quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Por que Joãozinho não sabe ler?

25 anos de experiências desastrosas na educação brasileira: gerações perdidas

Por João Batista Araújo e Oliveira
15 de julho de 2010

O título deste artigo reproduz o de um livro publicado em 1953 e que provocou intenso debate sobre métodos de alfabetização. A polêmica durou até o final do século, quando o assunto foi definitivamente resolvido. No resto do mundo, não no Brasil. Uma análise das 19 cartilhas de alfabetização aprovadas pelo Ministério da Educação (MEC) em 2009, e que estão em uso na maioria das escolas públicas, revela a razão. Neste artigo, comentamos apenas alguns aspectos dessa análise.

Comecemos pela bibliografia citada pelos autores. Bibliografia reflete as orientações usadas. Dentre as 265 referências bibliográficas citadas nas 19 cartilhas, apenas cinco se referem a estudos especificamente voltados para os aspectos centrais da alfabetização, isto é, o funcionamento do código alfabético. Nas cinco, dois autores são os mais citados. Trata-se dos mesmos que o MEC vem mencionando desde que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) entronizaram as ideias ultrapassadas e equivocadas que continuam desorientando os professores em todo o País. Cabe notar que, nessas 265 citações, não há referência alguma a nenhum dos artigos mais citados nos índices de publicações científicas internacionais sobre alfabetização ou nos documentos oficiais dos demais países que utilizam o código alfabético.

Em matéria de pedagogia, não é só o MEC que está na contramão dos progressos da ciência: alguns governos estaduais e municipais, que continuam produzindo suas próprias cartilhas, o fazem com base nos mesmos pressupostos equivocados.

Outro aspecto da análise se refere ao descumprimento sistemático dos termos de referência do edital do Programa Nacional do Livro Didático. Por insistência pessoal do ministro Fernando Haddad, que enfrentou ruidosas resistências internas e externas, o edital introduziu dois requisitos: a apresentação adequada dos fonemas e grafemas – base de qualquer processo de alfabetização – e atividades próprias para desenvolver fluência de leitura. Esses dois requisitos não foram observados de forma minimamente adequada em nenhuma das cartilhas aprovadas. O prejuízo pedagógico é óbvio. Cabe ao Tribunal de Contas da União (TCU) decidir se isso constitui delito de improbidade administrativa por parte de quem deu e de quem aceitou os pareceres sobre essas cartilhas.

Cartilhas elaboradas com base em pressupostos equivocados não ajudam as crianças a aprender a ler e escrever. Mas qual é, de fato, o objetivo das cartilhas aprovadas? De acordo com seus autores, o importante é promover o letramento, os usos sociais da língua, a intertextualidade, as múltiplas linguagens, a produção textual e outros pomposos desideratos. O domínio do código alfabético que se dane! Ou que se danem os alunos, como atestam os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e as pesquisas sobre a capacidade de leitura dos brasileiros.

Na prática, o que acontece com as cartilhas é o mesmo que ocorre com os livros didáticos, especialmente os de Língua Portuguesa – um samba do crioulo doido. Nas primeiras páginas das cartilhas, por exemplo, o aluno é convidado a escolher quais palavras do texto (que ele não sabe ler) indicam frutas. Ou é convidado a “escrever do seu jeito” o nome das ilustrações. Ou a combinar sílabas, cuja leitura não lhe foi ensinada, para formar palavras. Ou a identificar, “usando pistas contextuais”, qual de três frases completa um texto. Ou seja, tudo se passa como se a criança fosse um novo Champolion desafiado a decifrar a Pedra de Roseta. Ou a “formular hipóteses” sobre o valor fonológico dos grafemas. Se as pessoas fossem capazes de formular hipóteses pela mera exposição aos textos, como explicar a existência de analfabetos adultos numa sociedade urbana e letrada?

Nos países desenvolvidos, a questão dos métodos de alfabetização deixou de ser alvo de debates há pelo menos duas décadas, graças aos avanços das neurociências e às contundentes evidências a respeito da superioridade dos métodos fônicos. Os últimos redutos de resistência nos Estados Unidos acabam de ruir com a edição das novas orientações curriculares, nas últimas semanas.

Eis o que diz um dos mais importantes neurocientistas da atualidade, Stanislas Dehaene, na sua obra Os Neurônios da Leitura: “A conversão grafema-fonema é uma invenção única na história da escrita, que transforma radicalmente o cérebro da criança e sua maneira de ouvir os sons da língua. Ela não se manifesta espontaneamente, portanto, é preciso ensinar.” Quanto à forma de ensinar, a ciência experimental demonstra que para alfabetizar bem é necessário apresentar os fonemas e grafemas de forma sequencial, intencional e sistemática. Essa é a função das cartilhas. O tema foi inclusive objeto de relatório e recomendações recentes da Academia Brasileira de Ciências, mas continua ignorado pelo establishment educacional.

Ignorar os avanços da neurociência e as evidências experimentais acumuladas sobre métodos de alfabetização não significa apenas defender uma posição ideológica a respeito da alfabetização: significa rejeitar a ideia de que a ciência pode contribuir para melhorar o ensino. Ou seja, pedagogia, como bruxaria, dispensa a ciência. Valem apenas as crenças e o poder de pressão das corporações. E é isso que fazem as universidades, no Brasil, e as autoridades responsáveis pela educação na maioria de nossas redes de ensino.

