quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O legado de Eizi Hirano

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Eizi Hirano, um dos mais importantes e respeitados empresários da fotografia no Brasil, fez história pelas ideias inovadoras e pelo seu espírito empreendedor. Sua marca registrada sempre foi a ousadia. Era admirado por diretores de gigantes multinacionais que não compreendiam como uma pequena empresa do interior, na época, ditava as regras para o milionário mercado da fotografia no Brasil.

Em certa ocasião, quando chegava ao local da inauguração de uma loja Jetcolor Cine Foto, o presidente da Kodak do Brasil, Mr. King, assustou-se com a presença de cinco mil pessoas na festa e exclamou:

“Meu Deus, isso é um case mundial pra ser analisado”. O americano referia-se a capacidade de Eizi Hirano massificar o que sempre foi elitizado, bem a gosto da multinacional que, na época, produzia câmeras populares. Isso ilustrava bem porque o menino pobre, filho de imigrantes japoneses, era respeitado em todo mundo.

 A agressividade do marketing de varejo impressionava. Ainda mais quando câmeras fotográficas, álbuns e porta-retratos eram ofertadas dentro de bancas, mais próprias para vender confecções baratas.

Em pouco tempo a rede Jetcolor tomou-se a segunda maior consumidora de filmes no país. Nessa época já eram 50 lojas, inclusive dentro de São Paulo, cuja invasão foi planejada com técnicas de guerrilha. O pensamento era dominar o interior, o segundo maior mercado consumidor do país, para depois, silenciosamente, invadir a capital. 

Suas ideias inovadoras começaram bem antes, quando os irmãos Jorge, Giro e Eizi assumiram a direção do Foto Ideal, de um tio, na década de 50. Ao invés de esperar pelos clientes, armavam-se de câmaras e saiam em busca deles. Em caravanas, fotografavam de casa em casa e, após, promoviam uma exposição de posters. Daí surgiu o Salão da Criança, que percorreu todo país. 

Mais tarde vieram os Bailes de Debutantes e Formaturas. A Cia Fotográfica Hirano descartou esses segmentos e, no final da década de 70, voltou às suas origens com as lojas de varejo, com um formato agressivo de vendas.

 Tupã mistura história de pioneirismo e tradição na fotografia, as quais valem ao município o título de Capital Brasileira das Fotos de Evento. Graças ao pioneirismo da família Hirano, a cidade hoje abriga mais de 60 empresas do segmento, empregando diretamente mais de mil pessoas e servindo como fonte de renda para mais de 150 microempresas na prestação de serviços e fabricação de álbuns.

Revista Tupã, 80 anos

“Eizi Hirano foi inédito naquilo que fez”, destaca o prefeito de Tupã, Waldemir Gonçalves Lopes. “A família deixou um legado e foi reconhecida nacionalmente. Eles gostavam e acreditavam em Tupã. Oxalá todos os empresários se inspirassem nesse exemplo de amor à cidade”. O empresário ainda exerce grande influência na área. Suas ideias ainda são atuais e copiadas pelo mercado brasileiro de fotografia. ‘Tudo que sei aprendi com o Hirano” - confessa Nelson Rocha, sócio de sua mulher Sueli numa empresa de reportagens fotográficas. Ambos foram funcionários de Eizi durante mais de 15 anos.

A cidade ainda é norteada pela fotografia, semente plantada pelos irmãos Hirano e regada pela ousadia e criatividade de um empreendedor que se tornou milionário e, mesmo assim, adorava comer mortadela, o principal prato de muitos natais na sua infância pobre.

Matéria da Revista de Tupã, produzida por nós para a comemoração dos 80 anos de Tupã. O lançamento e distribuição ocorreram durante a apresentação do documentário A História de Tupã, na Igreja Batista. Veja o documentário, em vídeo, neste link Eizi Hirano.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Estranhíssimo, diz Gilmar Mendes sobre doações aos mensaleiros presos

Gilmar Mendes: MP precisa investigar doações

O ministro do STF, Gilmar Mendes, acha que o Ministério Público deve investigar as doações recebidas pelos réus do PT para pagamento das multas impostas no processo do mensalão. “Agora, dado positivo, será que esse dinheiro que está voltando é de fato de militantes? Ou estão distribuindo dinheiro entre militantes para fazer esse tipo de doação? Será que não há um processo de lavagem de dinheiro aqui? São coisas que nós precisamos examinar”, afirmou Mendes.

Genoíno, Delúbio, Dirceu e João Paulo, além da condenação a prisão foram igualmente condenados ao pagamento de multas que somam mais de R$ 2 milhões. Eles alegam que os militantes do partido estão doando o que soa estranho demais pela facilidade de arrecadação.

"Há algo muito estranho, muito grave nisso e é preciso ser investigado” disse o ministro.

"Eles não são criminosos políticos, não é gente que lutava por um ideal e está sendo condenado por isso. São políticos presos por corrupção e a sociedade precisa discutir isso" finalizou Gilmar Mendes.

O raciocínio do ministro coincide com a opinião popular que soma atitudes estranhas como, por exemplo, o emprego de R$ 20 mil por mês para José Dirceu trabalhar de gerente num hotel cuja sede fica no Panamá e seu presidente é um trabalhador pobre que mora num bairro da periferia da capital.

Igualmente suspeito é o fato de Dirceu ter criado uma empresa de consultoria com sede no mesmo endereço do Panamá. Além da empresa de consultoria o hotel também pertenceria a José Dirceu? A Lula ou seu filho que tornou-se milionário logo depois de deixar um emprego no Zoológico de São Paulo?

- Está estranhíssimo (...) Ele era também dono do hotel? Era empregado e empregador? Veja quanta coisa está sendo colocada” , questionou o ministro. Somente em dois dias mais de 140 advogados "doaram" dinheiro para os condenados.

Seria dinheiro auferido pelo fruto da corrupção que estaria sendo distribuído para militantes e advogados "doarem" aos líderes condenados?

Pizzolato deve ser extraditado para o Brasil: prisão foi em Maranello

O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato é preso na Itália

O ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, foi preso na Itália segundo informações da Polícia Federal. Pizzolato, de 61 anos, foi condenado no processo do mensalão mas fugiu quando o STF começou expedir os mandatos de prisão. Ele foi detido em Maranello, usando documentos falsos, na casa de um sobrinho. Segundo a PF, a prisão do mensaleiro condenado aconteceu em parceria com a polícia da Itália.

