"Nova batalha no front da inflação"
Editorial de O Globo
Se dependesse da presidente Dilma, 2012 desapareceria do calendário, devido ao balanço medíocre de uma economia em marcha lenta e inflação em alta, uma combinação indigesta. E neste primeiro semestre não deverá haver boa notícia, pelo menos nos preços. Se todos os ventos sopram a favor de alguma expansão econômica — mas nada excepcional —, a inflação preocupará cada vez mais, a curto prazo. Este cenário está explícito na ata da última reunião do Conselho de Política Monetário (Copom), do Banco Central, quando a taxa básica de juros foi mantida nos 7,25%.
Uma projeção para este ano, com algum viés de otimismo, foi feita pelo economista Francisco Lopes, ex-presidente do BC, em artigo no jornal “Valor”. Atento observador do comportamento da inflação, Chico Lopes prevê que ela chegará a ultrapassar o teto da meta de 6,5% até junho, porém fechando o ano abaixo dos 5,8% de 2012. No primeiro trimestre poderá explodir em 7,5%.
Portanto, aproximam-se momentos de rara tensão, porque o BC, a manter a orientação que adota, não deverá mexer nos juros. Daí o economista usar no artigo o termo “sangue-frio” — o que governo e BC precisarão ter neste momento. Convenhamos, não faz mesmo sentido elevar a Selic com um nível de atividade ainda tão baixo.
O cenário otimista em que o IPCA encerrá o ano aquém da inflação de 2012 — embora ainda distante da meta efetiva de 4,5% — se baseia em vários fatores. Principalmente, a diminuição da pressão de alta nos alimentos e a queda no custo de energia (eis o motivo da corrida do governo Dilma para fazer de forma radical, pouco discutida, o corte de tarifas). Poderão compensar a prevista e necessária elevação dos combustíveis.
Mas novamente volta à cena o resto do governo. Quando Henrique Meirelles estava no BC, o desregramento nos gastos primários era compensado pela política monetária (juros). Na gestão Dilma, a banda toca em outro tom. O BC executa a tarefa de cortar os juros — ninguém é contra taxas mais baixas —, mas os gastos continuam à solta. Até técnicas de contabilidade criativa foram usadas para mascarar o superávit primário.
Os gastos são mesmo necessários, mas na ponta do investimento. Porém, eles estão, como sempre, sem rédeas curtas no custeio. A ver como será este ano. O BC, como de praxe, pede uma política fiscal que o ajude na inflação. Não tem sido ouvido.
Quando os preços se aproximarem do teto da meta, será necessário muito discurso por parte do BC para defender a imobilidade do Copom. Mas será crucial a certeza da autoridade monetária de que mecanismos de realimentação da inflação não foram acionados de forma irreversível, e que expectativas de preços em alta contínua já não terão sido desencadeadas de forma perigosa.
Aproxima-se outro teste para BC e Planalto, e mais uma vez estará em jogo a estabilidade conseguida há quase 20 anos pelo Plano Real, um patrimônio da sociedade.
Editorial de O Globo
Se dependesse da presidente Dilma, 2012 desapareceria do calendário, devido ao balanço medíocre de uma economia em marcha lenta e inflação em alta, uma combinação indigesta. E neste primeiro semestre não deverá haver boa notícia, pelo menos nos preços. Se todos os ventos sopram a favor de alguma expansão econômica — mas nada excepcional —, a inflação preocupará cada vez mais, a curto prazo. Este cenário está explícito na ata da última reunião do Conselho de Política Monetário (Copom), do Banco Central, quando a taxa básica de juros foi mantida nos 7,25%.
Uma projeção para este ano, com algum viés de otimismo, foi feita pelo economista Francisco Lopes, ex-presidente do BC, em artigo no jornal “Valor”. Atento observador do comportamento da inflação, Chico Lopes prevê que ela chegará a ultrapassar o teto da meta de 6,5% até junho, porém fechando o ano abaixo dos 5,8% de 2012. No primeiro trimestre poderá explodir em 7,5%.
Portanto, aproximam-se momentos de rara tensão, porque o BC, a manter a orientação que adota, não deverá mexer nos juros. Daí o economista usar no artigo o termo “sangue-frio” — o que governo e BC precisarão ter neste momento. Convenhamos, não faz mesmo sentido elevar a Selic com um nível de atividade ainda tão baixo.
O cenário otimista em que o IPCA encerrá o ano aquém da inflação de 2012 — embora ainda distante da meta efetiva de 4,5% — se baseia em vários fatores. Principalmente, a diminuição da pressão de alta nos alimentos e a queda no custo de energia (eis o motivo da corrida do governo Dilma para fazer de forma radical, pouco discutida, o corte de tarifas). Poderão compensar a prevista e necessária elevação dos combustíveis.
Mas novamente volta à cena o resto do governo. Quando Henrique Meirelles estava no BC, o desregramento nos gastos primários era compensado pela política monetária (juros). Na gestão Dilma, a banda toca em outro tom. O BC executa a tarefa de cortar os juros — ninguém é contra taxas mais baixas —, mas os gastos continuam à solta. Até técnicas de contabilidade criativa foram usadas para mascarar o superávit primário.
Os gastos são mesmo necessários, mas na ponta do investimento. Porém, eles estão, como sempre, sem rédeas curtas no custeio. A ver como será este ano. O BC, como de praxe, pede uma política fiscal que o ajude na inflação. Não tem sido ouvido.
Quando os preços se aproximarem do teto da meta, será necessário muito discurso por parte do BC para defender a imobilidade do Copom. Mas será crucial a certeza da autoridade monetária de que mecanismos de realimentação da inflação não foram acionados de forma irreversível, e que expectativas de preços em alta contínua já não terão sido desencadeadas de forma perigosa.
Aproxima-se outro teste para BC e Planalto, e mais uma vez estará em jogo a estabilidade conseguida há quase 20 anos pelo Plano Real, um patrimônio da sociedade.