Não sabemos o que o TCU e o MEC farão para correr atrás do prejuízo. Mas sabemos quais são os resultados dessa política: no 5.º ano do ensino fundamental, metade das crianças não consegue entender o que lê. E agora sabemos por que Joãozinho não aprende a ler, no Brasil.

João Batista Araújo e Oliveira é presidente do Instituto Alfa e Beto

Nota do instituto Alfa e Beto:
Este artigo foi publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo em 15 de julho de 2010

Alfabetização: como ensinar a ler e a escrever com método fônico


Nesta semana, muitos professores e pais nos escreveram com dúvidas relacionadas à alfabetização e o uso do método fônico nesse processo. Por isso, preparamos para hoje uma publicação especial com explicação teórica sobre o método fônico e também dois exemplos práticos de atividades que podem ajudar no processo de alfabetização.

Para começar, é importante ponderar que a criança precisa superar três desafios para ler e escrever com fluência:
  • Descobrir o princípio alfabético, isto é, descobrir o fato de que as palavras são formuladas por fonemas (sons menores do que a sílaba) e que os fonemas, por sua vez, são representados por grafemas (letras);
  • Aprender a decodificar, ou seja, aprender as relações entre os fonemas e os grafemas que os representam para extrair o som das palavras escritas;
  • Aprender o princípio ortográfico, ou seja, as regras que regem a escrita das palavras.

O desenvolvimento da consciência fonêmica é a base para a descoberta do princípio alfabético. Consciência fonêmica refere-se à capacidade de identificar os segmentos de som que formam uma palavra. Esses seguimentos se chamam fonemas. O método fônico é a maneira de alfabetizar através dessa conscientização.

Usamos o termo “consciência” porque a criança (ou até mesmo o adulto, quando ele é analfabeto) não tem consciência desses elementos: é por meio de brincadeiras de rimas, assonâncias e aliterações que se toma consciência dos aspectos da palavra.

Todo pessoa que se alfabetiza adquire o princípio alfabético, ou seja, a ideia de que quando se muda uma letra da palavra, muda-se a pronúncia da palavra. Exemplo: se havia lago e mudou para mago, a criança percebe que mudou algo. Se havia e virou , ela percebe que muda a forma de escrever e de ler a palavra. Quanto mais cedo se adquire esse princípio, mais rapidamente acontece a alfabetização.

Se a criança não adquire a consciência fonêmica, ela pode pensar que as palavras são como desenhos, e passar a decorá-las (o que vai limitar muito seu vocabulário). Ou ela decora apenas as sílabas e compõe as palavras silabando, o que a torna um leitor ineficaz. Somente a tomada de consciência sobre os fonemas permite adquirir o princípio alfabético. Esse é o primeiro passo para uma alfabetização eficaz.

O sistema de escrita da Língua Portuguesa é o sistema alfabético. O alfabeto – composto por 26 letras – permite representar todos os fonemas que nós articulamos para falar qualquer palavra da nossa língua. Esses sons são divididos em vogais e consoantes:

Os fonemas da língua portuguesa
Vogais orais          Vogais nasaisConsoantes
/a/ /ê/ /é/ /i/ ô/ /
ó/ /u/
          /am/ /em/ /im/
          /om/ /um/
             /b/ /k/ /d/ /f/ /g/ /j/ /l/ /m/ /n/ /p/ /R/ /r/ /s/ /t/
             /v/ /ch/ /z/ /lh/ /nh/

Para desenvolver a consciência fonêmica, o professor (ou o adulto que se propor a alfabetizar uma criança em casa) deve apresentar os sons das palavras, mas não de maneira mecânica e sem sentido. Seu objetivo deve ser fazer com que as crianças entendam que:
  • as palavras têm sons: cada palavra tem um som diferente;
  • as letras representam os fonemas (você vai usar com elas a palavra “sons”, para facilitar o entendimento);
  • para mudar a palavra, precisa mudar uma ou mais letras;
  • quando muda a letra, a palavra fica diferente, tem outro som;
  • para ler, é preciso identificar os sons que as letras representam (analisar) e juntar (sintetizar) estes sons para formar a palavra. As técnicas básicas são duas: análise e síntese de fonemas, para formar a palavra – essa parte está detalhada mais abaixo.
Neste momento inicial, o objetivo ainda não é o de ensinar a criança a ler ou escrever com ortografia perfeita. Seu objetivo é ajudá-la, através de exercícios, a descobrir que há uma relação bastante sistemática entre os sons que ela ouve nas palavras e as letras que representam estes sons.

Antes de chegar ao fonema, pode-se usar as unidades de segmentação mais conhecidas das crianças: palavras e sílabas. Para ajudar nessa etapa, reproduzimos dois exercícios que ajudam a perceber a segmentação dos pedaços das palavras e a forma de juntar (análise) e separar (síntese) essas palavras:
1 – Síntese oral
Existem várias técnicas para ensinar os alunos a decodificar palavras. As mais comuns e mais eficazes são as técnicas de análise (decompor palavras em fonemas) e síntese (juntar fonemas para formar palavras). O objetivo dos exercícios de síntese oral é ajudar o aluno a compreender que palavras são formadas por unidades menores de som (fonemas e sílabas). O grande desafio é identificar os fonemas – que são a menor unidade sonora das palavras. São os fonemas que estão na base do código alfabético.