Pizzolato foi condenado a 12 anos e sete meses de prisão envolvido nos crimes de corrupção do PT no processo do mensalão.  Autoridades brasileiras vão iniciar o processo de extradição.

Médica cubana foge e busca asilo

Ramona Matos Rodriguez, médica cubana denuncia contrato: dos R$ 10.000, ela fica apenas com R$ 800,00. O resto é do governo de Cuba.

Ramona Matos Rodriguez, de 51 anos, médica cubana que trabalha no programa brasileiro Mais Médicos fugiu neste sábado e pediu ajuda para conseguir asilo político. Ela trabalhava em Pacajá, interior do Pará.

Ramona apresentou o contrato de trabalho com o governo de Cuba onde fica demonstrado que os médicos "recebem" R$ 10.000,00 por mês mas ficam somente com R$ 800,00. Cerca de R$ 1.200,00 são depositados numa conta em Cuba que seriam "devolvidos" no retorno ao país. O resto, R$ 8.000,00, fica para uma empresa chamada Comercializadora de Servicios Médicos Cubanos S.A - uma intermediária autorizada pelo governo de Cuba.

Ela confessou-se cansada da exploração pelo regime ditatorial de Cuba. A médica está sob proteção da liderança do Partido Democratas e, segundo Ronaldo Caiado, só sairá de lá se for seguro. O trabalho dos médicos não foi um convênio firmado com a Organização Panamericana de Saúde, OPAS, como afirmou o governo brasileiro, mas com uma "empresa cubana".

A médica contou que descobriu que o salário seria de R$ 10 mil mensais somente quando chegou ao Brasil.

— Me senti enganada. Ninguém falou em salários de dez mil reais quando nos contrataram em Cuba.

O caso no Brasil pode ser inédito mas ocorrem constantemente em outros países onde os médicos cubanos são "contratados", como na Venezuela, de onde eles fogem para os Estados Unidos. Quando deixam Cuba para trabalhar em outro país deixam também alguém da família como "refém". Isso evitaria deserções. Os passaportes dos médicos são retidos na embaixada Cubana e normalmente eles são vigiados por espiões enviados pela ilha.

O "grande êxito" da saúde cubana deve-se à propaganda oficial, segundo María Werlau, diretora da organização Archivo Cuba, criado pelo Dr. Constantine Menges. "A saúde em Cuba é péssima para o cidadão até por falta de recursos. A elite do governo e os estrangeiros que pagam em dólar, são bem atendidos mas presos e dissidentes políticos não".

“A saúde em Cuba não é gratuita: isso é um mito. Às vezes os profissionais sugerem que se peça os medicamentos aos familiares no exílio porque não se encontram nas farmácias", diz Berta Soler, técnica em microbiologia.
________________________________________________________________________







Deputado do PT preso por corrupção

João Paulo já está na Papuda

Para João Paulo Cunha, do PT, Barbosa estava no cargo "porque era compromisso nosso, do PT e do Lula, de reparar um pedaço da injustiça histórica com os negros" e não pelos seus méritos. Barbosa não é um negro traidor, como quis o PT. É um herói.

O deputado do PT condenado por corrupção, peculato e lavagem de dinheiro se entregou no complexo da Penitenciária da Papuda, em Brasilia, informou a Polícia Federal. De pronto ele descartou a possibilidade de renunciar ao mandato de deputado. O Ministro Joaquim Barbosa decretou a prisão de Cunha na tarde de ontem. Caberá a Câmara dos Deputados decidir se um presidiário pode ocupar o cargo enquanto estiver recolhido ao xadrez.

Ele foi condenado a 6 anos e 4 meses por corrupção passiva e peculato e a 3 anos por lavagem de dinheiro num total de 9 anos e 4 meses. Essa pena implicaria seu cumprimento em regime fechado mas como corte analisa o embargo infringente na questão da lavagem de dinheiro, Barbosa determinou o regime semi-aberto. Neste caso o condenado pode trabalhar durante o dia e a noite dormir na prisão.

Durante as férias de Barbosa assumiram Lewandowski e Carmem Lúcia como substitutos. Estes recusaram-se assinar a prisão de João Paulo alegando que não cabia a eles essa ação. Para os analistas os magistrados que substituíram Barbosa poderiam e deveriam expedir o mandato de prisão já eles só poderiam se manifestar sobre novos pedidos, o que não era o caso de Cunha. Sem argumentos a defesa de Cunha alegou situação desumana com o réu o retardamento da expedição de prisão.

Em discurso violento contra o Supremo Tribunal Federal, João Paulo chegou a dizer que o Ministro Joaquim Barbosa chegou ao STF "porque era compromisso nosso, do PT e do Lula, de reparar um pedaço da injustiça histórica com os negros."

Para o PT Joaquim Barbosa alcançou o mais importante cargo na mais importante corte de justiça do país, não por seus méritos, mas porque é negro. Porque era compromisso do partido. E porque o PT precisava alguém assim para fazer parte do seu show político.

O tom de lamentação retratou a decepção dos petistas que esperavam, certamente, um ministro negro indicado por Lula, dócil e serviçal e pronto para retribuir a gentileza. E o que se viu foi apenas um homem convicto das suas obrigações, sério, justo e independente atuando com maestria e técnica para condenar corruptos.

Para os revoltados do PT, Joaquim Barbosa pode ser um negro traidor. Para o povo brasileiro, um herói.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Cunha vai para a prisão hoje

Para João Paulo Cunha, do PT, Barbosa estava no cargo "porque era compromisso nosso, 
do PT e do Lula, de reparar um pedaço da injustiça histórica com os negros" 
e não pelos seus méritos.

O presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa expediu mandato de prisão contra o deputado federal João Paulo Cunha, do PT de São Paulo. Cunha foi condenado a seis anos e quatro meses por peculato e corrupção passiva e 3 anos por lavagem de dinheiro, totalizando nove anos de quatro meses de prisão.

Nas duas primeiras acusações Barbosa determinou o trânsito em julgado e o recolhimento do réu que poderá cumprir a pensa em semiaberto - pode trabalhar durante o dia e dormir na cela à noite - direito que ele perderá se o STF não aceitar o embarga infringente interposto pelo réu. Neste caso ficaria na prisão permanentemente.

