção e chantagem que envolveram Lula e seu partido, o PT.

Estranhamente o garçom Antônio Palácio de Oliveira foi assinado em fevereiro de 2003. Ele trabalhava no Restaurante Rubaiyat e serviu Celso Daniel na noite que ele foi sequestrado, em 2002. O corpo do garçom foi encontrado portando documentos falsos, com outro nome e sua família alertou que ele recebera R$ 60 mil de algum desconhecido conforme sua conta bancária. Amigos de trabalho de Antônio afirmaram que ele teria sido orientado a se calar sobre conversas que teria ouvido no dia que servira o ex-prefeito e quando intimado para depor afirmou que tanto Sombra como Celso estavam tranquilos no restaurante e que nada ouvira. Sombra e o Secretário da Administração de Santo André e vereador, André Klinger Luiz de Oliveira Souza, foram flagrados numa conversa, gravada pela Polícia Federal, uma semana após a morte de Celso Daniel:

- “Você se lembra do garçom que te serviu lá no dia do jantar? É o que sempre te servia ou era um cara diferente?”, indagou Klinger. “Era o cara de costume”, disse Sombra.

Outro fato estranho ocorreu com a única testemunha do assassinato do garçom, Paulo Henrique Brito: ele também foi assassinado, com um tiro pelas costas, vinte dias depois de ter assistido o crime de Antônio Palácio de Oliveira.

As mortes continuaram em 2003 quando o agente funerário Iran Moraes Rédua - a primeira pessoa que reconheceu o corpo de Celso, na estrada e chamou a polícia - também foi assassinado a tiros enquanto trabalhava.

Dois dias depois de ter dito que tinha informações sobre a morte de Celso Daniel, Dionízio Severo foi assassinado em frente do seu advogado, dentro da cadeia, em 2002. Ele era apontado pelo Ministério Público como elo de ligação entre Sombra e a quadrilha que executou o prefeito de Santo André. Curioso é que Dionízio tinha sido resgatado da prisão dois dias antes da morte de Celso e recapturado depois.

Sérgio Orelha foi assassinado, também em 2002, e tinha fortes ligações com o caso. Foi ele que abrigou Dionízio, após fuga da prisão. Sabia demais sobre o caso. Airton Feitosa, um detento, disse que Dionízio Severo tinha conhecimento que "um amigo do prefeito" estava montando uma armadilha.

Otávio Mercier, um investigador do Denarc, foi morto em seu apartamento invadido por vários homens com quem trocou tiros. Otávio tinha ligado para Dionízio na véspera do sequestro de Celso Daniel.

Outra morte misteriosa foi a do legista Carlos Delmonte Printes, em 12 de outubro de 2005. Carlos afirmou que Celso Daniel tinha sido torturado antes de ser assassinado com 11 tiros.Algum tempo depois de uma entrevista no programa Jô Soares, ele apareceu morto. O caso foi dado com suicídio mas nada foi encontrado em seu corpo que justificasse isso.

Em 2010, Eliana Vendramini, promotora pública que investigou e denunciou o assassinato de Celso Daniel, sofreu um acidente de carro em São Paulo. Seu carro, blindado, capotou três vezes após ter sido abalroada por outro carro, repetidas vezes. O carro que provocou o acidente, fugiu. Ela sofreu escoriações.

Os condenados

Seis acusados pela morte de Celso, pertencentes a uma quadrilha comandada por Monstro, foram condenados: Itamar Messias da Silva Santos, Ivan Rodrigues da Silva, José Edison da Silva, Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, Elcyd Oliveira Brito e Marcos Roberto Bispo dos Santos.