É mais fácil juntar pedaços de palavra (sílabas) do que fonemas individuais (letras), por isso, os exercícios que vamos propor aqui envolvem a decomposição de palavras em sílabas. Isso é apenas para ajudar a compreender que uma palavra tem som e dentro dela há pedacinhos. Mas os exercícios não podem parar por aqui e devem avançar para os fonemas.

EXEMPLO DE ATIVIDADE: DECOMPONDO PALAVRAS
  • O adulto deve convidar a criança para fazer uma brincadeira. Ele pode iniciar dizendo ”vou falar uma palavra em duas partes, e você vai descobrir que palavra estou querendo dizer”. O adulto deve ler cada palavra pronunciando cada parte com muita clareza, fazendo pausa entre as duas partes.
  • Por exemplo: PAPA-gAiO = PAPAgAiO.  Outro exemplo: teLe-visãO = teLevisãO.
  • Em seguida, o adulto deve convidar a criança a descobrir as próximas palavras. A criança pode falar uma parte e outra criança a segunda parte, ou então o adulto pode utilizar um boneco para ser o “parceiro” na brincadeira.
  • O objetivo é a criança descobrir qual palavra está escrita nos seguintes exemplos:
    ele  fantepassa  rinhomari  nheirobici  cleta
    cor daqua  drofo  gueirapapa gaio
2 – Análise oral
A análise é o reverso da síntese. Analisar significa decompor, separar os fonemas (sons) que formam uma palavra. Isso ocorre tanto na leitura quanto na escrita: o código alfabético é reversível, transforma letras em sons e sons em letras. Ele funciona nas duas direções – por isso é importante apresentar os sons e as letras que os representam ao mesmo tempo. O processo de análise envolve:
  • ouvir a palavra UAI, por exemplo
  • identificar os sons /u/ /a/ /i/
Para ler e escrever, é preciso sempre analisar a síntese de fonemas. Por isso, estes dois exercícios (o de cima e o abaixo) sempre são feitos na sequência, para que a criança compreenda o processo de ida e volta: é assim que funciona o código alfabético.

EXEMPLO DE ATIVIDADE: OS SONS DOS NOSSOS NOMES
  • O adulto vai explicar à criança que os nomes também têm pedaços menores. Ele pode dizer: “agora você vai aprender a bater palmas para separar as várias partes ou pedaços dos nomes de seus colegas. Por exemplo: o nome Ernesto (escolha um nome de um amiguinho ou parente). Vamos fazer assim: er  (palma) nes (palma)   to (palma)”.
  • Em seguida, o adulto deve convidar a criança a fazer isso com o próprio nome.
  • Depois, ele deve fazer isso com mais nomes de colegas de classe ou parentes.
  • O adulto deve mostrar que alguns nomes têm números diferentes de palmas.
  • E, após mostra essa diferença, ele deve fazer isso em ordem: nomes com duas sílabas (Al-fa; Be-to; Ma-ra; Ti-to; etc.). Nomes com três sílabas (Ma-ri-a; Fer-nan-do; Ro-ber-to). E nomes com mais de quatro sílabas: (Da-go-ber-to;  Fe-lis-ber-to;  Ca-ta-ri-na; etc.)
  • Ajude a criança a compreender que uma palavra tem um som que é só dela, mas dentro dela há vários outros sons.

Essas são apenas alguns exercícios que podem ajudar a desenvolver a consciência fonêmica. Eles não se encerram por aqui e, sozinhos, não são capazes de alfabetizar as crianças. O ideal é que os educadores ou pais dediquem-se ao estudo do método fônico para utilizar os princípios em atividades variadas no dia a dia.

A vantagem desse método é que ele é comprovadamente o mais eficaz na alfabetização, de acordo com evidências científicas. Além disso, pode ser utilizado também na alfabetização de adultos e com crianças com dificuldades de aprendizagem.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Celso Daniel: Marcos Valério diz que dinheiro foi para pagar Ronan

Por Edson Joel

Ele reluta, para, pensa antes de responder a pergunta de um promotor que quis saber do que se tratava a chantagem que ele mencionara pouco antes, em seu depoimento.  

- Senhor, eu gostaria de não responder essa pergunta porque o que eu fiquei sabendo é muito grave e o senhor não vai poder garantir minha vida - respondeu Marcos Valério, figura conhecida no processo do Mensalão como operador das maracutaias do PT e condenado a quase 40 anos de prisão.

- Senhor, o que eu descobri é muito sério e eu não queria me envolver - repetiu Valério quando o promotor reperguntou sobre os motivos da chantagem.

- Vou pedir pra não responder essa pergunta porque é um assunto muito grave e eu não quero correr risco. Eu tô preso, numa penitenciária...

Questionado se recebera oferta em dinheiro para se calar sobre o assunto ele respondeu prontamente que não mas, relutou, parou, pensou, titubeou e respondeu que esse seria "um assunto fora do processo em questão mas que envolvia brigas, idas e vindas, pessoal do Paulo Okamoto e do Presidente Lula - disse.


Convocado pelo Juiz Sérgio Moro, Valério contou toda a operação do empréstimo bancário que resultou no pagamento a Ronan Maria Pinto que estaria "chantageando Lula, Gilberto Carvalho e o então ministro José Dirceu".

Em detalhes de datas, locais, pessoas e fatos, Valério narrou sobre o pedido feito por Silvio Pereira (06':54") para pagar 6 milhões de reais para Ronan Maria Pinto,  empresário de ônibus de Santo André que estaria chantageando a cúpula petista, incluindo Lula.