Durante as férias de Barbosa assumiram Lewandowski e Carmem Lúcia como  substitutos. Estes recusaram-se assinar a prisão de João Paulo alegando que não cabia a eles essa ação. Para os analistas os magistrados que substituíram Barbosa poderiam e deveriam expedir o mandato de prisão já eles só poderiam se manifestar sobre novos pedidos, o que não era o caso de Cunha. Sem argumentos a defesa de Cunha alegou situação desumana com o réu o retardamento da expedição de prisão.

Em discurso violento contra o Supremo Tribunal Federal, João Paulo chegou a dizer que o Ministro Joaquim Barbosa chegou ao STF "porque era compromisso nosso, do PT e do Lula, de reparar um pedaço da injustiça histórica com os negros."

Para o PT Joaquim Barbosa alcançou o mais importante cargo na mais importante corte de justiça do país, não por seus méritos, mas porque é negro. Porque era compromisso do partido. E porque o PT precisava alguém assim para fazer parte do seu show político.

O tom de lamentação retratou a decepção dos petistas que esperavam, certamente, um ministro negro indicado por Lula, dócil e serviçal e pronto para retribuir a gentileza. E o que se viu foi apenas um homem convicto das suas obrigações, sério, justo e independente atuando com maestria e técnica para condenar corruptos.

Para os revoltados do PT, Joaquim Barbosa pode ser um negro traidor. Para o povo brasileiro, um herói.

Ações da Petrobras despencaram 35% em dois meses


Manipulação dos preços de combustíveis com objetivos eleitoreiros: Petrobras sofre
com a interferência do governo e ações despencam

Em dois meses as ações da Petrobras despencaram 35%. Ontem a queda foi de 6%. Em novembro o papel valia R$ 21,44 e agora R$ 13,85. 

Motivos? A Petrobras sofre muita interferência do governo e, em consequência, os resultados são péssimos. A empresa, com o tempo, por má gestão, produz menos e importa mais combustíveis. Com o dólar em alta o buraco é gigantesco. Basta lembrar que a dívida da Petrobras ´há seis meses era de U$ 7,8 bilhões, de dólares. Impagável! 

Muito pior é que os preços da gasolina são controlados artificialmente pelo governo, isto é, o preço que se paga na bomba é 30% menor do que deveria ser. Idem na energia elétrica. O governo manipula os preços com interesses eleitoreiros, nada além disso. E por conta disso a Petrobras está na condição de falência.

Com inflação alta, crescimento baixo e dólar em explodindo, o descrédito é maior que os danos sofridos até agora pela empresa. Quem investirá num país comandado por uma destrambelhada que aplaude ditaduras, cria 39 ministérios para satisfazer a ganância dos prostitutos partidos da base de apoio e aplaude condenados por corrupção e formação de quadrilha?

Quem se fia na palavra de Dilma que manipula dados, maquia resultados, esconde números? Recentemente ela afirmou que a inflação estava dentro da meta do governo. A meta era 4,5% e a inflação bateu no teto de 6,5%.

Quem se fia numa economia comandada por um fraco como Guido Mantega um dos economistas mais ridicularizados em todo mundo por conta das suas previsões absurdas.
No começo do novo ano o Brasil teve o maior déficit comercial de toda a sua história em janeiro: US$ 4,05 bilhões negativo. 

Numa terra de governantes malandros invocar otimismo é para trouxas.

Rumo a 2018?

Merval Pereira, O Globo

Ficar pelo menos 20 anos no poder tem sido o sonho de consumo dos partidos políticos brasileiros desde que PC Farias prognosticou que o governo Collor iniciaria uma saga dessa duração. Depois foi Serjão, o trator do PSDB, quem definiu que em 20 anos os tucanos transformariam a face do país, e fez-se a reeleição.

Hoje, o PT está mais próximo do que jamais estiveram os outros partidos de cumprir essa sina, e não é à toa que já se anuncia que Lula estaria disposto a voltar a se candidatar em 2018, dando como favas contadas a reeleição da presidente Dilma este ano.

De todos os partidos que estiveram em proeminência na política brasileira depois da redemocratização, o PT é sem dúvida o que montou a máquina política mais eficiente do ponto de vista eleitoral, não de gestão pública, e vem trabalhando com competência para atingir seu objetivo, sem que entre nesse julgamento qualquer valor ético ou moral.

Caberá à presidente Dilma, por esses azares que só a política sabe montar, a consolidação do projeto petista, logo ela que não é uma petista de raiz e não conseguiu capturar a alma dos petistas.

Caso se reeleja, como indicam as pesquisas, e o PT vença os governos estaduais em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, estará aplainado o caminho para a afirmação da hegemonia petista por 20 anos ou mais.

Mais paradoxal ainda, Dilma poderá ser, por outro lado, a culpada pela interrupção da escalada no poder do PT, pois tem feito até o momento um governo mais que medíocre que abre às oposições, ampliadas pela defecção à esquerda do PSB de Eduardo Campos, a melhor chance dos últimos tempos de vencer as eleições de outubro.

De fato, embora Dilma continue sendo a favorita, nunca houve melhores condições objetivas e subjetivas de derrotar o PT, e certamente é por isso que tantas trapalhadas administrativas vêm acontecendo, transformando situações corriqueiras, como a necessidade de escalas técnicas em viagens internacionais, em crises políticas que a oposição vem explorando com o mesmo grau de intransigência que caracterizou a atuação petista na oposição.

As condições subjetivas estão nas ruas desde junho do ano passado, surpreendendo quem se considerava dono das manifestações populares. As coisas estão muito tumultuadas no país hoje, com a incerteza tomando conta da percepção popular quer com relação à situação econômica, quer quanto à de segurança pública, e ambientes incertos quanto ao futuro não fazem bem aos governos.

Dizer que a oposição é tão fraca que não oferece perigo à hegemonia petista é simples jogo político, pois a situação não é tão fácil quanto querem que pareça. A oposição, não importa que candidato apresente, tem recebido sistematicamente entre 40% e 45% dos votos no segundo turno, isso porque o PT, apesar de toda a força popular de Lula, nunca conseguiu vencer uma eleição presidencial no primeiro turno, e, no entanto, Lula foi derrotado nessas circunstâncias por Fernando Henrique duas vezes seguidas.

Mesmo o fato de terem vencido três eleições seguidas não dá ao PT a hegemonia que ostenta, pois bastaria uma derrota para o PSDB este ano para que a igualdade se estabelecesse.

