Em discurso da presidente em Campo Mourão (PR), Dilma diz ter apreço pela fome de sua audiência e que criança gosta de dar problema de madrugada.
Como não conseguimos entrevistar a presidente no empurra-empurra na saída, deixamos nossa tentativa de diálogo comentando o discurso abaixo.
Boa tarde. Eu gosto muito de aplausos, mas acho que vocês estão com a barriga vazia. Então, também eu tenho consideração e apreço pela fome de vocês todos.
Isso aí, Dilma. Admitir ter apreço pela fome dos outros é só para quem tem culhões de titânio. Coragem!
Queria dizer para vocês e iniciar cumprimentando aqui… Eu tenho muito prazer de estar aqui em Campo Mourão, portanto, eu queria cumprimentar, primeiro, todos os moradores e as moradoras aqui, de Campo Mourão.
A presidente sabe que está aqui, em Campo Mourão, e por isso vai cumprimentar quem está aqui, em Campo Mourão. Irrefutável.
E aí, eu tenho que iniciar cumprimentando aqui os nossos prefeitos, os prefeitos aqui e as prefeitas, porque eu vi muitas prefeitas, o que muito me orgulha ver que o Brasil crescentemente dá representação às mulheres. Porque é muito importante no nosso país que isso ocorra. Nós somos 50% da população, um pouquinho mais, não é, gente? E aí não tem… Eu vi aqui que teve, num primeiro momento, algum problema de dizer só as prefeitas? Não, as prefeitas, agora, os prefeitos não podem achar ruim, não, porque todo prefeito tem uma mãe, todo prefeito tem uma mãe e está todo mundo em casa.
Está todo mundo em casa. Cadê todo mundo?
Então queria primeiro dizer da importância que é o fato principalmente dos prefeitos e das prefeitas dos municípios de até 50 mil habitantes no Brasil, 50 mil habitantes. E nós sabemos que 90%, mais de 90% dos municípios têm até 50 mil habitantes no nosso país. Então, primeiro, eu cumprimento eles.
Fora existirem, qual é, afinal, a importância de haver prefeituras para cidades com menos de 50 mil habitantes? Não seria mais legal trocar, por, sei lá, um pesque-e-pague?
Depois eu queria cumprimentar, também, essa região, pela força aqui da agricultura.
Muito educado, senhora presidente! Nunca podemos ver um mapa-múndi sem cumprimentar cada país, então no nosso mapa devemos cumprimentar cada região sempre que ela aparece na nossa frente.
E fico muito feliz de estar aqui, também, discutindo tanto a infraestrutura, no que se refere a rodovias, quanto… porque armazenagem também é logística, armazenagem é uma questão estratégica para o nosso país.
Bravo, presidente! Será o anúncio extra-oficial da criação do Ministério dos Silos? Qualquer jogador de Command & Conquer sabe da importância deles.
Então eu queria aproveitar, cumprimentar vocês, iniciar cumprimentando o nosso governador do Paraná, o governador Beto Richa.
Mas quanta educação, sra. presidente! Não precisa de tanto, de verdade. Não precisa. Sério.
Cumprimentar o deputado, também do Paraná, o presidente em exercício da Câmara dos Deputados, André Vargas,
É sério, presidente, pode começar, já.
Queria cumprimentar os ministros: a ministra Gleisi Hoffmann, que é, de fato, falaram aqui que ela é minha mão direita. Ela é minha mão direita, minha mão esquerda, não é, Gleisi? É várias mãos.
Ô loco, sra. presidente.
Cumprimentar o nosso ministro dos Transportes, César Borges; cumprimentar o ministro também paranaense, o nosso querido Paulo Bernardo, das Comunicações; cumprimentar o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas.
Tá bom, presidente. Agora, sra. presidente, não pode fundir tanto ministro pra inaugurar trecho de obra de rodovia num ministério só? Sei lá, o ministério do Mão Na Massa. Dá até pra falar a sigla de boca fechada: MMNM. O que o seu, o meu, o “nosso querido” Paulo Bernardo tá fazendo aí em Campo Mourão, presidente, sendo ministro das Comunicações? Ainda mais sem comunicar nada, quietinho ali no fundo? Só por ser paranaense e marido da Gleisi?
Ô gente, pessoal dos Correios, outro dia eu fui pedir para não vaiarem uma governadora, e aí o jornal deu o seguinte: “Presidente Dilma é vaiada quando tenta não deixar vaiar uma governadora”. Então, estou pedindo aqui para vocês, vou tentar impedir que vocês não vaiem o Paulo Bernardo. Então, vocês não me vaiem não, heim? Sabem por que eu estou pedindo, gente? Eu sei que a vaia é uma manifestação, mas estou pedindo porque nós estamos aqui num momento de… Não, nós estamos num momento de confraternização. Eu entendo e acho legítimo o pleito de vocês. Nós vivemos numa democracia, todo mundo tem direito, no nosso país, de pleitear, reivindicar, debater, discutir, não estou tirando a razão de ninguém. Mas, um abraço para todos vocês.