Conta que, ao descobrir os motivos da chantagem, negou se envolver no caso e que dai é que surgiu o "empréstimo" concedido a José Carlos Bunlai, pelo Banco Schahin, entregue Ronan. O próprio Bunlai já confessara antes.

Aos 12":16" do vídeo, Valério conta que se preocupou quando soube mais sobre Ronan. "O que eu soube não me agradou". Confessa que esteve no Palácio do Planalto umas 600 vezes e que o "comitê de crise do PT" funcionava lá. Confessou que as empresas de publicidade pagavam 2% e que sua empresa era ponte para financiar as atividades  do PT. 
Paulo Okamoto, o presidente do "Instituto Lula", é figura central na confusa e mal explicada morte do prefeito Celso Daniel, petista assassinado em Santo André.

- Todas as empresas de comunicação eram obrigadas a pagar ao PT - disse Marcos Valério. O percentual era de 2%. Ouça o depoimento de Valério, em duas partes.




Atualização em 13 de setembro de 2016

O jornal O Estado de São Paulo publicou que o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, revelou ao Juiz Sérgio Moro, na terça-feira, dia 13 de setembro, "a ‘metodologia usada em 2014 pelos então senadores Vital do Rêgo – hoje ministro do Tribunal de Conta da União (TCU) – e Gim Argello (PTB-DF) para barrar as investigações da CPI da Petrobrás. Segundo o executivo, a dupla de senadores traçou um plano de trabalho que postergava propositadamente a investigação sobre corrupção na estatal petrolífera." O objetivo era retardar as investigações que preocupavam muito a presidente Dilma Rousseff.

LEITURA RELACIONADA: Um assassinato se aproxima de Lula

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

As lambanças do Lewandowski

Gilmar Mendes: Este tipo de matéria não poderia passar num jardim de infância do Direito Constitucional.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Do ponto de vista jurídico esta foi uma decisão absurda, bizarra - disse o Ministro Gilmar Mendes sobre o fatiamento impeachment de Dilma Rousseff sessão presidida pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski.

- O texto constitucional me parece bem claro e as opção que adotaram de penas autônomas, briga com os próprios fatos - finaliza ele. E sugere:

- Se é verdade que se pode aplicar então a perda de cargo separadamente da inabilitação então o senado poderia ter aplicado a inabilitação e a deixado no cargo. Este tipo de matéria não poderia passar num jardim de infância do Direito Constitucional. É algo constrangedor para o Supremo - conclui ele. O texto constitucional não deixa dúvidas que se aplica a perda do cargo com inabilitação. Ouça a entrevista publicada pelo Estadão.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

A culpa é mais de Lula que de Dilma

Por Edson Joel

Consequência da má administração aliada a ideologias mofadas, falta de ética e corrupção endêmica, o PT conseguiu o feito histórico de destruir um país inteiro, que vinha governando até recentemente, em pouco mais de 10 anos. O patético Hugo Chavez, idem com a Venezuela tal e qual Castro com Cuba. 

Fora do comando, Lula tem medo da prisão e alastra
pelo mundo que é vítima de golpe. 
E Lula é muito mais responsável por isso, que Dilma. Foi na sua administração que se propagou, em níveis nunca antes visto, a corrupção em todas as instâncias da administração pública com o objetivo de sustentar um projeto criminoso de poder. Prova é que, em pouco tempo de ação, a operação Lava Jato levou um amontoado de petistas, ministros, deputados e presidente do partido e seus amigos empresários para a cadeia e continua investigando a profundidade dos mal feitos, dentro e fora do governo.

Sem contar o mensalão, uma pontinha das canalhices petistas e assassinatos que rondam e desesperam Lula e sua camarilha.   

Os primeiros sintomas da estupidez administrativa do Sr. Luís Inácio começou a respingar no primeiro ano da sucessora e terminou na sua demissão. Dilma cometeu fraude fiscal (a imprensa inocente preferiu "pedaladas"), na área, um crime hediondo. Sua campanha, como a de Lula, foi financiada com dinheiro da corrupção. Todos eles sabiam bem de tudo isso.

Inflação sem controle, milhões de desempregados (quase 12%, segundo o IBGE), queda vertiginosa na produção industrial, comércio fechando portas, poder de compra das famílias em queda, como a confiança. O país foi levado à recessão por conta da estupidez de Dilma Rousseff, o poste de Lula. Imbecil a ponto, sequer, de construir uma frase com algum sentido - nem lendo consegue - Dilma adotou  a estratégia de Lula: mentir, repetir a mentira até torna-la uma verdade, como ensinou Fidel Castro.

O Partido dos Trabalhadores afundou-se no lamaçal da corrupção mas seus dirigentes, mesmo encarcerados, tentam preservar o chefe da quadrilha. O tríplex, o sítio, os filhos milionários e os ganhos do palestrante que nunca deu palestras, nada significam perto dos bilhões surrupiados do povo para sustentar-se no poder.

O país, finalmente, respirou aliviado com a expulsão da maior estelionatária política da história. O impeachment atendeu todos os requisitos constitucionais e ocorreu durante o governo petista com a maioria dos ministros do Supremo Tribunal indicados por Lula e Dilma. Os milhões de brasileiros que marcharam nas ruas, venceram: o PT foi defenestrado.