O fato é que o país continua virtualmente dividido entre as forças políticas que apoiam PT e PSDB, sendo que o lado petista tem uma superioridade artificial neste momento, depois que perdeu o apoio do grupo ecológico liderado pela senadora Marina Silva, e agora uma dissidência socialista consolida a ruptura de forças políticas ponderáveis à esquerda, deixando o PT nas mãos de partidos de centro ou de direita como o PMDB, o PP, o PSD.

Uma aliança frágil que pode se romper a qualquer momento, como está acontecendo em alguns estados, como a Bahia e o Rio de Janeiro. Independentemente de ações acertadas da oposição, há problemas para o governo em todos os estados em que teve grande votação na eleição de 2010, até mesmo no Maranhão.

A presidente Dilma é temida, mas não amada por seus aliados não ideológicos. E o PT nem é temido nem amado. Todos prefeririam ganhar com Aécio Neves ou Eduardo Campos do que com ela ou o PT.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O dia que "entrevistei" João Figueiredo

João Figueiredo, sobre a
abertura política: "Se alguém
for contra eu prendo e arrebento".
Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

João Baptista de Oliveira Figueiredo, o último dos militares no poder, era barra pesada. Ao empossar como presidente disse que democratizaria o Brasil. Falava pouco com a imprensa e era duro nas entrevistas. E não se continha nas palavras. Perguntado se gostava estar no meio do povo respondeu que preferia o cheiro dos cavalos.

Quando procurado por João Havelange, então presidente da Fifa, para trazer a copa de futebol ao Brasil, João foi razoavelmente contundente com seu xará ao lhe perguntar se conhecia os problemas brasileiros e que não investiria um tostão com estádios diante das carências do país.

Cheguei a "entrevista-lo" na inauguração da rodoviária de Bauru, em agosto de 1980. Ninguém da imprensa estava autorizado a se aproximar dele. O pessoal de TV, rádio e jornal ficou no "chiqueirinho", no mezanino. Eu, então na Lins Rádio Clube, escondi o gravador no paletó e coloquei um fone de ouvido, igual aos usados pelos seguranças do presidente. Lá de cima, do chiqueirinho da imprensa, o Gilberto Barros, na época apresentador de telejornal na Globo de Bauru, gesticulava me perguntando como eu estava lá embaixo, entre as autoridades.

Confundi o pessoal porque passei a circular próximo da comitiva e ninguém me importunou. De vez em quando eu simulava falar em um microfone imaginário, preso ao pulso, como eles. Devo ter ficado parecido porque um deles passou por mim e deu instruções:

- Ele vai entrar pela ala norte - disse o que parecia ser o chefe. Levantei o polegar, confirmando. E, como "segurança" do presidente, entrei naquela do positivo e operante. Quando Figueiredo se aproximou, tirei o microfone e comecei uma pequena entrevista.
- Conhecia Bauru, presidente?
- Gostei da cidade.
- Que investimentos o governo federal tem para a região?
- Esta inauguração é um deles.
- E a abertura?
- Continua andando.

De repente, vapt, algum gorila me pegou pela cintura, me levantou e me tirou do caminho do presidente. He, he, he, a entrevista durou pouco mas fui o único a falar com o homem que disse que ia fazer deste país uma democracia. Do seu jeito, fez. Entregou o governo para os civis e pediu pra ser esquecido.
"Se alguém for contra, eu prendo e arrebento"
(João Figueiredo, sobre a abertura política)

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O Brasil é o 8º país com mais analfabetos no mundo

Número de analfabetos no Brasil deve cair de 13 milhões para 12.900.000 em 2015, segundo a Unesco

Beatriz Souza/Revista Exame

São Paulo - Os mais de 13 milhões de analfabetos brasileiros colocam o país na oitava posição entre as nações com o maior número de analfabetos adultos do mundo. O dado é do 11° Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, divulgado pela Unesco nesta quarta-feira.

O Brasil, junto com outros 9 países, é responsável por quase três quartos do número de adultos analfabetos do globo. Os demais são Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Etiópia, Egito, Indonésia e Congo. Hoje, existem 774 milhões de analfabetos no mundo, apenas 1% a menos que em 2000.

Para 2015, quando 164 países deveriam atingir as metas de melhoria de educação propostas pela Unesco em 2000, a projeção é de que o número caia para 743 milhões. No Brasil, a expectativa é de que no próximo ano, o número de analfabetos diminua dos atuais 13,2 milhões - registrados pelo PNAD 2012 - para 12,9 milhões, o que seria um avanço, depois da estagnação detectada pelo IBGE no ano passado.

O compromisso da Unesco totaliza seis metas que integram o Acordo de Dacar, assinado em 2000. Por ele, até 2015, os países devem expandir cuidados na primeira infância e educação, universalizar o ensino primário, promover as competências de aprendizagem e de vida para jovens e adultos, reduzir o analfabetismo em 50%, alcançar a paridade e igualdade de gênero e melhorar a qualidade da educação.
De acordo com a Unesco, a meta de redução do analfabetismo é a que ficou mais distante: estima-se que apenas 29% dos países atinjam a universalização da alfabetização de adultos.

O Brasil é um dos países que não deve atingir a meta. De acordo com dados do PNAD de 2012, a taxa de analfabetismo brasileira é de 8,7%, muito distante da meta estabelecida pela Unesco, que previa que o país chegasse aos 6,7% de analfabetos até 2015.

Apesar do alto número de analfabetos, o documento faz alguns elogios ao sistema educacional brasileiro. Uma das experiências elogiadas é a de recompensar as escolas com bônus coletivos como forma de incentivar os professores e conseguir melhores resultados de aprendizagem.

Outro ponto destacado, é o gasto do país comparado às demais nações emergentes.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Haddad provoca inflação no crack

Preço do crack dobra na cracolândia


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Nota da Folha de São Paulo informa que o preço da pedra de crack dobrou de preço e já é vendida a R$ 20 no primeiro dia de funcionamento do programa "De braços abertos", implantado por Fernando Haddad, prefeito de São Paulo. Cerca de 302 usuários de drogas passaram a receber moradia, alimentação e R$ 120 por semana, em troca da varrição de ruas. O dinheiro público vira fumaça nos cachimbos dos drogados da cracolândia. Os traficantes comemoram. O bolsa Crack também os alimenta.