Corpo de Celso Daniel, Juquitiba

O acusado de ter encomendado o crime, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, de 59 anos, morreu em consequência de um câncer no estômago que se espalhou para o fígado e intestinos. Sombra era guarda costas de Celso e dirigia o carro na hora que foi abordado pela "quadrilha de assaltantes". O ex-prefeito foi levado mas, estranhamente nada aconteceu com Sombra que chegou a ser preso durante as investigações, foi pronunciado em 2010 para ser levado a júri popular em Itapecerica da Serra mas seu processo foi remetido para Brasília. O STF anulou parte da instrução processual e a ação voltou ao início.

Algozes velando o companheiro?

Sombra chegou a ser sócio de Ronan Maria Pinto, dono do jornal Diário do Grande ABC e empresário na área  de transporte público. Ronan foi preso na 27º fase da Operação Lava Jato sob suspeita de ter recebido mais de 6 milhões de reais , em 2004, pagos pelo PT para acabar com uma chantagem que envolveria Lula, Gilberto Carvalho e José Dirceu ao crime contra Celso Daniel.

Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes foram condenados, em outro processo, a 10 anos e 4 meses e 15 anos e 6 meses, respectivamente, acusados de participar de esquema de achaque e corrupção contra empresários da região. Ronan recorre em liberdade. Klinger Luiz de Oliveira, então secretário de Serviços na administração de Celso Daniel também foi condenada a mais de 15 anos de prisão.

A família tem esperança

Bruno Daniel, irmão de Celso, afirmou que a família não aceita a tese de crime comum para o caso, tese rapidamente abraçada pelo PT. Bruno conta que no dia da missa de sétimo dia ouviu de Gilberto Carvalho que levava dinheiro do esquema montado na Prefeitura de Santo André para a direção do Partido dos Trabalhadores. Tanto Carvalho como José Dirceu negam. Bruno exilou-se na França onde recebeu a condição de refugiado e Francisco, outro irmão, vivo escondido, fora de São Paulo.

O advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, na época deputado federal pelo PT, afirmou que acompanhou a necropsia do corpo e assegurou que Celso não tinha sido torturado. O legista Carlos Delmonte Printes, porém, disse o contrário, desmentindo abertamente a declaração de Greenhalgh. A tortura, negada pelo PT, é indício que os sequestradores do ex-prefeito não queriam resgate (que nunca foi pedido) mas saber algum grande segredo. E este segredo Ronan Maria Pinto sabe. O legista, em 2005, apareceu morto em seu escritório e a perícia apontou que não havia sinais de violência mas descartou morte natural.

Após a deflagração da Operação Carbono 14, da Lava Jato, no começo deste ano, os familiares do prefeito assassinado tem esperança que "esta nova fase possa lançar luz sobre o que aconteceu naquela época é que é necessário esclarecer por que razão a direção do PT teria remetido, através de esquemas ilícitos, cerca de R$ 6 milhões ao empresário Ronan Maria Pinto, dinheiro com qual ele teria adquirido o jornal do Grande ABC mediante chantagem ao Lula, ao José Dirceu e ao Gilberto Carvalho", segundo disse Bruno em nota do Estado de São Paulo.

O pagamento da chantagem

O dinheiro foi entregue a Ronan pelo pecuarista José Carlos Bunlai, conforme delação premiada a Sérgio Moro. Antes que Bunlai se prestasse a esse serviço, Marcos Valério confirmou que foi procurado por Silvio Pereira, financeiro do PT, para pagar Ronan mas negou-se a falar do assunto com medo de morrer dizendo aos promotores da Lava Jato "que é algo muito grave, muito grave mesmo".