Pô, presidente, pedindo com tanto carinho assim, não tem como resistir e não vaiar. Toma um abraço aí pra todos vocês do governo também, presidente.
Queria também cumprimentar a secretária de Comunicação Social, a ministra que é chefe da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas,
Presidente, é sério, já rolamos duas páginas pra baixo, pode parar de cumprimentar gente.
Dar um abraço à prefeita de Campo Mourão, Regina do Vale. E cumprimentar também seu marido, Laércio do Vale. Vale, não é?
Hahaha! Muito engraçado, sra. presidente. Vale, não é? Hahaha! Vale! Pegou? Haha.
Queria também cumprimentar a (…) Queria cumprimentar o (…) Cumprimentar o (…) Cumprimentar a todos os (…) Cumprimentar o (…) Cumprimentar os senhores e as senhoras (…)
Eu queria também dizer para a Regina que eu gostaria muito – viu, Regina? – de voltar aqui em algum momento e comer um carneiro no buraco. Nesse momento do dia, eu acho que todos nós sonhamos com um carneiro no buraco.
Então, Regina, eu não sei bem do que presidente está falando, mas acredite, a presidente achou errado quando falou do sonho de todos nós. Em uma rápida pesquisa de opinião entre meus cupinchas, descobri que há mais sonhos envolvendo a Olivia Wilde do que carneiros no buraco.
Eu queria iniciar dizendo para vocês o seguinte:
Presidente, poderia ter iniciado lá em cima, chuchu. Sério.
Um dos prefeitos, ou alguns dos prefeitos me disseram uma coisa que a mim toca muito, que é o fato que muitas vezes as pequenas prefeituras não têm a atenção que merecem ter.
Presidente, até entendo sua preocupação, mas você vai mesmo atender cada município com prefeitura? Tomar um cafézinho com cada um? Não é mais fácil mandar um cartão com felicitações gerais, assim, “oi, todos os prefeitos”, igual aquele clássico “oi, internautas”?
Por isso nós… eu quero começar explicando por que nós fizemos esse programa do kit. O kit motoniveladora, retroescavadeira e caminhão-caçamba.
Presidente, é sério, pode começar, a gente tá esperando desde o começo.
Tem município que tem mil quilômetros de estrada vicinal linear, tem município que tem 500 quilômetros. Isso significa que por ali, por essas estradas, elas são verdadeiras veias de alimentação do organismo econômico.
Mas que metáfora, presidente.
Por isso que o governo federal resolveu fazer isso através de doação. Nós estamos doando, passando, como se diz, com papel assinado, esses equipamentos, porque achamos que muitos, também me disseram aqui e em outros lugares do país, que os equipamentos estavam sucateados.
Mas que belo, Dilma! Então a senhora está DOANDO. Aposto que tirou tudo do seu próprio bolso e está aí, DOANDO seu rico dinheirinho para a população, não é? Certeza de que não aumentou imposto, não pegou nada de ninguém para dar para outrém. Adoro ver doação, presidente. Toca meu coração, muito melhor que esse modelo falido de cobrar imposto dos outros e dizer que está fazendo algo pelo social.
Na verdade, nós estamos fazendo um esforço para fornecer, para o Brasil inteiro – são 5.061 municípios, 5.061 municípios no Brasil inteiro, mais ou menos 90% de todos os municípios.
Imagine, presidente, a conta da senhora está muito humilde. 5.061 municípios de 5.061 municípios dá mesmo é 100% de todos os municípios (prova dos nove tirada).
E por que é que tinham que ser fábricas que produzem aqui no Brasil? Porque um programa desses, que é feito com recursos que nós cobramos dos contribuintes, nós temos que sempre olhar como é que devolvemos para o contribuinte a melhor e o melhor efeito e condição.
Mas, presidente, e aquele papo brother de “doação”? Era tudo “doação imposta”, assim? :(
A demanda é de vocês, agora, ganha também a cidade porque vai ganhar em melhoria do emprego e aumento da produção.
Presidente, não era mais fácil pra aumentar a produção não tungar tudo o que produzem em imposto? Assim, vocês param de tomar dinheiro do “contribuiente”, ele fica mais rico e a produção fica com ele. Não é uma idéia bem “social”?