Atualmente são mais de 1000 viciados na região e nenhum deles demonstra interesse em procurar tratamento. Os intelectóides do PT criticam a internação compulsória defendendo o direito do dependente químico decidir por ela ou não como se tivessem consciência do seu estado ou capacidade para tal.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Jovem de 18 anos espancado até a morte em SP


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Bruno Borges de Oliveira, 18 anos, auxiliar administrativo, foi morto com socos e pontapés, ontem a tarde em São Paulo, na Bela Vista. Os criminosos espancaram o jovem para roubar um celular, um par de tênis e um Bilhete Único segundo o boletim de ocorrência registrado no 78º DP. Dois amigos de Bruno conseguiram fugir. Acredita-se que os autores praticaram o latrocínio para comprar drogas.

Ao mesmo tempo o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, lançou um programa que paga - com dinheiro público - salário, comida e hotel para usuários de drogas sob o manto de combate as drogas. Reinaldo Azevedo escreve a respeito do tema.

Maria do Rosário emitirá uma nota por Bruno, um trabalhador de 18 anos espancado até a morte? Ou: Os mortos do crack 

Reinaldo Azevedo

Ultimamente, já contei aqui, eu sinto um misto de raiva e nojo de ter de escrever certos textos, de fazer determinados comentários, de abordar alguns temas. Por volta das 6h40 de ontem, um jovem de 18 anos, Bruno Borges de Oliveira, foi espancado por ladrões até a morte na rua Herculano de Freitas, na Bela Vista, região central de São Paulo.
 
O que queriam roubar de Bruno, um garoto pobre, auxiliar administrativo, que arrumara emprego havia pouco tempo? Atenção! Um par de tênis, um cartão de bilhete único de ônibus e um celular — que, como se sabe, não é mais objeto de luxo. Tudo isso aconteceu à luz do dia.
 
São Paulo está longe de ser a capital mais violenta do país. Na verdade, os dados indicam ser uma das menos. Mas e daí? Isso já não tem importância para Bruno e sua família. Atenção, leitores! Maria do Rosário, a ministra dos Direitos Humanos, não vai emitir uma nota. Não haverá ONGs se manifestando nem se farão protestos no centro da cidade.
Há pouco menos de duas semanas, por conta de um homicídio que não aconteceu — um jovem havia se suicidado —, fez-se um escarcéu danado. Afinal, a vítima era gay e se tentou ver ali o que chamam de “crime de ódio”. Maria do Rosário aproveitou para fazer proselitismo sobre o cadáver. E o assassinato de Bruno? É o quê?
 
Não tenho as circunstâncias do caso, mas sou obrigado a lidar com a lógica e com os fatos que nos cercam. Reparem como os viciados em crack, que vagam pela ex-cracolândia, hoje Haddadolândia, em suma maioria, estão descalços. Sabem por quê? O tênis é a principal moeda no tráfico do crack. Tênis vira “pedra”. Outra moeda, para quem conhece o assunto, é justamente o cartão de bilhete único de transporte. E, obviamente, os celulares também fazem parte desse mercado.
 
A explosão do consumo de crack coincide com essas ocorrências horripilantes, como pessoas queimadas vivas ou espancadas até a morte. Infelizmente, São Paulo convive hoje com um programa aloprado, coordenado pela Prefeitura, que faz da cracolândia uma espécie de país com leis próprias. Que fique claro: não estou dizendo que os assassinos de Bruno saíram necessariamente de lá. Isso, não sei. Mas estou afirmando, sim, que o escambo — tênis por droga — é uma prática corriqueira na área.
 
Não sejamos ingênuos: não há policiamento, por mais ostensivo que seja, que consiga responder às demandas criadas numa cidade que incorpora o crack como realidade plausível e faz de consumidores e traficantes pessoas acima da lei.
 
Sim, os culpados pela morte de Bruno, obviamente, são seus assassinos. Mas esse rapaz também é vítima de um tempo que decidiu flertar com mal.

domingo, 26 de janeiro de 2014

O naufrágio de um país

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Conduzida pela destemperada presidente Cristina Kirchner, a Argentina está naufragando. Em apenas um único dia o peso desabou 11%, frente ao dólar, a maior derrocada dos últimos dez anos. O país vive com forte inflação e não tem grandes reservas internacionais. Pior, quem investiria num país conduzido por uma esquerda destrambelhada que já deu um calote de U$ 100 bilhões em 2001? 

Sem investimentos e crédito para rolar suas dividas, a argentina entrou no fosso. Politicamente o resultado já veio nas eleições legislativas de 2012 com a derrota do partido da presidente.

Tudo lá é regulado, até as compras pela internet e aquisição de dólar turismo. Para importar as empresas são obrigados a exportar o mesmo valor. Nada disso funciona e a economia sem competitividade, despenca com a alta da inflação que chegou aos 28% em 2012 (embora o governo afirme que a inflação tenha sido de 10,9%). Lá, como no Brasil, os dados são maquiados. Muitos produtos alimentícios foram tabelados e congelados. Os apagões de energia são constantes.

A popularidade de Cristina caiu muito e o povo saiu as ruas promovendo panelaços. O mais grave é que ninguém crê no que ela fala, seja que área for. Até o diagnóstico de câncer, há alguns anos, foi considerado um engano mas a doença, mantida escondida, já chegou ao cérebro.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O vergonhoso jeitinho brasileiro

Copa do Mundo 2014 tal e qual 1950

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

O Brasil sediou a copa do mundo de futebol em 1950 - vencida pelo Uruguai - por uma razão bem simples: foi o único país a se candidatar. A Segunda Guerra Mundial terminara em 45 deixando um rastro de destruição e ninguém queria saber de festa.

Tal e qual em 2014, o Brasil conquistou o direito de sediar porque não havia concorrência. O presidente populista Luiz Inácio entrou no rolê das pesquisas que indicavam que 58% apoiavam a ideia e "garantiu" a Fifa que o país estava em condições para tal.

E como sempre acontece no país, tudo ficou pra última hora. No jeitinho brasileiro. Na copa de 50, o principal estádio, o Maracanã, sediou os jogos ainda inacabado.

O país que aptou investir em dar esmolas com nome de programa social esqueceu-se da infraestrutura precária, problemas sociais gigantes, violência sem controle, corrupção desenfreada e apostou no circo. Estouros nos orçamentos, estádios inacabados e improvisações são marcas que envergonham o país. Os investimentos vieram dos cofres púbicos através de empréstimos subsidiados ou isenções.