A Operação Lava Jato investiga dinheiro repassado pelo pecuarista José Carlos Bunlai, amigo intimo de Lula, para Ronan Maria Pinto que estaria chantageando o ex-presidente sobre o caso Celso Daniel. Bunlai tomou empréstimo de R$ 12 milhões, no Banco Schahin, cuja operação começou com o Frigorífico Bertin. Segundo Bunlai disse a Polícia Federal, parte do dinheiro foi enviado para Ronan e parte para pagar dívidas da campanha de 2002 e 2004. A PF quer saber por que Ronan recebeu este dinheiro? Em entrevista ao Estadão, Bruno Daniel disse:

"À época da missa de sétimo dia do Celso, meu irmão e eu fomos procurados pelo Gilberto Carvalho, que disse que havia um esquema para arrecadação de recursos para campanhas eleitorais do PT e aliados e que ele próprio (Carvalho) havia levado ao José Dirceu, então presidente do Partido dos Trabalhadores a quantia de R$ 12 milhões no seu 'corsinha' preto", relatou. "Nos perguntamos por que razão ele teria dito isso. A hipótese que a gente trabalha é que isso nos desestimularia a prosseguir nas investigações porque isso poderia representar uma mancha na história do Celso."

A morte de Sombra, de câncer, parece trazer paz para o assombrado Luís Inácio da Silva. Só que não. Entre tantas vítimas da corrupção desenfreada praticada, está um cadáver insepulto que reclama justiça.

LEITURAS RELACIONADAS:

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

O teorema de Thomas Bayes: um raciocínio matemático para situações altamente incertas.

A técnica de estatística e estimativa criada por Bayes tornou-se uma lei fundamental da matemática e é aplicada em todas as áreas do conhecimento.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Foi o matemático inglês Thomas Bayes que criou o teorema que estuda as probabilidades e estatísticas utilizando os conhecimentos a priori e posteriori, de um evento. As conclusões, por esse teorema, podem ser alterados ao acréscimo de novos fatos/evidências e concluir, por exemplo, que o universo tem 13 bilhões de anos e não 15 como se supunha antes da virada do século. Ou colaborar para a descoberta de novos corpos celestes.


Numa disputa de moedas (cara ou coroa) concorda-se que as chances sejam de 50% entre dois participantes. Se for combinado se jogar 10 vezes a previsão, pelo método bayesiano, vai se ajustar a cada lance, aumentando ou reduzindo as probabilidades de cara ou coroa.

Foi com o Teorema de Bayes que Alan Turing - precursor da computação moderna - decifrou o código Enigma, utilizado por submarinos alemães, na 2ª Guerra Mundial, facilitando a vitória dos aliados.

A técnica de estatística e estimativa criada por Bayes tornou-se uma lei fundamental da matemática e é aplicada em todas as áreas do conhecimento. Ela está na inteligência artificial, largamente utilizada na programação de computadores, estudos da neurociência, probabilidades estatísticas da ocorrência de eventos como determinar o avanço de uma epidemia ou mudanças climáticas, genética, astronomia e computação.

Teorema de Bayes numa corrida de F1 

Um piloto de F1 tem 50% de chances de vencer, sob chuva mas suas chances caem para 25%, se não chover. A meteorologia estima em 30% a probabilidade de chuva na corrida. Sabendo-se que o piloto venceu qual é a probabilidade de ter chovido?

Quem foi Thomas Bayes?

Bayes (pronuncia-se beiz) nasceu em Londres em 1702 e morreu em 1761. Estudou na Universidade de Edimburgo onde ingressou em 1719 para estudar Lógica e Teologia. Thomas era filho de um pastor presbiteriano e foi membro da Royal Society em 1742. Tornou-se pastor e matemático.

Bayes estudou e criou a equação dos cálculos da distribuição para criar parâmetros de probabilidades mas, não se preocupou em desenvolve-lo e publica-lo. Isso foi feito por um amigo, Richard Price, que desenvolveu seus estudos em 1767 e, mais tarde, pelo matemático francês Pierre-Simon Laplace e divulgado em 1812.

O teorema surgiu para provar que milagres existem

O filósofo iluminista e diplomata escocês David Hume (autor de Investigação sobre o Conhecimento Humano) duvidou, certa vez, da existência dos milagres, invocando que eles agrediam as leis da natureza. Para o filósofo a ressurreição chocava as leis naturais, obra de Deus e colocava em dúvida os testemunhos e as probabilidades desses eventos. Se na natureza não há contradição, Deus estaria negando sua própria criação? 