Quero também lembrar a vocês uma outra questão relativa a todos os municípios, que é a questão do Mais Médicos. O Mais Médicos, eu sempre escuto os prefeitos. Por que é que eu escuto os prefeitos? Porque é lá que está a população do país, ninguém mora na União, ninguém mora… “Onde você mora?” “Ah, eu moro no Federal.” Não tem isso, você mora no município, porque mora na cidade. Então escuto os prefeitos porque lá está a fala da população.
Mas que ouvinte a senhora é, presidente! E olha que agora há pouco a senhora estava tão educada que até chegou a “cumprimentar a região”, agora está sabendo que as pessoas “moram no município, porque mora na cidade”. E olha que você está elogiando justamente a população rural, que mora no município sem morar na cidade!
E eu queria dizer que uma das maiores reclamações, reivindicações, análises que eu escutei dos prefeitos, era falta de médico, a falta de médico. De outro lado, os governadores também falam a mesma coisa, os senhores governadores também, de outro lado, o Ministério da Saúde também fala a mesma coisa. De outro lado, se você olhar as pesquisas, o que é que as pesquisas dizem? Ah, as pesquisas dizem o seguinte: o que é que a população quer? melhor saúde. E o que é que ela diz que é um problema para ela? “Eu quero que haja um atendimento médico para mim”, é isso que a pessoa responde. (…) Eu estou falando de pesquisas específicas de Saúde, não estou falando de pesquisa política. Específica de Saúde, contratadas por todos os órgãos que fazem análises sobre isso.
As pesquisas de saúde garantem que as pessoas querem melhor saúde. Irrefutável, presidente! Não sei por que perdemos tanto tempo discutindo positivismo, fenomenologia, pragmatismo ou estruturalismo com uma fonte de sabedoria tão pujante na nossa cara!
Então, nós criamos o Mais Médicos para: Como? Fazer o quê? Por quê? São as perguntas. Quando?
Só faltou “onde” e “quem”.
Mas, também, não olhamos com nenhum preconceito médico formado fora do Brasil. Ah, por que é que não olhamos? É porque nós, nós inventamos isso? Não.
Que susto, Dilma. Por um momento, quase acreditei que o Brasil tinha inventado o estrangeiro. Ainda bem que eu estava errado. Ainda mais depois de descobrir que tudo foi inventado em 2002.
Hoje eu quero aqui explicar que nós vamos distribuí-los de acordo com o seguinte: população. Por que população? Porque nós queremos que a maior quantidade de pessoas seja atendida, daí o critério população. Quanto mais população, mais carência de médico, é ou não é?
Éééééé, presidente!
Segundo critério: pobreza. Nós somos um país que tem que focar na questão da pobreza, sim. Por isso, o outro critério é pobreza, porque a pobreza, ela não está em um lugar só do Brasil. O Brasil é um país que não tem a pobreza… que você fala, “olha, ela se localiza ali”, “ela se localiza lá”. Não, ela é bastante espalhada, e é… ela é territorialmente localizada, se a gente considerar o percentual, mas todo estado da Federação tem seus núcleos mais pobres.
Nada mal para quem cumprimenta região e depois diz que não se mora na União, mas na cidade, presidente.
Nós sabemos o que é uma mãe, e criança geralmente gosta de ter asma de madrugada, ou bronquite ou qualquer coisa, não é no horário comercial, criança tem… dá problema é de madrugada.
Mas criança é mesmo uma peste, né, presidente?
Mas voltando à questão das pequenas prefeituras, dos municípios. Eu acredito que esse programa das retroescavadeiras é um programa de independência desses municípios.
Mas que mudança de tom, presidente! De uma criança pentelhando só porque tem esse prazer diabólico em ter asma, bronquite ou qualquer coisa fora do horário da novela pra uma retroescavadeira, que garantirá independência aos municípios!
Queria também falar que junto com essa estrutura, como o ministro Pepe disse, por onde passa um caminhão com a safra, passa, eu gostaria de falar do ônibus escolar, passa o ônibus escolar. Por que é que eu falo primeiro do ônibus escolar? Porque eu acho que esteja… seja, seja urbano ou rural, seja agricultura, indústria ou serviços, nosso país só será um grande país se nós formos capazes de mudar a qualidade da educação no nosso país.
Sabe o que mais passa onde passa caminhão, presidente? Isso mesmo: frango. Aliás, sabe por que a galinha atravessou a rodovia?
