Reinaldo Azevedo |
Por Reinaldo Azevedo
Vocês estão certamente acompanhando tudo. A imprensa, especialmente setores da paulistana, é agora porta-voz de José Dirceu. Os posts de seu blog têm o conteúdo reproduzido pelos grandes portais. As bobagens que ele diz a seus “interlocutores” — é truque: sempre é o próprio Dirceu falando — transformam-se em sentenças.
Dirceu é tratado como pensador. Fala sobre o Judiciário — claro! —, sobre reforma política, sobre as oposições, sobre o futuro da humanidade… E quem é este pensador? Deixem-me ver: foi cassado por corrupção pelo plenário da Câmara.
Dirceu é tratado como pensador. Fala sobre o Judiciário — claro! —, sobre reforma política, sobre as oposições, sobre o futuro da humanidade… E quem é este pensador? Deixem-me ver: foi cassado por corrupção pelo plenário da Câmara.
Foi condenado em última instância por formação de quadrilha e corrupção ativa. Ah, sim: com esse currículo, ele continua “consultor de empresas privadas”. Até outro dia, esgueirava-se em quartos de hotel com autoridades de governo. Tudo consultoria!
E Cachoeira?O que a imprensa está esperando para fazer o “Diário de Cachoeira”? Tem mais: se José Dirceu, condenado sem mais chance de recurso, não é chamado pelos jornalistas de “corruptor” e “quadrilheiro”, por que o “empresário goiano” é, então, chamado de “bicheiro” e “contraventor”? Ele nem mesmo foi definitivamente condenado por esse crime…
Aliás, Cachoeira tem uma condenação em primeira instância, contra a qual cabe recurso. Por enquanto, a sua situação jurídica é um pouco melhor do que a de Dirceu. Por tudo o que se ouviu, praticou um monte de crimes — mas não se o acuse, ao menos, de ter fraudado o regime democrático, não é mesmo? Quanto a Dirceu, não custa lembrar a manifestação de diversos ministros do Supremo: o mensalão foi uma tentativa de golpe nas instituições. Os idiotas não perceberão que faço uma ironia, claro! Idiotas comem a ironia junto com o capim sem notar nada de estranho. Cachoeira poderia fazer um blog, como Dirceu. Dinheiro para contratar mão de obra não lhe falta. A exemplo do companheiro, opinaria sobre fatos da vida nacional. Pode até temperar um texto ou outro com alguma ameaça velada, o que sempre excita alguns jornalistas. Por uma questão de isonomia — e, ainda assim, imperfeita —, acredito que também ele ganhará várias notícias. A isonomia é imperfeita considerando as possibilidades de recurso…
Se um condenado em última instância por formação de quadrilha e corrupção ativa merece o status de pensador, por que um condenado em primeira instância tem de ser tratado como bandido?
Com a palavra, esses setores do jornalismo paulistano a que me refiro.