Soma-se a essa confusão a ineficiência e despreparo de um ministro dos esportes comunista, Aldo Rebelo, que lá está não por competência, mas pela condição de partido de apoio ao governo federal.

Quando o secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke disse que "menos democracia é, às vezes, melhor para organizar uma Copa do Mundo", poucos entenderam sua frase "politicamente incorreta", mas empresários acostumados a produzir e organizar grandes eventos sabem bem o teor da conversa: muita gente palpitando e mandando e poucos fazendo. Valcke fez o favor de alertar indiretamente sobre a fragilidade de Dilma Roussef ao afirmar que "quando você tem um forte chefe de Estado, que pode decidir, como Vladimir Putin em 2018, isso será mais fácil para os organizadores."

O discurso retórico da Dilma afirmando que realizaremos a copa das copas não convence ninguém. A imagem que fica lá fora é do amadorístico jeitinho brasileiro.

O Maracanã foi inaugurado assim. Uma semana depois da abertura, os andaimes foram retirados. Havia restos de materiais deconstrução e muita lama no local.
Irresponsabilidade: para tranquilizar os que desconfiavam da qualidade da obra, três mil funcionários foram chamados para pular nas arquibancadas.

Símbolo de incompetência: o Maracanã sediou os jogos com torcedores entre andaimes. O estádio foi inaugurado inacabado.

“O que o museu tem a ver com educação?”

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Certamente você imagina que a espantosa pergunta tenha vindo de algum leigo desavisado, distante das lides da educação e beirando a imbecilidade. Mas, para sua decepção, a indagação foi feita por Aloízio Mercadante, simplesmente Ministro da Educação do Brasil durante uma visita a Recife.

A educação museal no país é vaga, incipiente, descontinuada, abandonada e fragmentada. Mercadante, cuja biografia está definitivamente manchada pela incompetência, precisaria ler com mais acuidade as propostas, ainda que preliminares, do Programa Nacional de Educação Museal, no mínimo.

Que otimismo se tem com a educação do país? 

Leonel Kaz, curador do Museu do Futebol ensina a Mercadante, o ministro miojo, numa publicação no Blog do Noblat.

O LUGAR DO MUSEU NA EDUCAÇÃO
“O que o museu tem a ver com educação?”
Por Leonel Kaz

Essa pergunta do ministro da Educação, Aloízio Mercadante, na imprensa e repercutida na Coluna do Noblat (3/6) do Globo, merece algumas ponderações. Faço uma dezena delas:

1. Museu é lugar para se entrar de corpo inteiro, tridimensionalmente, com todos os sentidos despertos. Cada obra de arte ou objeto exposto nos convida a olhá-lo, a partilhar dele, a se entregar a ele. Esse é o caminho da educação de qualidade: permitir que a vida nos invada e que o objeto inanimado ganhe um vislumbre novo, a cada dia, em cada visita. O Grande Pinheiro, tela de Cèzanne no Masp, pode ser vista cem vezes e, a cada vez, será diferente da outra; o quadro, de certa forma, muda, porque muda o mundo e mudamos nós também.

2. Museu é lugar, portanto, de olhar de forma distinta para as coisas. E para os seres também. É lugar de aprender a olhar com outro olhar para o outro (que quase nunca o vemos), para a escola (que pode ser, a cada dia, diferente do que é habitualmente) e para a cidade (que tanto a desprezamos, porque parece não nos pertencer).

3. Museu é lugar de entrar e dizer: é nosso! Museus são lugares de coleções, e as cidades, também. Cidades são escolas do olhar, pois nos permitem colecionar tudo de nossa vida: os dias que passam, a família que reunimos, os amigos que temos e ainda os bueiros da rua e as janelas que vislumbramos em nosso caminho diário (elas falam de épocas diferentes, narram histórias distintas). A cidade é a história.

4. Museu é lugar onde a cidade (a história) se reconta. Rebrota. Onde ela nos faz crer que, para além do mero contorno do corpo, existimos. Criamos uma identificação com aqueles fatos e pessoas que ali estão, que nos antecederam em ideias, pensamentos e sentimentos. Que ajudaram a criar “o imaginário daquilo que imaginamos que somos”, como definiu o poeta Ferreira Gullar. É dentro da plenitude deste imaginário que o Museu nos reaviva a memória e o fulgor da boa aula.

5. Museu é o lugar do mérito, onde peças e imagens entraram porque mereceram entrar, porque foram, em algum momento, singulares. Elas estão ali para nos apontar que cada qual que as visita pode ter sua singularidade, e que ninguém precisa ser prisioneiro dos preconceitos do mundo. Museu é onde a cultura aponta à educação que tanto um como o outro foram feitos para reinventar o modo de ver as coisas.

6. Museu é lugar para se abandonar a parafernália eletrônica, os iPads, iPhones e Ai-ais e permitir que obras e imagens que lá se encontram repercutam em nós. Num museu somos nós os capturados pelos objetos, somos nós o verdadeiro conteúdo de cada museu, com a capacidade de transformar e sermos transformados pelo que nos cerca.

7. Museu é lugar para criar um vazio entre o olhar que vê e o objeto que é visto. Um vazio de silêncio. Um vazio que amplia horizontes de percepção. Assim, o professor deixa de ser professor e passa a ser o que verdadeiramente é: um inventor de roteiros, um “possibilitador” de descobertas. É lugar de aluno, com a ajuda dos mestres, revelar potencialidades insuspeitas, tantas vezes esmagadas pelo caráter repressor das circunstâncias que o cercam.

8. Museu é lugar de experiência. Tudo o que é pode não ser: há uma mágica combinatória em todas as coisas, como as crianças nos ensinam. Tudo pode combinar com tudo, independentemente de critérios, ordenamentos, hierarquias. A ordem do museu pressupõe a desordem do olhar.

9. Museu é ainda lugar de coleções (embora a internet seja, hoje, o maior museu do mundo). Assim, o museu não é mais apenas um espaço físico, assim como a escola não o é. A cidade toda é uma grande escola. O Museu é uma de suas salas de aula.

10. Museu é o lugar em que “a criança se educa, vivendo” como nos ensinou, desde 1929, o educador Anísio Teixeira, ao falar da escola.