Dilma não merece o mínimo respeito, muito menos seu tutor populista cujos calcanhares estão na mira da justiça. Ele sabe disso e tenta alastrar pelo mundo que é vítima. Ele, há muito, também sabia da derrocada de Dilma mas preferiu encenar a falsa tese do golpe para tentar ganhar notoriedade com a versão da história. A cada dia a justiça desenterra as sujeiras que levarão Lula para a cadeia. 

Fim do kirchinerismo, fim do castrismo, fim do chavismo e fim do petismo.
Ufa, ainda temos esperança: a esquerda desnorteada chegou com data de validade vencida. 

PS: Não nos esqueçamos que Michel Temer segurou a escada para a quadrilha petista. 

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Educação incial é o grande problema, diz Cláudio de Moura Castro


Por Edson Joel

O professor Cláudio de Moura Castro, articulista da Revista Veja, é economista graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais, doutor pela Universidade Vanderbilt ,mestre pela Universidade Yale e uma das maiores autoridades sobre educação no Brasil.

Em entrevista ao site Grupo A a respeito de seu livro "Caminhos Tortuosos da Educação no Brasil", Cláudio explica que ocorrem dois grandes desastres na educação do país.

- Há a educação inicial e a média, como a mãe de todas as guerras a serem travadas. Se não aprendemos a ler e a escrever direito, tudo que vem depois está comprometido. E como demonstra o PISA e todos os testes brasileiros – muito bons, por sinal – o resto está irremediavelmente comprometido pela ruindade do ensino inicial.

Para Moura a questão é até simples e a solução também para o Fundamental: "Nós até sabemos como fazer e a prova disso são os municípios pobres que tem educação de primeiro mundo". Moura refere-se as várias cidades que abandonaram as invencionices pedagógicas, colocaram as teorias construtivistas no lixo e passaram a aplicar o método fônico para alfabetização. Crianças, nestas escolas, são alfabetizadas em pouco tempo (menos de um ano) e avançam rapidamente em leitura e escrita, base para todo seu futuro escolar com aproveitamento que chegam a 100% em matemática.

- É também rápido, leva-se alguns anos apenas para fazer um grande reboliço. Por que quase nada contece? Por que a sociedade continua tão comprometida com as belas palavras dos discursos e esmotivada para o esforço real exigido? - pergunta Cláudio.


Se no Fundamental já se conhece a solução mas não se implanta, no Ensino Médio a situação é bem pior: "nem sequer temos clareza quanto ao que fazer" - sentencia ele.

No Brasil, diz, "o CNE está perdido, redige textos barrocos que nada dizem de pão-pão, queijo-queijo. Sabemos dos problemas: currículos enciclopédicos, ementas igualmente obesas, pouca ou nada de aplicação, só metade do tempo de aula é usado para aprender, assuntos distantes do mundo dos alunos, desconforto dos professores com a disciplina necessária em sala de aula e por aí afora", aponta o professor.


Os índices de analfabetos funcionais são astronômicos, alerta Cláudio que não concorda com "leis falando de idade para alfabetizar". "O analfabetismo funcional é o epicentro dos problemas educacionais, na verdade, é o corolário da educação de má qualidade. Esse sim, é o problema que precisamos enfrentar", diz.

Sobre a educação universitária e cotas, Moura Castro explana: "O superior não é um nível obrigatório em nenhum país do mundo. Classicamente, é um nível em que os critérios meritocráticos prevalecem. Afinal, é de lá que devem sair os quadros mais refinados para a economia, a política, as artes e as ciências. Faz todo sentido aumentar a abrangência social de sua clientela, desde que os impactos sobre a qualidade dos alunos que entram não sejam graves. Afinal de contas, como demonstram pesquisas, 80% dos resultados no Provão/Enade resultam da qualidade dos alunos que entram.

Obviamente, a única política que realmente tem sentido, no longo prazo, é melhorar a qualidade das escolas frequentadas pelos estratos mais modestos da sociedade. Faz também muito sentido preparar melhor os alunos da rede pública para os vestibulares. Como as universidades públicas são gratuitas e tendem a ser de boa qualidade, os alunos de famílias mais modestas têm sérias dificuldades de competir, sobretudo, nos cursos mais cobiçados. No caso dos privados, menos seletivos, há o impedimento financeiro.


Contudo, o Prouni e o FIES são bons programas para isso. Ademais, os bônus de pontuação, originalmente criados na Unicamp revelam-se eficazes. Provavelmente, as cotas são a pior maneira de lidar com o problema. Enquanto são reduzidas, 12% como no seu início, há uma reserva de alunos bons, de escolas públicas. As cotas não trazem dano, e tampouco, grandes vantagens. Porém, quando a metade dos alunos entrar por cotas, a perda de qualidade em cursos como medicina pode vir a ser dramática."


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A história do Hino Nacional Brasileiro


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

O Hino Nacional Brasileiro, um dos quatro símbolos oficiais do país, - a bandeira, as armas nacionais e o selo nacional são os demais - tem a música de autoria de Francisco Manoel da Silva (1795-1865) e a letra de Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927).

Na verdade, a marcha foi composta em 1822 para se comemorar a independência brasileira e se chamava Marcha Triunfal e sua letra não é a que conhecemos hoje. De autoria de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, foi um desacato ao ex-imperador Dom Pedro I, que voltava para Portugal depois de abdicar ao trono brasileiro, em 7 de abril de 1831.