"O milagre é uma violência contra as leis da natureza" (David Hume)

Para contrariar a posição de Hume, Bayes criou um teorema de probabilidades utilizando uma equação matemática para eventos incertos ou incompletos que, ao serem acrescentados, altera, até de forma radical, uma conclusão anterior.

A mesa, as bolas e os milagres

Bayes está de costas para uma mesa. Hume lança, sobre ela, uma bola e pergunta onde ela está.
 
- Jogue outra bola - pede Bayes. Hume joga a segunda bola.
- Ela caiu a direita ou a esquerda da primeira bola?, pergunta Bayes considerando que as próximas bolas lançadas poderão lhe dar uma posição mais exata da primeira. Cada evento atualiza a ideia inicial.

Para Thomas Bayes, o filósofo David Hume não poderia desconsiderar, então, os milagres registrados na Bíblia e a ressurreição de Cristo tão evidenciados nos vários testemunhos do evento.

Bayesianos X Frequentistas 

No entendimento das probabilidades a abordagem estatística pode se diferenciar entre bayesianos e frequentistas. 

"A probabilidade está fundamentalmente relacionada a nossa incerteza dos eventos" (Conceito bayesiano)

"A probabilidade está fundamentalmente relacionada com a frequência dos eventos repetidos (Conceito Frequentista)

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Suécia: um dos países mais igualitários da Europa também lidera o ranking da violência contra mulheres

O governo sueco envergonha-se do contraste de país mais avançado da UE na luta pela igualdade... ser um dos mais violentos contra a mulher.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Pela classificação do Foro Econômico Mundial a Suécia é o quinto país do planeta em políticas públicas contra a desigualdade, perdendo apenas para Islândia, Finlândia, Noruega e Nova Zelândia.

A Namíbia, Ruanda, Lituânia, Irlanda e Suíça completam a lista dos dez países mais igualitários. O Brasil classifica-se em 93º lugar. O relatório é de 2021 e considera levantamentos que analisam a igualdade entre mulheres e homens na educação, saúde, política e trabalho, em mais de 150 países.

Na educação e saúde a paridade é praticamente total mas, no mercado de trabalho, existe defasagem atribuída  a baixa ocupação das mulheres em cargos gerenciais e menor participação como força de trabalho. A diferença salarial chega a 40%. Na Islândia, por exemplo, lei instituída em 2018 torna ilegal pagar salários mais altos para homens se a mulher exerce a mesma função.

Luta pela igualdade na Suécia é utopia?

Em casa, nas escolas e no trabalho a população sueca é orientada lutar contra as desigualdades e a pressão vem das rigorosas leis do país e dos meios de comunicação que, por exemplo, denunciam professores que não adotem as práticas. Os que discordam delas são demitidos.

As politicas para "correção de desigualdades de gênero" tem causado comportamentos comuns em ditaduras clássicas: famílias, receosas de serem denunciadas, só comentam esses temas em voz baixa e dentro de casa. Os suecos realmente aceitam as "políticas progressistas" do governo ou tem medo de discordar, diante da patrulha da imprensa?

Amanda Lundeteg, de 35 anos, da ONG Allbriht, é especializada em criar a lista negra que denuncia empresas cotadas na Bolsa de Valores que não tem mulheres na sua diretoria. Ela admite que, apesar de da legislação totalmente pró igualdade, as mulheres suecas estão descontentes. "A Suécia é muito menos progressista do que muitos pensam" - diz.

O governo sueco chegou a propor um sistema de cotas para equilibrar essa divisão nas empresas. A ideia morreu no parlamento.

Numa escola para crianças até 6 anos de idade, bancada parcialmente pela prefeitura de Estocolmo, prega-se o gênero neutro. Para demonstrar "igualdade" os bonecos não tem sexo. Cartazes mostram famílias com crianças com dois pais ou duas mães e nenhuma família com mãe, pai e filhos. Mas quando as próprias crianças se comparam, ficam confusas.