Leonel Kaz é curador do Museu do Futebol

domingo, 19 de janeiro de 2014

Um imenso Maranhão

Por Mary Zaidan / Do Blog do Noblat

Quase 13 milhões de jovens e adultos analfabetos, outros 30,5 milhões que já viram uma ou outra letra e nada compreendem; 43% dos domicílios sem o trio básico de saneamento – água encanada, esgoto e coleta de lixo; 50 mil homicídios ao ano, 25,8 por 100 mil habitantes, o que coloca o País no sétimo lugar entre os mais violentos do mundo. Esse Brasil pobre e sem luz no fim do túnel é o mesmo que garante a mais perversa das equações: quanto mais ignorantes e miseráveis, mais votos depositam em salvadores da pátria.

Engana-se quem imaginar que isso se restringe ao Maranhão dos Sarneys. A indústria da miséria, que o PT urbano e intelectual dos anos 1980 combatia com unhas e dentes, continua a prosperar. E até com mais fôlego.

No Nordeste e no Norte, a aprovação da presidente Dilma Rousseff bate nos céus e os indicadores sociais afundam-se na lama. Os nordestinos respondem por 52% dos completamente analfabetos e 30,9% dos analfabetos funcionais do País. Seus índices de morte matada são de guerra: 61,8 por 100 mil em Alagoas, 42,5 no Ceará, 40,7 na Bahia, 40 por 100 mil em Sergipe. No Norte, água, esgoto e coleta de lixo chegam só a 13% da população. Em 10 anos, os avanços nessa área foram de tímidos 2,1%.

Para esses que vivem à margem, até sem um vaso sanitário, há o Bolsa Família, hoje com 14,1 milhões de beneficiários. Dinheiro indispensável, mas que não deveria dispensar os investimentos em estruturas mínimas para, aí sim, começar a eliminar a miséria.

Não é por acaso que depois de chegar ao Planalto o PT substituiu o discurso combativo pelo peleguismo, pela política de resultados, pelo clientelismo. Com isso, o perfil de seu eleitor migrou das grandes para as pequenas cidades.

Dilma é imbatível no Norte e Nordeste entre os eleitores de baixa escolaridade e em municípios com até 50 mil habitantes. Encontra dificuldades em centros urbanos, até mesmo em São Luís, capital da terra do aliado Sarney.

Na cidade de São Paulo, onde poderia inverter essa lógica, o errático Fernando Haddad mais aterroriza do que anima o petismo. Nos maiores colégios eleitorais terá de enfrentar o favoritismo de Aécio Neves em Minas, as duas décadas dos tucanos em São Paulo e o descontente PMDB, que não vai facilitar a vida da presidente. Pior: sua base nordestina sofre baixas com a candidatura Eduardo Campos.

Quem sabe se com esses desconfortos cutucando o favoritismo de Dilma, a campanha eleitoral se volte não para a chatice das promessas sem lastro, do “nós versus eles”, mas para o apavorante e atrasado Brasil que não sabe ler e escrever, que não tem banheiro nem água, que vê seus jovens serem mortos sem saber por quê.

Mary Zaidan é jornalista.
Twitter: @maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com

Antonio Fagundes: Temos censura que não tivemos nem na ditadura.

Esperava o PT ético, mas abriu os caminhos do roubo.
Revista Isto/É

Na portaria do Projac, estúdios de gravação da Rede Globo, no Rio de Janeiro, o funcionário alerta: “Antonio Fagundes? Olha, ele é muito pontual.” Nos bastidores, a fama do ator é outra, talvez porque cumprir horários seja algo pouco comum no País. Fagundes, porém, começou a entrevista na hora marcada e, simpático, discorreu sobre vários assuntos, como eleições, política cultural e preconceito.

Aos 64 anos, esse carioca que se mudou para São Paulo aos 8 anos até hoje se divide entre as duas cidades. No Rio, encarna o médico machista César Khoury, da novela “Amor à Vida”. Fagundes deu uma virada na trama e seu personagem, que deveria morrer no meio, será mantido até o capítulo final. Em São Paulo, dedica-se ao teatro nos fins de semana.
ISTOÉ - O sr. sempre defendeu a necessidade de as pessoas terem participação política. Já tem candidato para 2014?
ANTONIO FAGUNDES - Sempre dei meu apoio para a turma do PT. Enquanto estava no Legislativo, tudo bem. Quando botaram a mão na grana, começou a acontecer, infelizmente, o que acontece com todos os outros partidos. É uma pena que o PT tenha entrado nisso, era realmente uma possibilidade de mudar a cara do País.

Eu esperava um partido íntegro, que tivesse um sentido de ética muito forte e que impedisse as pessoas de roubar, e não que abrisse outros caminhos de roubo. Então agora vou ter que rever. A perspectiva não é muito boa, mas sei que democracia é entre os males o menor. Vamos ver quem é que pode fazer menos mal ao País.

ISTOÉ - Aposta em novos partidos?
ANTONIO FAGUNDES - Você tem 30 e tantos partidos e não sabe o que eles pensam, de onde vieram. Sabe que são sustentados pela venda de votos e do espaço a que têm direito na televisão. O (José) Serra (PSDB) já está querendo ir para outro partido; é um absurdo. Se o cara está saindo de um partido e indo para outro, ele mudou de ideologia? Porque o certo é cada partido ter sua ideologia, uma forma de resolver os problemas que a sociedade apresenta.

Mas política no Brasil é uma zona, tem alguns partidos e alguns políticos que, pelo menos, deveriam ter vergonha na cara. Serra, me desculpe, mas fique quietinho no seu partido...

ISTOÉ -As recentes manifestações populares podem mudar nossos políticos?
ANTONIO FAGUNDES - Os governantes fizeram uma coisinha aqui, outra ali, voltaram atrás em uma leizinha e acabou? Não, não. O imposto eu pago e tem um cidadão lá no Congresso que deve cuidar das coisas em meu nome.

Isso é representatividade. Se por acaso esse cidadão vai lá e rouba o meu dinheiro, tenho que tirar esse cara de lá e botar outro. Não sou obrigado a aceitar o (deputado federal Paulo) Maluf, por exemplo, como meu representante.

ISTOÉ - Mas eles foram eleitos direta e democraticamente.
ANTONIO FAGUNDES - Não sei se nós votamos mal ou se o sistema eleitoral é muito malfeito e nos encaminha para isso. Ver o (senador José) Sarney no poder há tantos anos é um contrassenso. Ele mudou o título para o Amapá para se eleger. É uma vergonha ele ser eleito pelo Amapá.