Os bronzes da tirania
Já no Brasil não rouquejam;
Os monstros que o escravizavam
Já entre nós não vicejam.

(estribilho)
Da Pátria o grito
Eis que se desata
Desde o Amazonas
Até o Prata

Ferrões e grilhões e forcas
D'antemão se preparavam;
Mil planos de proscrição
As mãos dos monstros gizavam

A letra atual foi escrita pelo poeta, jornalista e diplomata Joaquim Osório Duque Estrada somente 87 anos depois da música composta por Francisco Manuel da Silva, inicialmente para banda. Após desaforar Pedro I, a letra foi trocada, mais uma vez, para comemorar a coroação de Dom Pedro II (18 de dezembro de 1841, aos 15 anos) e, praticamente, tornou-se o Hino Nacional Brasileiro não oficial. Deodoro da Fonseca, com a instauração da república, promoveu um concurso para a escolha do novo Hino Nacional vencido pela letra de Medeiros e Albuquerque e música de Leopoldo Miguez. O povo não aceitou o novo hino que acabou sendo oficializado, em 1890, como Hino da República..

A composição de Francisco Manuel da Silva acabou sendo instituída como o Hino Nacional Brasileiro mas a letra que conhecemos hoje só foi cantada em 1922, nas comemorações do Centenário da Proclamação da Independência. O hino foi orquestrada por Antônio de Assis Republicano e instrumentalizado, para banda, pelo tenente Alberto Nepomuceno.


Somente em 1922, ao preço de 5:000$ cinco contos de réis, é que o direito sobre a composição foi oficialmente garantido (Decreto nº 4.559, de 21 de agosto daquele ano pelo Presidente Epitácio Pessoa decreto n.º 4.559 e oficializado em 2 de setembro de 1971.

Poucos sabem que nosso Hino Nacional Brasileiro, em sua introdução, tinha letra. Era de autoria de Américo de Moura
(natural de Pindamonhangaba e que tinha governado a província do Rio de Janeiro nos anos de 1879) mas, acabou excluída da versão oficial do hino.


LETRA DE INTRODUÇÃO DO HINO NACIONAL BRASILEIRO

Espera o Brasil que todos cumprais com o vosso dever
Eia! Avante, brasileiros! Sempre avante

Gravai com Buril nos pátrios anais o vosso poder
Eia! Avante, brasileiros! Sempre avante

Servi o Brasil sem esmorecer, com ânimo audaz
Cumpri o dever na guerra e na paz
À sombra da lei, à brisa gentil
O lábaro erguei do belo Brasil
Eia! sus, oh, sus!

"Sus" é uma interjeição que vem do latim e quer significar ânimo, avante, erga-se, coragem.



Hino Oficial Brasileiro cantado pelo Coral BDMG e Orquestra Sinfônica da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, sem introdução cantada.

HINO NACIONAL BRASILEIRO OFICIAL
Primeira Parte / Segunda Parte

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido,
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores,
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores". (*)

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- Paz no futuro e glória no passado.

Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!

Executado para instrumentos, toca-se apenas a primeira parte.
Neste caso, não se canta. Em execução vocal exige-se a interpretação completa do hino.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Imigração: Japoneses eram considerados raça inferior no Brasil

Defensores da eugenia chamavam imigrantes de aborígenes nipões

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Com a expansão cafeeira e falta de mão de obra pelo fim da escravidão, o Brasil implantou uma política de imigração com dois objetivos: suprir a mão de obra e "civilizar e branquear" a raça brasileira com a facilitação da entrada de imigrantes europeus. Em 1890 o presidente Deodoro da Fonseca assinou o decreto Nº 528 que proibia asiáticos e negros entrar no país, exceto se houvesse autorização do Congresso Nacional. Em 1892 a Lei 97 liberava a imigração de chineses e japoneses, tornando sem efeito a anterior.

Nina Rodrigues, o pai da Medicina Legal brasileira e Francisco José de Oliveira Viana (autor de "Populações Meridionais do Brasil", de 1918), foram os principais responsáveis pela propagação da ideia de "branqueamento" da raça, sem miscigenação, naquele período.

Kasato Maru, no Porto de Santos, em 1908. Este navio era russo e chamava-se Kazan, antes de ser tomado pelos japoneses durante a guerra contra a Rússia, entre 1904 e 1905. Esse conflito enfraqueceu o regime Czarista culminando com a revolução de 1918.
Primeiro imigrantes japoneses na chegada em Santos, 1908

Havia, para a recém república instaurada, o receio do expansionismo militar japonês que derrotou a China em 1895 e a Rússia em 1905. No começo de 1900, com a recuperação do preço do café, derrubado por uma superprodução nos últimos 5 anos, o governo federal incentivou a contratação de mão de obra japonesa, apesar do preconceito contra os orientais.

A diplomacia brasileira deu parecer contrário, como manifestou Manuel de Oliveira Lima ao Ministério das Relações Exteriores, considerando um perigo a miscigenação com "raças inferiores". Mas havia um grande problema: o governo da Itália havia proibido a emigração de italianos para o Brasil. Em 1907 criou-se a Lei de Imigração e Colonização cessando, assim, os efeitos da antiga Lei 528, de Deodoro da Fonseca.