Moradores - que sempre pedem para não serem identificados - queixam-se que os imigrantes não aceitam as leis do país.

O relatório do Conselho Nacional de Prevenção ao Crime concluiu que os imigrantes e seus filhos tem até 3 vezes mais chances de serem considerados suspeitos, baseados nas estatísticas do setor.

Suécia lidera "violência machista"

Segundo relatório da ONU, publicado em 2019, por região, a maior porcentagem de violência contra mulheres ocorre na Oceania (34,7%) com exceção da Austrália e Nova Zelândia, seguida pelas regiões central e sul da Ásia (23%), África (21,5%), Ásia Oriental (12,3%), América Latina e Caribe (11,8%), leste e sudeste da Ásia (9%), Europa e América do Norte (6,1%).

E a Revista Social Science and Medicine, em 2014, publicou o inconcebível: a Suécia tem um dos maiores níveis de violência contra as mulheres, em toda Europa. De lá pra cá, piorou.

O trabalho foi assinado pelos pesquisadores espanhóis Enrique Gracia e Juan Merlo, respectivamente psicólogo social da Universidade de Valência e epidemiologista da Universidade de Lund sob o título Paradoxo Nórdico.
Tanto a Dinamarca e Finlândia, como a Suécia, despontaram como líderes de agressões físicas, sexuais e psicológicas dentro da relação ou fora dela. A pesquisa da FRA, Agência Européia de Direitos Humanos sobre violência contra as mulheres baseia-se em entrevistas presenciais com 42.000 mulheres em toda a UE, no ano de 2012.

O governo sueco envergonha-se do contraste de país mais avançado da UE na luta pela igualdade... ser um dos mais violentos contra a mulher. Os "especialistas" em criar respostas para tamanho paradoxo citam o consumo de álcool excessivo ou ciúme de homens machistas por mulheres competindo nas vagas de trabalho.

Para evitar um tom preconceituoso o governo evita culpar os imigrantes/refugiados que o país, por lei da UE, é obrigado aceitar.

Onda de assassinatos de mulheres

A luta pela igualdade de gênero entrou no foco com uma onda de assassinatos de mulheres na Suécia. Em cinco semanas seis mulheres foram mortas em crimes domésticos. O que mais preocupa é que isso ocorre no país mais elogiado por sua legislação igualitária. Os governantes começam a entender que "consciência não se impõe por decretos".

A violência contra mulheres aumentou no país. As autoridades registraram 16.500 casos de agressão doméstica em 2020, mais de 14,5% em relação ao ano anterior. E tudo isso ocorre dez anos depois de implantados programas de proteção à mulher e igualdade de gênero.

Revolta de imigrantes: exigem mudança das leis 
Carro da médica Karolin Hakim, morta em Malmö

Imigrantes: ocorrências sem registro da etnia

Um dos temas debatidos internamente, com pouca divulgação pela imprensa, envolve os recentes movimentos migratórios e a violência no país. Para não contrariar as pregações de igualdade, a polícia sueca não registra as ocorrências de crimes com a caracterização étnica do criminoso. Sabe-se, entretanto, que muitos que estão sendo julgados não são suecos. A afirmação vem dos promotores de justiça.

A França, Bélgica e Espanha tem o maior número de roubos, por habitante, na Europa. Depois vem a Suécia. Mas em número de tiroteios os suecos avançaram: em quase 400 incidentes com armas de fogo 47 mortos em 2020.

Em 2015 a Suécia recebeu mais imigrantes, por exemplo, que a Alemanha. O país tornou-se refúgio de quase 200 mil deles principalmente pelo auxílio financeiro oferecido pelo governo. Revoltas e destruição em manifestações dos refugiados que não aceitavam algumas leis do país, drogas e crimes assustaram a população. A situação fugiu do controle com o tráfico de drogas, tiroteios e mortes.