ISTOÉ - A peça que o sr. vai estrear fala de uma família disfuncional. Que paralelos vê com o mundo de hoje?
ANTONIO FAGUNDES - A peça se chama “Tribos” e fala um pouco sobre preconceito, de como o mundo está surdo. Essa peça é de uma família disfuncional, meio louca, de pais intelectuais que têm um filho surdo, mas decide que ele não deve ser considerado surdo.

Até que ele conhece uma menina que sabe a língua dos sinais e começam a aparecer os preconceitos. É muito interessante porque estamos vivendo num mundo surdo mesmo.

ISTOÉ - Mas essa não é a era da comunicação?
ANTONIO FAGUNDES - É. Mas na era da comunicação as pessoas estão se excluindo porque elas estão em tribos, separadas e surdas. Porque nem a voz mais você ouve. Eu não tenho computador. Eu sou um analfabyte. E isso é uma opção ideológica.

Lembro sempre dos criadores de cavalo quando o automóvel foi inventado. Para eles foi o fim do mundo, mas era o futuro. O cavalo que se dane. Então, é inevitável que daqui a alguns anos não tenha mais livro físico. Mas espero que demore muito porque eu gosto do livro de papel.

ISTOÉ - Tem página no Facebook?
ANTONIO FAGUNDES -Não. As pessoas falam: “Como é que você consegue?” A internet é o maior exemplo de exibicionismo da humanidade. Só que vai chegar uma hora em que as pessoas vão se sentir angustiadas, porque precisam da privacidade. A gente jogou a privacidade no lixo. Em troca do quê?

ISTOÉ - O que acha das leis de incentivo à cultura, como a Lei Rouanet?
ANTONIO FAGUNDES - Estamos vivendo um momento delicado com a Lei Rouanet. Muita gente vai cair em cima de mim por causa disso, mas essas leis de incentivo são improdutivas. Uma lei cultural deve financiar o estímulo à cultura, o aumento de pessoas com acesso a isso. E não é o que está acontecendo, porque o governo deixou de decidir quem merece ou quem não merece, quem estimula e quem não estimula.

Agora, são os gerentes de marketing que determinam a política cultural do País, mesmo sem entender nada de teatro. Quando o governo passou isso para as mãos de gerentes de marketing, tirou o seu da reta. E nesse processo temos duas censuras, que não tivemos nem na época da ditadura.

ISTOÉ - Que censuras?
ANTONIO FAGUNDES - Censuras econômicas: uma delas é do governo dizendo se você pode ou não captar, porque eles recebem 20 mil projetos por ano e aprovam dois mil. Mas não sabemos o critério de aprovação. A outra censura é a do gerente de marketing, porque se ele disser que não, você não monta seu espetáculo.

Então você vê espetáculos que seriam importantes de serem montados, mas não são, e espetáculos que não têm tanto valor sendo montados.

ISTOÉ - Não se consegue montar espetáculo sem patrocínio?
ANTONIO FAGUNDES - Atualmente, somente com patrocínio. Ninguém mais consegue se manter apenas com a bilheteria. Os custos subiram tanto que você pode cobrar o ingresso que quiser que não se mantém. Tanto que os espetáculos não ficam mais de dois meses em cartaz, a não ser aqueles que têm um aporte contínuo de patrocínio.

Nos meus 47 anos de profissão, tive três patrocínios. Sempre acreditei que enquanto tivesse público continuaria em cartaz. Hoje em dia não interessa mais isso, você pode lotar que vai ter de sair dois meses depois. E, nesse círculo perverso, os teatros não alugam o espaço mais do que dois meses. Eu diria que, assim como o livro, o teatro está acabando.

ISTOÉ - O cinema está na mesma situação?
ANTONIO FAGUNDES - Hoje em dia, nenhum filme brasileiro se paga, nem o que teve dez milhões de espectadores. E 90% dos filmes brasileiros têm menos de 20 mil espectadores. E menos de 20 mil não são 19 mil, são 500, 600, 1,2 mil pessoas. A gente ouve falar que determinado filme teve mais de um milhão de espectadores.

Mas são apenas uns quatro que conseguem e nós fazemos 100 longas por ano. Na última pesquisa que vi, tinha uma fila de 200 filmes na prateleira porque não conseguiam sala para exibição, embora o Brasil tenha 2,5 mil salas. Competimos com cinema americano, francês, alemão, etc.

ISTOÉ - Para muitos, César, seu personagem em “Amor à Vida” (César Khoury), é um vilão. Para outros, ele é um típico cidadão brasileiro. O que o sr. acha?
ANTONIO FAGUNDES - O César é um cara eticamente inabalável, tem as convicções dele no hospital, e é íntegro. Mas tem amante, é homofóbico convicto e já fez umas cagadas no passado. Isso faz você pensar na complexidade do ser humano.

O Walcyr (Carrasco, autor da novela) tem essa característica que acho ótima: foge do maniqueísmo, da caricatura do bom e do mau. Isso dá profundidade, humanidade para os personagens e confunde o público, de certa forma. Mas ter uma surpresinha é sempre bom.

ISTOÉ - Muita gente se identifica com o César?
ANTONIO FAGUNDES - Isso é surpreendente. Uma pesquisa mostrou que 50% das pessoas se identificam com ele. Deve ter homossexual homofóbico também, o que aparentemente pode ser um contrassenso, mas não é. Tem pessoas que são preconceituosas com a própria classe, a própria tribo. Mas essa reação do público mostra que o tema merece discussão mesmo.

A gente sempre ouve falar de homofobia e imagina aquelas cenas horríveis, dos caras batendo em homossexual. Mas a homofobia pode ser mais violenta ainda sem levantar a mão. Acho que o Walcyr foi muito feliz e muito corajoso nessa abordagem.

ISTOÉ - Qual é a sua opinião sobre homossexualidade?
ANTONIO FAGUNDES - Acho que a opção sexual é como ser vegetariano. Foro íntimo. Esse negócio de mandar as pessoas saírem do armário é questionável. Por que a pessoa tem que sair do armário? Não precisa!

Ela faz o que quiser na vida íntima, não é obrigada a abrir sua intimidade. A cobrança acaba sendo outro tipo de preconceito. Agora, aqueles que saíram têm que ser respeitados. A verdadeira ausência de preconceito é respeitar tudo.