O primeiro acordo firmado entre Brasil e Japão foi feito em 1907. A imigração se iniciou em 18 de junho de 1908 com a chegada do navio Kasato Maru que trouxe 781 lavradores japoneses cujo destino eram as lavouras de café no interior paulista. O último navio com imigrantes - Nippon Maru, chegou em 1973, cessando o período migratório.

No Brasil, durante o período da ditadura de Getúlio Vargas (1930/1945) discutiu-se, com mais ênfase, a necessidade do branqueamento da população brasileira com a vinda de imigrantes brancos europeus e a proibição para a entrada de negros e asiáticos.

Uma marca registrada de Vargas foi seu extremo rigor contra a imigração e ações contra núcleos de estrangeiros no país. A repressão aumentou consideravelmente durante o período da Segunda Grande Guerra especialmente contra japoneses, alemães e italianos e ações sigilosas para evitar a vinda de refugiados judeus. Os japoneses eram considerados raça inferior e leis foram propostas para impedir a chegada de mais "aborígenes nipões", como eram chamados por Miguel Couto, médico e deputado pelo Rio de Janeiro que liderava esse movimento. Couto defendia a eugenia (*). Durante a Assembleia Nacional Constituinte, de 1933, vários deputados defenderam essa posição, inclusive o sanitarista baiano Arthur Neiva e o cearense Antônio Xavier de Oliveira.

(*) Eugenia significa "bem nascido", termo cunhado por volta de 1880, por Francis Galton (1922-1911), tese científica que estuda o controle consciente da melhoria genética do ser humano, enriquecendo ou empobrecendo suas qualidades mentais e físicas. É de sua autoria o livro “Hereditary Talent and Genius”. Técnicas são utilizadas atualmente, em larga escala, para melhoramento genético de animais e plantas com a seleção dos melhores reprodutores.

A prática foi levada aos extremos no período nazista com a eliminação de "indivíduos indignos de viver", conforme a política social racial de Adolph Hitler que matou milhões de judeus além "degenerados, criminosos, deficientes mentais, homossexuais, insanos e fisicamente fracos".

(*) Em 1918 nasceu a Sociedade Paulista de Eugenia com o único objetivo de discutir o ideal de regeneração física e moral do homem e o primeiro Congresso de Eugenismo ocorreu em 1929. Nessa época discutiu-se "O problema Eugênico da Migração" com propostas claras de proibição da imigração de pessoas não-brancas ao Brasil.

A favor do branqueamento da raça, o congresso aprovou uma emenda constitucional que determinava "cotas" (julho de 1934), sem citar raças. Mas, pouco antes, a votação de um projeto de lei que simplesmente proibia a chegada dos "aborígenes nipões", terminou empatada. O desempate ocorreu pelo voto do presidente da casa. Italianos, espanhóis, portugueses não sofreram restrições.

Bento de Abreu Sampaio Vidal, então presidente da Sociedade Rural Brasileira e deputado estadual paulista, discursou a favor da necessidade da "raça brasileira se defender de imigrantes indesejáveis". Mas, por outro lado, defendia a qualidade da mão de obra dos japoneses e não os incluía entre os rejeitados:

"Conheço, como ninguém, o valor dos japoneses. Marília, a minha querida cidade, é o maior centro de japoneses no Brasil. É a gente mais eficiente para o trabalho, educada, culta, sóbria... Durante a noite escura, em que os fazendeiros não podiam pagar regularmente seus colonos, não se viu um colono japonês impaciente ou reclamando. Quanto à raça, não sei se os grandes médicos (referia-se aos eugenistas Miguel Couto e Arthur Neiva) terão razão, porque em Marília existem, entre os colonos, homens e mulheres bonitos e robustos."

Nas décadas de 30/40 somente os agricultores japoneses produziram mais 75% de todo chá plantado no Brasil e foram responsáveis pela produção de quase 60% da seda e de mais de 45% de todo algodão brasileiro. Quase 90% dos japoneses assinavam jornais impressos na sua língua quando Vargas proibiu impressos ou transmissão de rádio que não em português. Em pouco tempo ganharam a confiança dos donos de terras e passaram a produzir no sistema de arrendamento.

Em 1941, ao pedir a proibição do ingresso de 400 japoneses em São Paulo, Francisco Campos, Ministro da Justiça, justificou que "o padrão de vida desprezível dos nipões representa uma concorrência brutal com o trabalhador do país e seu egoísmo, sua má-fé, seu caráter refratário, fazem deles um enorme quisto étnico e cultural na mais rica das regiões do Brasil."

Hoje o Brasil abriga mais de 1,5 milhão de nikkeis, considerada a maior população japonesa fora do seu pais de origem. Nikkeis são os descendente de japoneses. Seus filhos são denominados nisseis, os netos sanseis e bisnetos, yonseis.

Declaração Universal dos Direitos do Homem (Nº 2 do artigo 13º): "Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país"

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

"El gobierno te quiere estúpido", diz Gloria Álvarez


Gloria Álvarez, cientista política guatemalteca, analisa o populismo dos governantes latino-americanos e diz que o grau de liberdade de uma sociedade é resultado direto da auto estima individual. Quando o povo é tratado como eterno dependente da caridade estatal, mais submisso e manipulado será a governos populistas que se beneficiam com os baixos níveis da educação do povo. "O governo te quer estúpido" - publica Gloria Álvarez em seu Facebook. A entrevista foi concedida ao jornalista Adalberto Piotto. Assista!