Agora nós temos dinheiro e é por isso que é passaporte para o futuro. (…) Por isso que é importantíssimo para os prefeitos, para nós, do governo federal, e para o governador, esse programa de royalties e Fundo Social do Petróleo. O petróleo um dia acaba. Se nós mudarmos a qualidade da educação do Brasil, os brasileiros e as brasileiras, os brasileirinhos e as brasileirinhas, pelas creches que nós estamos fazendo, e pelo fato de nós termos que dar muita importância para a professora que alfabetiza as crianças. Isso é o nosso futuro, e nós temos quee agarrar isso com as duas mãos.
Pede ajuda pra Gleisi, presidente!
Ninguém vai poder ficar fazendo aquela… porque tem hora que tem isso. O cara faz demagogia, o cara ou a cara. Faz demagogia, diz “ah, eu tenho que melhorar o salário”, agora, não diz de onde a gente tira o dinheiro. Desse jeito, não, nós sabemos de onde está saindo esse dinheiro. Esse dinheiro é carimbado. Esse dinheiro é para a nossa… nós gastarmos com isso, com educação. As crianças deste país, aos oito anos, elas têm que saber português, interpretar um texto simplinho, saber escrever um texto simples, ler um texto simples, têm que saber as quatro operações aritméticas elementares.
É verdade, tem muita gente no país precisando saber escrever um texto simples, presidente.
E eu quero dizer também para os prefeitos e as prefeitas aqui presentes que é muito importante um programa do governo federal chamado Pronatec, Pronatec. A parte – e eu estou me referindo aqui a duas partes: à parte que é o chamado Pronatec Bolsa Família, ou melhor, Pronatec Brasil sem Miséria, e à parte chamada Pronatec capacitação profissional.
Agora o texto ficou muito complicado, presidente. Repete.
Esse beneficiário do Minha Casa, Minha Vida pega esse cartão, que é de cinco mil reais e tem direito, durante um ano, de comprar, com juro subsidiado e prestações que duram cinco anos, tem direito de comprar o quê? Fogão, geladeira, televisão de plasma, e para nós, mulheres, uma máquina de lavar automática. Não é tanquinho, é máquina de lavar automática. Tira a mulher do tanque. E eu estou de olho no tanque, viu, meninas?
Presidente, a sra. já ouviu a opinião da Lola Aronovich e do movimento feminista sobre essa última passagem?
Estou falando isso porque muitos de vocês… tem gente do Minha Casa, Minha Vida, então tem que ajudar a gente a divulgar o programa, avisar para a pessoa “olha, você tem direito a isso”. Se você não tem colchão, você pode comprar colchão. Ele não precisa comprar tudo, pode comprar o que ele quiser e tem um ano, pode comprar devagar, tem um ano para escolher.
Ah, é verdade. Eu não preciso comprar um colchão agora, posso esperar mais um pouco, presidente.
Finalmente, eu quero, antes de encerrar porque todo mundo está com fome, eu quero falar sobre esse programa… sobre três coisas. Primeiro, eu tentarei voltar aqui, lá em Maringá, para o Contorno Norte de Maringá, em novembro. Eu acho importantíssimo a gente fazer a Boiadeira. Darei o meu maior empenho, ficarei sempre disponível para que nós superemos todos os entraves que eventualmente possam ocorrer. E, terceiro, eu acredito que o Programa de Armazenagem é um dos programas mais importantes do meu governo.
Olha, presidente, também parece importante frisar o negócio sobre precisar saber operação aritmética. Por exemplo, depois do “primeiro” vem o “segundo”.
Eu incomodo todo santo dia o Osmar. Cadê o Osmar? Todo santo dia eu incomodo o Osmar, e todo santo dia ele me incomoda também. Então nós nos incomodamos por um objetivo muito bom, não é, Osmar? Nós queremos gastar, nós queremos… porque tem gente que não quer. O governo federal quer, nós queremos gastar, todos os anos, R$ 5 bilhões.
Na real, presidente, eu quero que você gaste o quanto quiser, desde que não seja do meudinheiro, né? Esse negócio de gastar dinheiro dos outros é fácil, difícil é controlar o cartão de crédito que não é nosso.
É um dinheiro baratíssimo.
R$ 5 bilhões, presidente? Sua conta tá assim, já? Agora explica como é isso de “dinheiro caro” e “dinheiro barato”, se todos custam… dinheiro.
Um país que, esse ano, tudo indica, será o maior produtor de soja do mundo, por quê? Porque nós fizemos por onde, e os outros tiveram um certo azar climático.
Que modéstia, presidente.
Nós somos capazes, este país é um país de gente gigante, gigante não na sua estatura física, gigante no seu esforço, na sua capacidade de trabalho e na estatura moral.
Um beijo e um abraço a todos vocês.
Um beijo gigante pra minha mãe, pro meu pai e pra você também, presidente.