- Vemos Cristina Kirchner nadando em dinheiro, Dilma Rosseff envolvida em casos de
corrupção, uma nova oligarquia de "boliburgueses" como são chamados os que a revolução bolivariana criou.
São mais direitistas que os direitistas que criticavam - diz Gloria sobre a esquerda latino americana.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Pokémon e os professores analfabetos digitais

Aliar-se à tecnologias para melhorar a educação: como fazer isso com professores analfabetos digitais? 

Por Edson Joel

Alessandra entrou na sala dos professores e, entusiasmada, anunciou a descoberta fantástica que acabara de fazer:

- Gente, descobri que existe um tal de Google Map onde você coloca o endereço de destino e ele traça a rota mostrando como chegar lá. E ainda pinta o caminho de azul. Não é maravilhoso?

Se a descoberta da professora Alessandra, de 45 anos, tivesse ocorrida há 11 anos, ótimo. Mas isso tem apenas dois anos e mostra o enorme abismo entre professores e alunos. Como educar uma geração que nasce com smatphone nas mãos e caça pokémons se os professores são analfabetos digitais e ainda utilizam teorias mofadas de séculos passados como seu principal instrumento de alfabetização?

As tecnologias deveriam fazer parte do cotidiano escolar e, no lugar de pokémons, os alunos e seus professores caçariam verbos, adjetivos e soluções matemáticas "escondidos" nas salas de aulas. Os professores deveriam estar, pelo menos, nivelados com o grau de domínio dos seus alunos sobre tecnologias, mas, pasmem, a maioria é analfabeta digital e mal domina seu próprio celular. Estão apavorados com a implantação das secretarias digitais (que estão chegando com um atraso de 20 anos) e insistem em preencher as velhas talas, manualmente.

- Agora que eu estou quase me aposentando não quero saber dessa tal secretaria digital, Deus me livre - disse uma professora, no alto dos seus quase 50 anos. Oras, como entender uma colocação dessas, dentro de um ambiente que tem como única proposta a promoção do conhecimento? Por que a Secretaria da Educação não organiza cursos para treinar esse pessoal que treme ao ouvir falar de computador? 

Mas a culpa pelo caos na educação do país não está apenas na ausência de tecnologias nas salas de aulas ou no despreparo do professor - o menos culpado -, mas nos métodos de alfabetização que não alfabetizam e nas invencionices pedagógicas. E quem diz isso é José Morais, português especialista em alfabetização, emérito da Universidade de Bruxelas, doutor em desenvolvimento da cognição e psicolinguística que defende a neurociência na sala de aula.

O resultado é esse que já conhecemos: o Ensino Básico do Brasil está nas posições mais baixas nas avaliações coordenadas pela UNESCO, na América Latina (em leitura, matemática e ciência ficamos nas posições mais baixas (I e II, de uma escala que vai até IV) e 60º lugar no PISA, de 72 países avaliados). No
Enem 2014 o Ensino Médio, da rede pública, deu novo e enorme vexame.

Cognitivamente - segundo a neurociência - a criança pode aprender a ler aos 5 anos sem influenciar na maior ou menor habilidade para a leitura. Pelo método fônico uma criança brasileira pode se alfabetizar em menos de um ano, com excelente velocidade de leitura e compreensão.

Sabendo ler e entender o que leem, já no primeiro ano do Ensino Fundamental, a criança construirá, então, seu conhecimento, com muito mais facilidade e sem necessidade de se criar "programas de incentivos de leitura" que não conseguirão nenhum bom resultado entre analfabetos.

Em muitas cidades brasileiras o atual método de alfabetização (abençoado pelo Ministério da Educação e endeusado pelos intelectuais unespianos), foi colocado de lado e os resultados apareceram rapidamente. Por exemplo, Brejo Santo, uma pequena cidade com 45 mil habitantes, no Ceará cuja renda per capita é 70% menor que a média nacional, consegue alfabetizar seus alunos já no primeiro ano do Ensino Fundamental (99%) e seus alunos do 5º ano obtiveram excelente aproveitamento em matemática. Muitas unidades da rede da rede municipal chegam a 100%. O IDEB de Brejo Santo, há seis anos, era de 2,9. Hoje, 7,2, melhor que muitas capitais do país. Sabem o segredo? As invencionices construtivistas foram deixadas de lado e o método fônico foi aplicado.

Antes, a justificativa para o fracasso recaia no fato da comunidade escolar ser de baixíssima renda. Pois a mesma comunidade pobre, em menos de 6 anos, deu a volta por cima. Mais um mito derrubado. Na verdade, mais uma desculpa dada pelos pseudo pedagogos do Ministério da Educação contrariada na raiz do problema.

Basta lembrar que os dados do PISA mostram que os alunos mais pobres de Xangai sabem mais matemática que os alunos mais ricos dos Estados Unidos e Europa. Os defensores das teorias se calaram diante da constatação divulgada pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes - programa criado e ainda coordenado pelo matemático, físico e estatístico alemão Andreas Schleicher - que também fez o favor de publicar outros números que derrubaram vários
mitos da educação.

Atualização em 26.08.2016
Uma diretora de escola infantil de Bruxelas criou um aplicativo que caça livros ao invés de Pokémons. Os livros são espalhados pela cidade e os "caçadores" vão busca-los. Depois de ler, devolvem nos endereços indicados.